ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

31.12.18

ADEUS 2018/FELIZ 2019!

5:47 da madrugada

COM ESTAS FOTOS DO AMANHECER EM COPACABANA

5:50

LITERATURA & RIO DE JANEIRO, O BLOG DE QUEM ADORA A CIDADE MARAVILHOSA,

5:54

DESPEDE-SE DE 2018

5:55

DESEJANDO AOS AMIGOS

5:58

UM FELIZ ANO NOVO

6:05

E CONTINUEM NOS VISITANDO

6:09

QUE SEMPRE TEREMOS NOVAS SURPRESAS!


6:17 - De novo a luz venceu as trevas

17.12.18

RELEMBRANÇAS DE NATAL, de ANTÔNIO RIBEIRO DE ALMEIDA



A primeira lembrança que me vem do Natal é de chuva, muita chuva. Mamãe me colocara de pé numa janela de vidro e eu olhava a chuva que caía, caía e parecia que não queria acabar mais. Gostava de ouvir o tamborilar das gotas que batiam contra o vidro da janela e produziam uma sinfonia de sons. Na rua de terra, ela formava enxurradas que corriam e carregavam pedacinhos de pau, formigas, folhas e um capim verde.Em seguida, apareciam rodamoinhos no qual estas coisas desapareciam num pequeno sorvedouro. Mamãe me dizia para olhar em direção à usina de açúcar porque logo meu pai iria chegar para o jantar. Ele viria na sua bicicleta e não temia molhar-se com a chuva que caía. Era um homem forte e decidido. Com a bicicleta, ele ia e voltava para o trabalho pedalando muitos quilômetros. Certamente, olharia lá de baixo para o sobrado onde morávamos e me veria na janela à sua espera. Naquela tarde, mamãe corrigira várias cartas que eu e os meus irmãos escrevêramos para Papai Noel e que iríamos colocar dentro dos nossos sapatos, atrás da porta. Eu me lembro de que gostaria de pedir uma bicicleta. Mamãe dissera, contudo, que a bicicleta era muito pesada e que Papai Noel, velhinho, não tinha mais forças para carregá-la. Na inocência da minha infância, eu não sabia que aquela era uma amorável mentira para que eu não percebesse que meu pai, na sua pobreza, não tinha como comprar uma bicicleta para mim. Ela sugeriu, então, que eu pedisse um livro e um papagaio para empinar. O livro que escolhi foi a Geografia de Dona Benta de Monteiro Lobato, e, com ele, aprendi que o mundo era grande e bem maior do que Rio Branco. Pelo poder da imaginação viajei com Dona Benta, Tia Anastácia, Pedrinho e o Visconde de Sabugosa a bordo do “Terror dos Mares”. Papai Noel permitira que meu pai escrevesse uma dedicatória para mim. E ela lá estava: “Meu filho, neste livro você encontrará respostas às perguntas que vive me fazendo e boa viagem”. Em certo sentido, ele estava sendo profético. Adulto, voei sobre o Oceano Pacífico a bordo de um Boeing e embaixo, no azul do mar, navegava o “Terror dos Mares” da minha infância. Naquela noite de 24 de dezembro fui dormir cedo. Antes comi um pedaço de bolo de farinha de trigo com uma xícara de chá.

No dia de
Natal nós encontramos sobre os nossos sapatos o livro, o papagaio com a máquina e linha, e os meus irmãos os presentes que haviam pedido. Meu papagaio era azul e no seu centro havia uma linda estrela. O dia estava claro e a chuva passara. Saímos à rua do nosso bairro do Capim Cheiroso e fomos ver o que os outros meninos ganharam do velho Noel. As meninas sentaram numa escadinha e falavam das suas bonecas. Algumas as penteavam e mudavam os seus penteados. Cuidaram também de lhes dar um nome e para isto marcaram a tarde para o batizado e me convidaram para ser o padre. Eu logo procurei empinar o meu papagaio para a alegria dos meus amigos da rua. Ele foi subindo devagar e com uma lufada de vento ganhou as alturas e ficou mais alto do que a chaminé da usina de açúcar. Não temi e fui lhe dando linha para que ganhasse as nuvens. De repente, sem que esperasse, a linha arrebentou, e, livre, o papagaio foi ganhando mais altura até sumir dos meus olhos cheios de lágrimas. Fora feito para voar e não queria, pensei, voltar a terra. Triste, fui contar à mamãe que procurou consolar-me ao dizer-me: "Não se importe, meu filho. Ele foi para o céu onde mora o Menino Jesus". Naquela tardinha, ela nos levou ao presépio da Matriz para que visitássemos o Menino Jesus. Ao olhá-lo, eu não compreendi como ele morava no céu se, naquela noite, descera à terra dos homens. Moraria nos dois lugares? Será que ele vira e guardara o meu papagaio? Perguntei à minha mãe. E ela, que tudo sabia, me disse que Jesus viera a terra por pouco tempo. Que Ele voltaria logo para o céu e que meu papagaio estava bem guardadinho à espera do dia que eu também fosse ao encontro de Jesus.


Texto extraído do livro Contos do Entardecer de Antônio Ribeiro de Almeida.

1.12.18

UM CHUTE, de RUBEM BRAGA

CRÔNICA PUBLICADA ORIGINALMENTE NA REVISTA MANCHETE DE 28 DE NOVEMBRO DE 1953


Circulo um pouco pela cidade [cidade no sentido de Centro da cidade], de manhã, resolvo umas coisas mais ou menos cacetes. E de repente, na Esplanada do Castelo, reparo nesta coisa simples: estou feliz.

Não me acontece nada de especial; minha felicidade é gratuita, deriva destas coisas simples: o céu está azul, o sol está louro, eu estou andando na rua. Meu sapato é confortável, minha roupa está limpa, meu corpo está bem.

Passa uma menina com uma fita nos cabelos; em um terreno livre há um grupo de mecânicos que aproveitam a hora do almoço para um bate-bola. A bola vem para o meu lado; devolvo-a com um chute, e meu chute é certo, e é saudado com um “oba!” por um dos homens de macacão, que pega a bola com a cabeça. Estou definitivamente feliz. Meus problemas de dinheiro, minhas tristezas, minhas aflições, nada tem importância. Posso amar a quem não me liga, fazer o que me desgosta, não fazer o que queria – mas neste momento sou apenas um animal feliz; o dia está lindo e eu estou andando com prazer de andar. Sou um animal feliz. E meu chute foi bonito.

Passa um navio branco, muito grande, bojudo

Passa um navio branco, muito grande, bojudo; vem do sul. Com certeza vai entrar na baía. Vai entrar todo de branco, abrindo asas de branca espuma, desenrolando no ar, como um penacho feliz, um rolo de fumaça branca. O convés está cheio de gente que olha as praias, o casario, as montanhas. Sede felizes! Este é o desejo íntimo que nos dá, dizer a esses forasteiros que pela primeira vez entram em nossa baía, entre as montanhas azuis; dizer alto: aqui é o Rio de Janeiro, é a nossa bela cidade; é para vós que ela hoje brilha ao sol; sede felizes!

E ter inveja dos que chegam pela primeira vez, vindos do mar, ao Rio de Janeiro.

debruçados sobre as fotografias em cores

Porque em nossa infância, no interior, não se dizia: Rio. Foi de repente que surgiu essa moda, as pessoas que vinham e voltavam dizia apenas com intimidade – Rio.

Mas nós, debruçados sobre as fotografias em cores e os presentes que nos levavam, nós dizíamos, com ar de sonho e um tom de respeito: Rio de Janeiro.