ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

23.3.13

O IMPREVISTO E O INESPERADO, de Teresa Souza



Frescão é um meio de transporte muito confortável e que adoro.
Dá para colocar a agenda em dia, verificar extratos, acertar a sobrancelha, ler o jornal, cochilar no ar condicionado, etc. etc. etc.
Coisas  simples e que geralmente não conseguimos tempo para fazer ao longo do dia.
Quando eu chegava ao Centro da cidade, um telefonema anunciando um imprevisto cancelou o meu compromisso. 
E agora? Eram 10 horas da manhã e eu só precisava estar em Ipanema às 13. O que fazer?
Descer do ônibus e voltar para o Jardim Botânico? Nada disso.
Resolvi me divertir no Centro do Rio e fazer coisas que normalmente só fazemos em países distantes.

Desci na rua 1º de março e a Igreja do Carmo estava aberta!
Só entrei lá em criança em algum casamento de família.
Como é linda! Enorme!
Pouquíssimas pessoas em um silêncio sepulcral à meia-luz.
Um som bem baixinho onde Roberto Carlos, o rei, cantava uma canção religiosa.
Sentei e me pus a observar: as imagens, a construção, os vitrais, as cúpulas, o altar, o silêncio. O silêncio.
Fiz uma oração e saí feliz continuando o meu caminho.


Seguindo em frente lembrei, graças a Deus e à Igreja do Carmo, da exposição sobre Leonardo Da Vinci na Casa França Brasil a poucos metros dali.
Que homem genial! Que sensibilidade, que arte maravilhosa.
Descobri que Da Vinci é sépio. A exposição é toda cor sépia. 
As imagens, os papéis, os objetos, os códices.
Ele disse: “Quando o espírito não trabalha com a mão, não existe arte.” 

Saí de lá uma pessoa melhor, muito melhor. 
Saí de lá emocionada pela oportunidade de ter visto o que vi.


Quando me dirigia para o metrô percebi que a Igreja da Candelária também estava com as portas abertas. Seria um sinal divino?
Ia ter uma missa meio-dia e meia.  
Vi os desenhos pintados na calçada dos meninos mortos na chacina. 
Vi a cúpula mais bonita de todas.
Ouvi um órgão gregoriano.
Vi o tapete vermelho enrolado em um grande carretel. 
Vi o padre com seu manto branco arrumar o altar.

Me benzi e me retirei.
Abençoada por Deus e Da Vinci.


Texto do livro de crônicas Palavra Carioca reproduzido com autorização da autora. O livro está à venda na livraria da Casa de Cultura Laura Alvim. Visite o blog da autora O Rio Que Eu Piso.

6.3.13

MUSEU DE ARTE DO RIO (MAR)

Para ver um álbum de fotos do museu numa nova janela clique aqui.

O recém-inaugurado Museu de Arte do Rio compõe-se de dois prédios interligados, com uma bela cobertura ondulada no alto: 1) um prédio moderno à esquerda, antiga estação rodoviária, por onde se entra no museu, sediando a Escola do Olhar, com um mirante no alto, e 2) o prédio da direita, antigo Edifício Príncipe Dom João, em estilo eclético, construído em 1912, cujos quatro pavimentos abrigam as exposições do museu.
Quem curte o Rio de Janeiro não pode perder a Rio de imagens, com fotos, gravuras, quadros, mapas, filmagens etc. da cidade em diferentes épocas, uma das quatro exposições (todas ótimas) que ocupam o museu. O texto abaixo é dos curadores dessa exposição.

Para informações de endereço, horário, preço e como chegar lá (incluindo um mapa da área), consulte o Guia do Rio, o seu guia carioca simples, prático e grátis, neste mesmo blog. Basta clicar na guia MUSEU DE ARTE DO RIO (MAR) lá em cima, no cabeçalho do blog.


"Ao contrário do que reza o senso comum, a natureza não é constituída por paisagens. Ela contém montanhas, vales, rios, baías e muito mais; mas o que transforma essas formas naturais em "paisagem" é o olhar de quem enxerga, recortando-as em enquadramentos e agrupando-as em composições. É certo que a "vista" está tanto em quem vê quanto naquilo que é visto. No caso da cidade do Rio de Janeiro, no entanto, é possível duvidar dessa evidência. A disposição ímpar de rochas, praias e matas que compõem esse cantinho do planeta parece tão planejada, tão perfeita, que conspira contra a própria noção de “acidente geográfico”. Quem enxerga pela primeira vez a Baía de Guanabara tem bons motivos para ficar deslumbrado. Não é à toa que, ao longo dos séculos, incontáveis viajantes deixaram registrado seu encantamento, propagando a fama mundial da cidade como uma das mais belas do mundo.

O Rio de Janeiro é mesmo uma obra de arte, mas não da natureza. Afinal, quem produz arte são artistas. [...]" 

(Carlos Martins & Rafael Cardoso, curadores da exposição Rio de imagens: Uma paisagem em construção, uma das quatro exposições que inauguraram o museu.)

4.3.13

A CIDADE SUSPENSA


Texto de J. P. Cuenca publicado originalmente no encarte "Aniversário do Rio" de O Globo de 1o de março de 2013 e reproduzido com a gentil permissão do autor.
Vídeo (acima) documentando a demolição de três casas em Copacabana e fotos (abaixo) de ruínas e prédios dilapidados no Rio do editor do blog.


A primeira lembrança que tenho da vida e do Rio é a dos meus pés de criança se equilibrando sobre uma casa demolida. Vejo pedras e tijolos entre o emaranhado de canos inúteis, alcanço uma pia branca de cabeça pra baixo — seu apoio comprido de louça desponta entre as ruínas como uma garça que estica o pescoço num lamaçal.

Quando encontro no chão o adesivo colado na janela do meu quarto, finalmente reconheço a casa onde vivi. O plástico, meu rosebud, diz em letras garrafais: "FIORUCCI".

Isso foi em 82 ou 83. A Vila Palácio ficava na Rua Silveira Martins, no Catete. Da nossa casa, a única em que meus pais viveram juntos, só lembro das ruínas. Ela foi posta abaixo para dar lugar a um prédio cinza de dois blocos e onze andares. Em alguns anos, quando já estivermos todos mortos, a Vila Palácio do Catete não fará parte da memória de ninguém. Como tantas outras, ficará presa na fotografia.


Outro endereço simbólico da minha infância, um prédio de três andares sobre o Luna Bar, também foi demolido para dar espaço a um retângulo negro de vidro no Leblon. Nessa gangorra imobiliária, até hoje tive 13 diferentes endereços no Rio. Sou um privilegiado: ao contrário dos cariocas que encontraram na sua porta as marcas do Príncipe Regente em 1808 ou da Secretaria municipal de Habitação em 2012, nunca fui expulso de forma humilhante e minha propriedade nunca foi criminosamente confiscada pelo Estado.

Caminho pelo Catete e penso na palavra pentimento, que em italiano significa arrependimento, mas que tem outra acepção em artes plásticas. Em um quadro, o pentimento é formado por esboços e versões anteriores da obra, muitas vezes detectadas em exames de raio-x. É um registro da mudança de ideia do pintor, que resolve trocar um braço de posição, apagar um personagem, ou até mudar completamente a pintura.


O nosso pentimento, que infelizmente não surge das mãos de um artista, é esse conjunto de casas, prédios, bares e cinemas fantasmas que enxergo por toda a parte. Não estou só: o poeta Manuel Bandeira escreveu em 1942 sobre sua casa demolida no Beco do Rato: "Vão demolir esta casa./ Mas meu quarto vai ficar, / Não como forma imperfeita / Neste mundo de aparências: / Vai ficar na eternidade, / Com seus livros, com seus quadros, / Intacto, suspenso no ar!" 

A experiência dessa cidade, da fundação ao seu 448º aniversário, é baseada nesse desprendimento radical ao patrimônio e na nostalgia que ele nos causa. Aqui, o tempo é sempre hoje. No Rio, a história acaba e recomeça todos os dias — muitas vezes sobre o entulho de uma casa demolida.








ANEXO: Documentário de Francisco Daudt (editado por Tita Berredo) sobre as casas demolidas no Cosme Velho.

1.3.13

ANIVERSÁRIO DA CIDADE

No dia do aniversário da cidade, o Globo-Rio convidou 20 cariocas, da gema ou não, para falarem sobre seu amor pelo Rio. "Das curvas dos morros, do balanço do mar e do traçado do calçadão, a artista plástica Kakau Höfke retira a matéria-prima de um trabalho essencialmente carioca" como o logotipo acima. Para ler a matéria completa no Globo-Rio clique aqui.