Em 29 de setembro de 2019, um grupo de intelectuais que se reunia regularmente em bares cariocas em tertúlias intelectuais fartamente regadas a vinhos e cervejas, como aquelas talvez que reuniam poetas e prosadores do início do século passado em locais como a Confeitaria Colombo, recebeu pelo e-mail a seguinte mensagem de Helio Brasil, o escritor que se celebrizou por fixar a memória de seu bairro natal São Cristóvão:
Em anexo, as tais "alucinações perigosíssimas": o projeto de um LIVRO DE CRÔNICAS cujo título seria RIO: DA GLÓRIA À PIEDADE.
PROPOSTA:
1. CADA AUTOR ESCREVE TRÊS CRÔNICAS SOBRE A CIDADE.
2. CADA CRÔNICA COM 3 OU 4 LAUDAS, NO MÁXIMO, ABORDANDO A RICA HISTÓRIA DA CIDADE, SUAS QUALIDADES, SUA HISTÓRIA, SEUS MONUMENTOS E SUA POESIA.
3. SE NÃO HOUVER ÓBICES DE DIREITOS, ENTREMEAR COM LETRAS DE MÚSICAS POPULARES QUE EXALTAM O RIO. (Acho que não faltam...)
etc.
Helio Brasil encerrava a sua proposta com esta observação:
PS – NÃO ESTOU ENSANDECIDO. SOU ASSIM MESMO!
Assim foi plantada a semente do recém-lançado Rio, da Glória à Piedade.
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Parte do grupo em uma de suas tertúlias etílico-intelectuais (2019) |
Ocorre-me a máxima do Barão de Itararé: "De onde menos se espera, daí é que não sai nada." Pois bem, acabamos de provar cientificamente que a máxima está errada: de onde menos se esperava, uma conversa de ébrios num bar na remota pré-pandemia, daí foi que saiu a mais importante obra de celebração (glória) e lamentação (piedade) de nossa cidade amada deste primeiro quartel do século XXI (e quartel aqui não tem nada a ver com golpes militares). É verdade que a eclosão da pandemia no início de 2020, inviabilizando por um longo tempo as reuniões do grupo, fez com que o projeto quase descambasse num buraco negro, mas o empenho do nosso querido André Seffrin, amigo do editor lusitano, amante do Rio, Joaquim Emídio, que comparece com um texto no livro, fez com que a fênix renascesse das cinzas. Quem foi ao lançamento testemunhou uma noite memorável, que conseguiu lotar o Lamas numa segunda-feira, dia semimorto, e quase esgotar uma edição nada modesta de trezentos exemplares!
No Prefácio Alexei Bueno explica o título:
O título deste livro talvez soe enigmático para aqueles não
nascidos no Rio de Janeiro, ou que nele não tenham vivido. Refere-se ele,
metaforicamente, a duas partes da cidade: à Glória, pequeno bairro que faz jus
ao nome, entre a Lapa e o Catete, praticamente o início da Zona Sul da urbe, e
que tal nome recebeu da magnífica Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro,
da década de 1730, uma das obras-primas da arquitetura religiosa colonial
luso-brasileira e a predileta da nossa família imperial, erguida no outeiro em
que se travou uma das batalhas decisivas para a expulsão dos franceses da
cidade, e seu renascimento como importante porto lusitano, e à Piedade, pobre e
longínquo subúrbio, que tem como seu acontecimento mais notável até hoje,
provavelmente, o absurdo assassinato de Euclides da Cunha, em 15 de agosto de
1909, dia de Nossa Senhora da Glória.
Tal aproximação, tal percurso, esboça, portanto, uma ideia
de decadência, e a decadência é uma marca inegável e evidente desta que é uma
das cidades mais famosas do mundo, e que, no aspecto das belezas naturais em
área urbana, tem nele, com poucas dúvidas, a primazia.
etc.
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Alexei Bueno e Helio Brasil. Foto enviada por Nireu Cavalcanti. |
Desfilam pelo livro as criações em prosa e verso
de:
Helio Brasil, nosso decano e inspirador, hoje com 91 anos, que
no meio da jornada da vida deu uma reviravolta e, de arquiteto consagrado,
tornou-se o genial “escritor de São Cristóvão”, autor de romances como A
última adolescência, Ladeira do Tempo-Foi e mais
recentemente o histórico A pele do soldado (que vocês estão
convidados a ler!)
Nireu Cavalcanti, arquiteto, desenhista e
historiador, a maior autoridade viva na história do Rio colonial, autor de um clássico
da historiografia carioca,
O Rio de Janeiro setecentista: A vida e a
construção da cidade da invasão francesa até a chegada da Corte.
Rogério
Marques, jornalista veterano que trabalhou em importantes órgãos da imprensa, que
“nasceu numa rua que já não existe e se chama Rogério meio que por
acaso”.
Gustavo Barbosa, professor de comunicação, dirigiu as
editoras Codecri e Rocco, consultor editorial e de comunicação institucional,
autor do Dicionário de Comunicação, entre outras obras, realizador
de projetos editoriais, redator, revisor e editor de texto, atualmente residindo na Bahia.
Ivo
Korytowski, tradutor, lexicógrafo, blogueiro, YouTuber, fotógrafo amador e
escritor, autor de um livro de memórias, O Rio, o mundo e eu: Uma
memória filosófica & sentimental, inspirado no que de melhor se
produziu na literatura memorialística brasileira.
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Da esquerda para a direita: Helio, Nireu, a garçonete do Angu do Gomes e Ivo |
Suzana Vargas,
única representante do “sexo forte” neste quase “Clube do Bolinha”, gaúcha como
todo bom Vargas, mas carioca de coração, poeta, ensaísta, autora de literatura
infantil, criadora e coordenadora da Estação das Letras.
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Suzana e Ivo |
Joaquim Emidio,
nosso querido editor que apostou suas fichas na edição desta obra, digno
representante da “ocidental praia lusitana” que, ao publicar um livro sobre o
Rio de Janeiro, aventurou-se por “mares nunca dantes navegados” por uma editora
portuguesa, acredito.
Eliezer Moreira, baiano de nascença, mineiro de
criação, mas que fez do Rio sua cidade do coração, romancista com texto
primoroso, cujo Olhos Bruxos, genial homenagem-fantasia ao bruxo do
Cosme Velho, foi finalista do Prêmio Jabuti de 2020.
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Eliezer Moreira, Eduardo Mondolfo, Helio Brasil e Gustavo Barbosa num encontro do grupo em 2019 |
Eduardo Mondolfo,
arquiteto dos mais consagrados com escritório na Cinelândia, coração do Rio,
“local em que tudo de bom e de ruim, sem acaso, acontece”, e poeta nas horas
vagas. (foto acima)
Alexei Bueno, editor (no sentido de organizador de obras
completas e edições críticas), ensaísta, um dos maiores poetas vivos do país,
que aos dezessete anos cometeu a ousadia de traduzir o dificílimo The
Raven (O corvo) do Poe, autor premiadíssimo (Prêmio Jabuti,
Prêmio ABL de Poesia, Prêmio Alphonsus de Guimaraens da Biblioteca Nacional,
entre outros).
André Seffrin, crítico literário e editor de escol,
cuja casa em Laranjeiras abriga uma das maiores bibliotecas de literatura
brasileira da cidade, cujo esforço incansável contribuiu para que este livro
viesse a lume (foi ele quem conseguiu o editor).
DEPOIMENTOS SOBRE O LANÇAMENTO (extraídos de e-mails que circularam):
Cecília Jucá de Hollanda:
Mais do que uma festa, o evento foi uma celebração de amizades, admiração, carinho, alegria, fraternidade, encontro de talentos literários e compromisso com a nossa amada cidade do Rio de Janeiro e sua gente, cariocas ou forasteiros de todo Brasil!
Agora é saborear os textos de cada um de vocês, os autores. Eu já comecei à ler o meu exemplar, ontem mesmo, ao chegar em casa de voltar da festança.
Hélio Brasil:
QUANDO SUGERI A CONSTRUÇÃO DESTE LIVRO, FIQUEI AGRADAVELMENTE SURPRESO (ALIÁS, EUFÓRICO) COM A RECEPTIVIDADE À MINHA SUGESTÃO. E ERA, AINDA, O ANO DE 2020...
ALI NASCEU, DE FORMA CORDIAL, SEM DISPUSTAS, UM LIVRO DO QUAL TENHO ORGULHO DE FAZER PARTE, NUM TIME DE “ASTROS DA INTELIGÊNCIA”.
NASCEU, ENTÃO, DA GLÓRIA À PIEDADE...
MESMO QUE, ÀS VEZES, NELE PERPASSE UMA BRISA DE TRISTEZA, HÁ UMA LUFADA DE JUVENTUDE NOS TEXTOS, NAS PÁGINAS POÉTICAS E COLORIDAS POR VOCÊS. NÃO CARIOCAS, OUTROS DA GEMA, NÃO IMPORTA O BERÇO... UM IRMÃO LUSITANO!... O RIO FOI CANTADO E ABRAÇADO COM O CARINHO, E MESMO A ZANGA E A TRISTEZA, DE QUEM O AMA.
OS SÉCULOS VIVIDOS ME FIZERAM ESTAR NA ABERTURA DA OBRA E O LEITOR ESPERTO, NUM PULINHO, LOGO ENCONTRARÁ OS MELHORES HINOS DE DOR, IRONIA E AMOR.
A TODOS, ABRO MEUS MAGROS BRAÇOS E, EM ABRAÇO FRATERNO , OS APERTO COM A FORÇA QUE A AMIZADE NOS DÁ.
PARABÉNS PELO FEITO, OBRIGADO PELO APOIO E QUE OS DEUSES – EXISTAM OU NÃO – OS ABENÇOEM A TODOS!
Rogério Marques:
Quero agradecer a todos vocês aquela noite de ontem, maravilhosa, no velho restaurante Lamas que me traz tantas recordações. Obrigado ao querido Helio Brasil, nosso bravo timoneiro, pela persistência, por conduzir esse processo sem nunca ter desanimado, nem mesmo naquele período triste e trágico da pandemia. Obrigado ao Joaquim, amigo e editor que fez um belíssimo trabalho e atravessou o oceano para poder estar conosco. Obrigado ao Nireu, velho camarada, que me convidou para participar dessa turma de craques. Obrigado a cada um de vocês, por tudo, pelos textos belíssimos. Ontem, em alguns momentos, me emocionei, entre beijos e abraços de amigos que foram prestigiar nosso livro, entre eles alguns que não via há mais de 10 anos. Foi bom demais. Vamos manter esse grupo, essa amizade, vamos em frente.
Joaquim Emídio:
Amigos
Aqui vai um textinho para marcarmos presença na net. [Para ver o texto citado pelo Joaquim clique aqui.] Talvez o encontro merecesse um cronista em forma mas confesso que estava pouco inspirado para escrever e o facto de não conhecer a maioria das pessoas limitou os meus desejos e virtudes:).
O livro já está a ficar velho mas ainda são visíveis as marcas que deixou para conseguirmos chegar a bom porto.
O André e a família são os grandes companheiros desta jornada.
Muito lhe agradeço ter-me metido no grupo e não me ter deixado sozinho numa missão que sem ele não tinha dado certo.
No fundo no fundo todos contribuímos um pouquinho mas o André salientou-se e merece o reconhecimento.
Por mim começamos já a falar no próximo livro nem que seja para daqui a 10 anos:))
Abraços e ATÉ SEMPRE
Joaquim
Alexei Bueno:
Foi muito bom assistir à concretização desse projeto, que eu achava no mínimo "improvável, pela época na qual se desenvolveu e pelo Brasil de todas as épocas.
Eduardo Mondolfo:
Foi uma noite incrível e uma realização e tanto!
Normalmente mesas de bar não geram livros!
Ivo Korytowski:
Foi uma noite memorável, conseguimos lotar o Lamas numa segunda-feira, dia semimorto, e quase esgotar uma edição nada modesta de trezentos exemplares!
Suzana Vargas:
Fiquei pensando qual seria meu papel num time de 10 atacantes, nem como contribuiria. Mas com a alegria, carinho e receptividade de vocês fui, aos poucos, me sentindo pertencente e pertencida ao grupo (está correto, Alexei? trata-se de um jogo). Foi uma noite muito bonita onde pude conversar pessoalmente com cada um, todos unidos em torno do filho único nessa maternidade Rosmaninho.
Obrigada! Foi , de fato, uma noite inesquecível. Obrigada ! Foi , de fato, uma noite inesquecível. Um obrigada especial ao querido André , meu amigo de tanto tempo pelo qual tenho uma imensa admiração!
Ao Joaquim pelo poético empenho de realizar nosso sonho em questão de meses.
André Seffrin:
Foi bonita a festa no Lamas, valeu o esforço conjunto.
E, LAST BUT NOT LEAST, O GRUPO EM FOTO GENTILMENTE ENVIADA POR NIREU CAVALCANTI: