Morro do Livramento visto do Morro da Saúde |
Morro do Livramento visto da Rua Sacadura Cabral |
Morro do Livramento visto do Morro da Conceição; observe bem à esquerda a Favela da Providência, a mais antiga do Rio |
Machado de Assis tem um conto que começa assim: "A escola era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de 1840. Naquele dia - uma segunda-feira, do mês de maio - deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar a manhã."
Mais de 160 anos depois - mais precisamente hoje - refiz o caminho do personagem de Machado, descendo a escadaria da Rua Costa Barros. Não achei a escola, mas, apesar da chuva forte, fiquei encantado em ver como o Morro do Livramento conserva muito do Rio antigo.
Tenho batido perna por aquelas bandas, na Zona Portuária da cidade, e me deliciado em encontrar no morro onde nasceu Machado sobrados que parecem saídos do subúrbio. É um Rio formado por igrejinhas, calçamentos pé-de-moleque, granito na soleira das portas, e muitas biroscas. Um Rio pouco conhecido dos cariocas, talvez receosos de subir uma favela.
Se Machado refizesse hoje seus passos pela região da Gamboa, veria que pouco mudou. Talvez estranhasse ver o estado de sua casa - pelo menos a que me dizem ser sua casa. Está caindo aos pedaços, invadida que foi por uma família. Ao lado, uma antena da Embratel desfigura e enfeia aquela paisagem de resto congelada no tempo.
Mais de 160 anos depois - mais precisamente hoje - refiz o caminho do personagem de Machado, descendo a escadaria da Rua Costa Barros. Não achei a escola, mas, apesar da chuva forte, fiquei encantado em ver como o Morro do Livramento conserva muito do Rio antigo.
Tenho batido perna por aquelas bandas, na Zona Portuária da cidade, e me deliciado em encontrar no morro onde nasceu Machado sobrados que parecem saídos do subúrbio. É um Rio formado por igrejinhas, calçamentos pé-de-moleque, granito na soleira das portas, e muitas biroscas. Um Rio pouco conhecido dos cariocas, talvez receosos de subir uma favela.
Se Machado refizesse hoje seus passos pela região da Gamboa, veria que pouco mudou. Talvez estranhasse ver o estado de sua casa - pelo menos a que me dizem ser sua casa. Está caindo aos pedaços, invadida que foi por uma família. Ao lado, uma antena da Embratel desfigura e enfeia aquela paisagem de resto congelada no tempo.
(Texto de Mauro Ventura publicado originalmente em 14/11/2006 no blog NO FRONT DO RIO)
Ladeira do Livramento (vamos subir?) |
Chalés na Rua Rosa Saião |
Esquina da Ladeira do Livramento com a Rua Costa Barros (esquerda) e Rua do Monte (direita) |
Panorama da Rua do Monte |
No alto da Ladeira do Livramento, onde se situava o casarão e a capela da chácara do Barroso, ergue-se uma antena da Embratel |
No ano de 1839 [quando nasceu Machado de Assis], a cidade do Rio de Janeiro, atrasada e insalubre, tinha uma população de cerca de 300 mil pessoas, grande parte das quais escravos [...]
Na época, os morros da parte central da cidade, em situações privilegiadas, eram dominados por estabelecimentos militares, como o da Conceição, ou por ordens religiosas, como o de São Bento, o do Castelo, o de Santo Antônio, o de Santa Teresa e, ainda, pela gente rica, que aí construía suas mansões, no centro de chácaras ou quintas. O morro do Livramento, na época, era o domínio de uma grande família de origem portuguesa, cuja figura central era uma verdadeira matriarca, D. Maria José de Mendonça Barroso Pereira. Ela enviuvara, pela segunda vez, ao falecer, a 8 de fevereiro de 1837, o senador do Império Bento Barroso Pereira [...]
Além dos seus numerosos escravos, os proprietários tinham também agregados, e entre estes, Maria Leopoldina Machado da Câmara [mãe de Machado de Assis], nascida a 7 de março de 1812 em Ponta Delgada, cidade da ilha de São Miguel, no arquipélago dos Açores, e que viera menina para o Brasil, para onde emigraram seus pais. Adulta, servia à família rica, ocupando-se de costuras e bordados, além de outras tarefas ancilares, e sabia ler e escrever. Já com 26 para 27 anos, ela se casaria com o operário Francisco José de Assis [pai de Machado], pardo forro, de 32 anos, que exercia a profissão de pintor de casas e dourador. Este, se não era também um agregado da chácara, teria sido chamado para aí executar seus trabalhos profissionais, conhecendo então a ilhoa branca, mas pobríssima, que com ele se dispôs a casar. [...]
Na época, os morros da parte central da cidade, em situações privilegiadas, eram dominados por estabelecimentos militares, como o da Conceição, ou por ordens religiosas, como o de São Bento, o do Castelo, o de Santo Antônio, o de Santa Teresa e, ainda, pela gente rica, que aí construía suas mansões, no centro de chácaras ou quintas. O morro do Livramento, na época, era o domínio de uma grande família de origem portuguesa, cuja figura central era uma verdadeira matriarca, D. Maria José de Mendonça Barroso Pereira. Ela enviuvara, pela segunda vez, ao falecer, a 8 de fevereiro de 1837, o senador do Império Bento Barroso Pereira [...]
Além dos seus numerosos escravos, os proprietários tinham também agregados, e entre estes, Maria Leopoldina Machado da Câmara [mãe de Machado de Assis], nascida a 7 de março de 1812 em Ponta Delgada, cidade da ilha de São Miguel, no arquipélago dos Açores, e que viera menina para o Brasil, para onde emigraram seus pais. Adulta, servia à família rica, ocupando-se de costuras e bordados, além de outras tarefas ancilares, e sabia ler e escrever. Já com 26 para 27 anos, ela se casaria com o operário Francisco José de Assis [pai de Machado], pardo forro, de 32 anos, que exercia a profissão de pintor de casas e dourador. Este, se não era também um agregado da chácara, teria sido chamado para aí executar seus trabalhos profissionais, conhecendo então a ilhoa branca, mas pobríssima, que com ele se dispôs a casar. [...]
A capela e o palacete onde vivia a numerosa família [proprietária da chácara] eram as edificações dominantes do morro do Livramento. Havia ainda outras, destinadas a escravos e agregados.
Extraído de R. Magalhães Júnior, Vida e obra de Machado de Assis, Volume 1, "Aprendizado"
Perto da antena da Embratel, este imóvel antigo, que segundo moradores do morro teria sido a "casa de Machado de Assis". Na verdade, Machado, cuja mãe era agregada da chácara, deve ter morado em casa mais modesta, mas talvez este imóvel fizesse parte da chácara. |
Casarão visto de perto. Segundo Alexei Bueno, a quem mostrei as fotos, "esse casarão, apesar de muito adulterado, com uma platibanda tardia estragando o beiral, etc., me parece do final do XVIII. É um exemplar precioso de arquitetura civil desse período, do qual tão pouca coisa sobrou no Rio, excetuando os exemplares rurais. Só por isso, para mim, já merecia ser tombado e restaurado. Esse casarão é realmente bem antigo, e me parece uma construção importante, não é uma coisa popular. Ele foi cortado ao meio, desmembrado, seguramente. Aquele edifício colado a ele está sobre uma área onde a construção continuava, dá para ver no corte do beiral. É bem provavel que seja uma parte reminiscente da sede da Chácara do Barroso (que deve ter dado nome à ladeira), que devia ser maior." |
Outro casarão antigo na Ladeira do Livramento (segundo Alexei Bueno, de meados do século XIX mas adulterado pela retirada de todas as sobrevergas, embora o telhado pareça estar direito) |
Vista do encontro da Ladeira do Livramento com a Ladeira do Barroso. |
Fotos do editor do blog. Agradeço ao pintor Dallier, morador do Morro da Conceição e profundo conhecedor da Zona Portuária, que me acompanhou neste passeio, e a Alexei Bueno pelas informações preciosas gentilmente oferecidas.
Em 23 de maio de 2011 retornei ao Morro do Livramento. As novas fotos ali tiradas podem ser vistas aqui. Em 2020 filmei um vídeo lá, que você pode ver acima. Já no vídeo abaixo discorro sobre minha velha paixão, que vem da adolescência, pelo "bruxo do Cosme Velho". Você está convidado a assistir.