"Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu que levo a alegria
Para milhões de corações brasileiros"
Zé Keti, "A Voz do Morro"
Samba em oração
de Isabel Corsetti
Para que o samba purifique a todos
do sangue e lama a descer dos morros.
Que nossa voz estenda o branco manto
leve das mães o tão vertido pranto.
Dancemos muito o samba na avenida
com todo o amor, enaltecendo a vida.
Raças e cores se irmanando aos poucos
a encerrar tantos momentos loucos.
A melodia solta em alegorias,
a propagar o culto da alegria
de um país em busca da sua sorte
com harmonia — uno vibrante e forte.
E o palpitar de um batuque afora
a despertar doces paixões sem hora,
dirá que existe um povo que se preza
e o coração de uma nação que reza.
(do livro Palavras Vestidas)
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O cartunista Luscar foi colaborador habitual do antigo & saudoso Pasquim, durante anos publicou tiras do Doutor Baixada no finado Jornal do Brasil e recentemente ilustrou o meu Guia da Cidade Maravilhosa. |
A primeira menção ao termo samba conhecida foi feita em 3 de fevereiro de 1838 no jornal
satírico pernambucano O Carapuceiro. Mas samba significava tudo menos o ritmo que conhecemos hoje. No Rio de
Janeiro, por exemplo, a palavra só passou a ser conhecida ao final do século
XIX, quando era ligada aos festejos rurais, ao universo do negro e ao
"norte" do país (ou seja, a Bahia).
Nos primórdios do século XX, a literatura carioca já
registrava com frequência o termo samba.
Cada vez mais distante de sua inspiração folclórica, as situações em que
aparecia diziam respeito ao ambiente urbano e já mestiçado da cidade. O samba
era comparado com o maxixe e o tango, palavras que musicalmente representavam,
muitas vezes, a mesma coisa.
Aos poucos estava sendo pavimentado o terreno, ou melhor, o
terreiro em que o samba iria se consolidar. Urbano, mestiço, carioca e já dispondo
dos instrumentos percussivos das escolas, ele foi gradualmente eleito pela
população o principal ritmo musical do Rio de Janeiro. Era o coroamento de
séculos de interação etnocultural, muitas vezes conflituosa, mas sempre com
poros comunicativos bem abertos.
Trecho da Introdução do Almanaque do Samba de André Diniz (Jorge Zahar Editor, 2006)