Em A alma encantadora das ruas, João do Rio escreve todo um capítulo sobre a pintura das ruas. Diz o autor: “Quantos pintores pensa a cidade que possui? A estatística da Escola é falsíssima. Em cada canto de rua depara a gente com a obra de um pintor, cuja existência é ignorada por toda a gente.”
Infelizmente não podemos mais contemplar a arte das ruas do tempo de João do Rio - só podemos imaginá-la com base em sua crônica ("os macacos trepados em pipas de parati, homens de olho esbugalhado mostrando, sob o verde das parreiras, a excelência de um quinto de vinho, umas mulheres com molhos de trigo na mão apainelando interiores de padarias e talvez recordando Ceres, a fecunda"). Os raros fotógrafos da época não a registraram. Mas com o enxame de câmeras digitais atualmente, com certeza nossos descendentes poderão se deleitar com a arte das ruas de hoje. Vejamos algumas fotos que tirei nas ruas cariocas.
A revista Piauí 12 publicou matéria interessante sobre a arte do grafite. Eis um trecho.
Ferreira Gullar cruza todos os dias com uma porção dessas tipografias nos arredores de seu apartamento, em Copacabana, no Rio. Poeta e crítico de arte, ele traça as seguintes fronteiras das chamadas inscrições urbanas: “Pichar as fachadas de garatujas, ‘assinaturas’, nada tem a ver com arte, nem me parece ser essa a intenção dos pichadores. Mas há também coisas muito bonitas e expressivas, que requerem talento para serem feitas. São como painéis ou murais. Isso é arte”. Outros críticos e comentaristas vão além. Para eles, também as garatujas podem ser arte.