Jorge Selarón, pintor autodidata, nasceu no Chile em 1947. Sempre aventureiro, viajou para vários países. Desde 1983 vive no Brasil. Desde então, dedica-se a decorar com azulejos de todas as procedências os degraus que ligam a Lapa ao bairro de Santa Teresa. O interessante é que esta impressionante obra, que acabou sendo tombada pelo Município, nasceu da ação espontânea de um indivíduo, sem nenhuma ordenação oficial. Já num país dito “organizado” ou “avançado” este tipo de trabalho seria cerceado na raiz por atentar contra as posturas municipais, por assim dizer. Moral da história: essa belíssima escadaria é, em certo sentido, um efeito positivo da desorganização (ou espontaneidade, caso prefiram) brasileira. Aliás, meu pai sempre dizia (vai aqui uma digressão) que a organização extrema tem lá suas desvantagens. A organização alemã, dizia ele, gerou os campos de extermínio em massa e o Muro de Berlim, enquanto a Itália, mais latina, mais “caótica”, embora partícipe do Eixo, não chegou a tais extremos. Fim da digressão. Não deixe de visitar essa escadaria! (Ivo Korytowski, Guia da Cidade Maravilhosa, pp. 304-305)
Em 10/1/13 Selarón foi achado morto, em condições misteriosas, perto de seu ateliê, em meio a denúncias de que vinha sofrendo ameaças de um ex-auxiliar, envolvido com tráfico de drogas. Selarón havia registrado as ameaças na Polícia, mas a cidade à qual o artista dedicou seu talento não soube tomar medidas para protegê-lo. Uma lástima.
Em 10/1/13 Selarón foi achado morto, em condições misteriosas, perto de seu ateliê, em meio a denúncias de que vinha sofrendo ameaças de um ex-auxiliar, envolvido com tráfico de drogas. Selarón havia registrado as ameaças na Polícia, mas a cidade à qual o artista dedicou seu talento não soube tomar medidas para protegê-lo. Uma lástima.
A GRANDE LOUCURA
Esta obra de arte começou no ano de 1990 como uma grande homenagem minha ao povo brasileiro, usando as cores da bandeira do Brasil, verde – azul – amarelo.
No ano de 1998, quando esta obra estava quase pronta conheci um lugar onde vendiam azulejos europeus antigos (na Praça XV – aos sábados) para colecionadores e decoradores; fiquei impressionado, eu tinha que comprá-los nem que fosse um a um.
Conforme trazia os novos azulejos importados, já não tinha lugar para mais nada.
Então inventei de trocar sempre os azulejos, uma substituição permanente dos mesmos. Foi um invento inédito, uma obra mutante, uma obra de arte viva...
Uma obra de arte geralmente é trocada ou restaurada em caso de terremoto, incêndio, etc. Neste caso é muito diferente.
As pessoas pensam que comprei cacos de azulejo para economizar dinheiro; no entanto, azulejos com as cores da bandeira não estão disponíveis no mercado, foram encomendados especialmente para esta escadaria. Depois foram quebrados com martelo e logo misturei cacos e azulejos inteiros.
A escadaria se tornou pouco a pouco uma verdadeira coleção de azulejos de todo o mundo com mais de 2000 (dois mil) azulejos diferentes.
Tem azulejos de: Portugal – Espanha – Inglaterra – Escócia – Irlanda – Alemanha – França – Marrocos – Holanda – Bélgica – Checoslováquia – Áustria – Suíça – Polónia – Egipto – Argélia – Turquia – Israel – Grécia – Itália – Síria – Líbano – Iraque – Irão (Pérsia) – Rússia – Índia – Paquistão – China – Japão – Tailândia – Indonésia – Filipinas – Coreia – Paraguai – Uruguai – África do Sul – Nigéria – Argentina – Colômbia – Chile – Peru – Bolívia – Equador – Venezuela – EUA – Canadá – México e Brasil.
No dia 7 de dezembro de 1999 chorei de emoção, consegui um azulejo pintado por mim, dia inesquecível só faltava isso poder pintar a MULHER GRÁVIDA [foto acima] que sempre pinto em todos os meus quadros desde o ano de 1977 por um problema pessoal…
Desde então pinto azulejos em homenagem às pessoas que ajudaram a fazer a história deste grande país: compositores, cantores, escritores, esportistas, jornalistas, apresentadores, profissionais, comerciantes, etc…
Também vários amigos, fregueses e vizinhos, que sempre ajudaram nesta obra de arte, feita com tanto sacrifício, obsessão e carinho.
Você também pode participar. Envie-me um azulejo antigo pelo correio e eu me comprometo a enviar-lhe uma foto dele colado na escadaria, ela tem 215 degraus.
Só acabarei este sonho louco e inédito no último dia de minha vida…
Selarón, Pintor-Chileno”
Fotos do editor do blog.
Um comentário:
Ivo, meu querido,
a quanto tempo, hein? É uma pena essa morte do Selarón. Há alguns anos passei no "Flor de Coimbra", tomei uma bagaceira, comi uns bolinhos de bacalhau e subi a escadaria, ufa! Fomos (estava com um amigo que não conhecia o Rio a não ser as praias)até a Chácara do Céu, ficamos por lá um tempo, depois almoçamos no Mineiro.A escadaria ainda não exibia esse ar esfuziante que agora vejo nas suas fotos. Adorei a última, com o gato espichado na rua!
Grande abraço e feliz 2013!
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