ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

20.12.08

ÁRVORE DE NATAL DA LAGOA



A inauguração da 13ª. edição consecutiva da Árvore de Natal da Bradesco Seguros e Previdência reuniu, em 29 de novembro, cerca de 400 mil pessoas no Parque do Cantagalo, onde o evento foi realizado, e também em todo entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.

A maior Árvore de Natal flutuante do mundo, que desde 1996 enfeita a Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro e já se tornou tradição nas festas de fim de ano, acendeu as luzes às 20h50 com uma queima de fogos ao seu redor.
Este é o terceiro maior evento da cidade do Rio de Janeiro, após o Carnaval e o Réveillon.

A Árvore deste ano tem o tema "Uma melodia de paz para a família brasileira". O espetáculo de luzes e cores ganhou um toque musical. Um carrilhão eletrônico - importado da Itália, semelhante ao usado na Basílica de São Pedro, no Vaticano - instalado dentro de sua estrutura reproduz canções natalinas, gravadas na Itália, com sinos tocados manualmente por sineiros profissionais (texto obtido no site da Riotur).




que fazer
senão dizer
Bom Natal?

se for preciso
mando tembém
o meu sorriso!

e pros Amigos
dizer de novo
Bom Ano Novo!

sem desengano
vamos passar
o Fim-de-Ano...

e mais não faço
mas inda vai
um forte abraço!

Salomão Rovedo

AOS AMIGOS VISITANTES DO BLOG FICAM AQUI OS VOTOS DE UM FELIZ NATAL, FELIZ CHANUCÁ, FELIZ ANO NOVO, FELIZ TUDO!





Não é preciso ser original para escrever sobre o Natal. A gente só quer que ele seja tranqüilo e gostoso, e que nos faça acreditar: em Papai Noel, em anjos, em famílias amorosas ou amigos fiéis, em governantes mais justos e líderes mais capazes, em um povo mais respeitado – em alguma coisa a gente acaba sempre acreditando. Porque, afinal de contas, é a ocasião de ser menos amargo, menos crítico, menos lamurioso e mais aberto ao sinal deste momento singular, que tanto falta no mundo: a possível alegria, e o necessário amor (trecho da crônica "Acreditar no Natal" de Lya Luft publicada na Veja de 24/12/08).

18.12.08

MORRO DA CONCEIÇÃO

Fotos de Alessandra Vieira (AV), Maurício Limeira (ML) e do editor do blog (IK). Texto de Antônio Agenor de Melo Barbosa.


IK


AV

Situado em pleno coração do Centro Antigo, o Morro da Conceição encontra-se nas franjas remanescentes da urbe colonial, desta Muito Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Um lugar de gente simples, solidária e, sobretudo, educada. Características aprendidas, desde o berço, no dia-a-dia da vivência nos becos, ladeiras, escadas, largos e ruas estreitas que tornam o local tão peculiar. Espaço pitoresco e aprazível que guarda, no calçamento de pé-de-moleque e outras pedras, a memória cultural e histórica da Cidade Maravilhosa.


AV


IK

Logo à chegada por uma das principais entradas que dão acesso ao Morro propriamente dito, chegando à Praça Major Valô, ergue-se a bonita imagem da Virgem Santa que batiza com seu nome o lugar e que lhe confere tanta proteção, paz e segurança quanto as guaritas da Fortaleza onde estão os soldados do Exército brasileiro que dão alguma contribuição à santa na proteção e na ampliação da sensação de segurança que se tem por aqui. Mas além da pura e simples sensação de segurança, aqui se pode vivenciar cotidianamente, de fato, a tão sonhada segurança pública que em muitas partes da metrópole já não se encontra mais.


ML


AV


IK

Visitar o Morro da Conceição nos faz conhecer, (re)conhecer e vivenciar um tempo arcaico que não é nosso e sim dos nossos distantes ancestrais que, de fato, construíram estes sobrados e rechearam de vida e impregnaram de memória as ruas deste lugar. É, talvez, esta energia latente de memória contida nas suas calçadas e nas suas paredes que permite que senhores e senhoras de 70, 80 e até quase 90 anos circulem a pé e tenham forças para subir estas ladeiras coloniais.


AV


AV


ML

Uma das poucas e principais ruas do Morro da Conceição, a Rua do Jogo da Bola (este poético nome da rua permanece desde os tempos da colônia onde, de fato, havia um jogo da bocha) é uma rua pequena e estreita, onde só passa um carro de cada vez, o que amplia ainda mais, a meu ver, a vocação para a civilidade e urbanidade do lugar; pois alguém terá sempre que ceder a vez ao outro carro que vem em sentido contrário.


IK


IK


AV


AV


AV

Texto extraído de "Morro da Conceição: a geografia da cordialidade" de Antônio Agenor de Melo Barbosa - para ler o texto inteiro clique aqui. Saiba mais sobre o Morro da Conceição clicando no marcador abaixo ou visitando meu outro blog Sopa no Mel.

10.12.08

BARROCO E ROCOCÓ NAS IGREJAS DO RIO

Texto de Lívia de Almeida transcrito da Veja-Rio de 3/12/08. Fotos do editor do blog.

Rio de Janeiro colonial sobrevive em meio ao burburinho do Centro

Outeiro da Glória

Rio de Janeiro colonial sobrevive em meio ao burburinho do Centro. A melhor representação desse período está no quadrilátero cujos vértices são o Outeiro da Glória, o Morro de São Bento e o que restou dos morros do Castelo e de Santo Antônio. Na região há um conjunto de vinte igrejas tombadas por seu inestimável valor histórico. Para apreciar essas relíquias da arquitetura sacra do século XVIII, basta disposição para caminhar. E conhecimento para elaborar o roteiro, que pode ser feito após a leitura do recém-lançado guia Barroco e Rococó nas Igrejas do Rio de Janeiro (que pode ser acessado gratuitamente clicando aqui, aqui e aqui), das historiadoras da arte Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira e Fátima Justiniano. Editada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a obra se divide em três pequenos volumes que cabem numa bolsa. "É um verdadeiro milagre que tenha sobrevivido até hoje um patrimônio tão rico", destaca Myriam, que é conselheira do instituto.

Na região há um conjunto de vinte igrejas tombadas

a encantadora Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens

Os livros, didáticos e bem ilustrados, sugerem quatro percursos que incluem preciosidades pouco conhecidas dos cariocas, como a encantadora Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, na Rua da Alfândega. Sua ornamentação rococó permanece quase intocada desde o início do século XIX. Se o tempo for escasso, Myriam recomenda reduzir a visitação a quatro endereços. Dois deles, as igrejas de São Bento e de São Francisco da Penitência, ilustram magnificamente o estilo barroco. A Igreja do Carmo da Antiga Sé, na Praça XV, exuberante após recente restauração, e a de Santa Rita encarnam o auge do rococó. "São obras-primas", diz a historiadora.

talhas douradas elaboradíssimas

o que restou dos morros do Castelo...

No primeiro volume, é apresentado o contexto histórico, com explicações sobre as particularidades dos dois estilos associados ao período colonial. O barroco, que surgiu na Itália, ligado à Contra-Reforma, salta aos olhos pelo excesso e pela opulência nas ornamentações de interiores, em contraste com exteriores austeros. São talhas douradas elaboradíssimas, magníficas pinturas de teto, esculturas dramáticas. Toda essa volúpia visual estava a serviço da doutrinação religiosa. "Procura-se concentrar a maior quantidade de informação possível no menor espaço", explica Myriam. Embora muitos apontem o Mosteiro de São Bento como o ícone do barroco na cidade, na verdade ele exibe estilos de diferentes épocas, habilmente integrados pelos beneditinos. Para a historiadora, impressionante mesmo é a unidade estilística da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, no Largo da Carioca, erigida entre 1726 e 1743. Trata-se de um barroco à moda de dom João V, enriquecido pelo toque dos entalhadores portugueses Manuel de Brito e Francisco Xavier de Brito.

...e de Santo Antônio

Igreja de Santa Rita

O rococó proliferou numa fase posterior. Chegou ao Rio na segunda metade do século XVIII, na época em que a cidade virava sede da colônia, e por isso foi mais difundido. Começou na França como decoração de interior de residências. Enquanto o barroco se caracteriza pela densidade e pela intensidade, o rococó é leve e iluminado. "O Rio é uma cidade rococó. Aqui tudo é festa: o ouro dá vida aos detalhes e contrasta com as paredes brancas. Há espaço para o cheio e o vazio", descreve Myriam. Na esquina da Avenida Marechal Floriano com a Rua Miguel Couto, a Igreja de Santa Rita foi a primeira a adotar o estilo em sua talha, executada entre 1753 e 1759. Ao contrário de outras construções do período, ela não sofreu acréscimos no fim do século XIX, quando o ecletismo acadêmico passou a achar pobre a presença de todo aquele espaço em branco – e decidiu preenchê-lo. No segundo volume do guia, dedicado ao entorno da Praça Quinze, as autoras chamam atenção para os enfeites acrescentados à Igreja da Ordem Terceira do Carmo. "Foi tudo preenchido", conta Myriam, mineira de São João del-Rei, há dezoito anos na cidade. "Quando cheguei, tinha dificuldade de assimilar essas mudanças. Mas no Rio até os acréscimos eram feitos com extrema perícia."

19.11.08

NA MINHA LAJE OU NA SUA?

Paulo da Mata-Machado Jr.
Para o Paulinho, que gosta do Rio ainda mais que eu


Deu na TV: concurso da “garota da laje” parou o Centro do Rio. As imagens mostravam as moças desfilando em uma rua do “Saara” – aquele tradicional comércio carioca. A tigrada em volta, babando. Olhinhos arregalados, os marmanjos se regalavam com toda aquela plástica eufórica, que só a juventude tem. Quase uma epifania coletiva.

Corta para o subúrbio longínquo lá pros lados da Baixada: um daqueles “jardim” isso, ou aquilo, eufemismos lançados pela especulação imobiliária. Lá estão aquelas centenas de habitações, espremidas em lotes mínimos, em sua maioria de tijolo sem reboco. Por cima a laje nua e só uma caixa de água de amianto - mineral largamente utilizado em nosso país, depois que a indústria provou por A+B que o tipo brasileiro é a crisolita, que faz até bem pra saúde (só não explicaram que se tratava da saúde financeira dos donos do negócio).

Então como eu ia dizendo, a câmara fecha em uma bonita jovem na porta de sua casa, que vai explicando como ela, as amigas e as vizinhas se bronzeiam. Enquanto sobe uma frágil escada do lado de fora da casa rumo ao teto, mostra os accessórios que vai tirando de dentro da grande bolsa: um vidro de loção própria “é para ficar que nem frango de padaria: Lustrosa”... uma canga, óculos escuros marca camelô do Méier, sandálias de salto, vez ou outra uma revista, dessas de fofocas.

Aí já aparece a moça em pé, no alto da laje de sua casa. Um sumaríssimo fio dental adorna sua magnífica nudez, para gáudio da vizinhança masculina e (talvez) inveja das comadres, pois a quase-menina como direi, ainda está com “tudo em cima”.

Bendita moça, de quem não guardei o nome! Bendita basbacaria! Esse talento inventivo nunca faltou ao carioca: não tem grana para os vários ônibus até a praia? Vai pra laje, põe uma piscininha (pequena pra não pesar muito) o último funk berrando no toca discos portátil, algumas vezes uma churrasqueira pra carne de gato e vamos nós! Geralmente vira festa e segue noite adentro. E depois de muito samba, suor e cerveja, imagino a gracinha da moça, enleada pelo galã do pedaço que sussurra tesudo: “Na minha laje ou na sua?”


Texto gentilmente enviado pelo autor. Foto obtida na Internet.

15.11.08

TEMPLO POSITIVISTA

O AMOR POR PRINCÍPIO, E A ORDEM POR BASE; O PROGRESSO POR FIM.


Em pedra e cal, o prédio foi concluído em 1897 e abriga, até hoje, a Igreja Positivista, fundada no Brasil em 1881, por Miguel Lemos. Dentro do espírito eclético, a fachada reproduz a do Panteon de Paris, com robustas colunas e destacado frontão. Uma rosa dos ventos, na entrada do templo, indica a direção de Paris. No Brasil, as idéias positivistas começaram a chegar na segunda metade do século XIX e tiveram grandes divulgadores como Benjamin Constant, Miguel Lemos e Teixeira Mendes. Penetraram nas universidades e no meio militar, atuando como suporte das críticas à Monarquia e da propaganda republicana. Exemplos da influência do positivismo podem ser encontrados no culto cívico a personalidades históricas [Tiradentes, por exemplo] e no lema “Ordem e Progresso” presente na bandeira nacional. (Transcrito do Guia Michelin do Rio de Janeiro.)

O Templo da Humanidade (fotos) fica na Rua Benjamin Constant, 74 - Glória. É um dos três únicos templos positivistas do mundo, os outros situados em Paris (5 rue Payenne) e Porto Alegre (Av. João Pessoa, 1.058). Abre aos domingos a partir das 10 da manhã.


Escreve João do Rio em As religiões no Rio:

Era domingo, à porta do templo da Humanidade, na rua Benjamim Constant. Com o céu luminosamente azul e o sol tépido, havia muita concorrência nessa rua, de ordinário deserta: senhoras, cavalheiros de sobrecasaca, militares, crianças. Uns subiam logo as escadas do templo, cuja fachada recorda um templo grego; outros mais íntimos, seguiam para o fundo, pelo lado direito. Teixeira Mendes fazia a sua prédica dominical. [...]

- Mas este templo como foi feito?
- O Apostolado deixou a sede da rua Nova do Ouvidor para a rua do Lavradio. A mudança determinou o lançamento de um empréstimo em 1891 para a construção do templo, no que muito concorreram Pereira Reis, Otero, Rufino de Almeida, Décio Vilares. A inauguração foi em 1894, e a igreja custou 250 contos.
- É mais uma prova da importância do Centro no regime republicano.
- A nossa intervenção no início da República foi de primeira ordem. Basta citar a Bandeira Nacional, a separação da Igreja do Estado, a liberdade dos professores, a reforma do código no caso da tutela de filhos menores. [...]

O templo da humanidade é lindo. Ao alto, junto ao teto correm janelas que arejam o ambiente. Todo pintado de verde-mar, está-se dentro como num suave banho de esperança.




Fotos do editor do blog.

2.11.08

HISTÓRIA DOS CEMITÉRIOS DO RIO DE JANEIRO


No Rio colonial os mortos ligados a alguma irmandade religiosa eram enterrados dentro das Igrejas ou nos seus adros, enquanto os indigentes, pobres ou "pretos novos" eram enterrados em covas coletivas em terrenos disponíveis. O primeiro cemitério a céu aberto da cidade, privativo da colônia inglesa, foi o Cemitério dos Ingleses, de 1811. Em meados do século XIX foram criados os grandes cemitérios abertos a todos os cidadãos, de qualquer religião (tanto é que existe uma "ala judaica" no Caju, túmulos positivistas, sem cruz, no S.J. Batista, etc.): São Francisco Xavier (o “Cemitério do Caju”), São Francisco de Paula (o “Cemitério do Catumbi”) e São João Batista. No Caju existe ainda o Cemitério da Penitência, Comunal Israelita e o Cemitério Vertical Memorial do Carmo. A relação de todos os vinte cemitérios do Rio você encontra aqui. A seguir textos de Alexei Bueno, Pedro Nava, Mauro Matos e Cláudio Henrique (extraídos de diferentes livros) sobre os principais cemitérios cariocas.

CEMITÉRIO DOS INGLESES


Os vivos e os mortos

Lápide no interior da capela, de uma criança, Thomas Barker, falecida em 13 de fevereiro de 1812 aos dez anos. Sob o anjo trombeteiro o versículo de Jó 19:25.

Túmulos e capela. Observe que os túmulos protestantes são mais despojados que aqueles encontrados em cemitérios católicos (quase tão despojados quanto os túmulos judaicos).

 Túmulo do General João Tarcísio Bueno (1906-1963), nome lendário na história da FEB e do Exército Brasileiro, um dos grandes heróis brasileiros, ator central do mais sangrento e épico dos ataques brasileiros a Monte Castelo, em 12 de dezembro de 1944. Sobre ele seu neto Alexei escreveu o livro "João Tarcísio Bueno, o herói de Abetaia"

Durante todo o período colonial no Brasil, as inumações foram feitas dentro das igrejas, ou, quando muito, em catacumbas anexas. [...] Tal hábito começou a declinar com a chegada da Corte portuguesa, fugida de Napoleão, em 1808, e sobretudo com a abertura dos portos às nações amigas, entenda-se Inglaterra. Foi numa encosta do morro da Providência, na Gamboa — o mesmo que, em sua outra face, veria nascer a primeira favela após o desmobilizamento das tropas da guerra de Canudos, sendo por isso também conhecido como morro da Favela —, voltada para o mar, que surgiu o Cemitério dos Ingleses, o primeiro a céu aberto do Rio de Janeiro e um dos primeiros do Brasil.

Pelo Tratado de Amizade e Comércio, assinado entre o príncipe regente D. João e o rei Jorge III, no dia 19 de fevereiro de 1810, ficava permitido "o enterramento de vassalos de Sua Majestade Britânica, que morressem nos territórios de Sua Alteza Real o príncipe Regente de Portugal, em convenientes lugares, que seriam designados para este fim, não se perturbando, de modo algum, por qualquer motivo, os funerais e as sepulturas dos mortos".


Do livro de Alexei Bueno, Gamboa, que faz parte da coletânea Cantos do Rio.


CEMITÉRIO DO CAJU


Crematório

Covas rasas

À memória de minha mãe

Ala judaica (do tempo em que ainda não havia o Cemitério Comunal Israelita) na parte nordeste do cemitério. Ao contrário da maioria dos túmulos judaicos, despojados conforme a tradição, este ostenta uma escultura de Moisés segurando uma das tábuas da Lei. 

Não sei se existe uma história dos cemitérios do Rio de Janeiro. Quase todos foram abertos depois das hecatombes da febre amarela, a partir de dezembro de 1849. O do Caju é anterior. É o mais antigo da cidade. Foi instalado em 1839 por José Clemente Pereira, numa gleba comprada a José Goulart, para enterrar os indigentes e escravos até então sepultados nos terrenos de Santa Luzia, onde se ia erguer o atual hospital da Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro. Foi chamado Campo-Santo do Caju. Seu primeiro defunto foi inumado em 1840.

Em 1851 o nome foi mudado para o de Cemitério de São Francisco Xavier. Entretanto, não só persiste a antiga denominação, como ela entrou nas frases feitas. Assim, quando se diz — um dia, Pedro, irás para o Caju — quer dizer — um dia, Pedro, ai! de ti, também morrerás, e serás enterrado. Naquele ano o campo-santo é ampliado e juntaram-se às terras de José Goulart, as da antiga Fazenda do Murundu, de Baltasar Pinto dos Reis. Em 1858 desmembra-se o terreno que vai ser o Cemitério da Venerável Ordem Terceira da Penitência e em 1859 o que vai ser o Cemitério da Venerável Ordem Terceira do Carmo.


Essa vasta área corresponde, mais ou menos, ao que é hoje limitado pela Avenida Brasil, pelas Ruas Carlos Seidl, Indústria e Monsenhor Manuel Gomes e nela estão os quatro cemitérios [os três citados e o Cemitério Comunal Israelita], fábricas, depósitos e favelas; as ruas novas dos fundos das necrópoles; e o Hospital São Sebastião. Os aterros, em frente, fizeram desaparecer os cais [...]

Do segundo livro de memórias de Pedro Nava, Balão cativo.

CEMITÉRIO DO CATUMBI

Portal

Nichos (esquerda), capela do cemitério (direita) e o Corcovado lá atrás (sobre a extremidade direita dos nichos)

Jazigo perpétuo

Nichos no fundo do cemitério e Morro da Mineira atrás


Inaugurado em 19 de março de 1850, o cemitério de São Francisco de Paula ou cemitério do Catumbi, como é mais conhecido, foi o primeiro do Brasil construído a céu aberto destinado a não-indigentes. Antes, somente religiosos e ricos eram sepultados nas criptas das igrejas.


Na época, devido ao efeito devastador das epidemias na cidade do Rio de Janeiro, principalmente da febre amarela, foi construído com urgência o cemitério pela Ordem Terceira de São Francisco de Paula, com aprovação do Império. O resumo histórico e ilustrado da Ordem atesta a compra do terreno que pertencia ao proprietário Dionísio Orioste tendo sido lavrada em cartório pela Irmandade em 12 de maio de 1849.


De fato, já no primeiro ano, foram sepultados cerca de 3 mil corpos com morte provocada pela epidemia da febre amarela, além de 323 irmãos da Congregação, como atestam os documentos da Ordem. Em seguida foram para lá transladados cerca de 450 restos mortais, na sua maior parte da nobreza brasileira que estavam sepultados na igreja de São Francisco de Paula.


Do livro de Mauro Matos, Catumbi, um bairro do tempo do império. Você pode ler o livro em versão pdf clicando aqui.

CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA

Pórtico

Capela

Túmulo de Ary Barroso

Mausoléu da Academia Brasileira de Letras

Nelson Rodrigues



Em 1852 foi inaugurado o Cemitério São João Batista, historicamente importante por ter sido, junto com o do Caju, o primeiro da cidade a permitir enterros para pessoas de qualquer classe social. Até então pobres e ricos viravam pó em lugares diferentes — e em igrejas. Há um registro sinistro da "estréia" do cemitério: consta que era uma menina de apenas quatro anos, Rosaura.

Além de abrigar belíssimas obras em gesso, mármore e bronze, o São João Batista, sem dúvida, é o Père Lachaise carioca: estão enterrados ali, entre outros, Vicente Celestino, Evaristo da Veiga, José de Alencar, Benjamim Constant, Floriano Peixoto, Gustavo Capanema, Oswaldo Aranha, Machado de Assis, Ari Barroso, Nelson Rodrigues, Francisco Alves, Miguel Couto, o escultor Rodolfo Bernardelli, Luis Carlos Prestes, Carmem Miranda, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Cazuza, Clara Nunes, Chacrinha, Jardel Filho e Santos Dumont.


Do livro de Cláudio Henrique, Botafogo, pp. 51-2 (Coleção Cantos do Rio).

Visite também a postagem Cemitério São João Batista & Poemas Mórbidos no meu outro blog, o Sopa no Mel. Uma dica: O jornal O Globo de 22/9/14 publicou uma ótima matéria sobre os cemitérios do Rio. Para ler uma monografia de Ana Cristina Alves Gavinha sobre a história dos sepultamentos no Rio clique aqui.