O Morro da Viúva, entre Botafogo e Flamengo, que na foto aérea em preto e branco do Jorge Kfuri acima se vê claramente no canto superior esquerdo (indicado pela seta), e onde na década de 1920 se planejou construir um hotel e belvedere (como informa a matéria "Embeleza-se o Morro da Viúva", da Revista da Semana de 12 de março de 1921), hoje é um morro "invisível", cercado de prédios por todos os lados. O fortim lá erguido por ocasião da Questão Christie (século XIX - foto abaixo) desapareceu, mas ainda subsistem ruínas do antigo reservatório, construído em 1891, tombado pelo INEPAC em 1998, mas em péssimo estado de conservação (ver fotos adiante).
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Entrada do forte do Morro da Viúva em foto de Carlos Malta de 1906 obtida no site do Instituto Moreira Salles. Segundo o engenheiro militar Augusto Fausto de Sousa (tomo 48 da revista do IHGB), "foi construído por ocasião do conflito com a Inglaterra, a chamada Questão Christie. Era uma bateria levantada em 1863 com o fim de defender a baía de Botafogo e a enseada do Flamengo, até em frente do Passeio Público, auxiliando a defesa de algumas das faces das fortalezas de São João, Lage e Villegagnon. O espaço acanhado, de que dispunha a mesma bateria, a pouca elevação e a facilidade de ser ofendida por fogos curvos, não permitem ligar a esta obra grande importância". A posição acabou sendo abandonada e a fortaleza foi arrasada em 1922 para a construção do Hotel Sete de Setembro, que acabou não ocorrendo, conforme informa Ulysses de Aguiar em "Terra Carioca" numa edição da Revista da Semana de 1934. O local no morro onde se erguia esse forte ignoro, se alguém souber, por favor informe. |
Se você olhar o mapa do Google Maps do Morro da Viúva, verá que a nordeste existe uma grande área, mais alta, com a mata totalmente preservada (letra A). No centro (letra B) existem piscinas e outras instalações tipo clube pertencentes a condomínios aparentemente de dois edifícios, um na Avenida Oswaldo Cruz e o outro na Avenida Rui Barbosa (Edifício Residência). O edifício da Av. Oswaldo Cruz ergueu-se no terreno do antigo Palacete Martinelli e incorporou a área que esse palacete ocupava no morro, que incluía até uma capela, conforme informação de um morador do morro. A sudoeste (letra C) ficam as ruínas do reservatório e umas casinhas de uns moradores que ocupam aquela área há muitas décadas. São casas simples mas com acabamento, não são casas de tijolos aparentes como nas favelas.
O morro ficava à beira-mar até que, no início da década de 1920, abriu-se a Avenida Rui Barbosa contornando o morro e ligando a Avenida Beira-Mar à Praia de Botafogo. Com a construção do Aterro do Flamengo na década de 1960 o morro afastou-se ainda mais do mar, como você pode conferir no mapa acima. O plano de construir um hotel e belvedere no morro nunca saiu do papel, e o morro acabou sendo cercado por prédios cada vez mais altos que taparam sua visão para quem está embaixo. Mesmo assim, do alto do morro, ainda se avista o Pão de Açúcar e Corcovado por algumas nesgas entre um prédio e outro.
O acesso ao reservatório se dá pela Travessa Acaraí, no início da Av. Oswaldo Cruz, altura da Praça Nicarágua, na Praia de Botafogo. Essa travessa não consta do Google Maps mas tem placa indicando (vide foto). No início da escadaria tem uma portinhola aparentemente fechada, mas você pode puxar o trinco que ela abre. O morro e as ruínas do reservatório são considerados "um dos grandes segredos da cidade" pelo guia RIO SECRETO de Manoel de Almeida e Silva, Marcio Roiter e Thomas Jonglez. No final desta postagem transcrevemos (em azul) o texto do guia referente ao morro.
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Travessa Acaraí, no início da Av. Oswaldo Cruz, altura da Praça Nicarágua |
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Travessa Acaraí (placa) |
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Portinhola e escada de acesso ao Morro da Viúva no fundo da Travessa Acaraí (no. 127) |
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Escadinha de acesso ao morro |
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Alto da escadinha, com reservatório em cima |
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Mais em cima, quase chegando |
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Antigo Reservatório do Morro da Viúva, construído em 1891 por Antônio Gabrielli, com projeto dos engenheiros Jerônimo Jardim e Luiz Francisco Monteiro de Barros. Feito de alvenaria, o reservatório possui três compartimentos cobertos por abobadilhas (uma das quais vemos na foto), alimentados pela tubulação que sai do Reservatório de Pedregulho. O simpático morador de uma das casas me mostrou a área, contou que os moradores, que ocupam o espaço faz décadas, ocasionalmente sofrem tentativas de despejo, e disse que graças aos moradores o local está limpo e conservado. |
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Outra abobadilha |
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Para um bem tombado, poderia estar mais bem conservado |
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Entranhas do velho reservatório |
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O Morro da Viúva foi sendo cercado por prédios cada vez maiores |
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Do alto do morro, por algumas nesgas entre os prédios, dá para ver o Pão de Açúcar e Corcovado |
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Casas do moradores do "núcleo pobre". O núcleo rico são as instalações e piscinas dos condomínios dos prédios |
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Casa do "núcleo rico" vista por sobre o muro |
Completamente cercado por prédios altos, o Morro da Viúva é invisível a partir das ruas ao redor. Muitos cariocas nem sabem da sua existência.
Apesar de alguns prédios terem construído acessos para o morro, com quadras de esporte e outros prazeres para os felizes privilegiados que moram nos prédios vizinhos, existe um meio oficial, público e secreto, para subir lá. No final da avenida Oswaldo Cruz, do lado de Botafogo, a viela chamada travessa Acaraí dá para uma pequena porta. Basta empurrá-la para abrir.
Não é preciso ter medo. Um comandante da polícia mora na esquina e o lugar é conhecido como sendo bastante seguro.
A impressão de chegar a um dos recantos realmente secretos da cidade é particularmente agradável para aqueles que gostam de exploração urbana e que têm verdadeiro prazer em subir os 195 degraus dessa escada que leva às ruínas de um antigo reservatório.
Construído por Antônio Gabrielle em 1891 para levar água potável aos bairros de Botafogo, Praia Vermelha e Leme, ele foi fechado em 1970 e parcialmente tombado em 1998. Hoje, abandonado, ele faz parte de um espaço onde vivem, modestamente, seis famílias, que terão prazer, na sua maioria, em fazê-lo descobrir o lugar que proporciona uma vista, através das árvores, para a praia do Botafogo, a Pedra da Gávea e o Corcovado, de um lado, e para o Pão de Açúcar, do outro.
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Vista (ainda não obstruída pelos prédios) do alto do Morro da Viúva em gravura de Alfred Martinet de meados do século XIX |