ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

20.6.15

TESOUROS HISTÓRICOS NA ILHA DAS COBRAS: CELA DE TIRADENTES & FORTALEZA E CAPELA DE SÃO JOSÉ


Vista panorâmica de James Forbes da Ilha das Cobras em 1765, com a Capela de São José em destaque no alto do morro, ainda não "embutida" na estrutura do HCM como atualmente

A Ilha vista em 1850 em litografia (parte) de 1850 de Friedrich Pustkow. A capela continua firme e forte.

Ponta de diamante no lado oeste da muralha da antiga Fortaleza de São José na Ilha das Cobras

Além de conter importantes instalações da Marinha, como o Arsenal, o Hospital Central da Marinha (HCM) e o Comando Geral do Corpo dos Fuzileiros Navais (do qual faz parte o Museu dos Fuzileiros Navais que será objeto de futura postagem deste blog), a Ilha das Cobras abriga tesouros historicíssimos: a cela onde Tiradentes ficou preso de 1789 a 1792 (e a respectiva chave), uma capelinha dos Beneditinos, que foram os primeiros donos da ilha  Capela de São José, construída na primeira década do século XVIII, que nas gravuras antigas a gente vê em destaque no alto do morrinho, mas agora “encaixada” na estrutura do Hospital  e remanescentes da antiga fortaleza de São José, do séc. XVIII, “destinada a incommodar os Navios que fundiarem no ancoradouro, como tambem para defender o desembarque que se intentar na praia da Cidade, desde a ponta do Trem athé o Morro de S. Bento”, como lemos na legenda de uma planta de 1789. Agradeço ao Almirante Barra por ter proporcionado a visita à ala oeste da antiga fortaleza e por autorizar que fotografássemos esse patrimônio.

Divinum Opus Sedare Dolorem - Aliviar a dor é obra divina: arco de cantaria no HCM remanescente do antigo forte

Muralha remanescente do forte antigo (vista de cima para baixo)

Degraus de pedra remanescentes do forte antigo

Entrada da cela de Tiradentes (porta à esquerda)

Porta da cela de Tiradentes, que permaneceu aqui de 1789 a 1792 (embora em seus últimos dias permanecesse na Cadeia Velha, local do atual Palácio Tiradentes), quando foi enforcado

Chave da cela

Dentro da cela

A capelinha do Beneditinos (São José), que nas gravuras antigas se destacava no alto do morrinho, agora "encaixada" na estrutura do Hospital Central da Marinha

Calçamento em pedra de lioz portuguesa (na frente), gnaisse carioca (no meio) e pedra de São Tomé mais recente (atrás, em trecho recuperado após desmoronamento)

Capela de São José. "Da capela beneditina original construída antes de 1711 subsiste apenas o frontispício com uma portada em lioz de excelente fatura. Sua execução é atribuída ao mesmo autor da obra em cantaria da igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador. No frontispício, os pesados cunhais de pedra, de provável procedência da Ilha das Cobras, contrastam com a leveza da portada. Apresenta como vãos apenas a porta e o óculo, o que torna a fachada única dentre os demais exemplos da arquitetura religiosa local. Atualmente a capela, com interior descaracterizado, está inserida no corpo do Hospital Central da Marinha, construído em 1833". Guia da Arquitetura Colonial, Neoclássica e Romântica no Rio de Janeiro.

Portada de pedra de lioz

Nave da Capela de São José com imagem de N.S. das Graças no centro do altar

Janela da capela

Piso de ladrilhos hidráulicos

Porta aberta

Barão Karl Robert von Planitz, Vista da Cidade de S.Sebastião do Rio de Janeiro tirada da Ilha das Cobras, litografia, 1a metade séc. XIX. Á esquerda o mosteiro de São Bento e à direita a Gamboa com suas enseadas e ilhas que viriam a desaparecer com  o aterro para a construção do Cais do Porto moderno

A mesma vista hoje, com o Edifício RB1 erguendo-se atrás do mosteiro

George Leuzinger (editor), Arsenal da Marinha visto da Ilha das Cobras, década de 1860

Alfred Martinet, Vista do Rio de Janeiro tomada da Ilha das Cobras, litografia, 1847

Fielding, Newton Limbird Smith, Rio de Janeiro from Ilha das Cobras, água-tinta aquarelada de 1833. Gravuras e fotos antigas aqui mostradas obtidas na Biblioteca Nacional Digital

O Pão de Açúcar e Corcovado continuam visíveis da Ilha (este último parcialmente encoberto pelo quinto dos prédios mais altos da direita para a esquerda). Fotos atuais do editor do blog.

FORTALEZA DE SÃO JOSÉ (Texto extraído de Sandra Zivkovic Moraes, As fortificações da cidade do Rio de Janeiro, Coleção Patrimônio Turístico - Volume III, publicado em 2006 pela Prefeitura)

Por ser considerada como um ponto estratégico na defesa da cidade do Rio de Janeiro, os portugueses desde o início dos anos seiscentos, edificaram diversas fortificações na Ilha de Paranapecu, ou das Madeiras, atual Ilha das Cobras.

A primeira fortificação, denominada de Santa Margarida é datada de 1624.

Em 1639, foi construída uma outra fortificação que recebeu o nome de Santo Antônio.

Em 1703, foi construído, ao longo da praia, um forte de faxina. A fortificação definitiva, denominada de Fortaleza de São Jose, foi edificada a partir de 1735, sob a direção do Brigadeiro e Engenheiro Militar José da Silva Paes, com projeto de autoria do engenheiro-mor do Reino, Manuel de Azevedo Fortes.

Em 1736 iniciaram-se obras de reconstrução e ampliação da mesma, concluídas em 1763, no governo de Gomes Freire de Andrade. Nela foram recolhidos, em 1789, os presos da Inconfidência Mineira, dentre os quais Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Foi desarmada durante a Regência, em 1831, e utilizada como uma prisão civil. Nessa época, a Ilha aquartelava o Corpo de Artilharia da Marinha e, em 1838, nela estava também instalado o Hospital da Marinha, mais tarde Hospital Central da Marinha. A fortaleza foi remodelada com a Questão Christie, passando a contar com trinta e quatro canhões (1880), e subordinando-se ao então Ministério da Guerra, tendo sido classificada como de 1a Classe. Posteriormente foi desarmada, e suas instalações foram absorvidas pela Marinha do Brasil (Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, Comando Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, Presídio da Marinha e Hospital Central da Marinha). 

14.6.15

AZULEJOS DECORATIVOS

Painel de azulejos numa padaria da Rua do Riachuelo

Galeria Scenarium com fachada de azulejos & exposição permanente de azulejos

Azulejos com motivos marinhos em muro de casa na Urca

Uma herança bendita da colonização lusitana é o uso de azulejos como ornamento arquitetônico (que se distingue do seu uso meramente utilitário): na decoração de fachadas, muros e interiores de casas; em naves, sacristias, torres e até cúpulas de igrejas; em painéis artísticos — em projetos modernistas como Pedregulho e o Palácio Gustavo Capanema, na arte ambiente contemporânea (por exemplo, o painel alusivo ao frescobol em Copacabana) ou mesmo em bares, padarias etc. ; no revestimento de fontes, bancos e outros objetos; ou mesmo o uso de um azulejo isolado, comum nas fachadas das construções em estilo Missões (neocolonial hispano-americano) ou nos registros de santos das casinhas de subúrbio.

O emprego dos azulejos (“peças de cerâmica vitrificadas e/ou esmaltadas usadas, sobretudo, no revestimento de parede”) na arquitetura remonta às velhas civilizações orientais (assíria, persa, egípcia, chinesa), tendo sido assimilado pelo mundo árabe que, em sua expansão, trouxe-o à Península Ibérica, encontrando ampla utilização em Portugal com o florescimento do estilo manuelino. (Mais informações na Enciclopédia Cultural Itaú clicando aqui.)

Azulejos art nouveau na Escadaria Selaron (Lapa)

Casa com fachada de azulejos e beiral de telhões de louça no Morro da Conceição

Casa na Rua Sorocaba (Botafogo) com fachada de azulejos esmaltados

Para o apreciador da arte da azulejaria gostaríamos de recomendar estas quatro fontes:

1) Blog Azulejos Antigos do Rio de Janeiro de Fábio Carvalho, pesquisador da história da indústria de louça brasileira e autor do livro Porcelana Brasil - Guia de Marcas.

2) Postagem “Os painéis de azulejos e os mosaicos da cidade do Rio de Janeiro” no blog As histórias dos monumentos do Rio de Janeiro de Vera Dias, Gerente de Monumentos e Chafarizes da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

3) A exposição permanente Azul Cobalto, Azulejos e Memórias na Galeria Scenarium (Rua do Lavradio, 15 - Centro)

4) As postagens com label "azulejos" do excelente blog A Vida Numa Goa.

Palácio São Clemente (Consulado de Portugal) em Botafogo

Azulejo com motivo religioso (aqui Nossa Senhora de Fátima, mas poderia ser um santo) típico das casinhas de subúrbio

Fonte com revestimento de azulejos na Floresta da Tijuca

A seguir, trecho de Comunicação de Fábio Carvalho apresentada no Segundo Encontro O AZULEJO HOJE, no dia 6/12/2013, no Teatro Aberto, Lisboa, Portugal. Para ler o texto integral clique aqui.

Neste curto espaço de tempo em que me dedico aos azulejos no casario antigo do Rio de Janeiro, talvez o dado mais interessante que pude constatar, naturalmente de forma ainda preliminar, é que apesar de popularmente acreditarmos que todos, ou quase todos, os azulejos antigos no Rio de Janeiro são portugueses (o que é compreensível, dada nossa origem como colônia portuguesa), não está correto. Na verdade, grande parte dos azulejos antigos de fachada no Rio de Janeiro até agora encontrados e registrados são, quantitativamente falando, em primeiro lugar holandeses, em segundo franceses. Há ainda azulejos belgas, ingleses e (talvez) alemães. Os azulejos portugueses encontram-se em quantidade surpreendentemente pequena. Minha pesquisa engloba apenas os azulejos que ainda encontram-se em fachadas, mas mesmo em algumas escavações arqueológicas de sítios do século XIX que pude ter acesso ao material coletado, a maior parte dos azulejos é também proveniente da Holanda. [...]

No levantamento já realizado, podemos perceber alguns padrões decorativos em azulejos holandeses similares aos encontrados em Portugal [...] Além disso, encontramos ainda nas fachadas do casario antigo do Rio de Janeiro azulejos de origem holandesa e francesa que compartilham um mesmo padrão decorativo.

Outro dado interessante do uso de azulejos no Rio de Janeiro é a mistura dos padrões, bem como a combinação de azulejos de mais de uma nacionalidade, em um mesmo imóvel. Não é incomum ver num imóvel um padrão sendo usado por toda a fachada, mas com um friso ou faixa formada por outro padrão. Mas há casos onde usou-se um padrão para as áreas principais da fachada, outro padrão para o friso abaixo da platibanda, um terceiro padrão para áreas verticais destacadas da fachada, como se fossem colunas, ainda um quarto padrão para a platibanda... E muitas vezes, cada padrão é acompanhado por uma cercadura diferente do outro.

Outro fato notável é a quantidade de imóveis com telhões de faiança pintada ainda existentes no Rio de Janeiro. Já foram registrados 20 imóveis com beirais em telhão de faiança pintada na cidade. Encontram-se também outros elementos decorativos em faiança, como urnas, pinhas e estátuas. Aí sim, nos telhões e ornamentos de faiança, há a soberania portuguesa.

Mesmo que se confirme a tendência apresentada neste levantamento inicial, de que a maior parte dos azulejos antigos de fachada no Rio de Janeiro seriam holandeses e em segundo lugar franceses, ainda assim, a sua forma de uso e aplicação é tipicamente luso-brasileira, ou seja, fachadas frontais de imóveis revestidas de azulejos, quase sempre associados com trabalho em cantaria. E ainda por cima, os azulejos antigos no Rio de Janeiro encontram-se em fachadas com arquitetura similar àquela do norte de Portugal do mesmo período (meados do século XIX até os primeiros anos do século XX). Talvez daí também se pensar apressadamente que os azulejos antigos no Rio de Janeiro sejam portugueses.

Por fim, acho interessante apontar para um outro uso característico para os azulejos no Rio de Janeiro (mas que também acontece em algumas outras cidades brasileiras): cúpulas de igreja azulejadas. Algumas vezes os azulejos são aplicados de forma homogênea, em outras, são cortados de forma a compor desenhos em mosaico. E o efeito do brilho e colorido dos azulejos em contraste com a cantaria é algo de grande beleza, emprestando às cúpulas uma sensação de leveza.

Azulejos da Igreja de N.S. da Saúde. A história de José no Egito representada nos azulejos é uma alusão à atividade de armazenamento do Porto do Rio.

Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro (conhecida como Igreja da Lapa) e casa conventual

Painel de azulejos homenageando o bloco Simpatia É Quase Amor na estação de metrô General Osório

Painel de azulejos homenageando o frescobol, “Único esporte com espírito esportivo, sem disputa formal, vencidos ou vencedor” segundo Millôr

Casa no Grajaú em estilo Missões (neocolonial hispano-americano, diferente do neocolonial luso-brasileiro). Uma das características desse estilo são azulejos formando painéis ou isolados. Estas e fotos adicionais podem ser vistas no álbum Azulejos.

6.6.15

SOCIEDADE BRASILEIRA DE BELAS ARTES, ANTIGO SOLAR DO MARQUÊS DE LAVRADIO

O solar, prédio do século XVIII posteriormente neoclassicizado e ecleticizado

Localizado na Rua do Lavradio, 84, o Solar do Marquês do Lavradio foi construído em 1777, a mando do 3º Vice-Rei do Brasil Colônia, segundo Marquês do Lavradio, durante a transferência da Capital de Salvador para o Rio de Janeiro. O prédio abrigou diversos órgãos como o Tribunal da Relação, em 1808, o Tribunal do Desembargo, em 1812, o Tribunal da Relação e Senado Federal, em 1831, o Tribunal de Justiça, em 1833. Em 1838, o bem passou a ser um próprio Nacional. Mais tarde foi ocupado por outros órgãos estaduais como o Instituto Felix Pacheco e o Departamento de Ordem Política e Social da Polícia Estadual. Originalmente uma construção em estilo colonial, o solar adquiriu sua atual composição eclética, segundo o Arquivo Geral do Município do Rio de Janeiro, em reforma efetuada em 1894 por autor não identificado. Em 1967 o prédio foi cedido à Sociedade Brasileira de Belas Artes. (Informações transcritas do site do INEPAC)


Pisos de ladrilhos hidráulicos de reformas do início do século XIX e azulejos do começo do século XX

Quadros numa exposição

"A arte é um exercício da alma, onde o que fala mais alto é o coração e a intuição do artista, sendo auxiliada pela técnica. A arte é a minha oração." Gian Paolo Dottes

Ateliê de pintura

Quadros numa exposição II

Matéria de Simone Candida de 30/3/2015 em O Globo aborda a restauração do solar e sua reabertura ao público. A seguir, um trecho. Para ler na íntegra clique aqui.

"A reforma, iniciada em 2010 e orçada em R$ 3 milhões, acabou custando cerca de R$ 6 milhões.

— Apesar de ter passado por intervenções, o prédio tinha uma estrutura interna muito antiga, que estava consumida por cupins. O telhado, os forros e pisos tiveram que ser refeitos. A fachada estava em relativo bom estado — enumera Paulo Vidal, diretor-geral do Inepac, dizendo que algumas áreas, como os banheiros, foram modernizadas. [...] 

A restauração foi custeada pela WTorre RJC Patrimonial Ltda., em contrapartida pela construção de um prédio na região."