Ao falar de São Cristóvão, sou tentado por graves pecados: bairrismo (em muitos sentidos), saudosismo e fantasia da memória. Confesso tropeçar na linha limite entre a nostalgia e as lembranças. São Cristóvão está ligado à minha adolescência, época da vida em que geralmente as paisagens triviais são coloridas pela juventude, embelezando um quadro irrecuperável no presente. Peço desculpas se, utilizando as tintas da saudade, volto ao bairro retomando cores do passado.
O leitor me acompanhe em imaginárias caminhadas, avalie onde está a história e, sobretudo, me releve a tentação de falar dos dias em que o bairro ainda não fora injuriado por intervenções desastrosas. Se ao fim deste livro estiver convencido de que São Cristóvão encerra muito da história do Rio de Janeiro e, sem exageros, do Brasil, estarei satisfeito.
O leitor me acompanhe em imaginárias caminhadas, avalie onde está a história e, sobretudo, me releve a tentação de falar dos dias em que o bairro ainda não fora injuriado por intervenções desastrosas. Se ao fim deste livro estiver convencido de que São Cristóvão encerra muito da história do Rio de Janeiro e, sem exageros, do Brasil, estarei satisfeito.
(Helio Brasil, São Cristóvão, Relume Dumará, pág. 14. Legendas das fotos a seguir — exceto textos entre colchetes — extraídas deste maravilhoso livro.)
A grande intervenção paisagística da Quinta [da Boa Vista] ocorre na segunda metade do século XIX, quando Pedro II incumbe o francês (nunca nos faltaram franceses para embelezar o Rio) Auguste François Marie Glaziou, como Diretor dos Parques e Jardins da Casa Imperial, de dar o toque artístico nos jardins do parque. O traço do francês já se fizera presente no Passeio Público e Campo de Santana. (pág. 115)
Proclamada a República, o palácio [imperial] abrigou a Assembléia Constituinte e, a partir de 1892, torna-se o Museu Nacional. [...] O Acervo do Museu é notável, sobretudo as peças tão caras ao imperador, ligadas à arqueologia. (págs. 114-5)
Descendo a Fonseca Teles encontraremos o Bairro de Santa Genoveva (na verdade, um minibairro), um conjunto residencial com arruamento ajustado à topografia do morro denominado do Breves. (pág. 78)
Não faltou ao núcleo uma capela devotada a Santa Genoveva, protetora de Paris. Convém lembrar que até a Segunda Guerra Mundial ainda éramos muito afrancesados em gostos e em nomenclaturas. (pág. 79)
Por trás do campo de São Cristóvão, na rua General Bruce, ergue-se no morro de São Januário, desde 1921, o Observatório Nacional, transferido do morro do Castelo. A visita ao local, principalmente agora em que lá foi criado o Museu da Astronomia, nos deixa maravilhados com o prédio principal [foto] e...
...as cúpulas onde estão instalados os telescópios, É imperdível a beleza da área verde do terreno, a cavaleiro do bairro. (pág.71)
Caminhando para o Campo de São Cristóvão, visite o prédio neogótico do Educandário Gonçalves de Araújo. Deixe-se encantar pelos jardins cuidados à frente do edifício. Espante-se com o caprichoso tratamento das escadas e não deixe de ver a capela interna. (pág. 104)
[Educandário visto do Observatório]
Para tornar-se cristão foi aconselhado a servir ao próximo. Dedicou-se a ajudar viajantes na passagem de um caudaloso rio, carregando-os nos ombros. Certo dia um menino solicitou seus serviços, e Réprobo, ao desincumbir-se deles, surpreendeu-se. Somente com enorme esforço, arrastando inesperado peso entre águas revoltas, concluiu a travessia, deixando a criança a salvo na outra margem. Foi-lhe então revelado que transportara em seus ombros o próprio filho de Deus e, conseqüentemente, os pecados dos homens por ele redimidos. A partir dali, batizado, ganhou o nome de Cristóvão (Cristophoros - o que carrega Cristo). (págs. 17-18)
[São Roque] é festejado em 16 de agosto, com a retumbância de fogos de artifício que faziam rubros os céus do bairro e trêmulos os nossos muros, forte tradição do bairro. (pág. 78)
Visite a casa da marquesa de Santos, a Domitila de Castro Canto e Melo, que tanto trabalho deu à corte do Primeiro Reinado. Saiba que a construção é um dos exemplares da arquitetura neoclássica no Rio de Janeiro e tem em seus interiores belos trabalhos de artistas importantes. [...] É hoje o Museu do Primeiro Reinado. (págs. 107/109)
Em frente à escola [Nilo Peçanha] está o Museu Militar Conde Linhares, o Museu de Artilharia. O edifício abrigava os cursos de preparação de oficiais da reserva (CPOR). (pág. 76)
Ao lado [do Hospital Quinta D'Or], no mesmo terreno, uma centenária e modesta capela dedicada a São Francisco de Paula. [...] A capela é pequena e o que encanta são sua singeleza e o desenho neogótico. [...] Revi, emocionado, os velhos santos. São José, São Luiz Gonzaga... Não sei se me reconheceram. Notei em um dos anjos tocheiros um leve sorriso de desdém... [págs. 81-2, 85, 87)
[O Pavilhão] serviu para exposições durante algum tempo e, depois, esteve prestes a ser demolido. Foi salvo pela instalação oportuna da feira no seu interior, ganhando especial colorido com as comidas típicas, as músicas e os festejos que tanto falam à alma brasileira então lá preservados. Tudo ali recorda os primeiros momentos em que nordestinos chegavam no Campo em seus transportes arriscados para tentar a sorte na grande cidade que ajudaram a construir. (pág. 105)
O Campo de São Cristóvão, de fundamental importância para o bairro, é considerado seu centro geográfico. No início do século XX o Campo mereceu reforma caprichada do governo Pereira Passos. [...] Na grande praça, restam o coreto e o mictório, equipamentos muito comuns e típicos nas praças brasileiras. (págs. 63/65)
O Zoológico é uma grande conquista do bairro e fator de valorização para o parque e para o Rio de Janeiro. O projeto de suas instalações originais nos idos de quarenta é do arquiteto David Azambuja.
Postagem originalmente publicada em 21/7/06. Fotos do editor do blog. Para acessar uma monografia de Rejane Sobreira Minato sobre a história do bairro de São Cristóvão clique aqui. Para ver outras postagens sobre São Cristóvão clique no marcador abaixo.