Antes da popularização da fotografia colorida em papel, com o
lançamento do filme Kodachrome em 1935 e do Agfacolor em 1936, já existia um processo
pioneiro de fotos coloridas em placas de vidro, chamado Autochrome, patenteado
em 1903 pelos Irmãos Lumière, os mesmos que descobriram o cinema.
A maior coleção mundial de fotografias Autochrome é a dos
Archives de la Planète, organizada por Albert Kahn,
animado pelo ideal da paz universal. Ele acreditava que o conhecimento das
culturas estrangeiras encorajaria o respeito e as relações pacíficas entre os
povos. Percebeu também que, em pouco tempo, sua época testemunharia uma mutação
acelerada das sociedades e a desaparição de certos modos de vida. Assim, criou
os Arquivos do Planeta e enviou dezenas de fotógrafos mundo afora para
registrares as diferentes realidades culturais. Graças
a esse projeto dispomos de fotografias coloridas pioneiras do Rio de Janeiro (e
algumas de Recife) tiradas no remoto ano de 1909. As fotos do projeto foram
digitalizadas e podem ser acessadas clicando aqui.
“A autocromia, e seus imitadores, arrebataram um mundo ávido por cores. A chapa de vidro [...] podia ser usada em qualquer câmera comum. [...] Cada autocromo era uma imagem positiva única sem negativo (visível apenas contra uma luz de fundo ou como uma imagem projetada). Os fotógrafos de arte logo desistiram do processo, em razão das dificuldades inerentes à reprodução e à exibição.” (Juliet Hacking (org.), Tudo sobre fotografia, Editora Sextante, pp. 276-7).
Dentre os fotógrafos em atividade no Rio de Janeiro, o único
que empregou o processo Autochrome (autocromo), pelo que pude constatar (mas
posso estar errado) foi Marc Ferrez. Você pode ler um artigo interessante sobre sua experiência com fotografias coloridas na
Brasiliana Fotográfica clicando aqui. Transcrevo a seguir um
trecho do texto do site:
“O fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923) iniciou suas
experiências com fotografia colorida, em 1912, utilizando as placas autocromos
Lumière, primeiro processo industrializado para esse fim, lançado
comercialmente pela fábrica francesa, em 1907. Dedicou-se à fotografia
estereoscópica em cores e as primeiras imagens coloridas realizadas nesse
período são diferentes das fotografias panorâmicas e de grandes obras públicas,
produzidas por ele no século XIX e na primeira década do século XX. São imagens
do interior de sua casa e de sua intimidade familiar [...]. Nesse momento, Ferrez também refez, em cores,
algumas das fotografias de paisagens, edificações e monumentos que se tornaram
clássicas em preto e branco, como a Pedra de Itapuca, vistas do Jardim
Botânico, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro , o Palácio Monroe e a Pedra da
Gávea, dentre outras.”
A seguir uma coletânea de fotografias coloridas do Rio de
Janeiro obtidas pelo processo Autochrome.
1- FOTOS DOS ARQUIVOS DO PLANETA (1909)
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Bairro de Santa Teresa, vendo-se o Castelo Valentim (centro-esquerda), prédio em forma de castelo que existe até hoje, e o Hotel Vista Alegre (direita) no terreno onde hoje está a clínica Saint Roman. |
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Corcovado visto dos jardins da Avenida Beira-Mar, entre os bairros do Flamengo e Botafogo. |
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Vista do Bairro da Glória e Igreja da Glória a partir de Santa Teresa. À direita o Morro de Santo Amaro e ao centro a Rua de Santo Amaro. |
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Vista do Morro de Nova Cintra, que fica entre o Catete, Laranjeiras e Santa Teresa. |
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Corcovado e Lagoa Rodrigo de Freitas vistos do Sumaré.
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Santa Teresa: em primeiro plano à esquerda, Casa de Benjamin Constant; atrás, antigo casarão da União dos Economiários (UNEI) vendida em 2008 |
2- FOTOS DE MARC FERREZ
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Morro Dois Irmãos a partir da Praia do Leblon (cerca de 1912). |
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Portão principal do Jardim Botânico (cerca de 1912). |
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Palácio Monroe (cerca de 1912). |
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Pão de Açúcar visto do Morro da Urca (cerca de 1912). |
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São Conrado e sua igrejinha (cerca de 1920). |