Se no axé a regra é o alto astral, o "pra cima", já "pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza", como ensinou mestre Vinicus, e ninguém encarna melhor o lado melancólico, soturno do samba que Nelson Cavaquinho, o "Schopenhauer do samba", por assim dizer, com letras angustiadas como "Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor". Texto a seguir de Paulo Sérgio M. Machado e equipe para o fascículo Nélson Cavaquinho da Nova História da Música Popular Brasileira da Abril Cultural de 1978 (2a edição revista e ampliada). Imagens extraídas desse mesmo fascículo.
Filho de Brás Antônio da Silva e Maria Paula da Silva, Nélson Antônio da Silva nasceu no Rio de Janeiro em 29 de outubro de 1911. Entre suas lembranças da infância e da adolescência estão as constantes mudanças de endereço: Rua Mariz e Barros, Rua Silva Manuel (na Lapa), Rua Joaquim Silva (nos Arcos), uma temporada no subúrbio de Ricardo Albuquerque, outra no bairro da Gávea. A família pobre fugia dos aumentos dos aluguéis.
Também devido à pobreza, o menino Nélson abreviou a
infância: saiu da escola no terceiro ano primário para ir trabalhar numa
fábrica de tecidos e depois como auxiliar de eletricista. Mas sua formação
musical iria mais longe. Começou em casa, com o pai, tocador de tuba na Banda
da Polícia Militar. (Alias, essa tuba lhe traz triste recordação: para se
safarem de uma situação econômica mais crítica que de costume, Nélson mais os
cinco irmãos venderam o instrumento de trabalho de Seu Brás para um depósito de
ferro velho.) Outro "professor" foi um tio violinista: nas tardes de
domingo, o tio tocava, a família cantava e o menino tentava acompanhar num
instrumento de fabricação caseira: fios de arame esticados numa caixa de
charutos.
A influência mais forte, no entanto, viria dos bailes dos
clubes Gravatá, Chuveiro de Ouro e Carioca Musical. Neles Nélson conheceu Edgar
Flauta da Gávea, Heitor dos Prazeres, Mazinho do Bandolim e o violonista
Juquinha. Este foi seu primeiro professor de fato: lhe deu as noções de como
tocar — cavaquinho, principalmente. Nessa fase, Nélson adquiriu um vício que se
transformou em estilo: tocar apenas com dois dedos.
Aprendeu como pôde, espiando os veteranos, perguntando a um,
conversando com outro. Não tinha dinheiro para comprar o instrumento, mas logo
já dava quedas até nos velhos tocadores.
"Dar uma queda" no acompanhante era um dos
passatempos prediletos dos velhos chorões, que ficavam horas e horas nos bares
executando variações em torno da linha melódica de uma valsa ou de um choro.
Esses longos improvisos, onde se conheciam os verdadeiros mestres, lembram malabarismos
feitos pelos negros do Sul dos Estados Unidos, na época das origens do jazz.
A queda praticada pelos chorões ocorria quando o tocador
modulava a melodia solista de tal maneira que o acompanhante se atrapalhava na
procura de nova posição, o que o obrigava aos saltos de tom. Nélson compôs Gargalhada em homenagem ao mestre
Juquinha, que ria muito toda vez que lhe dava uma queda. Outro choro, composto
nessa época, tinha o significativo nome de Queda.
Foi então que Ventura, um jardineiro português, ficou com
pena de ver Nélson tocando tão bem no instrumento dos outros: deu-lhe de
presente o primeiro cavaquinho. Muito tempo depois, já violonista, Nélson
ganharia dos funcionários do Fórum do Rio mais um cavaquinho. Agradecido,
comporia Nair — choro que foi gravado
por Altamiro Carrilho e sua banda, e talvez a única composição em que o nome de
Nélson aparece sozinho.
Mesmo tocando em instrumentos alheios, Nélson não desistia:
tinha o incentivo das cabrochas que suspiravam encantadas pelos músicos.
DEGRAUS DA VIDA
Vídeo: Juízo Final, de Nélson Cavaquinho, com Herança do Samba. Vocalista: Márcio Wanderlei. Gravado na Feira das Yábas no segundo domingo de outubro de 2014. No final, um flash do bolo de aniversário de Marquinhos de Oswaldo Cruz. LETRA:
O sol....há de brilhar mais uma vez / A luz....há de chegar aos corações / Do mal....será queimada a semente / O amor...será eterno novamente / É o Juízo Final, a história do bem e do mal / Quero ter olhos pra ver, a maldade desaparecer.
Nélson começava a ser "do Cavaquinho" quando, aos 21 anos, cometeu seu primeiro casamento.
Guindado à categoria de homem sério, com responsabilidades,
sua família e a de Alice (a esposa) insistiam para que arranjasse um emprego
condizente. Mas até o nascimento do terceiro filho, Nélson continuava passando
a maior parte de seu tempo em rodas de samba e nos botecos da Lapa, a léguas do
bairro de Brás de Pina, onde morava. Só voltava para casa quando o dinheiro —
ou melhor, quando o crédito — acabava. Chegava com o cavaquinho (prova do
crime) e uma galinha (tentativa de suborno). Alice jogava longe o instrumento e
acendia o fogo para preparar a canja das crianças. Alguns dias depois, Nélson
sumia de novo e talvez a cena estivesse se repetindo até hoje se alguns amigos
de Seu Brás não tivessem arranjado um emprego de cavalariano da Força Pública
para o sambista. O salário certo, reforçado pela comissão que o novo policial
cobrava de prostitutas da Lapa, deu certa estabilidade ao lar de Nélson.
Sua função era patrulhar os botecos dos morros, o que ele
fazia com inegável constância e eficiência. Para impedir arruaças, nem
precisava efetuar prisões: conversava e bebia com o baderneiro até tudo se
acalmar. Conta Nélson que seu cavalo conhecia todas as biroscas e parava em
todas, pois também apreciava sua cachacinha:
— Ele ficava na porta do boteco, batendo com a pata no chão,
até que o dono do bar levasse um pouco de pinga para ele.
A grande amizade que os unia sofreu um estremecimento na
noite em que o animal largou Nélson num bar e foi sozinho para o quartel. O
boêmio precisou voltar de bonde e entrar disfarçadamente na guarnição. E o
cavalo, em sua baia, parecia rir dele...
Nessa época, Nélson foi se entrosando mais com Cartola, Carlos Cachaça e Zé com Fome (o futuro Zé da Zilda). E acabou compondo seu primeiro samba, Entre a cruz e a espada: "Na cruz eu vejo a imagem de Nosso Senhor/ E na espada eu vejo a tua imagem./ Quero disputar o teu amor, / Mas me falta coragem".
Depois de sete anos de casamento, Alice morreu e os filhos
do casal foram viver sob tutela da avó materna. Livre de encargos, Nélson
desligou-se da força e foi viver de e para a música.
Cigano urbano, profundo conhecedor dos mocós do Rio, conhecido
nas rodas de samba dos morros, Nélson passou a compor com maior frequência.
Inclusive porque essa era a sua moeda: passou a trocar composições por
hospedagens em hotelecos, cachaça, comida, uma roupa feita. Não sabia que seus
sambas tinham valor muito superior ao que lhe pagavam. Mas às vezes o comprador
também era prejudicado. Certa vez um "parceiro" apareceu reclamando:
— A gente tava muito bêbado quando comprei aquele seu samba
e agora eu não lembro mais a letra nem a música...
— Azar seu, compadre, eu também esqueci tudo.
E com os 5$000 que lhe rendera a venda, Nélson comeu durante
uma semana no Bar do China.
Ele nunca se interessou muito pela industrialização de sua
arte. Os sambas eram feitos para se consumirem nas madrugadas, convertidos em
alegria e bebida. Gravar pra quê? Mas, ainda no início da década de 30,
aconteceu o primeiro disco. Rubens Campo e Henricão, homens de rádio, ouviram Não
faça vontade a ela e insistiram até Nélson aceitar a
"oportunidade" que eles lhe ofereciam (em troca de parceria). A
música foi gravada, mas em edição particular.
Seria um início de carreira de compositor profissional,
mas o notívago não tinha tempo nem disposição para andar atrás de gravadoras e
cantores. Vários sambas que se tornariam clássicos·da MPB ficaram guardados
durante anos na memória do menestrel, esperando a hora da gravação. Foi o que
aconteceu, por exemplo, com Rugas
(gravado em 1946, por Ciro Monteiro) e Degraus da vida (em 1961, por
Roberto Silva). Nélson vivia de biscates e da venda de sambas. Mílton Amaral,
também boêmio e compositor, conta que, certa madrugada, fizeram um samba em
parceria. Alguns dias depois, quando foi à editora para assinar o contrato, já
era o 16o coautor: Nelson havia vendido catorze parcerias da mesma
música.
Na década de 40, o nome de Nélson Cavaquinho — alias, N.
Silva, como ele então se assinava — começa a aparecer em etiquetas de discos da
RCA Victor. Ciro Monteiro gravou, em 1943, Apresenta-me aquela mulher
(de N. Silva, Augusto Garcez e G. Oliveira); ainda no mesmo ano, Não te dói
a consciência (Augusto Garcez, N. Silva e Ary Monteiro); e, em 1945, Aquele
bilhetinho.
Foi por essa época que Nélson conheceu Guilherme de Brito,
que viria a ser seu maior e mais constante parceiro. Juntos fariam sambas
antológicos, do porte de Pecado, Palavras
malditas, Cinzas, Depois da
vida, Pranto do poeta e Degraus da vida.
"TIRE O SEU SORRISO DO CAMINHO, QUE EU QUERO PASSAR
COM A MINHA DOR"
Guilherme de Brito Bolhorst nasceu no Rio em 3 de janeiro de 1922. Perdeu o pai muito cedo e logo precisou trabalhar para ajudar em casa. Tinha catorze anos quando foi contratado pela Casa Édison. A situação econômica do país estava difícil, os empregos eram raros e Guilherme não podia perder aquele. E o pior é que precisava trabalhar na loja, trajando-se com relativa elegância — justo ele, que não tinha nem um terno. Um amigo da família arranjou um paletó, outro, a calça, e assim por diante.
— Mas como eu era garoto ainda pequeno, minha mãe teve de
adaptar as roupas, e não ficaram "sob medida". Daí me deram o apelido
de Calça balão. Me senti humilhado e fiz meu primeiro samba, Calça balão,
do qual, aliás, nem me lembro mais.
Guilherme superou a brincadeira de mau gosto e ficou na Casa
Édison durante trinta anos, passando de office-boy a chefe dos mecânicos
de máquinas de calcular, cargo no qual se aposentou em 1966. A ligação de
Guilherme com a música começou cedo: o pai e uma das irmãs eram violonistas e
logo o menino se viu com um cavaquinho nas mãos. Além disso, ele nasceu em Vila
Isabel, um dos principais núcleos de sambistas.
O que retardou a divulgação de seu trabalho como compositor
foi o serviço na Casa Édison, que lhe deixava sem tempo para a boêmia e o
relacionamento no meio artístico. Pouco divulgadas, suas músicas não conseguiam
gravação. Ademilde Fonseca e Roberto Silva cantavam algumas delas nos programas
de auditório, mas não as levaram ao disco.
— Acho que não gravavam — conjetura Guilherme de Brito —,
porque não existia a parte promocional das gravadoras. Quem fazia a promoção
era o próprio compositor, que saía pelas rádios fazendo caitituagem. E eu não
tinha tempo nem conhecimento pra fazer isso. Nessa época já tinha muita gente
desconhecida doida pra aparecer. E os caras famosos, que podiam dar uma força,
humilhavam a gente. Mandavam esperar um pouco e iam embora, marcavam encontro e
não apareciam...
Assim, a primeira gravação só aconteceu em 1954. Um
concunhado de Guilherme, que acompanhava Augusto Calheiros, conseguiu uma
apresentação. E Augusto acabou registrando num 78 da Todamérica Meu dilema e
Audiência divina, ambas de Guilherme de Brito.
— Quer dizer, demorei pra começar mas comecei bonito.
Depois disso, as coisas se tornaram um pouco mais fáceis, e
Guilherme conseguiu gravar com outros nomes conhecidos, como Pedro Caetano,
Orlando Silva, Trio Irakitan e Vocalistas Tropicais. Mas não foram grandes
sucessos comerciais, pela falta de divulgação.
Então Guilherme passou a procurar um parceiro que fizesse
essa parte. Morava em Ramos, um dos vários locais onde Nélson Cavaquinho fazia
ponto, e o encontro entre eles acabou acontecendo. De noite, quando Guilherme
voltava da Casa Édison, Nélson estava pelos bares, bebendo e cantando, rodeado
de amigos. De manhã, quando ia para o trabalho, Nélson ainda estava lá,
acompanhado pelos mais resistentes. Acabaram se conhecendo, tornando-se amigos
e parceiros. É verdade que Nélson nunca iria caitituar as músicas da dupla, mas
deu-se muito com Guilherme — os dois tinham uma visão de mundo bem semelhante.
Formou-se então uma dupla de compositores de amargo lirismo,
voltados para as pequenas tragédias cotidianas e para o efêmero da vida. Poucos
poetas tiveram inspiração suficiente para condensar numa frase toda a magoa
transmitida por eles nestes dois versos de A flor e o espinho:
"Tire o seu sorriso do caminho, / Que eu quero passar com a minha
dor".
Mesmo composições feitas para a escola de samba querida de
Nélson mantêm a preocupação quase obsessiva com a morte: "Em Mangueira, /
Quando morre um poeta, todos choram./ Vivo tranquilo em Mangueira, / Porque sei
que alguém há de chorar / Quando eu morrer. / Em Mangueira o pranto é tão
diferente, / É um pranto sem lenço, que alegra a gente. / Hei de ter um alguém
pra chorar por mim / Através de um pandeiro e de um tamborim" (Pranto
de poeta, de Nélson e Guilherme).
Na década de 50, as músicas da dupla começaram a ser
gravadas com mais frequência. Mas ainda não era o sucesso: nomes de
"comprositores" continuavam a constar ao lado dos de Nélson e
Guilherme. E não adiantava muito este pressionar o companheiro contra tais
"parcerias", pois se ele não divulgava as composições, Nélson muito
menos. O ex-cavalariano estava inteiramente voltado para a sua arte e para a
boêmia. Não via por que não ceder coautoria a um novo amigo de balcão ou a
alguém que fizesse a composição render algum dinheiro para novas farras.
Por outro lado, entre Guilherme e Nélson existe o pacto de
só fazerem música junto e sempre a dois mesmo:
— Eu não me sentiria bem se meu nome entrasse sem eu ter
feito nada — garante Guilherme e concorda Nélson, emborcando um cálice de
conhaque. Por isso, mesmo que dê pra um terminar a música sozinho, ele sempre
deixa um pedaço pro outro fazer.
MINHA FESTA
Em 1961, Nélson começou a frequentar regularmente a casa de Cartola e sua mulher, Dona Zica. Estimulados por cervejas e saborosos petiscos, passavam as madrugadas em memoráveis rodas de samba compositores de real valor, como Zé Kéti, Paulinho da Viola, Jair do Cavaquinho, Anescar Bigode, Élton Medeiros e muitos outros.
A casa da Rua dos Andradas foi ficando famosa — e pequena.
Então surgiu a ideia de se abrir um restaurante: Zica entrava com a comida e
Cartola com o violão. Logo o Zicartola tornou-se reduto de toda a boa música
popular, independentemente de linhas ou temáticas. E, com a revalorização das
raízes musicais, provocada pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos
Estudantes e assimilada pela bossa nova, velhos sambistas foram descobertos ou
redescobertos.
Nélson foi um deles. Em 1965, Nara Leão gravou com algum
sucesso Pranto de poeta; os convites para que ele tocasse em shows se
multiplicaram; e sua fama ultrapassou as fronteiras da boêmia carioca.
Agora o desligamento de Nélson ganhava notoriedade,
tornava-se folclórico. Conta-se que certa noite ele tocou com Jobim até
amanhecer, chegando a combinar um show conjunto. O produtor Jorge Coutinho, ao
saber da história, correu à procura de Nélson para acertar os detalhes do tal
espetáculo. Ao que Nelson reagiu espantadíssimo:
— Tom?! Que tom? Dó maior?
Noutra ocasião, Paulinho da Viola organizou um show que teria, entre os artistas, Nélson Cavaquinho. Paulinho lembrou-o varias vezes do compromisso, mas no dia Nélson simplesmente desapareceu. Paulinho quase não recebeu, por quebra de contrato. Depois, ao encontrar o velho boêmio, tomou fôlego para a maior esculhambação, mas Nélson o interrompeu na primeira frase:
— Você não avisa nada e ainda vem dando bronca no Nélson!
Assim não é possível!
(Outra mania do sambista é referir-se a si mesmo na terceira
pessoa.)
Na esteira dessa revalorização, em 1970 gravou seu primeiro
LP exclusivo como cantor, na etiqueta Castelinho (disco depois comprado pela
Continental).
Durante toda a década de 70 ele foi muito requisitado, e
teve inúmeras músicas gravadas por intérpretes de sucesso: Paulinho da Viola (Duas
horas da manhã), Chico Buarque de Holanda (Cuidado com a outra, de
Nélson e Augusto Tomás Jr.), Clara Nunes (Minha festa, de Nélson e
Guilherme e Palhaço, de Nélson,
Washington e Osvaldo Martins), Beth Carvalho (Quero alegria, de Nélson e
Guilherme), além de Elizeth Cardoso, o saxofonista Paulo Moura e outros.
Com Guilherme de Brito ele gravaria um LP em 1977: Quatro
grandes do samba (os outros dois grandes eram Candeia e Élton Medeiros).
Guilherme estreou como cantor, registrando duas de suas composições de maior
sucesso —A flor e o espinho e Quando eu me chamar saudade — e
duas outras menos conhecidas — A vida e Gota de luar (também de
Nélson e Guilherme).
MEU CORAÇÃO AMIGO
Um dia apareceu na vida do compositor a moça Durvalina,
trinta anos mais nova que ele. E não passou, como tantas outras. Ficou: de dia
empregada doméstica na mansão de um banqueiro, à noite cuidando de sua casinha
no Jardim América. E de Nélson Cavaquinho.
Um Nélson Cavaquinho que ainda precisa que o parceiro e
amigo de várias décadas o acompanhe quando há algum dinheiro a ser recebido,
para que o pagamento não seja todo consumido em noites de farra. Separada uma
importância que Guilherme levará para Durvalina pagar as contas, Nélson passeia
sua liberdade pelo Rio de Janeiro. Num balcão qualquer da noite carioca, ele
pedirá a primeira. Dedilhará o violão, provavelmente cantara Caridade:
"Não sei negar esmola a quem implora caridade. / Me
compadeço sempre de quem tem necessidade. / Embora algum dia eu receba
ingratidão, / Não deixarei de socorrer a quem me pedir um pão. / Eu nunca soube
evitar de praticar o bem, / Porque posso precisar também. / Sei que a maior
herança que eu tenho na vida / É meu coração amigo dos aflitos. / Sei que não
perco nada em pensar assim / Porque amanhã não sei o que será de mim".
— Esse samba sou eu mesmo.
Vai beber o resto do cachê, conversar, cantar, beber, ter
novas ideias que depois mostrará ao parceiro. E talvez amanhã nasça mais um
clássico da música popular brasileira. (Texto de 1978. Nélson Cavaquinho viria a falecer em 1986.)