ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

28.6.18

TRAUMAS DO FUTEBOL BRASILEIRO, de CYRO DE MATTOS


O futebol brasileiro gosta de escrever sua história no extremo. Várias vezes desceu uma ladeira horrível , fomos parar no fundo do poço. A primeira catástrofe do futebol brasileiro aconteceu na Copa do Mundo de 1950, no Maracanã. Já vão longe aqueles idos. O Brasil jogava pelo empate. Um gol fazia balançar o estádio com duzentas mil pessoas. Foi de Friaça no início do segundo tempo, lenços acenavam para os valentes atletas uruguaios. Veio o gol de empate dos uruguaios, Schiafino o autor da proeza. Um calafrio penetrava ossos e nervos do Maracanã com a lotação máxima. O inexorável iria acontecer aos trinta e quatro minutos. O ponteiro Gighia chutava a bola e a grama. Ninguém acreditava no que se estava vendo, a bola entrando entre a trave e o goleiro Barbosa. Lenços já não acenavam. Aquela coisa que só infundia medo, estupidamente sem tamanho, percorria todo o estádio. Ninguém podia reverter o capricho dos deuses. Contava o locutor que, encerrado o jogo, a procissão de mortos saía do Maracanã, e o país, que pensava e amava pelos pés, principalmente naquele dia, em caos desencantava-se.

Outras derrotas amargas em campeonatos mundiais iriam acontecer e com elas ferimentos que teimam em não cicatrizar. Anotem a eliminação do Brasil pela primeira vez na fase de grupos, Copa da Inglaterra. Perdera para Portugal por três a zero e para a Hungria por três a um. Só conseguiu vencer a desconhecida Bulgária por dois a zero. Voltamos cabisbaixos para casa. Na Copa de 1982, na Espanha, a lendária seleção, que jamais sucumbiu à derrota contra a Itália, provou que o futebol não é apenas jogar bonito e ofensivo, mas resultado. O Brasil, de Telê, Zico, Sócrates, Junior e Falcão, era a vítima na Tragédia de Sarriá. Eliminado pela seleção italiana, a aguerrida azurra, de Zoff e Paolo Rossi, por três a dois. Em 24 de junho de 1990, outra derrota traumática. Com uma seleção superior, com duas bolas na trave do adversário e um massacre desferido no tempo regulamentar, o Brasil foi eliminado pela Argentina por um a zero. O lance do gol: aos 35 minutos do final, Maradona passou por três brasileiros e serviu Claudio Caniggia, que ficou cara a cara com Taffarel. O atacante teve calma para driblar o goleiro brasileiro e tocar a bola para o fundo das redes. Na Copa de 86, Zico e Sócrates perderam pênaltis, e o Brasil foi eliminado pela França de Platini.

Depois que ganhamos da França por cinco a dois na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, só fizemos perder em mundiais. O dia 12 de julho de 1998 deixou uma triste lembrança para o torcedor brasileiro na disputa da Copa do Mundo, na França. O time brasileiro enfrentou um duro jogo contra a Holanda, nas semifinais. Após o empate por 1 a 1, o jogo foi para as penalidades, vencidas pelo Brasil por 4 a 2. Na final, o Brasil entrou em campo para sagrar-se hexacampeão mundial. Com um futebol apático, sonolento, foi derrotado pelos franceses por 3 a 0, com gols de Zidane (2) e Petit. Antes do jogo, Ronaldo, principal estrela do time brasileiro, sofreu uma convulsão em um episódio que abalou todo o time e que gera polêmica até os dias de hoje.
           
         Pensávamos que o volume da tragédia, com o Brasil derrotado numa final de Copa do Mundo, em sua casa, fosse ser expulso do estádio na Copa de 2014, a ser realizada pela segunda vez nessa “pátria em chuteiras”, como dizia Nelson Rodrigues.
           
          O pior dos traumas estava para acontecer. Sem Neymar, o craque do time, fora retirado de campo contundido, pela falta abominável cometida pelo defensor da Colômbia, na partida anterior, os ares da tragédia começavam a ser anunciados pelos ventos do azar. Ele estava fora da final contra a Alemanha. Apesar dessa baixa enorme, havia alguma confiança de que a batalha final seria vencida pela Seleção do Brasil. Meu Deus, o que foi que aconteceu naquele dia vergonhoso? Perdemos em casa outra Copa do Mundo, dessa vez pelo humilhante placar de sete a um. Em poucos minutos já perdíamos por três a zero, sofremos três gols de repente, um atrás do outro.

Perguntaram a Gerson, o meia-esquerda genial da Seleção de 70, no México, para muitos a melhor de todas em mundiais, como se explicava outra catástrofe do futebol em nossa casa. Não se explica o que é inexplicável, respondeu. Sabem quando vai acontecer outra derrota vergonhosa dessas? A seguir completou, nunca.

Como disse no início que o futebol brasileiro gosta de escrever sua história no extremo, penso que vamos ser hexacampeões de futebol na Copa do Mundo de Moscou.

Até mais verde que te quero verde.

* Cyro de Mattos é ficcionista, poeta e ensaísta. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia.  Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia). Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Tem livro publicado em Portugal, Itália, França, Alemanha, Espanha e Dinamarca. Conquistou o Prêmio Internacional de Literatura Maestrale Marengo d’Oro, em Gênova, Itália, com o livro “Cancioneiro do Cacau”, o Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras, com “Os Brabos”, contos, Associação Paulista de Críticos de Arte com “O Menino Camelô”, infantil, e o Prêmio Nacional Pen Clube do Brasil com o romance “Os Ventos Gemedores”.

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