ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

21.7.08

POEMAS CARIOCAS DE JAMIL DAMOUS


PAISAGEM VAZIA

Enquanto o carro corria veloz pelo Aterro,
naquele exato instante
em que a tarde era calma
e nos banhava com sua luz quase irreal,
eu era feliz
e a cidade emoldurava teu gesto.
Neste outro instante
que o tempo vem repetir
em absurdo vídeo-teipe,
está vazia de ti a paisagem.
Em sua indiferença,
o Pão de Açúcar
não alimenta esta fome.
E o Cristo
não redime
esta dor.



CEMITÉRIO DE SÃO JOÃO BATISTA

Tudo é tão duro
na luz desta manhã:
o Pão de Açúcar, o muro,
a natureza vã.

Dura é a beleza
do céu sobre a cidade.
Ó Rua Real Grandeza,
quão grande é a realidade!


SCOTCH
Para o Paulinho Leite

Num silencioso depósito
de uma destilaria
nas terras altas da Escócia,
com infinita paciência,
este malte envelheceu.
Antes, a laboriosa cevada
foi perfumada pela fumaça da turfa,
foi moída e fermentada,
separou-se o líquido do mosto
e entre uma caldeira e outra
passeou, vaporoso,
pela serpentina sinuosa.
Dos tonéis que um dia foram carvalhos
este líquido roubou
o seu suave castanho.
O mesmo castanho
onde neste exato instante pousam meus olhos
ofuscados pela luz janeira
deste verão do Rio.



ALGUNS AZUIS DO MAR DA BARRA

O primeiro azul
é esse que desfalece
em ondas, êxtase
por sobre a areia

O segundo azul
- azul escuro -
antevê o gozo
em calmaria

O terceiro azul
- misterioso, longe -
é íntimo do céu


O último azul
- azul do céu -
fala outra linguagem
que não nos é dado
entender



SOL DE IPANEMA

Naquele tempo,
entre um chope e um sonho,
diziam os cariocas:
"A gente se vê no Sol".
E o Rio era belo e signi-
ficava no coração do poeta.
No dia seguinte, o sábado
resplendia seus calores,
seus clarões
suas claras significações.
A Pedra da Gávea e o Dois Irmãos
nos compreendiam
mesmo mais distantes
do que os edifícios assépticos
ali em frente.
Éramos jovens
e olhávamos para além do Atlântico,
enquanto a água,
a fria água de um janeiro
para sempre perdido na areia do tempo,
vinha lamber
os nossos pés ardentes.



GEOCENTRISMO

Naquela manhã de janeiro,
na praia de Ipanema,
Galileu teria ido mesmo pra fogueira.
Todo mundo sabia
que era em torno da Terra
ou mais precisamente
que era em torno de ti
que o Sol
girava.


O DIA NASCE RUBRO

O dia nasce rubro
pros rumos de Botafogo.
O Pão de Açúcar é um presente
que meus olhos desembrulham
ainda cobertos de nuvens.

Na encosta do morro
os passarinhos cantam
obstinados
sua presença no mundo.
Logo estarão – estaremos –
vencidos pela manhã ruidosa.


DE CARRO NA LAGOA

por sobre os edifícios banais
e os automóveis engarrafados
o horizonte verde da cidade amada se eleva

e súbito me enleva

nessa levada eu vou
- um samba de pixinguinha
num ritmo rock´n´roll


HELICÓPTERO SOBRE O MORRO DA SAUDADE

beija-flor de aço
       pairas mecânico
ante a flor rubra do dia

quem vieste resgatar?
este homem triste?
sua esperança?
       pairas, enigma

o ruído de teus rotores
encobre
toda e qualquer resposta

súbito derivas
para o morro dos cabritos
e avistas
um outro enigma
       o mar azul e ardente de copacabana

Fotos do editor do blog. Jamil Damous também está no blog Sopa No Mel.

5 comentários:

Anônimo disse...

Que beleza, Ivo! (enviado por e-mail)

Anônimo disse...

Oi, Ivo !

Creio que conheci o Jamil, em visita à Oficina do Prof. Ivan Cavalcanti Proença. Se bem me lembro (se foi ele mesmo), fiquei encantada com sua generosidade ao oferecer-me um livro seu. Mas não nos vimos depois pra "trocar figurinhas". Seus poemas têm a laceração da sensibilidade. De pronto nos toca e, de fina percepção, comunica.

Bjcs, Léa

Anônimo disse...

Jamilança,
Simplesmente divino.
Saudades dos nossos tempos no Rio.
Um grande beijo.
Mafi.

Marco Aurélio Estrela disse...

São exatamente nesses momentos que sentimos a presença do "objeto felicidade" infelizmente a saudade compete com tanta satisfação...
Saudades.....
MARCORELHO

Anônimo disse...

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