Um dos lugares mais agradáveis para se caminhar — em meio à maior floresta urbana do mundo (o Parque Nacional da Tijuca), com direito a duchas muito bem-vindas no verão e algumas vistas cinematográficas da Zona Sul — é a Estrada do Redentor no fim-de-semana e feriados, quando o trecho de 4,2 quilômetros entre o Hotel das Paineiras (antigo local de concentração da seleção, há três décadas desativado, que futuramente deverá virar um centro de turismo) e a Estrada do Sumaré é fechado para o trânsito de veículos. Esse trecho é popularmente conhecido como "Paineiras". Só que infelizmente não existe transporte público até lá, você tem que subir de carro — um dos caminhos é subir pelo Cosme Velho, quando chegar em Santa Teresa dobrar à esquerda e prosseguir pela Av. Almirante Alexandrino e depois Estrada das Paineiras (veja no Google Maps). Quando o bondinho de Santa Teresa voltar a operar em 2014, os planos são de que chegará até as Paineiras. A seguir uma crônica de Luiz Garcia publicada em O Globo em 2008. Fotos tiradas numa tarde de fim de verão num dia útil (quando a estrada está aberta ao trânsito e recebe poucos passeantes) pelo editor do blog.
Paineiras!
Uma das melhores coisas que você pode fazer num domingo de sol no Rio é não ir à praia. Vá à Estrada das Paineiras [o autor se refere à Estrada do Redentor, popularmente conhecida como "Paineiras". A Estrada das Paineiras dá acesso até lá.] Veja do alto e de longe a praia e o mar; de perto, a beleza da Floresta da Tijuca, cortada pela estrada e onde só existe vegetação nativa do Brasil. Descobrirá que as estrangeiras palmeiras e mangueiras não fazem a menor falta.
E o contingente humano também é agradável: ciclistas e andarilhos trocam bons-dias e sorriem. Uma hora de caminhada, estrada acima e estrada abaixo (que podem ser duas, dependendo do fôlego e da prática), basta para limpar os pulmões e encher os olhos com a paisagem próxima e distante. Do Cristo logo ali ao lado até o Jockey e a lagoa lá embaixo e o mar imenso adiante. Tem também a visão triste da favela comendo encostas lá embaixo.
Devemos a Floresta da Tijuca como é hoje a D. Pedro II, que encomendou ao Major Archer a recuperação de vasta área devastada por cafezais ruinosos. Em tempos recentes, a Estrada das Paineiras ficou meio abandonada até os anos 80, quando — graças ao bom gosto de uma primeira-dama estadual — o caminho foi arrumado e melhorado; é como está hoje.
Com a proibição de trânsito aos sábados e domingos, a estrada é uma festa nesses dias. Há lugares para se tomar banho na água fria que cai de canos a uns tantos metros de altura. E um grande quadrado projetado sobre a encosta para se tomar sol e brincar com as crianças.
Tem mais: equipamentos de ginástica, uma pedra alta para os malucos que gostam de escalar, espaços para piqueniques e também para quem quer só se sentar e ler o jornal.
Há lugar suficiente para todo mundo: casais e famílias inteiras andando, ciclistas pedalando, meninos voando nos skates, massagistas e outros terapeutas à beira do caminho.
Bastante gente, mas nenhum clima de multidão. Ninguém vende nada, e todo mundo se diz bom-dia.
Vêm novidades por aí. Ao pé das Paineiras fica a caveira de burro do hotel de mesmo sobrenome. Foi construído pelo imperador, e chegou a ter hóspedes ilustres. Como três presidentes (Washington Luiz, Getúlio Vargas e Café Filho) e times de futebol que lá se concentraram, entre eles uma seleção brasileira.
O hotel entrou em decadência há muito tempo. Desde 1984 estava arrendado a uma universidade particular, que iniciou reformas nunca concluídas. Nos últimos tempos, ficou sendo apenas uma ruína feia. Mas na semana passada o prédio foi devolvido à União. Ainda não esta decidido exatamente o que se fará com ele. Se ficar tão agradável e útil quanto a estrada que começa na porta será uma beleza.
Mas há um problema óbvio: o estacionamento no acesso às Paineiras é problema sério nas manhãs de sábado e domingo, desde que foi proibido o trânsito de carros particulares e táxis comuns na estrada para o Corcovado. A partir de certa hora, o pessoal — quem vai para o Corcovado e quem vai para as Paineiras — passa a estacionar na própria pista, que já não é muito larga. Se o hotel voltar a ser uma atração, o perigo, se não se resolver o problema, só pode aumentar. (Crônica de Luiz Garcia publicada em O Globo em 2008)