ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

28.8.09

SÍTIO ROBERTO BURLE MARX EM GUARATIBA


Roberto Burle Marx nasceu em 1909, numa vila situada na Avenida Paulista, em São Paulo, capital. Aos quatro anos de idade, mudou-se com a família para uma bela casa no Leme, próximo a Copacabana, no Rio de Janeiro. Aos 18 anos, foi para Europa acompanhado de toda a família. Lá, decidiu tornar-se pintor ao visitar uma exposição de Van Gogh e, após conhecer a coleção de plantas brasileiras do Jardim Botânico de Dahlen, em Berlim, resolveu que, ao voltar para 0 Brasil, criaria jardins com plantas brasileiras ao invés de jardins de inspiração europeia.




Em 1949, para abrigar sua imensa coleção de plantas, Roberto Burle Marx adquiriu o Sítio Santo Antônio da Bica, em Barra de Guaratiba, junto com seu irmão Guilherme Siegfried Marx. No local havia uma antiga casa de fazenda e uma pequena capela (século XVII - ver fotos), dedicada a Santo Antônio. Burle Marx restaurou ambos os prédios e levou para este local sua coleção de plantas, iniciada aos 6 anos de idade. Em 1973, mudou-se definitivamente para o Sítio, onde veio a falecer em 4 de junho de 1994.

Em 11 de março de 1985, doou o Sítio ao governo brasileiro, que o administra através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional / MinC. Com a doação, Burle Marx pretendia garantir seu desejo de manter a integridade da propriedade como um todo bem como criar uma escola dedicada ao paisagismo, botânica e artes em geral.


Igreja de Santo Antônio da Bica (séc. XVII): "de composição singela, com frontão triangular de modenatura simplificada e sineira lateral, encontra-se junto aos jardins criados pelo paisagista Roberto Burle Marx" (Guia da Arquitetura Colonial, Neoclássica e Romântica do Rio de Janeiro).




Ele também pretendeu deixar para as gerações futuras o inestimável jardim botânico que criou e suas coleções, adquiridas ao longo de sua vida, com objetos de arte e artesanato — "objetos de emoções poéticas".

Numa área estimada em 365.000 metros quadrados, Burle Marx conseguiu reunir uma das mais importantes coleções de plantas tropicais e subtropicais do mundo. Ao lado dos jardins ao ar livre, esta magnífica coleção apresenta aos visitantes mais de 3.500 espécies de plantas cultivadas. A coleção botânica foi considerada patrimônio cultural brasileiro em 1985.


Casa de Burle Marx (antiga casa de fazenda)





“O Sítio Burle Marx é uma obra, eu direi, de criação continuada, de criação que começa e não se extingue, que avança pelo tempo até que seu autor se vai, sai de cena. Eu assisti ao nascer do sítio. A casa que hoje é uma joia de arquitetura era uma casa velha, de paredes rachadas e com um banheiro externo. Eu vi aquilo pouco a pouco se transmutando, quase como num passe de mágica, até chegar àquela varanda magnífica, àquelas salas com tetos pintados por ele próprio, aos lustres, à sonoridade da sala do piano...”

Luiz Emygdio de Mello Filho.



Ateliê



Cristo dos Afogados de Cícero Simplício do Nascimento



“Ir à casa de Burle Marx [...] é ingressar em um estuário de objetos carregados de emoção poética.” Lélia Coelho Frota.




INFORMAÇÕES IMPORTANTES

1. O Sítio não está aberto a passeios livres, sendo obrigatório o acompanhamento de guias do Sítio.

2. É necessário o agendamento prévio, feito de segunda a sexta-feira, entre 8 e 16 horas.

3. O Sítio abre de terça a sábado (exceto feriados).

4. Visitas em dois horários: 9:30h e 13:30h.

5. Duração da visita: 1h30m aproximadamente.

7. Entrada: R$ 5,00

Deve-se usar vestimenta própria para uma caminhada. No Centro de Recepção o visitante encontrará souvenires, água mineral e banheiros. Não há lanchonete no local.

Endereço:
Estrada Roberto Burle Marx, 2019 Barra de Guaratiba - Rio de Janeiro/RJ CEP 23020-240

Telefone: (0xx21) 2410-1412.



Fotos do editor do blog. Informações extraídas do folheto recebido em visita ao sítio em setembro de 2007. Para ver uma projeção de slides do sítio clique aqui.

6.8.09

ORGULHO DO RIO, de Carlos Heitor Cony


Garantem as folhas que é uma onda fria, vinda do Sul, de onde chegam todas as ondas frias, até aí, não há novidade.

Nunca se ouviu dizer que o frio veio do Ceará ou do Piauí. A novidade é que está fazendo um friozinho gostoso aqui no Rio e eu olho e curto a minha cidade de outro jeito. Nada de praia, com muita luz e confusão, sem o chope azedo que fede duas esquinas antes de cada tasca. Sobra um Rio quase civilizado, quase manso como um corno, sem a agressividade da luz e do calor, a urgência de aproveitar a vida.

Tão bom que faço o impossível: em pleno domingo, tiro o carro da garagem (fazia isso no tempo das minhas setters Mila e Titi) e saio sem destino, dando voltas pelas ruas que cruzo diariamente sem sabor e sem afeto. Sim, aí está a minha cidade, aqui nasci e vivo, se possível aqui morrerei e meu pó será diluído neste ar e neste chão.

Passo sem querer (ou talvez por querer demais) na rua onde nasci, tantos anos passados. Relembro que durante alguns anos trabalhava duas esquinas adiante. Vivi meio século para atravessar duas esquinas na vida — na verdade, sou um fracasso. Tive e tenho amigos que vieram de longe, de Sobral, de Manaus, de Kiev, de Viena — e eu aqui, chumbado neste chão tamoio que, segundo alguns saudosistas, já era.

Volta e meia entra em discussão a decadência do Rio, o esvaziamento cultural e artístico da cidade que foi capital do Brasil durante quase dois séculos. Brasília dá conta do recado, todo dia chega um escândalo de lá. São Paulo não é mais terra da garoa, é terra de enchentes. A Bahia — bem, e aí entra a moleza — a Bahia é a terra dos santos e orixás, mágica e mítica. Segundo Vinicius de Moraes, ali os baianos fazem a arte e o engenho de viver a verdade — conheço esses babados, Vinicius de Moraes acreditou neles pelo espaço de dois verões, mas veio morrer na sua terra, no Rio, que ninguém é de ferro, nem mesmo os baianos adotivos.

Tantas vezes li que o Rio estava falido em todos os setores, sobretudo no campo das letras e artes, que já assumira a postura e o orgulho do provinciano que fica à espera das novidades vindas dos grandes e inesperados centros.

Em compensação, por prazer ou por trabalho, é que viajo com frequência. O fato de ter nascido no Rio já torna o carioca mais ou menos aberto ao mundo, não por necessidade, mas por curiosidade. Sinto-me melhor em Roma ou Florença do que no calorão da avenida Chile, como melhor no Trastevere do que no Mercado Modelo da Bahia. Podem me xingar, mas sei o que sou fazendo e sentindo.

Voltemos ao Rio. Tão cantada e decantada a sua decadência, eis que reencontro, num fim de semana plúmbeo (sei que os baianos conhecem e apreciam esta palavra, aqui no Rio seria apedrejado se a proferisse) a doce verdade: o Rio procura renovar seus encantos — que já são muitos, mas não bastantes.

A revitalização da zona portuária e da Lapa provoca grandes expectativas. A contratação do Fred para o Fluminense e do Adriano para o Flamengo foi comparada à conquista das Gálias — ouvi isso numa das mesas de esporte que enchem os domingos em todos os sentidos. A Rede Globo continua exportando o sotaque e as mazelas do Sudeste para o resto do país e até para Portugal e países lusófonos —um descalabro que não conta com a minha benção, mas ainda não chegamos ao descalabro pior de importar o sotaque e as mazelas de Petrolina, Própria, Campina Grande ou Marília.

Para acontecer mesmo, para se tornar nacional, um fato ainda precisa repercutir aqui no Rio. O finado prefeito Marcos Tamoio dizia que o charme da cidade não vinha do Corcovado nem do Pão de Açúcar, vinha do próprio nome: Rio. Três letras apenas, que a gente lê nos aeroportos do mundo: Rio.

Fellini se apaixonou por Roma quando, menino, em sua cidade natal, Rimini, viu num vagão de trem a placa com o nome: Roma. Em tempos de orgulho gay, toda vez que vejo o nome da minha cidade, mesmo num ônibus que chega de não sei de onde, coberto de pó e fadiga, sinto um orgulho besta e sempre renovado de aqui ter nascido, o rio de minha vida e de minha saudade."

Crônica originalmente publicada na Folha de São Paulo de 3/7/09, transcrita de As Ruas do Rio - blog de quem gosta do Rio nos mínimos detalhes.