Louvo o Padre, louvo o
Filho
E louvo o Espírito
Santo.
Louvado Deus, louvo o santo
De quem este Rio é filho.
Louvado Deus, louvo o santo
De quem este Rio é filho.
Cantou Bandeira. Depois
do auge das passeatas, depois do Papa Francisco, depois do frio polar (para
nós), o Rio de Janeiro lentamente está voltando a ser o que era dantes, a
cidade maravilhosa, porque o sol voltou a brilhar.
Louvo o santo padroeiro
– Bravo São Sebastião –
Que num dia de janeiro
Lhe deu santa defensão.
– Bravo São Sebastião –
Que num dia de janeiro
Lhe deu santa defensão.
Esta cidade tem de ter
sol, para viver. Como planta. O povo desta cidade não sorri se a chuva ou o
vento lhe bate à porta. Ele não atende, não abre.
Louvo a Cidade nascida
No morro Cara de Cão,
Logo depois transferida
Para o Castelo, e de então
Descendo as faldas do outeiro,
Avultando em arredores,
Subindo a morros maiores
— Grande Rio de Janeiro!
No morro Cara de Cão,
Logo depois transferida
Para o Castelo, e de então
Descendo as faldas do outeiro,
Avultando em arredores,
Subindo a morros maiores
— Grande Rio de Janeiro!
No Morro Cara de Cão,
onde moro, o Rio é sol, é mar, é chope, é lugar comum. Eu sou um amazonense bem
carioca, bem nascido nas ruas e praias, que já cantou o pernambucano Manuel
Bandeira, na “ Louvação à Cidade do Rio de Janeiro”.
Se não és mais capital
Desta nação, não faz mal:
Jamais capital nenhuma,
Rio, empanará teu brilho,
Igualará teu encanto.
Louvo o Padre, louvo o Filho
E louvo o Espírito Santo.
O sisudo, o tímido
Machado de Assis escrevia: “É meu costume, quando não tenho que fazer casa, ir
por esse mundo de Cristo, se assim se pode chamar à cidade de São Sebastião,
matar o tempo. Não conheço melhor ofício, mormente se a gente se mete por
bairros excêntricos; um homem, uma tabuleta, qualquer basta a entreter o
espírito, e a gente volta para casa 'lesta e aguda', como se dizia em
não sei que comédia antiga”.
O Gilberto Gil mandou
aquele abraço e disse:
O Rio de Janeiro
Continua lindo
O Rio de Janeiro
Continua sendo
O Rio de Janeiro
Fevereiro e março
Continua lindo
O Rio de Janeiro
Continua sendo
O Rio de Janeiro
Fevereiro e março
Mesmo José de Alencar,
o homem de seu mar, escreveu: “A cidade do Rio de Janeiro, com seu belo céu de
azul e sua natureza tão rica, com a beleza de seus panoramas e de seus
graciosos arrabaldes, oferece muitos desses pontos de reunião, onde todas as
tardes, quando quebrasse a força do sol, a boa sociedade poderia ir passar
alguns instantes numa reunião agradável, num círculo de amigos e conhecidos,
sem etiquetas e cerimônias, com toda a liberdade do passeio, e ao mesmo tempo
com todo o encanto de uma grande reunião... temos na Praia de Botafogo um
magnífico boulevard como talvez não haja um em Paris, pelo
que toca à natureza. Quanto à beleza da perspectiva, o adro da pequena
igrejinha da Glória é para mim um dos mais lindos passeios do Rio de
Janeiro."
Alô, alô, Realengo
Aquele Abraço!
Alô torcida do Flamengo
Aquele abraço
Aquele Abraço!
Alô torcida do Flamengo
Aquele abraço
Alô moça da favela
Aquele Abraço!
Todo mundo da Portela
Aquele Abraço!
Todo mês de fevereiro
Aquele passo!
Alô Banda de Ipanema
Aquele Abraço!
Aquele Abraço!
Todo mundo da Portela
Aquele Abraço!
Todo mês de fevereiro
Aquele passo!
Alô Banda de Ipanema
Aquele Abraço!
E Pedro Nava, famoso
morador da Glória, comentou: “Flanar nas ruas do Rio é prazer refinado. Exige
amor e conhecimento. Não apenas o conhecimento local e o das conexões urbanas.
É preciso um gênero de erudição. É preciso saber colocar os pés nos locais de
Matacavalos onde pisou Osório, na calçada de São Clemente onde andou Tamandaré,
nesta Glória onde perpassou o vulto de Capitu — na geografia citadina real e
imaginária, no Rio velho de Manuel Antônio de Almeida, Alencar, Macedo, Artur e
Aluísio — irmãos Azevedo; de Lima Barreto, João do Rio, Marques Rebelo,
Drummond.
Machado, em A
mão e a luva, descreve e comenta: “A Corte divertia-se, apesar dos
recentes estragos do cólera —; bailava-se, cantava-se, passeava-se, ia-se ao
teatro. O Cassino abria os seus salões, como os abria o Clube, como os abria o
Congresso, todos três fluminenses no nome e na alma. Eram os tempos homéricos
do teatro lírico, a quadra memorável daquelas lutas e rivalidades renovadas em
cada semestre, talvez por um excesso de ardor e entusiasmo, que o tempo
diminuiu, ou transferiu, — Deus lhe perdoe, — a coisas de menor tomo."
No dia da libertação do
escravos, disse Lima Barreto que fazia sol: “Havia uma imensa multidão ansiosa,
com o olhar preso às janelas do grande casarão. Afinal a lei foi assinada e,
num segundo, todos aqueles milhares de pessoas o souberam. A princesa veio à
janela. Foi uma ovação: palmas, acenos com lenço, vivas... Fazia sol e o dia
estava claro. Jamais na minha vida, vi tanta alegria. Era geral, era total; e
os dias que se seguiram, dias de folganças e satisfação, deram-me uma visão da
vida inteiramente de festa e harmonia”.
Assim penso que é uma
glória o simples estar nas ruas dessa cidade que a todos acolhe. E assim a
cantou numa bela manhã de praia Carlos Drummond Andrade:
Umidade de areia adere
ao pé.
Engulo o mar, que me engole.
Valvas, curvos pensamentos, matizes da luz
azul
completa
sobre formas constituídas.
Bela
a passagem do corpo, sua fusão
no corpo geral do mundo.
Vontade de cantar. Mas tão absoluta
que me calo, repleto.
Engulo o mar, que me engole.
Valvas, curvos pensamentos, matizes da luz
azul
completa
sobre formas constituídas.
Bela
a passagem do corpo, sua fusão
no corpo geral do mundo.
Vontade de cantar. Mas tão absoluta
que me calo, repleto.
Bilac escreveu: “Num
dos últimos domingos vai passar pela Avenida Central um carroção atulhado de
romeiros da Penha; e naquele boulevard esplêndido, sobre o asfalto polido,
entre as fachadas ricas dos prédios altos, entre as carruagens e os automóveis
que desfilavam, o encontro do velho veículo em que os devotos urravam, me deu a
impressão de um monstruoso anacronismo”.
Louvo o Padre, louvo o
Filho
E louvo o Espírito Santo.
Louvado Deus, louvo o santo
De quem este Rio é filho.
E louvo o Espírito Santo.
Louvado Deus, louvo o santo
De quem este Rio é filho.
Crônica publicada
originalmente na coluna quinzenal de Rogel Samuel no site de cultura Blocos. Fotos do editor
do blog tiradas, respectivamente: 1) numa banca de jornais, 2) Centro, 3) Praça São Salvador (detalhe do chafariz), 4) Praia de Copacabana (calçadão), 5) Santa Teresa (chácara do Viegas), 6) idem (vista do Parque das Ruínas), 7) Copacabana (pião), 8) Museu Histórico Nacional (boca do leão), 9) Inhaúma (São Jorge), 10) Lins (antiga Fundição Cavina), 11) Santa Teresa (bondinho), 12) Botafogo (ruína), 13) idem (Consulado de Portugal), 14) descida de Santa Teresa para a Glória (Pão de Açúcar e favela Santo Amaro) e 15) Parque de Madureira.
3 comentários:
E louvo a postagem de agora
desse blog de que é filho
nosso Rio de Janeiro
Gostei muito da crônica de Rogel Samuel. Linda e harmoniosa! (enviado por e-mail)
Maravilha postagem. Louvavel pesquisa. Parabens!
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