ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

29.10.07

UMA AMIZADE ANTIGA

Texto de Cyro de Mattos especial para o Dia do Livro


Estátua de Manuel Bandeira ao lado da ABL


Estátua de José de Alencar perto do Largo do Machado

O livro é esse amigo que acompanha os seres humanos há séculos, possibilitando o crescimento interior. Conhecemos outras vozes do mundo com esse amigo. Inauguramos a vida com novos olhares, superamos vícios e medos. Sabemos de casos que divertem, viajamos por terras nunca antes conhecidas. Damos vôo à razão através da linguagem que usa para cada tipo de leitor. Um de seus milagres consiste em tornar leve todo o peso terrestre feito de solidões, angústias e perdas. Sua amizade não trilha os caminhos do interesse, transpira sinceridade. Com ele aprendemos que só talento não basta para quem quiser se tornar um filosofo, cientista ou poeta, faz-se necessário o hábito da leitura. Esse amigo está pronto para dizer que, vivendo na sua companhia, a vida fica mais fácil. Matamos até a morte.

Gosta de se mostrar nas livrarias. O lugar mais digno para acomodá-lo em nossa casa é a biblioteca. Quem não tem poder aquisitivo para adquiri-lo, pode achá-lo em uma biblioteca pública. Lá está nas prateleiras o amigo solidário, esperando nossa visita para uma conversa útil. Mostra muitas coisas numa cumplicidade que informa, dá prazer, encanta. Faz aparecer paisagens impossíveis, que vão entrando na medida que uma página puxa a outra.

Livro xilografado, impresso com pranchas de madeira gravadas. Em rolos de papiro e também de pergaminho, no Egito. Nas telas de seda da China. Recolhido em manuscritos, no trabalho paciente e anônimo dos bibliotecários de Alexandria. Livro da sabedoria, do antigo Testamento. Filosófico, científico e literário. Repositório do pensamento humano, dos povos para os povos, de geração em geração, com seus rumores milenares.

Vem contribuindo para que o mundo mantenha portas e janelas abertas, o sol acenda manhãs, o vento sopre momentos que somam. Das formas primitivas às técnicas de editoração moderna com esse amigo, como o braço ao abraço, os seres humanos aprendem que os dias de exercitar a existência e conhecer o outro ficam mais humanos. O padre Antônio Vieira disse certa vez que “o livro é um mundo que fala, um surdo que responde, um cego que via, um morto que vive.” Acho que a fala da nossa maior figura da oratória sacra combina com o que eu li num pára-choque de caminhão: “Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê.” Verdade. Hoje, na terceira idade, reli “O Pequeno Príncipe”, de Antoine Saint-Exupéry, a seguir “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway. Saí depois para a vida rejuvenescido.

De cabeceira ou de bolso, o fiel amigo por vias e arredios, com seu poder de falar silêncios.

Fiquei certa vez abatido por conta da afeição que nutro por esse amigo. Quando morei na fazenda São Bernardo, nas imediações de Ferradas, chão onde nasceu o romancista do mundo Jorge Amado e o poeta Telmo Padilha, os livros que trouxe do Rio de Janeiro ficaram encaixotados até que pudesse comprar uma estante digna de recebê-los. E, numa noite sem estrelas, a chuva caiu pesada na terra centenária. O telhado velho da pequena casa não suportou o volume da água que corria por entre as calhas. Em pouco tempo, poças d’água formaram-se em vários cantos da casa por causa das goteiras.

No outro dia, encontrei molhados os caixões que guardavam velhos amigos. Lembro que apressado fui retirando do primeiro caixão “Além dos Marimbus”, de Herberto Sales, Gabriela, Cravo e Canela”, de Jorge Amado, “Uma Vida em Segredo”, de Autran Dourado, “Fábulas”, de La Fontaine, “Dom Quixote”, de Cervantes, “O País de Outubro”, de Ray Bradbury, “A Metamorfose”, de Kafka, “O Muro”, de Sartre, “Poesias”, de Manuel Bandeira, “O Salto do Cavalo Cobridor”, de Assis Brasil, e “História da Civilização Ocidental”, de Edward McNall Burns. Foram os livros mais atingidos pela chuva que caíra naquela noite cortada por relâmpago e trovoada. Páginas manchadas, letras borradas, capas danificadas. Ainda tentei salvá-los, espalhando-os abertos no passeio para que fossem aquecidos pelos raios de um sol tímido.

Aqueles livros haviam sido adquiridos com o dinheiro da mesada que o pai mandava para o moço do interior na Capital, onde cursava a Faculdade de Direito. Outros foram comprados nos meus anos de jornalista no Rio de Janeiro. Meu coração tinha um tremor quando descobria um desses amigos na vitrina, balcão ou prateleira de livraria.

À noite peguei no sono como um herói inútil. Acordei deprimido no outro dia. Aqueles que não consegui salvar tinham me ofertado ricos e prazerosos momentos de leitura, varando as madrugadas. Madrugadas do homem solitário, que, no silêncio da noite, lograva extrair sentidos da vida com aqueles companheiros. Jamais esqueci isso.



Estátua de Carlos Drummond de Andrade na Praia de Copacabana



Estátua de Machado de Assis na Academia Brasileira de Letras (fotos do editor do blog)

26.10.07

RARIDADE

Sobre este documentário, recebi e-mail do amigo Celso, de Brasília, com o texto que passo a transcrever:

RIO 1936, DOCUMENTÁRIO DA METRO
Rio de Janeiro "City of Splendour"

Espetacular documentário intitulado "Rio de Janeiro - City of Splendour", filmado no Rio em 1936. Uma realização da Metro-Goldwin-Mayer, parte da série TravelTalks "The Voice of the Globe", de James A. Fitzpatrick.

Reparem na limpeza das ruas, na influência européia na arquitetura do Centro do Rio, com inúmeros jardins, o canal do Mangue ladeado por palmeiras, os espelhos d'água límpidos e a moda da praia.

O Rio de Janeiro, segundo a narração tinha 1,5 milhão de habitantes, o que com certeza, explica como era possível viver tão bem. O contraste com o Rio atual nos faz pensar no que nós fizemos de nossa linda cidade.

Os turistas chegavam ao Rio de navio, aportando na Praça Mauá, belo cenário do Centro, onde se inicia a Av. Central (atual Av. Rio Branco), que parecia um autêntico boulevard francês com seu canteiro central totalmente arborizado.

Nela se vê a antiga Casa Mauá, dos monges beneditinos, onde é hoje o RB1, o edifício do jornal A Noite e da Radio Nacional, primeiro arranha-céu da cidade, construído em concreto armado e em estilo art-decó, então o maior edifício da América do Sul.

Vemos a Praça Floriano (Cinelândia) com o Palácio Monroe, sede do Senado; a Praça Paris com seus lindos jardins franceses, sem cercas; o Canal do Mangue com águas limpas e ladeado por palmeiras reais; uma raríssima e linda imagem do Pavilhão Mourisco em Botafogo; e a Avenida Beira-Mar (Av. Atlântica) ainda com poucos arranha-céus e sua pista estreita em mão-dupla.

Curiosamente, um grande destaque é dado ao Pão de Açúcar, mas nada se diz a respeito do Cristo Redentor, no Corcovado, provavelmente porque havia sido inaugurado poucos anos antes, em 1931.

Finalmente mostra como se produzia aquele artesanato com asas de borboletas, típico da cidade. Em 1936, segundo a narrativa do documentário, havia mais de 700 espécies de borboletas no Brasil, maiores e de cores mais belas do que as da Europa e EUA.

Boa viagem ao passado!!!

8.10.07

IGREJA DE N.S. DA PENHA 2007


Considerada como o mais importante símbolo dos subúrbios cariocas, a Igreja de Nossa Senhora da Penha, situada no alto de um íngreme rochedo, pode ser identificada ao longe por quem chega ao Rio de Janeiro, pela Avenida Brasil.

A construção da primeira ermida, em 1632, está envolvida em lendas. Conta-se que o capitão português Baltazar de Abreu Cardoso, proprietário das terras próximas, ao ser ameaçado por uma cobra, pediu auxílio a Nossa Senhora da Penha de França; salvo do perigo, iniciou as obras em agradecimento. Em 1728 foi organizada a irmandade e ampliada a capela. No século XIX, novas reformas foram feitas até que, no início do século XX, a igreja assumiu sua forma definitiva.


O acesso ao santuário é feito por uma longa escadaria, com mais de 365 degraus (existe a opção de um elevador). Na chegada ao templo, avista-se, primeiramente, o seu lado posterior, onde se localiza a sacristia, com o altar em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, que teria sido a primeira virgem a ser venerada no alto deste penhasco. A construção da igreja não segue um estilo definido e apresenta-se, externamente, muito decorada, com trabalhos em estuque branco, galerias com arcadas nas laterais, janelas emolduradas em cantaria em todos os lados e duas torres em forma de pirâmide quadrangular. Internamente é simples, destacando-se apenas o púlpito em madeira trabalhada.


O adro frontal da igreja oferece um belo panorama da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro.

A igreja de Nossa Senhora da Penha sempre foi muito conhecida por suas festas, realizadas nos fins de semana de outubro e no primeiro de novembro. Iniciadas no século XVIII, permanecem como as maiores do gênero na cidade do Rio de Janeiro e continuam atraindo milhares de fiéis.

Nessas festas predominava, inicialmente, a colônia portuguesa, mas, após a inauguração do ramal ferroviário da Penha, em 1886, a comunidade negra carioca passou a participar intensamente. Nas primeiras décadas do século XX, as Festas da Penha só eram superadas pelo carnaval e tornaram-se eventos onde os primeiros sambistas cariocas, como Donga, Pixinguinha, Sinhô, Heitor dos Prazeres e Caninha, lançaram seus sucessos antes da era do rádio. (Texto extraído do Guia Michelin do Rio de Janeiro, 1a edição, 1990)









Trechos de crônica de Raul Pompéia sobre a Festa da Penha publicada em 4 de novembro de 1888:

No domingo, a gentinha miúda da cidade moveu-se em romaria ao outeiro da Penha, distante algumas léguas daqui para as bandas do norte.

E partem os romeiros, os da estrada de ferro sofrendo ainda a baldeação, em São Francisco Xavier, para a estrada de ferro do Norte.

A Penha é um povoado miserável de alguns casebres que se desmancham em pé, situada em uma várzea arenosa de beira-mar. Um semicírculo de morros volteia sobre o horizonte, por um lado, oferecendo a espaços, através da vegetação, nodosidades redondas de pedras ásperas cor de cimento, como cachoeiras enormes sem água. Em frente, devassa-se a Guanabara azul.


Antes da ermida, há uma comprida ladeira; depois uma escada de 365 degraus talhados na rocha. Pelo extenso caminho, distribui-se o povo. Os que sobem levam imensas velas de promessa, ou formas de cera lembrando enfermidades curadas; os que descem trazem registros em rolo atados ao chapéu, e vêm condecorados de medalhas e pequenas cruzes ou corações de papelão dourado com uma imagem da santa no meio detrás de um vidro. Entre os que sobem, há fanáticos que vão de joelhos; mulheres, amparadas pelas filhas ou pelo marido; um velho gordo, ou inchado que mal poderia subir de pé, amparado por duas moças...

A igreja é simples e asseada. A sua construção data de longe, do passado obscuro da tradição. Foi reconstruída entre 12 de abril de 1870 e 13 de maio de 1872.


Famílias, magotes de amigos, acomodam-se, através do campo, organizam-se em banquete. Confundem-se à vista feições, sexos e idades, no agrupamento desordenado das roupas, sobre a erva, sob o esplendor difuso do sol.

Depois da refeição, vêm as danças e os cantos. Um delírio de samba e fados, modinhas portuguesas, tiranas do norte.
Entretanto transitam de permeio grupos carnavalescos dos mais valentes, romeiros, enroupados à fantasia, zabumbando o zé-pereira, bimbalhando ferrinhos, arranhando guitarras, guinchando sons impossíveis de requinta e gaita. As praças de polícia montada circulam caracolando, erguendo turbilhões de pó. O sol, por entre as cordas de bandeiras e lanternas, vem ferir a terra e eleva-se na poeira fulgente como um nevoeiro de cal. O ar queima. (Leia a crônica completa no site Jangada Brasil)








CALENDÁRIO DA FESTA DE N. S. DA PENHA DE 2011:
1º de outubro:
15h – Lavagem da Escadaria;
17:30h – Procissão Luminosa e Caminhada Jovem (Saindo da Paróquia Bom Jesus da Penha).

2 de outubro:
10h- Missa Solene, com a apresentação do novo manto da imagem de Nossa Senhora da Penha;
14h – Evento Laço Rosa (Concha Acústica).

9 de outubro:
11h- 1ª Peregrinação dos motociclistas ao Santuário (Concha Acústica)
15h – 6ª Romaria da Bíblia;
        - 6º Festival do Folclore Português (Concha Acústica).

12 de outubro:
14h – Evento “Corações Unidos pela Paz” - Comunidade Coração Novo.  (Concha Acústica).

16 de outubro:
15h – 10º Encontro de Corais.
23 de outubro:
15h – Folclore Brasileiro - Colégio Nossa Senhora da Penha. (Concha Acústica)

29 de outubro:
9h - Mutirão de pintura no Santuário
30 de outubro:
9h - 5ª Corrida Rústica;
15h – Encerramento da festa com procissão; Missa Campal, presidida por Dom Orani João Tempesta; coroação da imagem histórica de Nossa Senhora da Penha e show do cantor Jerry Adriani.


Fotos tiradas na Igreja da Penha em 6 de outubro - dia da lavagem da escadaria e início da Festa da Penha de 2007 - pelo editor do blog (exceto a primeira, cujo autor desconheço - quem souber, avise). Você pode reproduzir as fotos e textos, contanto que cite as fontes. Veja também a postagem sobre a Festa da Penha de 2006 neste blog.