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Painel de azulejos numa padaria da Rua do Riachuelo |
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Galeria Scenarium com fachada de azulejos & exposição permanente de azulejos |
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Azulejos com motivos marinhos em muro de casa na Urca |
Uma herança bendita da colonização lusitana é o uso de
azulejos como ornamento arquitetônico (que se distingue do seu uso meramente
utilitário): na decoração de fachadas, muros e interiores de casas; em naves,
sacristias, torres e até cúpulas de igrejas; em painéis artísticos — em
projetos modernistas como Pedregulho e o Palácio Gustavo Capanema, na arte
ambiente contemporânea (por exemplo, o painel alusivo ao frescobol em Copacabana) ou mesmo em bares, padarias etc. —; no revestimento de fontes,
bancos e outros objetos; ou mesmo o uso de um azulejo isolado, comum
nas fachadas das construções em estilo Missões (neocolonial hispano-americano)
ou nos registros de santos das casinhas de subúrbio.
O emprego dos azulejos (“peças de cerâmica vitrificadas e/ou
esmaltadas usadas, sobretudo, no revestimento de parede”) na arquitetura
remonta às velhas civilizações orientais (assíria, persa, egípcia, chinesa),
tendo sido assimilado pelo mundo árabe que, em sua expansão, trouxe-o à
Península Ibérica, encontrando ampla utilização em Portugal com o florescimento
do estilo manuelino. (Mais informações na Enciclopédia Cultural Itaú clicando aqui.)
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Azulejos art nouveau na Escadaria Selaron (Lapa) |
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Casa com fachada de azulejos e beiral de telhões de louça no Morro da Conceição |
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Casa na Rua Sorocaba (Botafogo) com fachada de azulejos esmaltados |
Para o apreciador da arte da azulejaria gostaríamos de
recomendar estas quatro fontes:
1) Blog Azulejos
Antigos do Rio de Janeiro de Fábio Carvalho, pesquisador da história da
indústria de louça brasileira e autor do livro Porcelana Brasil - Guia de
Marcas.
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Palácio São Clemente (Consulado de Portugal) em Botafogo |
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Azulejo com motivo religioso (aqui Nossa Senhora de Fátima, mas poderia ser um santo) típico das casinhas de subúrbio |
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Fonte com revestimento de azulejos na Floresta da Tijuca |
A seguir, trecho de Comunicação de Fábio Carvalho
apresentada no Segundo Encontro O AZULEJO HOJE, no dia 6/12/2013, no Teatro
Aberto, Lisboa, Portugal. Para ler o texto integral clique aqui.
Neste curto espaço de tempo em que me dedico aos azulejos no
casario antigo do Rio de Janeiro, talvez o dado mais interessante que pude
constatar, naturalmente de forma ainda preliminar, é que apesar de popularmente
acreditarmos que todos, ou quase todos, os azulejos antigos no Rio de Janeiro
são portugueses (o que é compreensível, dada nossa origem como colônia
portuguesa), não está correto. Na verdade, grande parte dos azulejos antigos de
fachada no Rio de Janeiro até agora encontrados e registrados são,
quantitativamente falando, em primeiro lugar holandeses, em segundo franceses.
Há ainda azulejos belgas, ingleses e (talvez) alemães. Os azulejos portugueses
encontram-se em quantidade surpreendentemente pequena. Minha pesquisa engloba
apenas os azulejos que ainda encontram-se em fachadas, mas mesmo em algumas
escavações arqueológicas de sítios do século XIX que pude ter acesso ao
material coletado, a maior parte dos azulejos é também proveniente da Holanda. [...]
No levantamento já realizado, podemos perceber alguns
padrões decorativos em azulejos holandeses similares aos encontrados em
Portugal [...] Além disso, encontramos ainda nas fachadas do casario antigo do
Rio de Janeiro azulejos de origem holandesa e francesa que compartilham um
mesmo padrão decorativo.
Outro dado interessante do uso de azulejos no Rio de Janeiro
é a mistura dos padrões, bem como a combinação de azulejos de mais de uma
nacionalidade, em um mesmo imóvel. Não é incomum ver num imóvel um padrão sendo
usado por toda a fachada, mas com um friso ou faixa formada por outro padrão.
Mas há casos onde usou-se um padrão para as áreas principais da fachada, outro
padrão para o friso abaixo da platibanda, um terceiro padrão para áreas
verticais destacadas da fachada, como se fossem colunas, ainda um quarto padrão
para a platibanda... E muitas vezes, cada padrão é acompanhado por uma
cercadura diferente do outro.
Outro fato notável é a quantidade de imóveis com telhões de
faiança pintada ainda existentes no Rio de Janeiro. Já foram registrados 20
imóveis com beirais em telhão de faiança pintada na cidade. Encontram-se também
outros elementos decorativos em faiança, como urnas, pinhas e estátuas. Aí sim,
nos telhões e ornamentos de faiança, há a soberania portuguesa.
Mesmo que se confirme a tendência apresentada neste
levantamento inicial, de que a maior parte dos azulejos antigos de fachada no
Rio de Janeiro seriam holandeses e em segundo lugar franceses, ainda assim, a
sua forma de uso e aplicação é tipicamente luso-brasileira, ou seja, fachadas
frontais de imóveis revestidas de azulejos, quase sempre associados com
trabalho em cantaria. E ainda por cima, os azulejos antigos no Rio de Janeiro
encontram-se em fachadas com arquitetura similar àquela do norte de Portugal do
mesmo período (meados do século XIX até os primeiros anos do século XX). Talvez
daí também se pensar apressadamente que os azulejos antigos no Rio de Janeiro
sejam portugueses.
Por fim, acho interessante apontar para um outro uso
característico para os azulejos no Rio de Janeiro (mas que também acontece em
algumas outras cidades brasileiras): cúpulas de igreja azulejadas. Algumas
vezes os azulejos são aplicados de forma homogênea, em outras, são cortados de
forma a compor desenhos em mosaico. E o efeito do brilho e colorido dos
azulejos em contraste com a cantaria é algo de grande beleza, emprestando às
cúpulas uma sensação de leveza.
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Azulejos da Igreja de N.S. da Saúde. A história de José no Egito representada nos azulejos é uma alusão à atividade de armazenamento do Porto do Rio. |
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Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro (conhecida como Igreja da Lapa) e casa conventual |
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Painel de azulejos homenageando o bloco Simpatia É Quase Amor na estação de metrô General Osório |
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Painel de azulejos homenageando o frescobol, “Único esporte com espírito esportivo, sem disputa formal, vencidos ou vencedor” segundo Millôr
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Casa no Grajaú em estilo Missões (neocolonial hispano-americano, diferente do neocolonial luso-brasileiro). Uma das características desse estilo são azulejos formando painéis ou isolados. Estas e fotos adicionais podem ser vistas no álbum Azulejos. |