ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

24.11.13

ADEUS, PERIMETRAL



Foi-se abaixo trecho da Perimetral, implodido o monstrengo que desfigurava a Zona Portuária. Aqueles que, até o último momento, foram contra a derrubada do monstro — e, a julgar pelas cartas de leitores e artigos de comentaristas no jornal, foram a maioria — contemplem estas fotos tiradas em 2011 e ponham a mão na consciência! "Sob chuva fina, o trecho central do Elevado da Perimetral foi ao chão, às 7h deste domingo, com o uso de 1.200 quilos de explosivos", lemos no Globo Rio. "O sol vai surgir e nunca mais sai da Rodrigues Alves", afirmou o Prefeito. Oxalá. E disse também: "As melhorias estão chegando ao Centro do Rio. Vamos enfrentar dificuldade, um período mais difícil. Pedimos aos cariocas que usem transporte público. O carro não é muito querido neste projeto. A gente prioriza as pessoas, o caminhar pelas calçadas." Falou e disse! Leia mais sobre esse assunto clicando aqui.


15.11.13

CHÁCARA DO CÉU


Exibir mapa ampliado

Chácara do Céu vista do Parque Dois Irmãos
Domingo desses, visitando o Parque Dois Irmãos (ver postagem anterior), por curiosidade enveredei por uma trilha (foto abaixo) para ver onde ia dar — suspeitei que daria na Comunidade Chácara do Céu. Depois de passar por um campo de futebol fui dar num velho muro com uma passagem para umas “construções” atrás (uma casa? conjunto de casas?). Uma senhora (a Dona Vera) que conversava com uma idosa simpaticamente me abordou, cumprimentou e orgulhosa apresentou à Chácara do Céu. Pequena e simpática comunidade (favelinha) onde as pessoas,  ao passaram umas pelas outras, se cumprimentam, como se costuma fazer pelos caminhos do interior (na cidade grande esse hábito se perdeu, também pudera, é tanta gente). A Dona Vera, que mora na comunidade desde criança, contou a história de um grileiro que se apossou das terras do atual parque e pretendia erguer um enorme hotel por lá — foi para impedir a construção desse hotel que a Prefeitura no início dos anos 90 transformou a área em parque municipal. Um turista pós-adolescente hospedado num hostel do Vidigal perambulando por lá e uma família inteira que viera ao encontro de um pessoal para um piquenique são testemunhos dos novos tempos de livre circulação pós-UPPs (antes até o parque era perigoso). Gente boa da comunidade, acolhedora, conversadora, tem até terrenos e casas pra vender, vinte, trinta mil, alguém se habilita?

 Trilha que liga o Parque Dois Irmãos à Chácara do Céu
Num texto em PDF disponível na Internet (para ler clique aqui) mas sem indicação de autor, encontro dados interessantes sobre a história das favelas na Zona Sul, incluindo a Chácara do Céu:

"A presença de favelas na Zona Sul da cidade remonta ao início do século XX, coincidindo com o período da ocupação dos bairros da Zona Sul. Concomitantemente com o desenvolvimento urbano da área e a implantação dos equipamentos urbanos necessários a ocupação pelas classes abastadas, a população pobre se dirigiu para lá a fim de ocupar áreas não aproveitadas pelo capital imobiliário. [...] É o caso também da favela Chácara do Céu, que teve sua formação a partir de 1920, com a instalação de trabalhadores nos terrenos pertencente à companhia Miranda Jordão, que pretendia instalar no Morro Dois irmãos uma linha férrea. Os trabalhadores da companhia fixaram residência e deram inicio às obras, mas a linha férrea nunca foi implantada, com o caminho aberto pelos trabalhadores vindo a se tornar a atual continuação da Avenida Niemeyer. A favela Chácara do Céu, conforme relato de uma moradora presente na favela desde sua formação, 'cresceu junto com o bairro do Leblon, e eles (o bairro), não se incomodavam com a gente, porque todo mundo trabalhava por aqui, não havia tanta bandidagem'."

Vista da trilha
No Acervo Digital de O Globo procurei antigas notícias sobre essa comunidade. Matéria de primeira página de 30 de janeiro de 1933, denunciando uma ameaça de despejo que pairava sobre os moradores (por parte da Empresa Industrial da Gávea numa época em que existiam várias fábricas na Zona Sul), informava que “entre os moradores, conforme assignalámos [mantivemos a grafia original], ha alguns que nasceram lá. Outros residem no referido morro agora disputado com energia, ha 12, 15 e mais annos e nunca ninguem os incommodou. É uma montanha íngreme, de subida penosa para o que foram aproveitadas as suas escarpas. Ha logares por onde se transita sobre a rocha viva. Só os realmente necessitados podem escolher morada em logar nas condições do morro do Ipanema [Morro Dois Irmãos]. Foi ali que os párias se acoitaram e vão vivendo humildemente com a esposa e os filhos, aguardando melhores dias. Com a crise, as moradas cresceram e só na corôa da pittoresca montanha contam-se cerca de 300 barracões, todos elles cheios de mulheres e creanças. Despejados que sejam esses moradores necessitados, para onde irão elles, nas condições em que se encontram em maioria, sem emprego, sem dinheiro, sem recursos, emfim?”

Casa com vista para o mar
Nos anos 50, antes do advento dos motéis, casais que subiam de carro a Rua Aperana em busca de um “lugar afastado” para seus “colóquios amorosos ilícitos”, como se dizia na época, eram prato feito para ladrões escondidos nas copas das árvores, onde tinham “um estratégico posto de observação”. “Momentos depois de estacionarem os autos os casais são surpreendidos pelos assaltantes que pulam das árvores, não possibilitando nenhuma reação”, informa O Globo de 27 de agosto de 1957. A edição matutina de 4 de janeiro daquele mesmo ano já noticiara à página 3: “A ‘Chácara do Céu’, também conhecida por ‘Zigue-Zague’, é um local além da Rua Aperama, atrás do Hotel Leblon, e para atingi-lo é necessário dar muitas voltas. É lugar procurado para colóquios [encontros amorosos], por ser aparentemente tranqüilo. Ali muitos casais já foram assaltados ou postos a correr por meliantes. Não faz muito tempo, uma môça perseguida por um ladrão, que já pusera em fuga o seu namorado, embrenhou-se no mato, e, não conhecendo a região, caiu de alta pedreira, na Avenida Niemeyer, tendo morte horrível. Muitas vezes a ‘Chácara do Céu’ já ocupou o noticiário dos jornais, sempre de permeio com histórias de roubos, sangue e adultério.”

Panorama da Chácara do Céu
A Chácara do Céu já foi rota de fuga de traficantes do Vidigal mas com a pacificação se tornou uma comunidade bucólica, espremida entre o paredão do Dois Irmãos e o Parque, com belos panoramas para o oceano e moradores simpáticos e acolhedores, como tive a oportunidade de constatar. Um senão: uma moradora exprimiu sua revolta com a política da administração do parque de substituir árvores frutíferas consideradas exóticas, como jaqueiras (com que a comunidade se habituou a conviver), por espécies nativas.
 
Varal

Simpáticos cãezinhos

Rocha acima

A laje dos seus sonhos. As lajes são uma solução inventiva da arquitetura informal/popular favelada, terraços construídos sobre os telhados onde se pode tomar banho de sol ou promover um animado churrasco (às vezes desfrutando bela vista), ao contrário das varandas dos prédios de classe média, geralmente vazias, subutilizadas.

4.11.13

PARQUE DOIS IRMÃOS

PASSEIO DE TIRAR O FÔLEGO, LITERALMENTE
João Sette Camara
Texto publicado originalmente na revista Rio Show de O Globo de 20 de julho de 2007 e reproduzido com permissão do autor. Fotos do parque e de seu acesso do editor do blog.


Recentemente soube que o Parque Natural Municipal do Penhasco Dois Irmãos, mais conhecido como Parque Dois Irmãos, que fica no morro de mesmo nome, havia sido todo reformado e tinha ganhado um reforço na segurança devido a um maior afluxo de turistas nesta época de Pan. Eu, que adoro as áreas verdes, mas nunca tinha visitado o parque, parti para o Leblon.



Da subida, na pacata Rua Aperana, não se tem ideia das surpresas que aguardam o visitante lá em cima. O parque, limpo, bem cuidado e aparentemente seguro, é uma sucessão de ladeiras entrecortadas por mirantes de todos os tamanhos que descortinam paisagens de tirar o fôlego. Do primeiro deles, o mais baixo, vê-se a orla, da Joatinga ao Arpoador. E ainda há um pequeno anfiteatro de pedra, com as Cagarras ao fundo, que poderia ser um dos palcos mais bonitos e exclusivos da cidade, se fosse utilizado.

Memorial às 228 vítimas do acidente em 2009 com o avião da Air France

Subindo ainda mais o morro e arrependido de não ter levado bicicleta — a melhor opção para explorar as trilhas, o que também pode ser feito com o auxílio de guias e mediante agendamento — cheguei a mais um mirante, que tem uma vista ainda mais alucinante, pois dele vê-se também a Lagoa e o Jardim Botânico. Além do visual, o parque ainda tem uma área para piqueniques (que precisam ser agendados), brinquedos para crianças, aparelhos de ginástica e campo de futebol.



Criado pela prefeitura em 1992 e com uma área de 39 hectares, há que se rezar para que, passado o Pan, a atmosfera de segurança e limpeza não se evapore deste parque que é um presente para os cariocas.

[Nota do editor do blog: As preces do autor foram atendidas: visitei o parque em 20/10/13 e ele continua impecavelmente limpo e cem por cento seguro.]



INFORMAÇÕES:
Parque Natural Municipal do Penhasco Dois Irmãos
Rua Aperana s/no - Alto Leblon (você pode subir de carro e estacionar no parque ou subir a pé)
Terça a domingo, das 8h às 17h, no horário de verão até 18h

2.11.13

FINADOS NO CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA & DIA SEGUINTE NO CEMITÉRIO DO CATUMBI


Faz alguns anos tenho o hábito de visitar o Cemitério São João Batista no Dia de Finados (relativamente perto de casa, é só atravessar o Túnel Velho — clique em "Cemitério São João Batista" no menu da barra vertical à direita) e agora que enfim consegui localizar o túmulo de meus avôs tenho ainda mais motivos para ir lá. Nesse dia o cemitério fica cheio e você pode percorrer mesmo as partes mais altas e remotas sem medo de deparar com um malfeitor. Muitas celebridades estão enterradas nesse cemitério: Ary Barroso, Clara Nunes, Santos Dumont, Tom Jobim, Nelson Rodrigues, Carmen Miranda... Compro dois ramalhetes de flores sortidas e vou depositando uma aqui, duas ali... Este ano um dos túmulos que recebeu minhas flores foi de Machado de Assis e Carolina, no Mausoléu da Academia, que só abre para o público no Dia de Finados. Para quem aprecia a boa arte funerária o São João Batista é uma visita recomendada.






No dia seguinte, domingo, fui ao passeio Reconhecendo o Interior do Cemitério do Catumbi guiado pela professora Olga Maíra Figueiredo, especialista em cemitérios cariocas. O passeio foi organizado pelos projeto Roteiros Geográficos que recomendo a quem quiser  conhecer melhor a cidade (para mais informações clique em PASSEIOS GUIADOS no GUIA DO RIO no cabeçalho do blog). O Cemitério do Catumbi (nome oficial: Cemitério de São Francisco de Paula) é o segundo cemitério "moderno" (ou seja, ao ar livre, em área delimitada, com identificação das sepulturas — antes os cariocas costumavam ser sepultados nas igrejas ou em seus adros, ou em covas coletivas de pequenos cemitérios improvisados, tipo o dos Pretos Novos) mais antigo da cidade, inaugurado em 1850 (o mais antigo é o Cemitério dos Ingleses, na Gamboa, mas que atendia apenas à colônia inglesa). Os cemitérios históricos são museus a céu aberto de arte funerária, e seguem-se algumas fotos tiradas no Catumbi.