ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)
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27.5.17

OS SUBÚRBIOS DE TURIAÇU, ROCHA MIRANDA & HONÓRIO GURGEL

Fábrica Piraquê, do outro lado da via férrea, em Turiaçu, vista do Parque de Madureira: "o parque é um oásis de lazer e convivência numa região suburbana antes totalmente carente de áreas assim"

"quando passava pela passarela que conduz ao outro lado da via férrea, na altura da Fábrica Piraquê, ficava curioso em saber o que existe do lado de lá"

Painel de azulejos na fachada de uma casa em Turiaçu

Não sei se Eduardo Paes será pego pela Lava Jato, mas sei que deixou um legado para a cidade: a nova orla no Centro Histórico, o BRT, o VLT e o Parque de Madureira. Quem não conhece o subúrbio não sabe, mas o parque é um oásis de lazer e convivência numa região suburbana antes totalmente carente de áreas assim. O parque atende a quatro subúrbios – Madureira, Turiaçu, Rocha Miranda e Honório Gurgel – e desmente aquele preconceito da elite de que o “povo” não “cuida” dos bens públicos, depreda, emporcalha, essas coisas. A galera do subúrbio cuida do parque como se fosse sua própria casa. Mas não é exatamente este o tema desta postagem.

Primeira Igreja Batista de Turiaçu

"Nesses bairros mais remotos a ação do Estado ainda é tênue"

"Num botequim, um grupo de cidadãos joga um carteado em plena hora de expediente"

A viagem até a estação Mercadão de Madureira (antiga estação Magno) já é uma aventura. O trem para Belford Roxo sai da Central mais ou menos de meia em meia hora (12:20, 12:51, 13:21, 13:51, está no site da Supervia) e passa por lugares onde você jamais passaria normalmente, por exemplo, dentro da favela do Jacarezinho, onde você chega a ver uma minicracolândia, imunda, à margem da via férrea, gente misturada com lixo. 

Vivenda São Jorge (Turiaçu)

"Na Igreja de Santa Rita aprecio os belos painéis de azulejos da Paixão de Cristo pintados por Manoel Félix Igrejas"

Igreja Presbiteriana de Rocha Miranda

Nas vezes em que fui ao Parque de Madureira, quando passava pela passarela que conduz ao outro lado da via férrea, na altura da Fábrica Piraquê, ficava curioso em saber o que existe do lado de lá. Pois hoje (depois de um estudo prévio no Google Maps para não entrar em áreas de risco) fui até lá. O bairro chama-se Turiaçu. Depois vem Rocha Miranda e Honório Gurgel.

"nas calçadas, tão acidentadas quanto a superfície lunar"

Esquina em Honório Gurgel

"casinhas singelas, embora algumas com acabamento modernoso nem sempre de bom gosto"

Nesses bairros mais remotos a ação do Estado (especificamente, da Prefeitura) ainda é tênue: os carros estacionam impunes nas calçadas, que não são de pedras portuguesas como nos bairros nobres, mas de um cimento ou pedrinhas ou mesmo terra, tão acidentadas quanto a superfície lunar. Existem bolsões de classe média, com casinhas singelas, embora algumas com acabamento modernoso nem sempre de bom gosto. Mas tem muita casa mal-acabada, algumas com tijolos aparentes, e nos morrinhos mais ao longe as indefectíveis favelas, que dão o contraste tão típico do Rio. E pichações emporcalham tudo. Num botequim, um grupo de cidadãos (alguns com cara de aposentados, outros não) joga um carteado em plena hora de expediente. Desconfiados  porque tirei uma foto (de longe), alertam que em certas áreas (Chapadão e adjacências) fotógrafos são recepcionados a bala. Bala perdida?, observo, irônico. Não, bala achada, respondem.

Igreja Batista Central em Honório Gurgel

Verde e amarelo em Honório Gurgel

Estação Honório Gurgel

Na Igreja de Santa Rita aprecio os belos painéis de azulejos da Paixão de Cristo pintados por Manoel Félix Igrejas, de que tomei conhecimento graças ao blog A Vida Numa Goa do meu amigo Evandro von Sydow. Em Rocha Miranda fotografo a graciosa igrejinha presbiteriana com elementos neogóticos. Em Honório Gurgel, a imponente Igreja Batista Central, que vista do parque de Madureira parece um castelo, sobre discreta colina. No acesso à Estação Honório Gurgel, um pessoal com fenótipo de traficante. O trem chega cheio, mas sempre cabe mais um (como aprendemos há alguns anos na propaganda do Rexona). Aí está o verdadeiro povo, miscigenado, desassistido, longe dos barzinhos de Zona Sul onde outrora a “esquerda festiva” discutia, e hoje a esquerda "raivosa" discute (imagino) as utopias que supostamente “salvarão” este povo cujo cheiro sequer conhecem. Uma criança abre um berreiro. Um ambulante, com um vozeirão, oferece empadas quentinhas por um real! Dentro de um trem! Outros vendedores oferecem artigos variados a preços bem abaixo do comércio estabelecido que (segundo reportagem investigativa recente do Extra) procederiam do sem-número de caminhões de entrega assaltados por esse Rio de Janeiro afora. Na viagem alguém me conta que certa vez virou a noite trabalhando e, quando saiu da firma às seis da manhã, pego numa blitz da polícia, os guardas, vendo seus olhos vermelhos (de sono), acharam que fosse maconheiro. "Quem não tem colírio usa óculos escuros", observo, citando a genial frase do Maluco Beleza.

Mas tem muita casa mal-acabada, algumas com tijolos aparentes

Na minha andança suburbana consegui tirar algumas fotos aproveitáveis. Curtam!

23.4.17

SALVE SÃO JORGE!

"Santinho" de São Jorge

Silhueta de São Jorge, por Helio Brasil

Igreja de São Jorge em Quintino

Vitral de São Jorge na Igreja de São Gonçalo Garcia e São Jorge, Praça da República

Grafite de São Jorge na Rua das Laranjeiras

Painel de São Jorge num bar do Riachuelo (2007)

Imagem de São Jorge na Quadra da Beija Flor, em Nilópolis

Pintura de São Jorge em Quintino no dia da festa do Santo Guerreiro (2010)

Altar de São Jorge na Praça Quintino Bocaiúva no dia da festa do santo (2010)

Jorge é da Capadócia, como bem celebra a canção-homenagem de Jorge Ben Jor. Mas, cá para nós, é como se fosse carioca, tamanha a adoração que recebe na nossa cidade. Nenhum outro ato religioso mobiliza tanto os católicos daqui quanto as comemorações de 23 de abril. Nesse dia dedicado ao santo, quase 300 000 pessoas costumam se amontoar nas paróquias da Praça da República e do subúrbio de Quintino para professar sua fé — público equivalente a quatro Maracanãs lotados. Trata-se de uma veneração que extrapola qualquer estrato, unindo gente de classes sociais e níveis de instrução extremos. Entre os seguidores mais destacados de São Jorge figuram atrizes e cantores, a exemplo de Regina Casé e Zeca Pagodinho. No ano passado, o sambista de Deixa a Vida Me Levar promoveu na data uma grande festa em sua casa de Xerém, onde no jardim se destaca uma colossal estátua do seu alvo de devoção na pose clássica de luta contra o dragão. “Ele é o símbolo da bravura, da vitória sobre as provações do mundo”, afirma Pagodinho.

Se São Sebastião foi oficializado o padroeiro do Rio de Janeiro, essa consagração, de fato, caberia melhor ao santo guerreiro. Por uma coincidência pouco comum, o Dia de São Jorge neste ano [2011] calhou de cair justamente no Sábado de Aleluia, uma data que os católicos reservam para a introspecção e a abstinência. Por recomendação da Arquidiocese do Rio, todas as celebrações de louvor deveriam ser transferidas para o dia seguinte. Ou seja: neste sábado, não é de bom-tom montar barracas para vender comidas, velas e camisetas, nem realizar a tradicional alvorada com queima de fogos que costuma marcar a efeméride. “O próprio São Jorge seria o primeiro a concordar com isso, uma vez que deu a vida por sua fé em Cristo”, diz o monsenhor Sérgio Costa Couto, porta-voz da Cúria. Mas vá convencer os devotos. No templo de Quintino, na Zona Norte, foi montada toda a infraestrutura para a comemoração. Estava prevista também a realização de uma procissão no próprio sábado, com um espetáculo pirotécnico no começo da manhã. Só a missa, por determinação expressa da arquidiocese, não seria celebrada.

Tanta fidelidade remete a um passado longínquo e não se encerra em uma só explicação. Decerto, contribui para a imensa popularidade de São Jorge a imagem triunfante de lança em punho derrotando o apavorante adversário. Passa confiança e capacidade de superação, duas das virtudes mais realçadas nos livros de autoajuda. Pároco da igreja de São Jorge, em Quintino, o padre Marcelino Modelski aponta uma preocupação atual que ele acredita levar parte dos fiéis a se apegar ainda mais ao santo: a necessidade de segurança, um problema que atormenta a sociedade carioca há três décadas. (Texto extraído da Veja-Rio de 27/4/2011.)

Grafite no elevado que dá acesso ao Túnel Rebouças na Lagoa

Pintura de São Jorge na Rua Saint Romain (Copacabana)

Pintura sobre azulejos de São Jorge em Sepetiba

Imagem de São Jorge na Associação dos Franciscanos Menores Conventuais (Rio Comprido)

Painel de São Jorge nas proximidades da Igreja de São Jorge e Santo Expedito em Inhaúma

Painel de São Jorge no muro da Estação de Quintino

— Quem é você, criaturinha? — perguntou São Jorge parando diante dela.

— Eu sou a Emília, antiga Marquesa de Rabicó, sua criada — respondeu a boneca, muito lampeira e lambeta.

O santo ficou na mesma. E ainda estava na mesma, sem compreender coisa nenhuma, quando viu aparecerem Pedrinho e Narizinho com Tia Nastácia atrás, de mãos postas, rezando atropeladamente quantas orações sabia.

— Como conseguiram chegar ate aqui? — perguntou ele. — Isto me parece a maravilha das maravilhas.

— Foi o pó de pirlimpimpim que nos trouxe — respondeu Pedrinho — e dessa vez São Jorge ficou na mesmíssima.

[...]

São Jorge estava ali desde o reinado do Imperador Diocleciano sem outra companhia a não ser o dragão, de modo que ficava muito alegre quando alguém aparecia por lá. [...]

— E o senhor? — quis saber Emília depois que tudo foi explicado. — Agora que sabe a nossa historia, conte-nos a sua.

São Jorge contou que nascera príncipe da Capadócia e tivera no mundo vida muito agitada. A sua luta contra o poderosíssimo mágico Atanásio ficou histórica. Por fim fez-se cristão e em virtude disso padeceu morte cruel numa das matanças de cristãos ordenadas pelo Imperador Diocleciano. Depois da morte veio morar na Lua.

— E sabe que é hoje o patrono da Inglaterra? — lembrou Narizinho. — Vovó diz que o senhor é o santo mais graúdo de todos, porque dá o nome a muitas ordens de cavalaria e tem aparecido até em moedas de ouro.

São Jorge não sabia nada daquilo, nem sequer que era santo, porque só depois de sua morte é que começou a virar tanta coisa. Também não sabia o que era ser "patrono da Inglaterra", nem o que significava isto de "ordens de cavalaria". Os meninos tiveram de dar-lhe uma liçao de tudo.

— Mas não posso compreender donde vem a minha importância, o meu "graudismo" ... — declarou ele com toda a modéstia, pensativamente.

— Eu sei! — berrou Emília. — E por causa do dragão e dessa tremenda e bonita armadura de guerreiro. Santos de camisolão e porretinho podem ser muito milagrosos, mas não impressionam. Diga-me uma coisa: onde é que descobriu esse dragão?

O santo contou que era um monstro que ele havia matado certa vez em que o encontrou prestes a devorar a filha do rei da Líbia.

Mas se o matou, como é que o dragão está vivinho aqui?

Mistérios deste mundo de mistérios, gentil bonequinha. Eu também fui morto e no entanto todos lá da Terra (segundo vocês dizem) me veem aqui nesta Lua, a cavalo, de lança erguida contra o dragão. Mistérios deste mundo de mistérios.

(Monteiro Lobato, Viagem ao Céu, trecho do Capítulo VII, "Coisas da Lua". Na infância e pré-adolescência, o editor deste blog foi leitor contumaz do genial Lobato. Leia meu artigo "Monteiro Lobato foi Racista?" clicando aqui)

Painel de São Jorge em Marechal Hermes

Painel de São Jorge em Benfica

Painel de São Jorge em Cascadura

Fachada de azulejos com imagem de São Jorge em Cascadura

Painel de São Jorge ao lado da estação do teleférico do Morro da Providência

Imagem de São Jorge ao lado da estação do teleférico do Morro da Providência  


São Jorge por Daniel Jaén na exposição Salve São Jorge 23 (2017)


São Jorge por Patrícia Bowles na exposição Salve São Jorge 23 (2017)

Imagem de São Jorge na Igreja de Santa Luzia, Rio de Janeiro

15.8.12

DICA DE LIVRO: DICIONÁRIO DA HINTERLÂNDIA CARIOCA de Nei Lopes

TEXTOS EXTRAÍDOS DO DICIONÁRIO DA HINTERLÂNDIA CARIOCA, COM FOTOS DO EDITOR DO BLOG (que adorou e recomenda esse delicioso e informativo dicionário sobre o "outro lado do Rio" do grande compositor, cantor e escritor Nei Lopes)




HINTERLÂNDIA, segundo os dicionários, é toda região que fica distante de uma área urbana ou um centro metropolitano. A palavra vem do alemão hinterland e pode ser traduzida pelo nosso popular interior. Pensando em uma cidade moderna, a hinterlândia seria o interior em relação ao seu núcleo principal, dentro dos limites da sua área de influência administrativa — distrito ou município.


Considerado um dos mais representativos escritores brasileiros da crítica social urbana, [Lima Barreto] retratou em seus romances, contos e crônicas a sociedade da época, denunciando o racismo e as injustiças sociais e captando com ironia e amargura, mas sempre magistralmente, a vida carioca. (Trecho do verbete  LIMA BARRETO do Dicionário da Hinterlândia Carioca)

Na nomenclatura antiga, o atual Município do Rio de Janeiro era dividido em três Zonas: a Urbana, que incluía o atual Centro da cidade, a Zona SuI e a região da Tijuca e arredores; a Suburbana, que incluía os bairros reunidos na chamada Zona Norte; e a Rural, depois denominada Zona Oeste, abrangendo toda a metade ocidental do município.


O nome [Inhaúma], que foi dado também a outros lugares e acidentes geográficos em diversos estados brasileiros, é de origem indígena, provindo, segundo Teodoro Sampaio do tupi nhae-um, barro de olaria (de fazer panelas de barro), característica física observada no solo da região. (Verbete INHAÚMA)


Nei Lopes reuniu sob o termo hinterlândia as antigas Zonas Suburbana e Rural, incluindo uma parte do Centro da cidade, que tem antigas e estreitas conexões com a Zona Norte, e excluindo os bairros de Barra de Guaratiba, Barra da Tijuca, Grumari e Recreio dos Bandeirantes, pertencentes à Zona Oeste, mas que, na leitura do autor, têm características diferenciadas em relação aos demais bairros da região.


No ambiente focalizado neste Dicionário, "soltar pipa" é divertimento largamente apreciado por crianças e adultos, que o praticam em ambientes, abertos, inclusive em lajes de construções inacabadas, como nas FAVELAS. (Verbete PIPA)

Fica-se com uma região que abrange 66% da área total do município. Que inclui 63% dos bairros da cidade, nos quais vivem 72,5% da sua população, com uma densidade populacional média de 4.837,27 habitantes por km2, contra 6.270,29 dos restantes 24% da área do município.


Já nas primeiras décadas do século XX, eram famosos os pagodes da região da PIEDADE, como relatados, em 1936, por Alexandre Gonçalves Pinto no livro O choro. Ao longo da obra, o autor repertoria grandes pagodes em casa de músicos e aficcionados, como o pandeirista Luiz Caixeirinho, morador da Piedade. (Verbete PAGODE)

Na linguagem popular, toda a região aqui tratada tende a ser chamada de "subúrbio". Mas esse termo, significando a periferia de uma cidade, tem uma conotação pejorativa em nosso país. Área de moradia acessível a trabalhadores, subempregados e desempregados, historicamente mal servida em termos de serviços e opções de consumo (por ser frente de ocupação de território), o subúrbio é visto como sinônimo de pobreza e, portanto — numa ótica discriminatória —, de inferioridade, atraso (principalmente quanto às modas) e vulgaridade de hábitos. Seus costumes são encarados pelas elites desta forma, e não como o estilo de vida e o saber de outra classe ou outro segmento populacional, com outros valores, raízes e prioridades.


Para este Dicionário, o subúrbio [...] é, na atualidade, apenas um espaço que, pela dificuldade de transportes públicos e pela não conservação das vias, torna-se distante do grande centro econômico e do circuito cultural. E que, por isso, e por também não contar com infraestrutura de serviços públicos eficientes, é desprezada, como opção residencial, pelos mais abastados, e abandonada pelos que ascendem socialmente. (Verbete SUBÚRBIO)

Como é usual em dinâmicas de desigualdade social, então, esses dois terços da área e três quartos da população do município se tornam quase invisíveis, são tratados como um pequeno detalhe incômodo, uma pequena sobrevivência do atraso que pode ser ignorada e, de preferência, eliminada, conforme a cidade se torne mais moderna e cosmopolita.

No final do século XIX, chegam à região os trilhos da ESTRADA DE FERRO DOM PEDRO II, e, no início da centúria seguinte, os da Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil, também conhecida como LINHA AUXILIAR. No início da implantação, os trens a vapor, com vagões de madeira, da E.F. Dom Pedro II, ao chegarem a CASCADURA, tomavam um pequeno desvio, até a chamada "PARADA DO CUNHA", daí retornando. Em 1896, por força do progresso local, a parada foi elevada à condição de estação, recebendo o nome do "Madureira". (Verbete MADUREIRA)

É com esse preconceito que Nei Lopes se recusa a compactuar ao rejeitar o nome "subúrbio" para a área de abrangência deste Dicionário. Fiel à sua postura de luta constante pela valorização da herança dos grupos que formaram a grande massa da população do país, ele busca um termo que podemos considerar virgem de distorções ideológicas em nossa terra. E com ele delimita esse grande caldeirão onde se criam e cunham linguagens, estratégias de sobrevivência, estéticas, sabores e prazeres que se enraízam e crescem, não só nesta cidade, mas em todo o Brasil.

(Texto das orelhas do Dicionário da Hinterlândia Carioca.)


O "Mercadão" [de Madureira] fora destruído inteiramente por dois incêndios sucessivos de grandes proporções. Então, reconstruído e modernizado, foi reinaugurado com o aspecto de um SHOPPING CENTER, com instalações mais confortáveis, conservando, entretanto, as características com que granjeou fama e atratividade, mantendo, por exemplo, a grande concentração de estabelecimentos comerciais criados para atender à demanda dos fiéis da UMBANDA e do CANDOMBLÉ. (Verbete MERCADÃO DE MADUREIRA)

A palavra "botequim" [...] designa o estabelecimento comercial popular onde se servem bebidas, petiscos, tira-gostos e, às vezes, pratos de refeições simples. [...] Fonte de estudos sociológicos e afins, o botequim é, no Rio de Janeiro, notadamente na região focalizada neste livro, uma verdadeira instituição. (Verbete BOTEQUINS)

O Guia da Hinterlândia Carioca pode ser adquirido na simpática Livraria Folha Seca, situada no centro histórico do Rio (Rua do Ouvidor, 37), no site da Livraria da Travessa e em outras livrarias (pesquise no Buscapé para saber onde está mais barato).