ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

18.10.23

MOSAICOS CERÂMICOS: ARTE NA PORTARIA DOS EDIFÍCIOS – Obras de José Moraes e Paulo Werneck, grandes artistas, são documentos de uma época.

Texto de Rogério Marques para o Quarentena News, aqui reproduzido com autorização do autor.


Na correria diária dos grandes centros, muita gente não percebe os mosaicos cerâmicos, uma técnica milenar, que estão em vários pontos do Rio. São trabalhos deixados, como um presente à cidade, por dois grandes artistas cariocas, José Moraes (1921-2003) e Paulo Werneck (1907-1987).

José Moraes foi pintor, escultor, muralista, gravador, ilustrador, professor da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), de São Paulo, e do Departamento de Artes Plásticas da Universidade Federal de Uberlândia.

Paulo Werneck, além de artista versátil, foi ativista político, com preocupações sociais, ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). É considerado um dos maiores nomes do mosaico moderno brasileiro no século XX. Deixou centenas de painéis em várias cidades brasileiras, inclusive na capela de São Francisco de Assis, na Pampulha, Belo Horizonte, projetada por Oscar Niemeyer.

No Rio, os trabalhos de Moraes e principalmente os de Werneck estão em várias portarias de edifícios residenciais e comerciais. Muitas vezes, quem entra e sai dos prédios, ou passa pelas calçadas em frente, não sabe quem foram os autores daquelas obras, e até mesmo não reparam nelas. Geralmente, esses painéis, atualmente tombados, são assinados apenas com as iniciais dos artistas – JM e PW. Bem que poderiam ter, ao lado, uma pequena placa com informações sobre os autores.

No Edifício Azul e Branco, na Rua Almirante Tamandaré, 50, no Flamengo, José Moraes deixou no saguão dois belos murais que retratam brincadeiras das crianças de antigamente. O prédio foi construído no final da década de 50, muito antes da popularização de computadores e smartphones.

Quanta beleza, quanta arte naqueles trabalhos, de visível influência modernista. Em um dos painéis, meninas brincam de roda. No outro, de cabra-cega, as crianças parecem voar.


Painéis de José Moraes em portaria de edifício no Flamengo: brincadeiras de antigamente (Fotos Rogério Marques)


Em Copacabana e no Leme, Paulo Werneck tem trabalhos da época em que aqueles bairros estavam sendo verticalizados. No Leme, são de sua autoria dois grandes painéis retratando indígenas, no hall imponente do Edifício Maracati, na Rua General Ribeiro da Costa.

Mosaico de Paulo Werneck na entrada do Edifício Maracati, no Leme (Foto: Vicente de Mello/Divulgação)


No Centro da cidade, o hall dos elevadores do Instituto de Resseguros do Brasil, na Rua Marechal Câmara, é outro exemplo da arte de Paulo Werneck.

 Hall dos elevadores no Instituto de Resseguros do Brasil, no Centro. Painel de Paulo Werneck (Foto: Vicente de Mello/Divulgação)


Em Laranjeiras, bairro em que morou e teve um ateliê, Werneck deixou um painel em mosaico na fachada do Edifício Paulo Dalio, na Rua Leite Leal, 14, esquina com Rua das Laranjeiras. Somente há pouco tempo uma amiga que mora no prédio ficou sabendo a história e a importância daquele mural. Com muitos moradores acontece o mesmo.

Painel de Paulo Werneck em edifício na Rua Leite Leal, Laranjeiras. O artista morou no bairro. (Foto Rogério Marques)


Os painéis cerâmicos na decoração de edifícios foram uma tendência entre os anos 40 e 60. Tempos mais tranquilos, em que as crianças podiam brincar nas ruas, perto de casa. Hoje, as meninas de José Moraes no Edifício Azul e Branco, na Rua Almirante Tamandaré, ainda brincam de roda e de cabra-cega, mas atrás de grades (que evitei nas fotos) e outros esquemas de segurança.

Os tempos mudaram, mas a arte de José Moraes e Paulo Werneck felizmente sobreviveu.