ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

20.1.12

VIDIGAL

Placas "UPP Vidigal" e "Iluminação": os serviços públicos chegam ao Vidigal. Azulejos do projeto O Caminho dos Direitos Humanos de Françoise Schein (2001). Um conjunto de painéis desse mesmo projeto pode ser visto na entrada da estação de metrô Siqueira Campos.

Com a inauguração da UPP (a 19a da cidade) na última quarta-feira, 18 de janeiro, o Vidigal, livre da ditadura do tráfico, integra-se ao tecido da cidade, podendo agora ser normalmente visitado pelos apreciadores da “arte de flanar”. Aproveitei o feriado municipal de 20 de janeiro, dia de São Sebastião, e fui lá conferir. Aqui está o resultado.
O Vidigal é um bairro sui-generis. Embora à distância pareça uma enorme favela, existe toda uma área não-favelizada a nordeste, e existe uma zona limítrofe onde prédios de classe média e casas, como a da segunda foto a seguir, convivem com a comunidade próxima.

O Vidigal visto de baixo

Casinha à esquerda e mercado Super Rede à direita

Os agentes de Viana [Paulo Fernandes Viana, intendente geral da polícia de 1808 a 1821] eram implacáveis e truculentos. O mais famoso deles foi o Major Miguel Nunes Vidigal. Segundo-comandante da nova Guarda Real, Vidigal tornou-se o terror da malandragem carioca. Ficava à espreita nas esquinas ou aparecia de repente nas rodas de capoeira ou nos batuques em que os escravos se confraternizavam bebendo cachaça até tarde da noite. Sem se importar com qualquer procedimento legal, mandava que seus soldados prendessem e espancassem qualquer participante desse tipo de atividade — fosse um delinquente ou apenas um cidadão comum que estivesse se divertindo. Em lugar do sabre militar, os soldados de Vidigal usavam um chicote de haste longa e pesada, com tiras de couro cru nas pontas. O major também comandou pessoalmente vários assaltos a quilombos montados por escravos fugitivos nas florestas ao redor do Rio de Janeiro. Em recompensa pelos seus serviços, Vidigal recebeu de presente dos monges beneditinos, em 1820, um terreno ao pé do Morro Dois Irmãos. Invadido por barracos a partir de 1940, o terreno está hoje ocupado pela Favela do Vidigal, de onde se tem uma vista privilegiada das praias de Ipanema e do Leblon.

Trecho de 1808
de Laurentino Gomes (pp. 234-5)



Vista para o mar

Ao looonge (está vendo???) Ipanema e Arpoador

Deve ser difícil viver num lugar com uma das vistas mais bonitas da cidade  o mar à frente e a Mata Atlântica nos fundos , um comércio abundante e, agora, segurança 24 horas. E é. O Morro do Vidigal pode ser considerado a Zona Sul das favelas cariocas, mas, embora tenha as qualidades acima, está longe de ser um ambiente ordeiro. Com a chegada da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), inaugurada na quarta-feira, a favela agora clama por uma faxina geral, um choque de ordem que ponha as coisas nos seus devidos lugares. (O Globo - Rio - para ler o resto da matéria clique aqui.)

As casas sobem o morro & os fios se entrecruzam

Homem de lata. Fotos do editor do blog.

15.1.12

ESTRADA DE FERRO FAZENDA MATO ALTO


Se eu contar que fiz um passeio de trenzinho maria-fumaça sem sair do Rio de Janeiro vocês acharão que é lorota, mas a foto acima não me deixa mentir. Sábado, 14 de janeiro, participei de um “Passeio Poético”, nos trilhos da Estrada de Ferro Mato Alto, promovido pelo Movimento de Preservação Ferroviária. Trata-se de uma pequena ferrovia, com cerca de 3,5 quilômetros de extensão, que o aficionado por trens Márcio Manela construiu em sua fazenda de gado, em Guaratiba. Ali passeamos em um trenzinho composto de vagões abertos construídos nas oficinas da fazenda, tracionados por uma das velhas locomotivas a vapor que o colecionador adquire e depois restaura nessas mesmas oficinas. “Passeio Poético” porque durante o passeio poetizas do grupo “Poetas do Trem” declamaram poemas sobre as velhas marias-fumaças (entre eles o que você lerá em seguida). Para saber onde se localiza a Fazenda Mato Alto clique aqui. Para ler matéria do Globo Rio sobre a fazenda clique aqui. A Mato Alto é uma das fazendas de Guaratiba onde se realizará uma missa campal por ocasião da visita do Papa. [NOTA POSTERIOR: Devido às chuvas fortes a missa acabou sendo transferida para Copacabana. Para ver a cobertura deste blog da Jornada Mundial da Juventude clique aqui.]




MARIA
Hernani Bottega

Ao raiar do sol, com um apito, ameaça a partida.
À tardinha, volta à romântica praça, início da ida.

Pertence a uma família cheia de graça.
Fama mundial, melhor não há quem faça.

            Chama-se Maria, Maria Fumaça

Gasta madeira, em carvão, na fornalha. Corre veloz,
serpenteia junto ao rio, aposta corrida com o albatroz.

Vence vales, sobe colinas, vara campos, assusta a caça.
Costura cidades, lugares e, por instantes, pela gente passa.

            Chama-se Maria, Maria Fumaça

Desfila imponente. Das outras se distingue bem à beça.
Engole trilhos com muita fome e diligente pressa.

E nesse contínuo vai e vem , o tempo passa.
Já quase, quase ninguém conhece Maria

            Maria Fuuu masss ÇAA


10.1.12

SER CARIOCA NÃO É CERTIDÃO DE NASCIMENTO, É UM ESTADO DE ESPÍRITO, de Aspásia Camargo


1. Riomania - Quando desponta o verão, tenho um encontro mágico e intransferível com minha cidade, o Rio de Janeiro. É o momento em que todos redescobrimos sua beleza e sedução. Suas riomanias, modismos e gingados, que se renovam a cada ano, revelando os seus mistérios e surpresas.  São as “bossas do verão”.


2. Somos gregários - Vivo também o prazer de  encontrar amigos em algum café ou bar de esquina, para comentar os últimos espetáculos, os próximos planos ou as mazelas da cidade. Por exemplo, como a cidade anda suja!


3. Pontos de encontro - No ano passado, várias tribos fizeram seu ponto no Arpoador, à noite, e as sorveterias de iogurte conquistaram a cidade! São as novidades que só o verão carioca oferece, aos que aqui vivem e aos que vêm ao seu encontro, atraídos por sua magia e sedução.


4. Rumo ao subúrbio! - A moda agora é frequentar novos recantos da cidade. Verdadeiras caravanas se organizam em busca do melhor botequim de subúrbio, com boa gastronomia a preços acessíveis, depois que alguns botequins tradicionais salgaram na conta. É o caso do Aconchego Carioca, em uma transversal da Rua do Mattoso, na Praça da Bandeira. Há também um porco embebedado no Cachambeer, em Cachambi, e um caldo de frutos do mar no Bar da Portuguesa em Ramos. É o charme da Leopoldina.


5. O verão sobe o morro - Cacá Diegues estava certo quando inventou Cinco X Favela. Agora, com muitas delas pacificadas, os cariocas frequentam mais as comunidades cheias de afetividade e emoção. Os estrangeiros, que vêm de países superindividualistas, ficam encantados com tanta interação. Comer uma boa feijoada no Bar do David, no Chapéu Mangueira é uma descoberta.  Mas houve também espetáculos de final de ano, nas lajes! Como o do Theatro Municipal na Rocinha, e a Orquestra Sinfônica no Alemão. A cultura erudita se mistura com a alma da nação.


6. O novo hit do verão - A onda agora é a redescoberta dos bairros, uma espécie de bairromania  que a Lei Seca facilitou. Afinal, ninguém quer levar multas ou perder a carteira frequentando bares muito longe de casa. Com isso, foram beneficiadas as economias locais. E, vamos combinar: é bem simpático frequentar as esquinas e a vizinhança, valorizando os arredores e os prazeres de nossa infância, como acontece em outros países que promovem sua própria cultura.


7. Aqui é o meu lugar - Como dizia o grande Osvaldo Nunes, “voltei, aqui é meu lugar, minha emoção é grande, a saudade era maior, e voltei pra ficar”. Então, fique! Puxe a cadeira, chame os amigos e, sem exageros, peça uma cerveja bem gelada… afinal, estamos no verão!


8. Fotomania - A reconquista dos bairros vem inspirando uma nova e verdadeira declaração de amor ao Rio de Janeiro.  As máquinas fotográficas e celulares clicam sem parar e são agora os olhos do carioca, que faz questão de apresentar as paisagens de sua preferência nas redes sociais. Esses flagrantes improvisados trazem a certeza de que o Rio de cada um continua lindo e merece virar a janela de todos nós.


9. How to be a carioca? - Ser carioca não é certidão de nascimento, é um estado de espírito. Uma opção de amor pela cidade de seus sonhos. Somos a única cidade do mundo que acolhe oficialmente [como cariocas] não apenas os que aqui nasceram, mas os que escolheram esta cidade para ficar. Além disso, são cidadãos honorários aqueles que voltam sempre e que têm pelo Rio um carinho especial, renovado a cada ano – em geral, no verão.


10. Identidade global - Já somos, sem perceber, uma cidade global. Nossa “carteira de identidade” preenche atributos típicos de uma metrópole internacional: capacidade de atração, espírito acolhedor, diversidade cultural, charme popular, opções de lazer e entretenimento. E mais aquela sensação de pertencimento:  aqui é o meu lugar. É este Rio global que precisa assumir o seu destino.


11. O que falta é gestão pública - Transporte de massa, escolas e hospitais de qualidade, um planejamento metropolitano, esgoto tratado, menos lixo, uma verdadeira economia empreendedora e criativa. E um Rio Banda Larga que, por enquanto, é apenas uma bandinha muito estreita… Mais alguns verões, e chegaremos lá!


Um ótimo verão carioca para todos!
Deputada Aspásia Camargo


Fotos do editor do blog