ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

21.1.17

ADONIAS FILHO NO RIO DE JANEIRO, de CYRO DE MATTOS

Adonias Filho profere seu discurso de posse na ABL

Adonias Filho (1915-1990) preferiu deixar as terras do Sul da Bahia, a cidade de Salvador e o mar como cenário privilegiado de suas criações, escolhendo o Rio de Janeiro como o espaço ideal onde irão acontecer as ações do drama na pequena novela Amor no catete e no romance Noite sem madrugada. A densidade dramática ligada à ambiência primitiva da Região Cacaueira Baiana, aos mares de Luanda e Beira, na África, de Ilhéus e Salvador, na Bahia, ou ainda ao logradouro do Largo da Palma e à casa mágica povoada de espíritos e histórias de um forte, na capital baiana, irá ser conduzida agora pelo ficcionista seguro e estilista fino por onde o frio e o vento de inverno fazem a sua morada. Gente nos ônibus, lojas, passeios, imprimem o ritmo da vida diária.

Amor no Catete conta uma história que se passa em um lugar do Rio de Janeiro, dando-nos a sensação que aquele cenário carioca bem tocava a sensibilidade de Adonias Filho. A Rua do Catete com sua gente nas esquinas, discutindo futebol e política, as luzes dos postes iluminando os bondes que passavam, a hora dos gatos que fugiam dos velhos casarões para correr nos passeios desertos constituíram um cenário que permaneceu na memória sensitiva do escritor e no coração que acordava com saudade do tempo em que ali morou, quando então era um rapaz vindo do Sul da Bahia, cheio de esperança e sonho para assumir o compromisso de se tornar escritor um dia.

Bonde na Rua do Catete, foto de Augusto Malta de cerca de 1920 obtida no site Brasiliana Fotográfica

Em Amor no catete, o cenário de uma rua, com o vento trazido do mar pelas ruas do Flamengo, povoada de bares, lojas, estudantes que se recolhiam nas pensões, serve como o local de um encontro casual que culmina em amor, vivido entre um rapaz vindo do campo e uma mulher idosa, marcada pelo trauma da morte do filho.

Já em Noite sem madrugada, em uma das primeiras passagens, a personagem Vilma e os filhos encontram cedo a Rua do Catete com o movimento grande.

“Um povo afobado, andando com pressa, a subir nos ônibus, a encher os cafés e as lojas, a entupir os passeios. O barulhão dos motores e das buzinas, o fumaceiro dos ônibus, os sacos de lixo nas calçadas, as bancas de jornais”. (p.14)

Outros locais do Rio, como Jacarepaguá, Praça Quinze, Niterói, Icaraí, Leblon, servem como referências por onde Vilma, um dos personagens centrais do romance, em seu percurso permeado de esperança e aflição, transita na busca de provar a inocência de Eduardo, o marido, um homem bom, manso como um cordeiro, que não fazia mal a uma mosca, acusado de repente de ter participado de um assalto ao banco e assassinado um homem e uma mulher.

Em Amor no Catete, o local onde os personagens aparecem com suas ações fundamentais que conduzem a trama, a Rua do Catete, é aproveitado como elemento da realidade exterior com mais ênfase do que em Noite sem madrugada, mas em ambos os casos está longe de ser o espaço frequente que se configura como fundamental, marcado de simbolismo, por exemplo, no romance O forte e nos contos de O Largo da Palma ou ainda nos mares trágicos de Luanda, Beira Bahia, e em todas as histórias que acontecem no Sul da Bahia.

Adonias Filho ocupou cargos importantes na administração pública brasileira e exerceu significativas atividades culturais. Foi nomeado diretor da Editora A Noite (1946-1950), do Serviço Nacional de Teatro (1954) e da Biblioteca Nacional (1961-1971). Em 1966, foi vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa; de 1969 a 1973, exerceu a função de membro do Conselho Federal de Cultura; em 1972, presidiu a Associação Brasileira de Imprensa; e de 1977 a 1990, o Conselho Federal de Cultura.

Sua formação jornalística desenvolveu-se no Rio de Janeiro e em São Paulo. Foi colaborador em jornais importantes, como Correio da Manhã e o Jornal do Comércio. Participou como crítico literário do jornal Hora Presente, A Manhã, Jornal de Letras, Diário de Notícias, O Estado de São Paulo e na Folha da Manhã. Exerceu a crônica na Última Hora. Tanta atividade em suas trilhas de vida, dedicada à imprensa e à gestão cultural, que poderia ter se afastado de sua vocação literária. Tal não ocorreu porque tinha uma vocação legítima para ser escritor, um raro talento que não permitia que fosse diferente o homem que escolheu a literatura como leitura da vida.

Jamais recorreu ao pai para sobreviver. Como tradutor e jornalista, buscou os meios para subsistir com dignidade. Alcançou cargos importantes por méritos. Nunca cobiçou, nem procurou confundi-los com a sua carreira de escritor.

NOTA: A novela Amor no Catete faz parte da antologia Histórias dispersas de Adonias Filho, organizada por Cyro de Mattos, que você pode baixar gratuitamente clicando aqui

1.1.17

O QUE ESPERO DO NOVO PREFEITO, de ROLLAND GIANOTTI

PUBLICADO ORIGINALMENTE EM O GLOBO DE 31/10/2016, LOGO APÓS A ELEIÇÃO DE CRIVELLA. PARA LER A MATÉRIA COMPLETA CLIQUE AQUI.


O que espero do novo prefeito (ou meus dez desejos para Marcello Crivella):

1) que, durante todo o seu mandato, respeite as minorias e prove ser merecedor dos votos da maioria;

2) que entre 2017 vestido de branco, saltando três ondinhas e saudando Iemanjá no réveillon de Copacabana;

3) que em seu primeiro ato como prefeito de fato, cumpra a promessa de campanha e monte um secretariado estritamente técnico, evitando o loteamento da máquina pública entre políticos fichas-sujas, pastores evangélicos e milicianos;

4) que no dia de São Sebastião (20 de janeiro, é bom anotar...), o novo prefeito procure bênçãos na Igreja dos Capuchinhos da Tijuca e, braços dados com padres e bispos católicos, siga a procissão do santo padroeiro deste Rio de Janeiro;

5) que, no carnaval, ponha seu bloco na rua e, boquiaberto, assista aos desfiles na Sapucaí, onde beijará bandeiras, mulatas e baianas das escolas de samba (observação aqui: vale chorar com Portela, Mangueira e Império);

6) que se orgulhe do Cais do Valongo, lugar por onde passaram milhares de negros escravizados trazidos da África, ponto de grande importância para os representantes de religiões afrodescendentes e local candidato a Patrimônio da Humanidade;

7) que no Dia Internacional do Orgulho Gay (28 de junho, registra aí, Crivella, para não esquecer) se declare defensor das causas LGBT e reconheça o mérito para o Rio do titulo de destino gay friendly (são milhões de reais gastos na rede hoteleira, em bares, restaurantes e no comércio em geral);

8) que evite picuinhas com seu antecessor e preserve e amplie conquistas como o BRT, o VLT, a malha cicloviária e a Orla Conde;

9) que cuide das belezas locais (vale lembrar que o Rio foi a primeira cidade do mundo a receber o título da Unesco de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural Urbana);

10) e que, em meio a tudo isso, encontre tempo para um mergulho em Ipanema, um passeio pelo novo Porto, uma roda de samba em Madureira...

Enfim, que ame o Rio e sua gente.