Para o Paulinho, que gosta do Rio ainda mais que eu
Deu na TV: concurso da “garota da laje” parou o Centro do Rio. As imagens mostravam as moças desfilando em uma rua do “Saara” – aquele tradicional comércio carioca. A tigrada em volta, babando. Olhinhos arregalados, os marmanjos se regalavam com toda aquela plástica eufórica, que só a juventude tem. Quase uma epifania coletiva.
Corta para o subúrbio longínquo lá pros lados da Baixada: um daqueles “jardim” isso, ou aquilo, eufemismos lançados pela especulação imobiliária. Lá estão aquelas centenas de habitações, espremidas em lotes mínimos, em sua maioria de tijolo sem reboco. Por cima a laje nua e só uma caixa de água de amianto - mineral largamente utilizado em nosso país, depois que a indústria provou por A+B que o tipo brasileiro é a crisolita, que faz até bem pra saúde (só não explicaram que se tratava da saúde financeira dos donos do negócio).
Então como eu ia dizendo, a câmara fecha em uma bonita jovem na porta de sua casa, que vai explicando como ela, as amigas e as vizinhas se bronzeiam. Enquanto sobe uma frágil escada do lado de fora da casa rumo ao teto, mostra os accessórios que vai tirando de dentro da grande bolsa: um vidro de loção própria “é para ficar que nem frango de padaria: Lustrosa”... uma canga, óculos escuros marca camelô do Méier, sandálias de salto, vez ou outra uma revista, dessas de fofocas.
Aí já aparece a moça em pé, no alto da laje de sua casa. Um sumaríssimo fio dental adorna sua magnífica nudez, para gáudio da vizinhança masculina e (talvez) inveja das comadres, pois a quase-menina como direi, ainda está com “tudo em cima”.
Bendita moça, de quem não guardei o nome! Bendita basbacaria! Esse talento inventivo nunca faltou ao carioca: não tem grana para os vários ônibus até a praia? Vai pra laje, põe uma piscininha (pequena pra não pesar muito) o último funk berrando no toca discos portátil, algumas vezes uma churrasqueira pra carne de gato e vamos nós! Geralmente vira festa e segue noite adentro. E depois de muito samba, suor e cerveja, imagino a gracinha da moça, enleada pelo galã do pedaço que sussurra tesudo: “Na minha laje ou na sua?”
Texto gentilmente enviado pelo autor. Foto obtida na Internet.
Corta para o subúrbio longínquo lá pros lados da Baixada: um daqueles “jardim” isso, ou aquilo, eufemismos lançados pela especulação imobiliária. Lá estão aquelas centenas de habitações, espremidas em lotes mínimos, em sua maioria de tijolo sem reboco. Por cima a laje nua e só uma caixa de água de amianto - mineral largamente utilizado em nosso país, depois que a indústria provou por A+B que o tipo brasileiro é a crisolita, que faz até bem pra saúde (só não explicaram que se tratava da saúde financeira dos donos do negócio).
Então como eu ia dizendo, a câmara fecha em uma bonita jovem na porta de sua casa, que vai explicando como ela, as amigas e as vizinhas se bronzeiam. Enquanto sobe uma frágil escada do lado de fora da casa rumo ao teto, mostra os accessórios que vai tirando de dentro da grande bolsa: um vidro de loção própria “é para ficar que nem frango de padaria: Lustrosa”... uma canga, óculos escuros marca camelô do Méier, sandálias de salto, vez ou outra uma revista, dessas de fofocas.
Aí já aparece a moça em pé, no alto da laje de sua casa. Um sumaríssimo fio dental adorna sua magnífica nudez, para gáudio da vizinhança masculina e (talvez) inveja das comadres, pois a quase-menina como direi, ainda está com “tudo em cima”.
Bendita moça, de quem não guardei o nome! Bendita basbacaria! Esse talento inventivo nunca faltou ao carioca: não tem grana para os vários ônibus até a praia? Vai pra laje, põe uma piscininha (pequena pra não pesar muito) o último funk berrando no toca discos portátil, algumas vezes uma churrasqueira pra carne de gato e vamos nós! Geralmente vira festa e segue noite adentro. E depois de muito samba, suor e cerveja, imagino a gracinha da moça, enleada pelo galã do pedaço que sussurra tesudo: “Na minha laje ou na sua?”
Texto gentilmente enviado pelo autor. Foto obtida na Internet.
4 comentários:
Belo texto! Delicado e bem humorado, na medida.
É mesmo um motivo de admiraçao, de orgulho, essa característica brasileira, esse traço maravilhoso da nossa cultura: a sabedoria de aproveitar a vida, de ser feliz, de se divertir a partir do quase nada.
Me faz pensar em um livro que acabei de ler e que gostaria de te recomendar, Ivo ( e a seus leitores). The Lemon Tree, de Sandy Tolan. Parece que tem um filme com o mesmo nome, mas nao se trata da mesma história. Se esse livro ainda nao foi traduzido, V. poderia sugerir a sua Editora. Um grande livro.
Parabéns, mais uma vez, pelo seu blog.
Bjos
Oi meu caro amigo escritor.
Texto interessantíssimo...bem carioca...uma beleza.
Parabéns para o autor e pela sua idéia em postar.
Felicidades.
Dear Ivo,
Particularidades brasileiras, sempre achei divertida a ideia do bater laje em Minas. Um mutirao de amigos que se ajudam quando precisam fazer a laje do barraco ou da casa de alguem. Trabalham duro horas seguidas pois eh trabalho de apenas um dia pra nao perder o cimento, absolutamente de graca, e no final da obra o dono da casa oferece um churrasco regado a muita cachaca e cerveja, ai o samba rola sem esforco as mulheres dancam provocativas e a semana comeca exatamente como se deseja, so alegria.Tambem la tem as meninas da laje, mas eu nao sei se existe concurso, lembro-me de experiencias extravagantes, as mais brancas usavam coca cola ou beterraba com oleo para se bronzearem. Castanha verde do Caju para tatuar o nome de alguem no corpo. Saudades dessa naturalidade descompromissada!
Congratulations ao Paulo e a voce.
Beijinhos com carinho.
Toronto - Ca
Excelente a sua criatividade para manter o blog sempre focado nas coisas mais pitorescas do Rio! Amei!
Realmente "a garota da laje" é a cara do Rio! (comentário enviado por e-mail)
Postar um comentário