ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

25.12.14

ESTÁTUA DE TOM JOBIM NO ARPOADOR


O professor João Baptista em seus passeios guiados costuma observar que, se outrora as estátuas ficavam inacessíveis sobre pedestais e homenageavam figuras políticas e guerreiras, hoje homenageiam artistas e interagem com o transeunte: "andam pela calçada" ou "sentam-se nos bancos" (caso da popular estátua do Drummond).  Nome completo: Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (1927-1994). "Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro..." Escultura de Christina Motta, inaugurada em dezembro de 2014 pelo prefeito Eduardo Paes, conforme lemos na placa aos pés da estátua.

12.12.14

ALÔ, ALÔ REALENGO (E PADRE MIGUEL), AQUELE ABRAÇO!

E.F.C.B. (Estrada de Ferro Central do Brasil) Realengo 1937

Duas semanas depois de minha aventura em Bangu (postagem anterior), resolvi repetir o teste do trem expresso, agora até as antigas terras realengas, as terras de serventia pública pertencentes à Coroa. Desta vez o trem saiu londrinamente no horário marcado no quadro eletrônico e as viagens (Central-Realengo, Padre Miguel-Central) duraram 41 minutos cada, uma ótima marca. Pontos para a Supervia!

Assim como administrações recentes construíram a Cidade do Samba e a Cidade da Polícia, parece que os primeiros governos republicanos se empenharam em erguer uma espécie de “Cidade do Exército” nos (naquela época) descampados pós-suburbanos a partir de Deodoro. De fato, as instalações militares são um oásis de "capricho", “limpeza”, boa arquitetura, “ordem e progresso” em meio a uma região que, ocupada por populações de média-baixa e baixa renda, sofre certo “desordenamento urbano”. Ao passar de trem por essas instalações militares de “Primeiro Mundo” a gente até entende a “ideologia tenentista” de que o glorioso exército, uma vez ascendendo ao poder, poria ordem na casa brasileira. Não foi bem assim.

Dito isso, seguem as fotos de meu périplo por Realengo/Padre Miguel e trecho do livro de Brasil Gerson, História das ruas do Rio, alusivos aos referidos bairros (pp. 405-6).

Coreto da Praça do Canhão (Campo de Marte). "Com inspiração romântica, tem planta octogonal, assentado sobre balaustrada." (Guia do patrimônio cultural carioca)

Colégio Pedro II de Realengo

Escola Militar do Realengo: Grupamento de Unidades Escola e 9a Brigada de Infantaria Motorizada. A Escola propriamente dita foi transferida para as Resende.

Antigas instalações militares em Realengo do final do século XIX com elementos neoclássicos (as colunas e o desenho simétrico). 

Cine Theatro Realengo, atual Igreja Internacional da Graça de Deus em estilo art déco, de 1938. "Possui composição arquitetônica simples, em linhas retas, com formas geométricas articuladas e ausência de elementos decorativos." Guia do Patrimônio Cultural Carioca 

Não são poucos (e alguns de alta categoria intelectual) os que pretendem ver em Realengo um diminutivo, uma abreviação de Real Engenho. Porem o manuseio dos documentos antigos, dos pedidos de sesmarias, principalmente, nos convencerá de que essa é uma teoria sem fundamento nesse particular, tal a insistência com que neles se fala de terrenos e campos realengos, destinados à serventia pública, e em maior número para a pastagem do gado por parte dos que não possuíam para isso terras próprias, e esses campos eram tanto onde ficaria sendo o Realengo dos nossos dias como perto da igreja de Irajá, onde (como vimos na historia do Recôncavo) já os antepassados do Juca Lobo da Penha e outros criadores haviam protestado por causa de uma sesmaria dada a Manuel da Costa Figueiredo "em terras que não podiam deixar de ser realengas" ...

A Igreja de N. S. da Conceição, de que era vigário Monsenhor Turíbio Villanueva Segura, na verdade nasceu pequenina à beira da Estrada Real de Santa Cruz, e para cuidar dela os seus moradores (criadores, tropeiros, roceiros, lenhadores) fundaram uma Irmandade ainda na segunda metade do Setecentismo, que é também de onde vem, talhada em madeira em Portugal, a imagem da Virgem guardada cuidadosamente num nicho na sua sacristia. Nos seus fundos havia um cemitério e ao lado, no lugar da Escola Nicarágua, uma fonte de pedra e um marco, um pedaço do qual Monsenhor salvou das demolições para colocá-lo à porta da sua casa paroquial como recordação desses seus antanhos.

E assim, pequenina, ainda a encontrou o Padre (e depois Monsenhor) Miguel Santa Maria Mochon, vindo da França para ser no Sertão dos cariocas um missionário, um catequizador tão abnegado e persistente que dele se deveria dizer que reviveria entre nós os Anchietas, os Nóbregas dos começos da colonização. Primeiro Vigário do Realengo, sua jurisdição se estendia até Ricardo e a Anchieta e Pavuna no princípio do Novecentismo, e entre as Casas de Deus a cuja construção se dedicou, logo figurou a atual da Conceição do Realengo, por ele toda refeita e ampliada, e é nela, adequadamente, portanto, que descansam seus restos.

É da tradição oral do Realengo que nas suas viagens para Santa Cruz, D. Pedro I e sua comitiva paravam na fonte de pedra da Igreja, para que seus cavalos bebessem água, enquanto ele buscava sofregamente a magnífica pinga do vendeiro que ficava defronte, famosa desde Campinho até Campo Grande...

Já na segunda metade do Oitocentismo, e sob D. Pedro II, o Realengo se foi convertendo em zona militar, nas terras logo chamadas do Governo — e daí nele a Rua do Governo também. Toda a sua área à esquerda da estação seria o Campo de Marte. O Exército instalou nele em 1859 a sua Escola de Tiro, num lugar descrito como o melhor do mundo para esses exercícios, dada a ausência nele de ventos que os prejudicassem. E a Imperial Academia Militar. E a seguir, num edifício que começara a ser erguido no Império para um quartel, instalou-se a Escola Preparatória e de Tática, ao extinguir-se a de tiro em 1897. E o 1o Batalhão de Engenheiros. E em a 1898 a Fábrica de Cartuchos, que outra não era senão o antigo Instituto Pirotécnico até então funcionando no Campinho, nos limites de Cascadura e Jacarepaguá. E neste século, quando a Vila Militar principiava a crescer bem perto, a Escola Militar famosa de outrora na Praia Vermelha, e que tinha sido dissolvida no Governo Rodrigues Alves [...] — a mesma famosa Escola (hoje Academia Militar de Agulhas Negras) que em 1922 de novo se levantaria, e desta vez no Realengo, mas por outros motivos, e sob o comando do Coronel Xavier de Brito, para lutar ao lado dos 18 do Forte, no primeiro dos 5 de Julho que precederam a Revolução de 1930... (Brasil Gerson, História das ruas do Rio, 5a edição, pp. 405-6)

Igreja de Nossa Senhora da Conceição de 1912 com traços neorromânicos (Realengo)

Antiga fonte de pedra da Estrada Real de Santa Cruz. É bem possível que tenha sido usada pelos cavalos da diligência diária que fazia o transporte de passageiros entre a Fazenda de Santa Cruz e o Palácio de São Cristóvão numa viagem de mais de cinco horas! Esta "bica imperial" foi recentemente tombada pela Prefeitura.

Sorria, você está em Padre Miguel!

Fiação

Horrores arquitetônicos

Vista da Estação Padre Miguel com a Paróquia Sagrado Coração de Jesus à direita. Fotos do editor do blog.

2.12.14

REABERTURA DA SALA CECÍLIA MEIRELES

Sala Cecília Meireles

Os amantes da música de câmara — a música de concerto para conjuntos musicais pequenos, trios, quartetos, ou mesmo instrumentistas solistas — estavam com saudades. Desde 2011 fechada para obras, a Sala Cecília Meireles enfim reabre. A inauguração oficial será no dia 11 de dezembro, mas desde a semana passada a sala está em ritmo de soft opening, abrigando (entre outras coisas) as semifinais do Concurso Internacional de Piano. Antes de se transformar na Sala Cecília Meireles (cujo nome homenageia a poetisa falecida pouco antes), o prédio abrigou o Grande Hotel da Lapa até 1948 e o Cinema Colonial até 1961. Eis as fotos da sala novinha em folha, cheirando a madeira recém-envernizada. A programação musical da Sala você encontra clicando aqui e/ou aqui.

A plateia

O balcão

Novo piano Steinway no qual o pianista Leonardo Hilsdorf, na primeira tarde das semifinais do Concurso de Piano, arrebatou a plateia

Olhando para cima logo após entrar: janelão, lustre, espelho

Vista do janelão

Aguardando o início do concerto

Dois cravos (direita) e fortepiano em que Rosana Lanzelotte e Marcelo Fagerlande tocaram obras da família Bach em 10/1/15 acompanhados de outros instrumentistas

A Sala à noite

O painel na rua lateral. Da esquerda para a direita: João do Rio, Rosinha, Vila Lobos, Noel Rosa, Manuel Bandeira, Madame Satã, Portinari, Di Cavalcanti

23.11.14

SAARA CARIOCA


A SAARA carioca, diferente do Saara africano, é a Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega, uma área de comércio popular pitoresca e colorida que evoca os bazares do Oriente Médio. As lojas expõem as mercadorias nas calçadas, pregoeiros com microfones diante de algumas lojas anunciam as ofertas irresistíveis, e na época das festas de fim de ano a SAARA lota de gente que quer se beneficiar do milagre da multiplicação do dinheiro, e ali árabes e judeus sempre conviveram harmoniosamente, num exemplo que deveria ser imitado no Oriente Médio. Nas suas mais de 600 lojas podem-se encontrar roupas, brinquedos, calçados, artigos esportivos, artigos de festa, etc. Ali funcionam tradicionais restaurantes árabes. A SAARA se estende pelas Ruas da Alfândega, Senhor dos Passos e transversais, no trecho entre a Avenida Passos e o Campo de Santana.

De acordo com o Plano Agache, toda a área de sobrados neoclássicos da segunda metade do século XIX e "ecléticos" da virada do século XIX para o XX que hoje constitui o SAARA (com uma ou outra construção mais moderna destoando) deveria ter sido cortada pela avenida Diagonal ligando a Lapa à Presidente Vargas, o que exigiria a derrubada de inúmeros desses sobrados, como ocorreu na abertura da Avenida Presidente Vargas, que não poupou sequer igrejas históricas. Graças à mobilização dos comerciantes da área quando Lacerda era governador da Guanabara, que fundaram a associação conhecida como SAARA, os sobrados foram preservados e estão lá firmes e fortes, em bom estado de conservação.

Na SAARA existem dois restaurantes árabes tradicionais: Cedro do Líbano e Sírio e Libanês. O restaurante Sírio e Libanês (Rua Senhor dos Passos, 217) foi fundado em 1963 pelo imigrante libanês Jawad Ghazi e está situado no coração da SAARA. Abre de segunda a sexta das 11h às 18h e no sábado das 11h às 16h. Já o Cedro do Líbano (Rua Senhor dos Passos, 231), o restaurante árabe mais antigo do Rio, foi fundado pelo libanês Narciso Mansur em 1948 e vendido seis anos depois para dois imigrantes, um espanhol e um português, que mantiveram a culinária libanesa. Existem também três igrejas históricas: a de São Gonçalo Garcia e São Jorge (que no dia do Santo Guerreiro tem fila na porta), a de Santo Elesbão e Santa Ifigênia (santos de devoção dos escravos africanos — penúltima foto) e a de Nossa Senhora do Terço.

Sugestão de roteiro pelo Centro do Rio: Cinelândia, o conjunto colonial do Largo da Carioca, a Rua da Carioca, a Praça Tiradentes, o Real Gabinete Português de Leitura, o comércio pitoresco do Saara terminando o passeio com chave-de-ouro na mais que centenária Casa Cavé ou na charmosa Confeitaria Colombo. (Informações obtidas em Ivo Korytowski, Guia da Cidade Maravilhosa. Fotos do editor do blog. Mais informações sobre a história da SAARA clicando aqui.)












17.11.14

VERÃO NO MAR

Para mais informações sobre o MAR clique na guia MUSEU DE ARTE DO RIO (MAR) no GUIA DO RIO do cabeçalho deste blog e/ou visite o site do MAR.

14.11.14

PASSEIO ATÉ BANGU

Estação Bangu

Tendo lido na imprensa sobre o novo sistema dos trens expressos da Supervia, que reduz os tempos de viagem nos ramais de Japeri e Santa Cruz, eu, o eterno explorador dos quatro cantos do Rio — e, confesso, tendo trabalhado treze anos na extinta Rede Ferroviária, trago ainda a ferrovia no sangue  resolvi dar minha conferida como “observador externo”.

Cheguei na estação Central do Brasil (oficialmente, Estação Dom Pedro II) às 13:30 e o quadro de horários indicava que o próximo Santa Cruz sairia em sete minutos. Embarquei. No horário marcado (suponho, estava sem relógio), as portas fecham. Abrem de novo. Voltam a fechar e a abrir várias vezes. Nos próximos vinte minutos, ninguém sabe se aquele trem vai sair ou não. Não passa pela cabeça do maquinista orientar os passageiros pelo sistema de alto-falantes dos vagões. Será que ele acha que está transportando carga?

Vinte minutos depois parte dos passageiros saem correndo até o outro trem, em frente, na mesma plataforma. É o trem “seguinte” para Santa Cruz que está em vias de partir.

A viagem é uma festa para os ambulantes. Vendem de tudo, de barras de chocolate e de cereais (tudo mais barato que no comércio convencional) até amolador de facas. É isso mesmo. Um vendedor simpaticíssimo munido de um megafone fixa um amolador na parede do trem e põe-se a louvar suas virtudes, com direito a demonstração com faca, tesoura. (Dizem que Silvio Santos começou mais ou menos assim.) Um passageiro ao meu lado fala (comigo? brasileiro tem essa virtude de falar com a pessoa ao lado): “Em casa tenho sete facas cegas, será que isso amola mesmo?” Acaba comprando. Também a cinco reais...

A certa altura ouve-se um "batidão" em pleno trem. É o vendedor de um CD de funks. Nada de proibidões, palavrões, adverte, são funks clássicos. Um outro ambulante se anima e põe-se a dançar no trem. Numa estação, sobe uma mãe com um bebê no colo. Logo alguém avisa: “Uma mãe com um bebê, ninguém vai dar lugar?” E alguém cede o lugar (contrariado?) Regras e disciplinas no país do Carnaval não são bem-vindas, mas informalmente dá-se um jeito.

Chego em Bangu após cerca de meia hora de viagem, uma marca admirável. Vai tentar fazer esse trajeto de ônibus! O sistema de trens expressos funciona mesmo! A refrigeração do trem não estava lá essas coisas, mas aqui fora faz um calor de derreter catedrais, como diria Nelson Rodrigues. O que vim fazer nessa lonjura? Vim fazer o que faço Rio afora: explorar. Meu objetivo principal, a antiga Fábrica de Tecidos Bangu que deu início à urbanização do bairro, antes zona rural. O complexo, no estilo da arquitetura industrial inglesa da época com tijolos aparentes, depois que a fábrica fechou passou a abrigar um shopping. Projeto mais do que louvável que contribui para humanizar um bairro com poucos atrativos. 

Antiga Fábrica de Tecidos Bangu, atual Shopping Bangu. A fábrica foi construída pela Companhia Progresso Industrial do Brasil no terreno do antigo engenho Bangu. Em 1895 foi inaugurada a vila operária com 95 “casas higiênicas” que constitui a origem do bairro atual. Os mais antigos equipamentos urbanos do bairro foram criados em função da fábrica e seus operários. (Guia da Arquitetura Eclética do Rio de Janeiro)


A unidade arquitetônica do conjunto é conferida pelo tijolo aparente que harmoniza a convivência de diferentes referências estilísticas. Sob esse aspecto, Bangu repete outras fábricas brasileiras de tecidos inspiradas na arquitetura fabril inglesa. Parte da ornamentação arquitetônica — arcos, pilares com seus capitéis, dentículos etc. — é constituída por relevos da própria alvenaria. No corpo da fábrica os diferentes blocos e alas convergem para a torre do relógio de quatro mostradores. (Guia da Arquitetura Eclética do Rio de Janeiro)

Igreja de São Sebastião e Santa Cecília. Inaugurada em setembro de 1908, possui fachada em tijolo aparente avermelhado que confere unidade arquitetônica com as edificações do terreno da antiga Fábrica de Tecidos Bangu. Construída em estilo neogótico inglês, a igreja possui vitrais e arcos apontados no interior e uma torre sineira encimada por cúpula piramidal. (Guia do Patrimônio Cultural Carioca)

Bangu Atlético Clube, antigo Cassino da Vila Operária

Thomas Donohoe (chamado pelas pessoas de "seu Danau"), pioneiro do futebol brasileiro. No local desta estátua foi realizada a primeira partida de futebol no Brasil. "Thomas Donohoe chamou, de casa em casa, todos os seus companheiros dos velhos tempos. Um grupo composto de doze homens apareceu no campo improvisado em frente à fábrica, apresentando aquela que seria a primeira partida de futebol no Brasil, com a primeira bola a entrar em nosso continente." "Thomas Donohoe ajudou a fundar o Bangu Atlético Clube em 17 de abril de 1904 e seu filho Patrick foi o primeiro grande ídolo e artilheiro." (Informações transcritas das placas ao pé da estátua)

Uma última observação: na volta à Central, você mal consegue desembarcar do trem. As pessoas, na ânsia de pegarem um lugar sentado, entram feito estouro de boiada. Não posso criticá-las: deram duro o dia inteiro e ainda têm uma longa viagem pela frente.

15.10.14

NÉLSON CAVAQUINHO: AMARGO LIRISMO, PEQUENAS TRAGÉDIAS COTIDIANAS E EFÊMERO DA VIDA


Se no axé a regra é o alto astral, o "pra cima", já "pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza", como ensinou mestre Vinicus, e ninguém encarna melhor o lado melancólico, soturno do samba que Nelson Cavaquinho, o "Schopenhauer do samba", por assim dizer, com letras angustiadas como "Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor". Texto a seguir de Paulo Sérgio M. Machado e equipe para o fascículo Nélson Cavaquinho da Nova História da Música Popular Brasileira da Abril Cultural de 1978 (2a edição revista e ampliada). Imagens extraídas desse mesmo fascículo.

Filho de Brás Antônio da Silva e Maria Paula da Silva, Nélson Antônio da Silva nasceu no Rio de Janeiro em 29 de outubro de 1911. Entre suas lembranças da infância e da adolescência estão as constantes mudanças de endereço: Rua Mariz e Barros, Rua Silva Manuel (na Lapa), Rua Joaquim Silva (nos Arcos), uma temporada no subúrbio de Ricardo Albuquerque, outra no bairro da Gávea. A família pobre fugia dos aumentos dos aluguéis.

Também devido à pobreza, o menino Nélson abreviou a infância: saiu da escola no terceiro ano primário para ir trabalhar numa fábrica de tecidos e depois como auxiliar de eletricista. Mas sua formação musical iria mais longe. Começou em casa, com o pai, tocador de tuba na Banda da Polícia Militar. (Alias, essa tuba lhe traz triste recordação: para se safarem de uma situação econômica mais crítica que de costume, Nélson mais os cinco irmãos venderam o instrumento de trabalho de Seu Brás para um depósito de ferro velho.) Outro "professor" foi um tio violinista: nas tardes de domingo, o tio tocava, a família cantava e o menino tentava acompanhar num instrumento de fabricação caseira: fios de arame esticados numa caixa de charutos.

A influência mais forte, no entanto, viria dos bailes dos clubes Gravatá, Chuveiro de Ouro e Carioca Musical. Neles Nélson conheceu Edgar Flauta da Gávea, Heitor dos Prazeres, Mazinho do Bandolim e o violonista Juquinha. Este foi seu primeiro professor de fato: lhe deu as noções de como tocar — cavaquinho, principalmente. Nessa fase, Nélson adquiriu um vício que se transformou em estilo: tocar apenas com dois dedos.

Aprendeu como pôde, espiando os veteranos, perguntando a um, conversando com outro. Não tinha dinheiro para comprar o instrumento, mas logo já dava quedas até nos velhos tocadores.

"Dar uma queda" no acompanhante era um dos passatempos prediletos dos velhos chorões, que ficavam horas e horas nos bares executando variações em torno da linha melódica de uma valsa ou de um choro. Esses longos improvisos, onde se conheciam os verdadeiros mestres, lembram malabarismos feitos pelos negros do Sul dos Estados Unidos, na época das origens do jazz.

A queda praticada pelos chorões ocorria quando o tocador modulava a melodia solista de tal maneira que o acompanhante se atrapalhava na procura de nova posição, o que o obrigava aos saltos de tom. Nélson compôs Gargalhada em homenagem ao mestre Juquinha, que ria muito toda vez que lhe dava uma queda. Outro choro, composto nessa época, tinha o significativo nome de Queda.

Foi então que Ventura, um jardineiro português, ficou com pena de ver Nélson tocando tão bem no instrumento dos outros: deu-lhe de presente o primeiro cavaquinho. Muito tempo depois, já violonista, Nélson ganharia dos funcionários do Fórum do Rio mais um cavaquinho. Agradecido, comporia Nair — choro que foi gravado por Altamiro Carrilho e sua banda, e talvez a única composição em que o nome de Nélson aparece sozinho.

Mesmo tocando em instrumentos alheios, Nélson não desistia: tinha o incentivo das cabrochas que suspiravam encantadas pelos músicos.


DEGRAUS DA VIDA


Vídeo: Juízo Final, de Nélson Cavaquinho, com Herança do Samba. Vocalista: Márcio Wanderlei. Gravado na Feira das Yábas no segundo domingo de outubro de 2014. No final, um flash do bolo de aniversário de Marquinhos de Oswaldo Cruz. LETRA: O sol....há de brilhar mais uma vez / A luz....há de chegar aos corações / Do mal....será queimada a semente / O amor...será eterno novamente / É o Juízo Final, a história do bem e do mal / Quero ter olhos pra ver, a maldade desaparecer.

Nélson começava a ser "do Cavaquinho" quando, aos 21 anos, cometeu seu primeiro casamento.

Guindado à categoria de homem sério, com responsabilidades, sua família e a de Alice (a esposa) insistiam para que arranjasse um emprego condizente. Mas até o nascimento do terceiro filho, Nélson continuava passando a maior parte de seu tempo em rodas de samba e nos botecos da Lapa, a léguas do bairro de Brás de Pina, onde morava. Só voltava para casa quando o dinheiro — ou melhor, quando o crédito — acabava. Chegava com o cavaquinho (prova do crime) e uma galinha (tentativa de suborno). Alice jogava longe o instrumento e acendia o fogo para preparar a canja das crianças. Alguns dias depois, Nélson sumia de novo e talvez a cena estivesse se repetindo até hoje se alguns amigos de Seu Brás não tivessem arranjado um emprego de cavalariano da Força Pública para o sambista. O salário certo, reforçado pela comissão que o novo policial cobrava de prostitutas da Lapa, deu certa estabilidade ao lar de Nélson.

Sua função era patrulhar os botecos dos morros, o que ele fazia com inegável constância e eficiência. Para impedir arruaças, nem precisava efetuar prisões: conversava e bebia com o baderneiro até tudo se acalmar. Conta Nélson que seu cavalo conhecia todas as biroscas e parava em todas, pois também apreciava sua cachacinha:

— Ele ficava na porta do boteco, batendo com a pata no chão, até que o dono do bar levasse um pouco de pinga para ele.

A grande amizade que os unia sofreu um estremecimento na noite em que o animal largou Nélson num bar e foi sozinho para o quartel. O boêmio precisou voltar de bonde e entrar disfarçadamente na guarnição. E o cavalo, em sua baia, parecia rir dele...

Nessa época, Nélson foi se entrosando mais com Cartola, Carlos Cachaça e Zé com Fome (o futuro Zé da Zilda). E acabou compondo seu primeiro samba, Entre a cruz e a espada: "Na cruz eu vejo a imagem de Nosso Senhor/ E na espada eu vejo a tua imagem./ Quero disputar o teu amor, / Mas me falta coragem".

Depois de sete anos de casamento, Alice morreu e os filhos do casal foram viver sob tutela da avó materna. Livre de encargos, Nélson desligou-se da força e foi viver de e para a música.


SAMBAS EFÊMEROS OU ETERNOS

Cigano urbano, profundo conhecedor dos mocós do Rio, conhecido nas rodas de samba dos morros, Nélson passou a compor com maior frequência. Inclusive porque essa era a sua moeda: passou a trocar composições por hospedagens em hotelecos, cachaça, comida, uma roupa feita. Não sabia que seus sambas tinham valor muito superior ao que lhe pagavam. Mas às vezes o comprador também era prejudicado. Certa vez um "parceiro" apareceu reclamando:

— A gente tava muito bêbado quando comprei aquele seu samba e agora eu não lembro mais a letra nem a música...
— Azar seu, compadre, eu também esqueci tudo.

E com os 5$000 que lhe rendera a venda, Nélson comeu durante uma semana no Bar do China.

Ele nunca se interessou muito pela industrialização de sua arte. Os sambas eram feitos para se consumirem nas madrugadas, convertidos em alegria e bebida. Gravar pra quê? Mas, ainda no início da década de 30, aconteceu o primeiro disco. Rubens Campo e Henricão, homens de rádio, ouviram Não faça vontade a ela e insistiram até Nélson aceitar a "oportunidade" que eles lhe ofereciam (em troca de parceria). A música foi gravada, mas em edição particular.

Seria um início de carreira de compositor profissional, mas o notívago não tinha tempo nem disposição para andar atrás de gravadoras e cantores. Vários sambas que se tornariam clássicos·da MPB ficaram guardados durante anos na memória do menestrel, esperando a hora da gravação. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Rugas (gravado em 1946, por Ciro Monteiro) e Degraus da vida (em 1961, por Roberto Silva). Nélson vivia de biscates e da venda de sambas. Mílton Amaral, também boêmio e compositor, conta que, certa madrugada, fizeram um samba em parceria. Alguns dias depois, quando foi à editora para assinar o contrato, já era o 16o coautor: Nelson havia vendido catorze parcerias da mesma música.

Na década de 40, o nome de Nélson Cavaquinho — alias, N. Silva, como ele então se assinava — começa a aparecer em etiquetas de discos da RCA Victor. Ciro Monteiro gravou, em 1943, Apresenta-me aquela mulher (de N. Silva, Augusto Garcez e G. Oliveira); ainda no mesmo ano, Não te dói a consciência (Augusto Garcez, N. Silva e Ary Monteiro); e, em 1945, Aquele bilhetinho.

Foi por essa época que Nélson conheceu Guilherme de Brito, que viria a ser seu maior e mais constante parceiro. Juntos fariam sambas antológicos, do porte de Pecado, Palavras malditas, Cinzas, Depois da vida, Pranto do poeta e Degraus da vida.

"TIRE O SEU SORRISO DO CAMINHO, QUE EU QUERO PASSAR COM A MINHA DOR"


Guilherme de Brito Bolhorst nasceu no Rio em 3 de janeiro de 1922. Perdeu o pai muito cedo e logo precisou trabalhar para ajudar em casa. Tinha catorze anos quando foi contratado pela Casa Édison. A situação econômica do país estava difícil, os empregos eram raros e Guilherme não podia perder aquele. E o pior é que precisava trabalhar na loja, trajando-se com relativa elegância — justo ele, que não tinha nem um terno. Um amigo da família arranjou um paletó, outro, a calça, e assim por diante.

— Mas como eu era garoto ainda pequeno, minha mãe teve de adaptar as roupas, e não ficaram "sob medida". Daí me deram o apelido de Calça balão. Me senti humilhado e fiz meu primeiro samba, Calça balão, do qual, aliás, nem me lembro mais.

Guilherme superou a brincadeira de mau gosto e ficou na Casa Édison durante trinta anos, passando de office-boy a chefe dos mecânicos de máquinas de calcular, cargo no qual se aposentou em 1966. A ligação de Guilherme com a música começou cedo: o pai e uma das irmãs eram violonistas e logo o menino se viu com um cavaquinho nas mãos. Além disso, ele nasceu em Vila Isabel, um dos principais núcleos de sambistas.

O que retardou a divulgação de seu trabalho como compositor foi o serviço na Casa Édison, que lhe deixava sem tempo para a boêmia e o relacionamento no meio artístico. Pouco divulgadas, suas músicas não conseguiam gravação. Ademilde Fonseca e Roberto Silva cantavam algumas delas nos programas de auditório, mas não as levaram ao disco.

— Acho que não gravavam — conjetura Guilherme de Brito —, porque não existia a parte promocional das gravadoras. Quem fazia a promoção era o próprio compositor, que saía pelas rádios fazendo caitituagem. E eu não tinha tempo nem conhecimento pra fazer isso. Nessa época já tinha muita gente desconhecida doida pra aparecer. E os caras famosos, que podiam dar uma força, humilhavam a gente. Mandavam esperar um pouco e iam embora, marcavam encontro e não apareciam...

Assim, a primeira gravação só aconteceu em 1954. Um concunhado de Guilherme, que acompanhava Augusto Calheiros, conseguiu uma apresentação. E Augusto acabou registrando num 78 da Todamérica Meu dilema e Audiência divina, ambas de Guilherme de Brito.

— Quer dizer, demorei pra começar mas comecei bonito.

Depois disso, as coisas se tornaram um pouco mais fáceis, e Guilherme conseguiu gravar com outros nomes conhecidos, como Pedro Caetano, Orlando Silva, Trio Irakitan e Vocalistas Tropicais. Mas não foram grandes sucessos comerciais, pela falta de divulgação.

Então Guilherme passou a procurar um parceiro que fizesse essa parte. Morava em Ramos, um dos vários locais onde Nélson Cavaquinho fazia ponto, e o encontro entre eles acabou acontecendo. De noite, quando Guilherme voltava da Casa Édison, Nélson estava pelos bares, bebendo e cantando, rodeado de amigos. De manhã, quando ia para o trabalho, Nélson ainda estava lá, acompanhado pelos mais resistentes. Acabaram se conhecendo, tornando-se amigos e parceiros. É verdade que Nélson nunca iria caitituar as músicas da dupla, mas deu-se muito com Guilherme — os dois tinham uma visão de mundo bem semelhante.

Formou-se então uma dupla de compositores de amargo lirismo, voltados para as pequenas tragédias cotidianas e para o efêmero da vida. Poucos poetas tiveram inspiração suficiente para condensar numa frase toda a magoa transmitida por eles nestes dois versos de A flor e o espinho: "Tire o seu sorriso do caminho, / Que eu quero passar com a minha dor".

Mesmo composições feitas para a escola de samba querida de Nélson mantêm a preocupação quase obsessiva com a morte: "Em Mangueira, / Quando morre um poeta, todos choram./ Vivo tranquilo em Mangueira, / Porque sei que alguém há de chorar / Quando eu morrer. / Em Mangueira o pranto é tão diferente, / É um pranto sem lenço, que alegra a gente. / Hei de ter um alguém pra chorar por mim / Através de um pandeiro e de um tamborim" (Pranto de poeta, de Nélson e Guilherme).

Na década de 50, as músicas da dupla começaram a ser gravadas com mais frequência. Mas ainda não era o sucesso: nomes de "comprositores" continuavam a constar ao lado dos de Nélson e Guilherme. E não adiantava muito este pressionar o companheiro contra tais "parcerias", pois se ele não divulgava as composições, Nélson muito menos. O ex-cavalariano estava inteiramente voltado para a sua arte e para a boêmia. Não via por que não ceder coautoria a um novo amigo de balcão ou a alguém que fizesse a composição render algum dinheiro para novas farras.

Por outro lado, entre Guilherme e Nélson existe o pacto de só fazerem música junto e sempre a dois mesmo:

— Eu não me sentiria bem se meu nome entrasse sem eu ter feito nada — garante Guilherme e concorda Nélson, emborcando um cálice de conhaque. Por isso, mesmo que dê pra um terminar a música sozinho, ele sempre deixa um pedaço pro outro fazer.

MINHA FESTA


Em 1961, Nélson começou a frequentar regularmente a casa de Cartola e sua mulher, Dona Zica. Estimulados por cervejas e saborosos petiscos, passavam as madrugadas em memoráveis rodas de samba compositores de real valor, como Zé Kéti, Paulinho da Viola, Jair do Cavaquinho, Anescar Bigode, Élton Medeiros e muitos outros.

A casa da Rua dos Andradas foi ficando famosa — e pequena. Então surgiu a ideia de se abrir um restaurante: Zica entrava com a comida e Cartola com o violão. Logo o Zicartola tornou-se reduto de toda a boa música popular, independentemente de linhas ou temáticas. E, com a revalorização das raízes musicais, provocada pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes e assimilada pela bossa nova, velhos sambistas foram descobertos ou redescobertos.

Nélson foi um deles. Em 1965, Nara Leão gravou com algum sucesso Pranto de poeta; os convites para que ele tocasse em shows se multiplicaram; e sua fama ultrapassou as fronteiras da boêmia carioca.

Agora o desligamento de Nélson ganhava notoriedade, tornava-se folclórico. Conta-se que certa noite ele tocou com Jobim até amanhecer, chegando a combinar um show conjunto. O produtor Jorge Coutinho, ao saber da história, correu à procura de Nélson para acertar os detalhes do tal espetáculo. Ao que Nelson reagiu espantadíssimo:

— Tom?! Que tom? Dó maior?

Noutra ocasião, Paulinho da Viola organizou um show que teria, entre os artistas, Nélson Cavaquinho. Paulinho lembrou-o varias vezes do compromisso, mas no dia Nélson simplesmente desapareceu. Paulinho quase não recebeu, por quebra de contrato. Depois, ao encontrar o velho boêmio, tomou fôlego para a maior esculhambação, mas Nélson o interrompeu na primeira frase:

— Você não avisa nada e ainda vem dando bronca no Nélson! Assim não é possível!

(Outra mania do sambista é referir-se a si mesmo na terceira pessoa.)

Na esteira dessa revalorização, em 1970 gravou seu primeiro LP exclusivo como cantor, na etiqueta Castelinho (disco depois comprado pela Continental).

Durante toda a década de 70 ele foi muito requisitado, e teve inúmeras músicas gravadas por intérpretes de sucesso: Paulinho da Viola (Duas horas da manhã), Chico Buarque de Holanda (Cuidado com a outra, de Nélson e Augusto Tomás Jr.), Clara Nunes (Minha festa, de Nélson e Guilherme e Palhaço, de Nélson, Washington e Osvaldo Martins), Beth Carvalho (Quero alegria, de Nélson e Guilherme), além de Elizeth Cardoso, o saxofonista Paulo Moura e outros.

Com Guilherme de Brito ele gravaria um LP em 1977: Quatro grandes do samba (os outros dois grandes eram Candeia e Élton Medeiros). Guilherme estreou como cantor, registrando duas de suas composições de maior sucesso —A flor e o espinho e Quando eu me chamar saudade — e duas outras menos conhecidas — A vida e Gota de luar (também de Nélson e Guilherme).

MEU CORAÇÃO AMIGO

Um dia apareceu na vida do compositor a moça Durvalina, trinta anos mais nova que ele. E não passou, como tantas outras. Ficou: de dia empregada doméstica na mansão de um banqueiro, à noite cuidando de sua casinha no Jardim América. E de Nélson Cavaquinho.

Um Nélson Cavaquinho que ainda precisa que o parceiro e amigo de várias décadas o acompanhe quando há algum dinheiro a ser recebido, para que o pagamento não seja todo consumido em noites de farra. Separada uma importância que Guilherme levará para Durvalina pagar as contas, Nélson passeia sua liberdade pelo Rio de Janeiro. Num balcão qualquer da noite carioca, ele pedirá a primeira. Dedilhará o violão, provavelmente cantara Caridade:

"Não sei negar esmola a quem implora caridade. / Me compadeço sempre de quem tem necessidade. / Embora algum dia eu receba ingratidão, / Não deixarei de socorrer a quem me pedir um pão. / Eu nunca soube evitar de praticar o bem, / Porque posso precisar também. / Sei que a maior herança que eu tenho na vida / É meu coração amigo dos aflitos. / Sei que não perco nada em pensar assim / Porque amanhã não sei o que será de mim".

— Esse samba sou eu mesmo.

Vai beber o resto do cachê, conversar, cantar, beber, ter novas ideias que depois mostrará ao parceiro. E talvez amanhã nasça mais um clássico da música popular brasileira. (Texto de 1978. Nélson Cavaquinho viria a falecer em 1986.)

12.9.14

ART RUA 2014

"Muito mais do que uma exposição, o ART RUA é um movimento de revitalização urbana através da arte." Criado em 2011 pelo Instituto R.U.A. em parceria com a produtora Visionart'z, a edição de 2014 realizou-se no Centro Cultural Ação Cidadania, Zona Portuária, de 11-14 de setembro. Uma das atrações foram sete murais gigantes sob o tema Daydreaming, cinco dos quais você vê nas fotos a seguir. 

Ramon Martins, "37 semanas"

Rodrigo Branco, "Acaso"

Bicicleta sem Freio, "Noite Escura"

Ana Marietta, Los "Pescados"

Seth the Globe Painter, "Do Outro Lado"