ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

30.4.17

DOCUMENTO HISTÓRICO: TRECHO DO DIÁRIO DE BORDO DA EXPEDIÇÃO DE MARTIM AFONSO DE SOUSA QUE ESTEVE NO RIO EM 1531

Capa do vol. 24 da revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de 1973 que publicou o Diário da Navegação de Pero Lopes de Souza. É possível fazer download da revista no site do IHGB.

De 30 de abril até 1o de agosto de 1531 a expedição de reconhecimento da costa brasileira de Martim Afonso de Sousa permaneceu no Rio de Janeiro, que na época era o nome da Baía da Guanabara, supostamente considerada o estuário de um rio, já que a cidade em si ainda nem havia sido fundada. Durante a estadia enviou-se uma expedição ao interior que deparou com um "grande rei" indígena, que veio com ela até o Rio. A expedição também trouxe noticias da existência de "muito ouro e prata" no interior. Quem escreveu o diário da navegação foi Pero Lopes de Souza, irmão de Martim Afonso. A seguir transcrevemos o trecho do diário que narra a vinda de Cabo Frio ao Rio de Janeiro e a estadia de três meses aqui. 

Sexta-feira pela manhã nos fizemos à vela com o vento nordeste, indo sempre ao longo da costa três léguas dela, per [=por] fundo de cinquenta braças d’área limpa. O cabo do parcel [=recife], que jaz ao mar, se corre da banda do nordeste ao sueste, e da banda do sudoeste aloeste, e às parte a loessudoeste. Quando fui fora do parcel descobriram-se serras mui altas ao sudoeste. Ao meio-dia tomei o sol em vinte e dois graus e três quartos: ao sol posto fui com o cabo Frio: como foi noite amainamos as velas, e fomos com os traquetes [=vela que pende da verga inferior do mastro de vante] toda a noite. O cabo Frio se corre com o Rio de Janeiro leste oeste: há de caminho dezessete léguas.

Sábado trinta dias d’abril, no quarto d’alva, éramos com a boca [=foz] do Rio de Janeiro, e por nos acalmar o vento, surgimos a par de uma ilha, que está na entrada do dito rio, em fundo de quinze braças d’área limpa. Ao meio dia se fez o vento do mar, e entramos dentro com as naus. Este rio é mui grande; tem dentro oito ilhas, e assim muitos abrigos: faz a entrada norte sul toma da quarta do noroeste sueste: tem ao sueste duas ilhas, e outras duas ao sul, e três ao sudoeste; e entre elas podem navegar carracas [=navio mercante português de grande porte e longo curso]: é limpo, de fundo vinte duas braças no mais baixo, sem restinga nenhuma e o fundo limpo. Na boca de fora tem duas ilhas da banda de leste, e da banda d’aloeste tem quatro ilhéus [=ilhotas]. A boca não é mais que de um tiro d’arcabuz; tem no meio uma ilha de pedra rasa com o mar; pegado com ela há fundo de dezoito braças d’área limpa. Está em altura de vinte e três graus e um quarto.

Como fomos dentro, mandou o capitão J. fazer uma casa forte, com cerca por derrador; e mandou sair a gente em terra, e pôr em ordem a ferraria para fazermos cousas, de que tínhamos necessidade. Daqui mandou o capitão J. quatro homens pela terra dentro: e foram e vieram em dois meses; e andaram pela terra cento e quinze léguas; e as sessenta e cinco delas foram por montanhas mui grandes, e as cinquenta foram por um campo mui grande; e foram até darem com um grande rei, senhor de todos aqueles campos, e lhes fez muita honra, e veio com eles até os entregar ao capitão J.; e lhe trouxe muito cristal, e deu novas como no Rio de Peraguai havia muito ouro e prata. O capitão lhe fez muita honra, e lhe deu muitas dádivas, e o mandou tornar para as suas terras. A gente deste rio é como a da Bahia de todolos Santos; senão quanto é mais gentil gente. Toda a terra deste rio [Rio de Janeiro, ou seja, Baía da Guanabara] é de montanhas e serras mui altas. As melhores águas há neste rio que podem ser. Aqui estivemos três meses tomando mantimentos, para um ano, para quatrocentos homens, que trazíamos; e fizemos dois bargantins [=bergantim, tipo de veleiro] de quinze bancos.

Terça-feira, primeiro dia d’agosto de mil e quinhentos e trinta e um partimos deste Rio de Janeiro com vento nordeste. Fazíamos o caminho a loeste a quarta do sudoeste.

4 comentários:

Luiz Cláudio B. Portugal disse...

Parabéns pela postagem e pela divulgação do Doc. Muito interessante. Sigam firmes nos brindando com este tipo de publicação.

joaodoapex disse...

Muito bom.

Anônimo disse...

Excelente postagem Ivo Korytowski. Veja que existem dois tipos de Bergantim - o de velas e a remo. Este "de quinze bancos" acredito que seja a remo. A se notar o profundo conhecimento de náutica, marítima e de mapeamento dos "tugas". Rapaz, os gajos já sabiam de tudo! Então, quer dizer que P. A. Cabral chegou aqui "por acaso"? Nécas...

Amigos do Patrimônio Cultural disse...

Muito bom, Ivo!

Parabéns pela divulgação!

Abraço,

CLARINDO
Instituto Amigos do Patrimônio Cultural - IAPAC