ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

29.3.06

EXPOSIÇÃO "A CARA DO RIO"

Lucia Bromberg - Praia da Urca

PERÍODO: 11/3 até 16/4/2006

VISITAÇÃO: de terça a domingo, das 12h às 19h (entrada franca)

LOCAL: CENTRO CULTURAL CORREIOS (mesmo local da exposição "São Sebastião do Rio de Janeiro" já abordada por este blog): Rua Visconde de Itaboraí, 20 - Centro (pertinho do Centro Cultural Banco do Brasil e da Casa França-Brasil) - Rio de Janeiro.


Fernando Duval - Arcos da Lapa

Lia Belart - Rio que te quero verde

Maria Lina Smania - Sol, mar, montanhas... Rio

Aurea Domenech - Tributo ao Rio de Janeiro

Adriana Tavares - Vacanze Carioca

Doralice Bruno - Janela para sonhar

Angela Rolim - Gool!

Andrea Antonon - A Baía de Guanabara continua linda [detalhe]

Paulo Dallier - Os músicos [detalhe]

Fotos obtidas no site do Atelier Villa Olivia, onde você encontrará a totalidade das obras, maiores informações sobre elas e os currículos dos artistas. No catálogo da exposição, seu curador, Marcelo Frazão, explica: "O Rio de Janeiro continua lindo? Com esta pergunta foram convidados os 79 artistas que compõem A CARA DO RIO - edição 2006. As respostas foram as mais diversas, e sem dúvidas estão expressas nos trabalhos. A questão da violência, do descaso e do abandono, que não ficam mais restritos às ruas, também são abordados e como nos anos anteriores funcionam como contraponto à beleza da paisagem carioca. Aparentemente antagônicas, estas imagens-opiniões, apontam para a mesma direção: o amor à cidade."

8.3.06

INVASÃO, A REPRISE

Zuenir Ventura

A estratégia de invadir favelas para recuperar uma pistola e dez fuzis roubados de um quartel militar pode, na melhor das hipóteses, demonstrar aos bandidos que quando se trata do Exército o crime não compensa. Depois dessa asfixia, os traficantes vão pensar duas vezes antes de invadir estabelecimentos das Forças Armadas para roubar armamentos. É possível até que recebam uma ordem de Bangu para devolver as armas, pois a guerra atrapalha o comércio de drogas.

Do ponto de vista do Exército, nada mais justo do que, além de resgatar as armas roubadas, ele queira recuperar a auto-estima e revidar o ultraje. Do ponto de vista da sociedade, porém, cabe perguntar se terá valido a pena uma mobilização dessa envergadura para mais uma operação enxuga-gelo. Se essa invasão for provisória, como foram todas as anteriores, se não se transformar em ocupação permanente, planejada, seu efeito sobre a criminalidade será passageiro. Já vimos esse filme duas vezes em 2004 (por ocasião de assaltos idênticos), e o final ensinou que em lugar de correr atrás do prejuízo o melhor teria sido proteger o patrimônio — evitar o roubo em vez de reprimi-lo.

Para os que em criança, quando nossos Pracinhas lutavam contra o nazismo na Itália, cantávamos na escola a “Canção do Exército” (“Nós somos da Pátria a guarda/Fiéis soldados,/Por ela amados...”), o que mais inquieta no presente é perceber como estão vulneráveis os depósitos de armamento e munição do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, justamente as instituições que são ou deveriam ser guardiões da segurança nacional e da inviolabilidade de nosso território.

Um levantamento realizado por técnicos da Polícia Civil e pesquisadores do Iser concluiu que, das 86.849 armas apreendidas com bandidos entre 1999 e 2005 no estado do Rio e registradas na Delegacia Legal, mais de 8.000 (cerca de 10%) haviam sido desviadas das polícias e das Forças Armadas. Não existem dados sobre os desvios de munição, mas se presume que sejam mais freqüentes.

Assim, apropriar-se por furto ou roubo de material de uso privativo dos militares tem sido uma prática constante. Se o assalto de agora chamou a atenção foi por causa do acinte com que os sete bandidos, usando tática de guerrilha, invadiram o quartel e, mesmo no escuro, chegaram ao depósito de armas, depois de agredir e humilhar os soldados de plantão.


É preocupante constatar que a instituição que é “da Pátria a guarda” não consegue guardar seus próprios bens e propriedades. Nada mais vital para a segurança das Forças Armadas, ou seja, para a segurança do país, do que o controle dos estoques e a proteção de seus arsenais e paióis.



Artigo publicado no jornal O Globo de hoje. Zuenir Ventura é autor, entre outros livros, de Cidade Partida, de onde retiramos esta citação: "Enquanto dos morros só se ouviam os sons do samba, parecia não haver problema. Mas agora se ouvem os tiros. Não se trata de uma guerra civil, como às vezes se pensa, mas de uma guerra pós-moderna, econômica, que depende das artes bélicas mas também das leis do mercado, é um tipo de comércio. Por isso não há solução mágica à vista." (pág. 14). O livro foi lançado em 1994. Mais de uma década depois, continua atual.

2.3.06

CARNAVAL NO RIO

Clóvis ou bate-bola

Carnaval no Rio. A cidade bombou. Ruas, bares, restaurantes, hotéis, praias, tudo cheio, ferveção geral. Alegria, alegria. Deu até pra esquecer que existe a guerra do tráfico (na quinta-feira antes do Carnaval, traficantes atiraram a esmo, do Morro Santo Amaro, em prédios, lojas, carros no Catete — graças a Deus, ninguém se feriu. Fato grave, gravíssimo, não acham? Nenhuma autoridade — nem Lula, nem Garotinha, nem César Maia — se manifestou.)

Atrás da Banda de Ipanema

Na Cinelândia, as eternas cantoras do rádio — Marlene, Ademilde Fonseca, Carmélia Alves (Emilinha agora só em espírito) — continuam cantando as eternas marchinhas de Carnaval, e a eterna vedete Virgínia Lane comemorou os 86 anos, o povo cantando o Parabéns pra você. Tudo isto tendo por cenário o templo do saber — Biblioteca Nacional — e o templo da música — Theatro Municipal. Do alto do pedestal, a estátua de Carlos Gomes também assistia a tudo.

Alegre folião

Alguns anos atrás, os profetas do pessimismo vaticinaram a morte do Carnaval de rua, ofuscado pela pompa do desfile das escolas de samba. Mas o Carnaval de rua continua firme e forte: blocos, bandas se sucederam, alguns arrastando multidões — Banda de Ipanema, Carmelitas de Santa Teresa, Cordão do Bola Preta.


A caminho do Sambódromo

Sobre as escolas de samba... ir pro desfile das escolas de samba é como ler o Fausto de Goethe: fica sempre pro ano que vem (mas ano que vem hei de assistir). O desfile tem alguma coisa de ópera, balé, musical, mas é muito mais do que isto — é uma arte nova que nós inventamos. Pelo que vi na TV (pouquinho, que na TV não tem tanta graça) deve ser tão bonito como uma viagem de LSD. Se fosse nos EUA ou Alemanha, seria apregoado como o maior espetáculo da face da Terra. Mas nós com nosso complexo de inferioridade... Só espero que a Vila tenha sido campeã por merecimento, e não por critérios ideológicos.


Lapa

Na Lapa, todas as tribos se reuniram. Tocou-se de tudo: techno, rock, hip-hop, forró. Quem compareceu às rodas de samba da meia-noite e quinze teve a rara oportunidade de ouvir o que há de mais autêntico em termos do samba carioca: samba de raiz, partido alto, clássicos dos sambas de enredo, as velhas guardas, os sambistas das comunidades. Mestres de se tirar o chapéu como Xangô da Mangueira, Walter Alfaiate, Ari do Cavaco, Darci da Mangueira, Noca da Portela, Nelson Sargento, Serginho Meriti, Monarco, Marquinho Diniz (autor do Você sabe o que é caviar...) O cenário: os Arcos da Lapa e, na encosta do morro, o Convento de Santa Teresa.


Nelson Sargento na Lapa

Aliás, o pessoal das antigas ainda deve se lembrar do velho sucesso do Carnaval de 1950, de Herivelto Martins e Benedito Lacerda: "A Lapa / Está voltando a ser a Lapa / A Lapa / Confirmando a tradição / A Lapa / É o ponto maior do mapa / Do Distrito Federal [antigamente aqui era o Distrito Federal] / Salve a Lapa!" Pois é, salve a Lapa, o Rio de Janeiro continua lindo, "Rio dos sambas e batucadas / Dos malandros e mulatas / De requebros febris" (esta é do mestre Silas). E para terminar, um lembrete à Prefeitura: que instale alguns mictórios públicos até o próximo Carnaval, porque o cheiro de xixi... (por que os homens não conseguem segurar o xixi como as mulheres?)


Ferveção na Lapa

Fotos: Ivo & Mi