ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

30.12.10

ADEUS 2010/FELIZ 2011!


COM ESTAS FOTOS DURANTE O PÔR-DO-SOL NO ARPOADOR


LITERATURA & RIO DE JANEIRO - O BLOG DE QUEM ADORA O RIO DE JANEIRO -


DESPEDE-SE DE 2010,


DESEJANDO AOS AMIGOS


UM FELIZ ANO E DÉCADA NOVA!


E CONTINUEM NOS VISITANDO,


QUE SEMPRE TEREMOS


NOVAS SURPRESAS!

20.12.10

GENTILEZA GERA GENTILEZA

Texto de Clotilde Tavares originalmente publicado no  blog Umas & Outras. Fotos tiradas pelo editor do blog nas imediações da Rodoviária Novo Rio.


Seu verdadeiro nome era José Datrino, nascido em 1917. Antes de tornar-se “Profeta”, Datrino possuía uma empresa de transporte de cargas e residia, com sua família, no bairro de Guadalupe, Rio de Janeiro. Possuía muitos bens, uma casa, três terrenos, três caminhões, mas a partir de sua “revelação”, deixou tudo para a família e ganhou um nova identidade: o Profeta Gentileza que, aos poucos, tornou-se uma figura popular na cidade. Gentileza andava por vários bairros do Rio, Niterói e Baixada Fluminense e também andou pelo Brasil, pregando o amor pela natureza, a paz e… a gentileza. A partir dos anos 80, começou a inscrever mensagens nas pilastras do Viaduto do Caju, no Rio de Janeiro, formando um verdadeiro “livro” de concreto, que foi recentemente restaurado e está em processo de tombamento pela Prefeitura do Rio. O Profeta Gentileza morreu em 1996, aos 79 anos, mas o seu trabalho, pela mensagem que encerra, está sendo reconhecido por muitos setores da arte e da cultura, entre os quais a cantora Marisa Monte, que compôs e gravou uma música em sua homenagem.


Pois bem, caro leitor: o Profeta Gentileza andou por aqui [em Natal] no início da década de 1980. Lembro bem de tê-lo visto “pregando” na Praça João Maria e de ter ficado impressionada pela sua figura teatral, muito alta e muito magra, de barba e cabelos longos e grisalhos, com uma bata branca que ia até os pés e o estandarte colorido, ornamentado com flores, cataventos de papel e dísticos, que portava com distinção e firmeza. O profeta, quando andou por aqui, morava ou se hospedava no bairro de Nova Descoberta e vez por outra o via descendo a rua da Saudade, onde eu morava naquela época.


Um fato engraçado é que Ana Morena, minha filha mais nova, nessa época com uns 4 ou 5 anos de idade, estava sempre querendo fugir de casa para ir brincar na rua. Temerosa de que algo lhe acontecesse, tentei amedrontá-la: “Olhe que vem o Velho e lhe carrega, lhe bota dentro de um saco e leva para bem longe!” Incontinenti, ela respondeu: “Você mesmo disse que não existe nem Papão, nem Papa-Figo, nem Velho, que são coisas que os adultos inventam para assustar as crianças!” Fiquei assim meio sem saída, vendo confrontados meus modernos conceitos de “educação sem medo” com a necessidade de impor um limites à minha atrevida pirralha.


Nesse dilema, olho para o alto da rua e quem vejo? O Profeta Gentileza, que descia a rua da Saudade em direção à Salgado Filho. “Olhe, lá vem vindo o Velho!”, falei e apontei para ele, de estandarte e com o camisolão branco que o deixava ainda mais alto e magro. Quando Ana Morena viu aquela aparição disparou apavorada para dentro de casa e não saiu mais.


O belo e suave Profeta Gentileza, que nunca quis assustar ou fazer mal a ninguém, terminou, sem querer, encarnando o perigoso “Velho”, personagem amedrontador que deve ter povoado os pesadelos da minha filhinha durante muito tempo.


Mas isso é apenas uma pequena e engraçada história. O que fica, para nós todos, como legado desta figura sem paralelo no dia-a-dia das nossas cruéis e violentas cidades é a mensagem “Gentileza gera Gentileza”, herança amável e preciosa que precisa ser exercitada e multiplicada por todos nós.


7.12.10

HOMENAGEM A NOEL ROSA



Conversa de Botequim

Noel Rosa &
Vadico, com Moreira da Silva

Seu garçom

Faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo
Um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol

Se você ficar limpando a mesa
Não me levanto nem pago a despesa
Vá pedir ao seu patrão
Uma caneta, um tinteiro, um envelope e um cartão
Não se esqueça de me dar palito
E um cigarro pra espantar mosquito
Vá dizer ao charuteiro
Que me empreste uma revista, um cinzeiro e um isqueiro

Telefone ao menos uma vez
Para 344333
E ordene ao Seu Osório
Que me mande um guarda-chuva aqui pro nosso escritório
Seu garçom me empreste algum dinheiro
Que eu deixei o meu com o bicheiro
Vá dizer ao seu gerente
Que pendure essa despesa no cabide ali em frente



Estátua de Noel Rosa no botequim com o garçom em Vila Isabel & calouros da UERJ.

Mas o grande parceiro de Noel foi Osvaldo Gogliano, o Vadico. Conheceram-se em 1932 no estúdio da Odeon, apresentados por Eduardo Souto. E logo frutificou o encontro do Poeta da Vila com o compositor paulista. Vadico tocou uma melodia que compusera e Noel escreveu Feitio de oração. [...] Várias frases desse samba tornaram-se quase uma definição da música popular brasileira: "Batuque é um privilégio / Ninguém aprende samba no colégio./ Sambar é chorar de alegria/ É sorrir de nostalgia / Dentro da melodia./ / O samba, na realidade, / Não vem do morro nem lá da cidade / E quem suportar uma paixão/ Sentirá que o samba, então, / Nasce do coração”.

A segunda música de Vadico e Noel foi uma segunda obra-prima: "Quem nasce lá na Vila / Nem sequer vacila/ Ao abraçar o samba,/ Que faz dançar os galhos do arvoredo / E faz a lua nascer mais cedo". Esse
Feitiço da Vila, verdadeiro hino de Vila Isabel, acabou inserido no que se chamou "polêmica Noel x Wilson Batista".

A parceria com Vadico ainda produziu oito sambas, entre os melhores de Noel: Mais um samba popular, Pra que mentir,
Conversa de botequim, Só pode ser você, Tarzan, o filho do alfaiate, Cem mil réis, Provei e Quantos beijos, todos demonstrando perfeito entrosamento entre letra e musica.

O fato de, em geral, ser impossível distinguir os sambas de parceria dos sambas unicamente de Noel mostra que o autor da letra influenciava o parceiro músico. Noel não era apenas um excelente letrista: era um
compositor popular completo. (Texto extraído do encarte do disco Noel Rosa da Nova História da Música Popular Brasileira, Abril Cultural, 1976).



O Brasil de Noel Rosa era o Rio de Janeiro, a capital da República, o centro da vida política e cultural do qual ele raramente se afastou [...]. “Ninguém cantou o Rio melhor que ele”, reconheceu o carioca Antônio Carlos Jobim. E é o Rio de Janeiro que Noel canta quase sempre. Vila Isabel, decerto, mas sobretudo a Penha, à qual dedicou mais sambas do que ao seu bairro [...]. O Estácio vem em seguida, assim como Salgueiro, Mangueira, Osvaldo Cruz, Matriz, Meier, Cascadura, Pavuna, Gamboa, Copacabana e, claro, Lapa, todos mencionados de alguma forma em suas letras. A paixão pelos subúrbios, em contraste com a resistência aos bairros mais chiques, é declarada num samba pouco lembrado, mas admirável (“Voltaste, demonstrando claramente/Que o subúrbio é ambiente/De completa liberdade....”). E a cidade como um todo é saudada na marcha-título do filme Cidade-mulher (“Cidade notável, inimitável,/Maior e mais bela que outra qualquer/Cidade sensível, irresistível/Cidade do amor, cidade mulher”). (João Máximo, Noel Rosa, coleção Raízes da Música Popular Brasileira da Folha de São Paulo, recém-lançada nas bancas e imperdível).

Grafite de Noel Rosa num bar do Engenho de Dentro.

5.12.10

TREM DO SAMBA 2010


Trem e música: componentes tradicionais das comunidades negras nas Américas. Confirmando essa tradição, no início do século XX, e fugindo da perseguição imposta pela elite às práticas simbólicas negras, Paulo da Portela e seus companheiros de escola reuniam-se no trem (que foi transformado em "sede social"), na volta do trabalho, cantando e tocando samba.

Bem mais tarde, em 1991, Marquinhos de Oswaldo Cruz (cantor e compositor portelense) vai também utilizar o trem como um espaço para reunião de sambistas. Também fugindo da repressão às vozes e ritmos negros, Marquinhos e um grupo de sambistas refazem no trem a rota da diáspora dos descendentes de escravos expulsos do centro da cidade. Buscavam mostrar a cidade, a música que era produzida no subúrbio e, em especial, no desconhecido bairro de Oswaldo Cruz. Esse movimento tem sua primeira vitória quando Marquinhos de Oswaldo Cruz e Juarez Barroso conseguem indicar a Velha Guarda da Portela para recebimento da Medalha Pedro Ernesto.

Toda essa luta foi acompanhada de descrédito de muitos moradores que consideravam essas questões menos importantes . Para muitos, Marquinhos era um indivíduo alienado, que só falava de samba. Não entendiam que uma comunidade se mantém através da sua memória e que a memória do bairro de Oswaldo Cruz sempre esteve ligada a música tradicional.

Um vagão de trem continuou a ser utilizado ainda em 1992. No entanto, foi em 1996 que o "Pagode do Trem" passou a comemorar o Dia Nacional do Samba. Assim, Marquinhos inventa uma forma original de celebrar o dia 2 de dezembro, relembrando a trajetória do povo negro que com a reforma Pereira Passos, foi expulso dos lugares nobres da cidade para os subúrbios e morros.

Acreditamos então, que em sua 15a edição, o Trem do Samba conseguirá atingir seus objetivos de difundir o samba que é produzido nos subúrbios cariocas (Texto extraído do folheto do Trem do Samba 2010).

Estação Oswaldo Cruz

Velha Guarda da Portela

Clube do Samba

Palco na Rua João Vicente

Botequim

Sambistas

Se todo mundo sambasse seria mais fácil viver...