ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

17.4.13

RECANTO DO TROVADOR, ANTIGO JARDIM ZOOLÓGICO (VILA ISABEL)

Portão do Recanto do Trovador, executado nas Fundições Val d'Osne na França, semelhante ao existente no Campo de Santana

Criado em 1888, o primeiro Jardim Zoológico do Rio de Janeiro [onde hoje se situa o Parque Recanto do Trovador] fez parte dos planos modernizadores do Barão José Batista de Vianna Drummond para a região. Após a proclamação da República e sem os recursos do imperador, o empreendimento tornou-se um dispendioso encargo financeiro. Assim, com a intenção de custear a manutenção do Jardim Zoológico o Barão de Drummond criou o jogo do bicho. No local encontra-se a primeira parte do gradil original do Campo de Santana e um portão executado nas Fundições Val d'Osne na França. (Guia do Patrimônio Cultural Carioca)

Da esquerda para a direita: Pico do Andaraí Maior, Pico da Tijuca, Pedra do Andaraí (bem no meio e mais à frente, também conhecida como Pedra do Grajaú) e Morro do Elefante. Logo mais à direita da árvore aparece um pedacinho da Serra dos Pretos Forros por onde passa a Estrada Grajaú-Jacarepaguá. 
Pista de skate

Crianças

Parte do antigo gradil do Campo de Santana (ver texto abaixo)

Na época da abertura da Avenida Presidente Vargas, o Campo de Santana perdeu 18 mil metros quadrados. Os imponentes portões, que estiveram na Exposição Universal de 1862, realizada em Londres, continuam a embelezar as entradas do parque, porém o gradil não está mais lá. Logo depois da Proclamação da República, os brasões do Império, fundidos segundo os caprichosos desenhos de Glaziou, foram substituídos pelas armas da República. Em 1938, o gradil foi retirado e espalhado por quatro locais diferentes da cidade, tão grande era sua extensão. Pode ser apreciado no prédio da UFRJ na Urca, na parte que confronta com a Avenida Wenceslau Brás; na saída da Floresta da Tijuca, no Portão do Açude; na Sociedade Hípica Brasileira, na Lagoa; e no Recanto do Trovador, em Vila Isabel, onde também existe um portão semelhante ao do Campo de Santana. (Eulalia Junqueira e Pedro Oswaldo Cruz, Arte Francesa do Ferro no Rio de Janeiro, Memória Brasil, pp. 118-121)


Comunidade do Morro dos Macacos. No tempo do domínio do tráfico, o parque passou a ser considerado área de risco e caiu no abandono. Com a pacificação, no final de 2011 a Prefeitura remodelou o parque, que agora está uma beleza.

TRECHO DO LIVRO GANHOU, LEVA! O JOGO DO BICHO NO RIO DE JANEIRO (1890-1960), DE FELIPE MAGALHÃES:


Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, 3 de julho de 1892. Nesse domingo de inverno carioca foram inaugurados vários divertimentos na empresa do Jardim Zoológico, de propriedade do sr. João Baptista de Viana Drummond, o barão de Drummond. O parque estava localizado no “pitoresco bairro de Vila Isabel”, na encosta da serra do Engenho Novo. Por ser um dia especial, a Companhia Ferro Carril Vila Isabel dispôs carros especiais para levar o público e os convidados até as dependências do zoo.

Esbanjando a cordialidade de um nobre, associando-a aos interesses de um empresário, o barão recebeu seus ilustres convidados, entre os quais o vice-presidente da República, cuja presença foi saudada por todos com um brinde à mesa do jantar. No agradável passeio, tendo em vista o clima ameno e a satisfação de todos, o barão e seu gerente Manoel Zevada lhes apresentaram as dependências do Jardim. Além das jaulas, gaiolas e viveiros presentes em qualquer empreendimento desse porte, a empresa de Drummond contava com um hotel “nas melhores condições, um magnífico restaurante e tinha em construção um grande salão especial para concertos”.

Os visitantes ainda poderiam passar seu tempo divertindo-se em animados bailes públicos, no circo de cavalinhos, em variados espetáculos ou fazendo apostas em alguns jogos liberados para aquelas dependências. Havia bilhar, carteado, jogo da pelota, frontão e outros. No entanto, esse domingo era especial, um novo divertimento estava para ser inaugurado.

Ao comprar o ingresso de entrada para o Jardim Zoológico, o visitante passaria a receber um ticket. No bilhete estaria impressa a figura de um animal. Pendurada num poste a cerca de três metros de altura, próxima ao portão de entrada do parque, havia uma caixa de madeira. Dentro desta ficava escondida a gravura de um animal, escolhida pelo barão em uma lista de 25 bichos que ia de avestruz a vaca, passando por borboleta e jacaré. Nesse domingo, às cinco horas da tarde, a caixa seria aberta pela primeira vez, e o público presente poderia, afinal, descobrir o animal encaixotado e saber se teria direito ao prometido prêmio de 20$000, 20 vezes o valor gasto com a entrada para o zoo. Na hora marcada, o barão dirigiu-se até o poste, revelou a avestruz e fez a alegria de 23 sortudos visitantes. (pp. 19-20)

13.4.13

TAMOIOS NO ARPOADOR





Texto de Zuenir Ventura publicado originalmente no encarte "Aniversário do Rio" de O Globo de 1o de março de 2013 e reproduzido com a gentil permissão do autor.

Aconteceu neste verão. Convidado a escrever sobre um canto do Rio, escolhi o Arpoador, porque de lá se costuma desfrutar deslumbrantes entardeceres. Os termômetros marcavam quase 40º, com a sensação térmica beirando os 50º. Sentado nas pedras, apreciava o sol refletir com tal intensidade sobre o mar espelhado que devo ter experimentado aquela ilusão ótica que no deserto se chama miragem. A gente entra num clima onírico e acredita ver o que não existe. De repente, senti uma urgência febril de dividir aquele espetáculo mágico com alguns personagens que cantaram e encantaram o Rio. A primeira aparição foi de Millôr, que veio correndo pela areia, como sempre fazia. Passou pelo largo que agora leva o seu nome, subiu até onde eu estava e repetiu uma de suas geniais definições: “O pôr do sol é de quem olha”. Em seguida, foi a vez de Tom e Vinicius, que atravessaram o Parque Garota de Ipanema carregando o violão. Tinham acabado de acordar, após uma longa noite de boemia. Finalmente, vindo de Copacabana, chegou Oscar Niemeyer, trazendo nos olhos as curvas das mulheres e dos morros cariocas com que fez sua arquitetura.

Como não podia deixar de ser, a conversa girou em torno dessa cidade solar, sensual, exibida que nasceu para ser musa. Falou-se principalmente do narcisismo de quem desde pequena se habituou aos elogios. Era ainda uma criança quando um de seus adoradores, o primeiro governador-geral Tomé de Souza, se desmanchou: “Tudo é graça o que dela se pode dizer”. Alguém lembrou que até os religiosos lançaram sobre ela olhares profanos: “É a mais airosa e amena baía que há em todo o Brasil”, suspirou o padre Anchieta, inteiramente catequizado. Seu colega da Companhia de Jesus, o padre Fernão Cardim, sentiu o mesmo: “É coisa fermosíssima e a mais aprazível que há em todo o Brasil”.

Estimulado pela exuberância sensorial daquela tarde, resolvi corrigir Vinicius, que dizia que ser carioca é um estado de espírito. Acho que é mais. Não se trata apenas de alma, mas de corpo e alma. Ama-se a cidade com todos os sentidos, a começar pelos olhos. Olha que coisa mais linda uma garota de Ipanema a caminho do mar. Ela vai se molhar e se estender nas areias para dourar seu copo quase nu. Segundo Tom, que transformou em música tudo isso, esse rito hedonista, quase erótico, é uma herança de nossos antepassados tamoios, que nos ensinaram a curtir a água, o corpo, a música e a dança.

O sol já estava sendo rendido no seu plantão diário, e os banhistas noturnos começavam a estender suas cangas na areia para o mais novo modismo deste verão: o banho de lua. Foi quando chegou Cazuza para fazer parte do show. Antes de dar um mergulho, cantou: “Vago na lua deserta das pedras do Arpoador”.

Nunca me senti tão tamoio quanto nesse fim de tarde, início de noite nas pedras mágicas do Arpoador.