ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

13.2.13

CARNAVAL DE RUA RIO 2013




O carnaval carioca é a festa maior e mais democrática da face da terra: tem folia para todos os gostos e orçamentos, do requintado baile do Copacabana Palace na noite de sábado cujo ingresso mais barato custa R$ 1750 e os desfiles das escolas de samba dos grupos A e Especial aos blocos que desfilam (ou ficam concentrados, sem desfilar) por todos os cantos do Rio — você só gasta a condução e as eventuais latinhas de cerveja vendidas pelos ambulantes.



Gostei da iniciativa de desfilar no Aterro, parque belíssimo (com o paisagismo inconfundível do Burle Marx) e espaçoso. Lá estiveram o Bangalafumenga (bloco que teve como um dos fundadores o poeta Chacal) no domingo, o Sargento Pimenta (que canta Beatles com batida de maracatu e samba) na segunda e a Orquestra Voadora & Intrépida Trupe — orquestra só de metais e percussão — na ensolarada tarde de terça (esta eu assisti).



A Rio Branco no sábado é invadida pela horda do Bola Preta que abre os trabalhos carnavalescos cariocas e transforma aquela via normalmente sisuda em uma cloaca (dizem que são quase dois milhões, mas se você medir no Google Maps o comprimento e largura da avenida e fizer as contas vai ver que há um pouco de exagero nisto — ou não?), mas a partir do domingo vale a pena ver as turmas de fantasias e de bate-bolas (ou clóvis) que se concentram na área da Cinelândia (respectivamente na segunda e terça-feira à tarde), os blocos de embalo (entre eles o velho Cacique, patrimônio cultural carioca), blocos de enredo, afoxés, blocos afros, sem falar nos foliões fantasiadas que vemos nas fotos desta postagem, todas tiradas por lá.



O Carnaval carioca é democrático — literalmente: a partir deste ano a Prefeitura proibiu a delimitação e venda pelos blocos de áreas vip, alegando (com toda razão) que “cordões de isolamento vão contra o princípio livre e democrático típicos do carnaval carioca” (leia mais aqui).



Na Lapa pelo terceiro ano consecutivo a Fundição Progresso nos brindou com espetáculos gratuitos dos artistas, blocos e bandas que iniciaram sua vida artística naquele bairro: tivemos Casuarina no sábado, Orquestra Popular Céu na Terra e Orquestra Voadora no domingo, Moyseis Marques, Roberta Sá e Bangalafumenga na segunda e, encerrando com chave-de-ouro na terça, a Banda Fundição, Sargento Pimenta e Cordão do Boitatá (com canja do João Donato, vejam o alto nível da coisa). Um programaço nota mil. A Lapa lota, mas todos na maior paz.


Razão tem o produtor cultural Perfeito Fortuna ao pregar a utopia da pacificação universal via exportação do espírito carnavalesco brasileiro. Tudo a ver.









Fotos do editor do blog tiradas no Centro do Rio de Janeiro no domingo e segunda-feira do Carnaval de 2013. Outras fotos você encontra no álbum CARNAVAL DE RUA RIO 2013 do Picasa.

1.2.13

CAJU: NOSSO PRIMEIRO BALNEÁRIO

Desta janela de um velho casarão neoclássico de 1876 via-se outrora o mar.

O velho Caju já foi um balneário. Lá D. João VI tomava seus banhos medicinais. “Certa vez D. João teve uma das pernas picadas por um carrapato, quando dormia à sombra de copadas árvores. O insignificante ferimento, aparentemente sem importância, provocou-lhe depois uma incômoda inchação, e o remédio que lhe indicaram seus médicos foi banho periódico de água salgada. Estes, ele os tomava na praia da Ponta do Caju, numa quinta adquirida de José Gouveia Freire [foto abaixo], que mandou dotar de um cais e uma capela. E os tomava, por precaução, numa espécie de banheira perfurada, que os seus fâmulos metiam n'água e tiravam graças a um complicado mecanismo. Estava, assim lançada na cidade oitocentista a moda dos banhos de mar e convertido o Caju no primeiro dos nossos balneários, frequentado por todos os Bragança, desde o filho de D. Maria, a Louca, até Dom Pedro II.” (Brasil Gerson, História das ruas do Rio, p. 158) 



A Casa de Banho D. João VI (que você vê na foto acima tirada por Rejane Minato em 2007) foi objeto de uma postagem neste blog em 2010 que você pode ver aquiTrês praias banhavam o Caju




1) a de São Cristóvão, que começava no bairro do mesmo nome e avançava até o Cemitério S. Francisco Xavier (naquele tempo não existia uma Avenida Brasil separando os dois bairros)

2) a Praia do Caju, onde ficava a Ponta do Caju (o local da Casa de Banhos de D. João VI), e

3) a Praia do Retiro Saudoso, atrás dos cemitérios.

Da Praia de São Cristóvão não resta sequer o nome: corresponde à atual Rua Monsenhor Manuel Gomes. A Praia do Caju sobrevive ao menos como nome de rua, conforme você vê na placa da foto abaixo (à direita). 


"Praia do Caju"

Casinhas de madeira na antiga Praia do Caju.

Velhas casas na antiga Praia do Caju, a da direita um belo casarão neoclássico de 1876 com fachada de azulejos. Sem nenhuma proteção legal, corre o risco de ser um dia derrubado.

Da Praia do Retiro Saudoso os únicos remanescentes são a "pitoresca" colônia de pescadores no píer em frente à Praça do Mar  conhecida também como “Varal” devido às redes penduradas  e uma rua com menos de 300 metros, Rua do Retiro Saudoso, atrás do Cemitério de São Francisco Xavier.


Barco no píer em frente da Praça do Mar em foto de  2007  de Rejane Minato.

"Saco do Raposo, Retiro Saudoso", onde hoje fica a Praça do Mar, pintado por Gustavo Dall'Ara em 1911 (foto garimpada por Raul Félix na Internet).

Em suas recordações da Praça Onze, conta Samuel Malamud: “Nos meses de verão, quando o calor era demasiado, grande parte da população judaica da Praça Onze se dava ao luxo de tomar banho de mar, seguindo o exemplo de seus vizinhos não judeus. Nas madrugadas, principalmente aos sábados e domingos, famílias inteiras enchiam os bondes que levavam às margens da Baía da Guanabara, nas imediações da parte do porto denominada Ponta do Caju. [...] O movimento dos banhistas era grande e tinha-se a impressão de que se tratava de uma excursão coletiva de lazer. A algazarra era imensa. [...] Quando me lembro das águas na praia do Caju, gordurosas do óleo e sujas dos despejos dos navios cargueiros que por lá ficavam ancorados. [...] não consigo compreender como se entrava naquelas águas.” (Samuel Malamud, Recordando a Praça Onze, pág. 34) 


"Alugo pra pescaria".

O píer, os barcos e a comunidade Quinta do Caju atrás.

A garça sobre a rede de pesca e o estaleiro atrás.

Águas poluídas.

Em seu Balão Cativo, escreveu Pedro Nava: “"Do outro lado, junto ao preto poste cintado de branco, esperávamos o bonde Caju-Retiro, seguíamos por ruas coloridas, cheias de gradis prateados e beirais de louça: a de São Cristóvão, a Figueira de Melo, a Rua Bela, a Conde de Leopoldina, a praia... Nesse tempo, praia mesmo. Não tinham ainda empurrado o mar para tão longe e ainda não tinham mudado seu lindo nome para Rua Monsenhor Manuel Gomes. [...] O velho mar das velhas praias de São Cristóvão e Ponta do Caju, onde se banhavam Dom João e os nosso dois Pedros. Agora, cheio de saveiros de velas multicores." (Pedro Nava, Balão Cativo, pág. 40 na edição da José Olympio) 


Capela de São Pedro na Praça do Mar.

Praça do Mar. Observe o "balanço" improvisado com uma rede de pesca.

De bairro balneário “visceralmente ligado ao desenvolvimento do hábito do banho de mar em nossa cidade” como observa Raul Félix, o Caju tornou-se primeiro um bairro de cemitérios, depois um prolongamento da Zona Portuária e, com a abertura da Avenida Brasil, foi apartado do seu bairro irmão São Cristóvão — e a abertura posterior da Linha Vermelha e do acesso à Ponte Rio-Niterói acabou por ilhar, sitiar, isolar o Caju


Caju, bairro sitiado por elevados e vias expressas.

Além disso tudo o bairro foi degradado por um processo de favelização. Minha amiga Rejane, que é artista plástica e que já me havia conduzido por São Cristóvão, levou-me por lá. Eis o resultado. 


Praça principal do Caju.
Igreja Presbiteriana.

Casinhas na Rua Tavares Guerra. Fotos do editor do blog, exceto as duas da Rejane, marcadas.