ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

22.9.12

CASA DA FAZENDA DO VIEGAS em SENADOR CAMARÁ

Coluna do Ancelmo Gois (O Globo) de 13/9/12


A fazenda e sua capela (face correspondente à seta do mapa)
"Casa rural característica da época colonial, com capela anexa, foi construída em 1725 e teve no seu engenho a exploração da cana-de-açúcar por quase 80 anos. A partir de 1780 passou a atuar na atividade cafeeira, sendo uma das precursoras no Brasil." (Guia do Patrimônio Cultural Carioca)

A casa da fazenda do Viegas e sua capela foram tombadas pelo IPHAN em 1938, pelo Município em 1996, pertencem atualmente à Prefeitura da cidade e estão em mal estado de conservação, aparentemente ocupadas por invasores. O endereço é Rua Marmiari, 221 (Senador Camará). Existe um zelador no portão que abre o cadeado para eventuais intrépidos visitantes.

Segundo um contato da Secretaria de Conservação da Prefeitura, “o seu entorno está num processo de favelização violento e desordenado. As instalações, onde havia equipes da Prefeitura trabalhando, tiveram que ser abandonadas, devido à insegurança. Somente após ação policial haverá possibilidades de se recuperar a fazenda que teve até os anos 2000 uma importante atuação na região.”

Close-up da capela.  "A casa de fazenda apresenta uma solução peculiar para a conjugação da capela ao corpo da casa, aproveitando a topografia do terreno. O coro da capela, que funcionava como tribuna para os proprietários, comunica-se diretamente com o alpendre da casa, enquanto a nave, que se desenvolve num plano inferior, tem acesso externo no nível do terreno." (Guia da Arquitetura Colonial, Neoclássica e Romântica no Rio de Janeiro)
No verbete VIEGAS, Fazenda do do Dicionário da Hinterlândia Carioca, escreve Nei Lopes: "[No século XVIII,] a fazenda, cultivando cana-de-açúcar e produzindo derivados em seu engenho, foi considerada a segunda em importância na freguesia de CAMPO GRANDE. No início do século XIX, com o advento da CAFEICULTURA, a fazenda, com seus campos de cultivo se estendendo até o Lameirão e a Serra do Viegas, destacou-se como uma das maiores e mais produtivas."


Tomada um pouco mais de longe (do local da seta no mapa)

Lateral da fazenda (à direita da seta)

Telhado  bem deteriorado e já não contendo as telhas originais, e sim telhas industriais  visto por detrás (face oposta à da seta)

Vista do terreno da fazenda. A rigor o morrinho onde está a fazenda constitui  o Parque Municipal Fazenda do Viegas, mas a degradação da área impede seu usufruto pela população da região, carente de áreas de lazer. Fotos do editor do blog.

18.9.12

PAULINHO



Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

(Do poema "Se Eu Morresse Amanhã"
de Álvares de Azevedo)




Antes do advento da bendita penicilina, não só os poetas românticos morriam com vinte e poucos anos (Álvares de Azevedo, 20 anos, Casimiro de Abreu, 21, Junqueira Freire,  22, Castro Alves, 24), como muitas crianças não conseguiam chegar à vida adulta, vítimas das mil e uma infecções e gripes que hoje qualquer pediatra cura. Se você percorrer atentamente o Cemitério São João Batista encontrará vários túmulos infantis, como este do Paulinho (18/5/1904—18/9/1912), falecido exatamente cem anos atrás. Pelo capricho com que ergueram seu túmulo dá para imaginar a dor da família. Cem anos depois, exceto este editor do blog, ninguém se lembrou de levar flores. O que confirma o velho adágio de que o tempo é o lenitivo para todos os males. Orai por ele!


7.9.12

EU SOU O SAMBA...

"Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu que levo a alegria
Para milhões de corações brasileiros"

Zé Keti, "A Voz do Morro"

 


Samba em oração
de Isabel Corsetti

Para que o samba purifique a todos
do sangue e lama a descer dos morros.
Que nossa voz estenda o branco manto
leve das mães o tão vertido pranto.

Dancemos muito o samba na avenida
com todo o amor, enaltecendo a vida.
Raças e cores se irmanando aos poucos
a encerrar tantos momentos loucos.

A melodia solta em alegorias,
a propagar o culto da alegria
de um país em busca da sua sorte
com harmonia — uno vibrante e forte.

E o palpitar de um batuque afora
a despertar doces paixões sem hora,
dirá que existe um povo que se preza
e o coração de uma nação que reza.

(do livro Palavras Vestidas)

O cartunista Luscar foi colaborador habitual do antigo & saudoso Pasquim, durante anos publicou tiras do Doutor Baixada no finado Jornal do Brasil e recentemente ilustrou o meu Guia da Cidade Maravilhosa.  

A primeira menção ao termo samba conhecida foi feita em 3 de fevereiro de 1838 no jornal satírico pernambucano O Carapuceiro. Mas samba significava tudo menos o ritmo que conhecemos hoje. No Rio de Janeiro, por exemplo, a palavra só passou a ser conhecida ao final do século XIX, quando era ligada aos festejos rurais, ao universo do negro e ao "norte" do país (ou seja, a Bahia).

Nos primórdios do século XX, a literatura carioca já registrava com frequência o termo samba. Cada vez mais distante de sua inspiração folclórica, as situações em que aparecia diziam respeito ao ambiente urbano e já mestiçado da cidade. O samba era comparado com o maxixe e o tango, palavras que musicalmente representavam, muitas vezes, a mesma coisa.

Aos poucos estava sendo pavimentado o terreno, ou melhor, o terreiro em que o samba iria se consolidar. Urbano, mestiço, carioca e já dispondo dos instrumentos percussivos das escolas, ele foi gradualmente eleito pela população o principal ritmo musical do Rio de Janeiro. Era o coroamento de séculos de interação etnocultural, muitas vezes conflituosa, mas sempre com poros comunicativos bem abertos.

Trecho da Introdução do Almanaque do Samba de André Diniz (Jorge Zahar Editor, 2006)