A Rio Show da última sexta-feira fez uma matéria sobre a “estética da decadência”, especificamente, “ruínas que acabam servindo de ponto de partida para projetos novos”, sejam de cunho arquitetônico (Parque das Ruínas) ou cultural (ocupação da antiga fábrica da Bhering por ateliês e eventos).
A matéria, assinada por Gilberto Porcidonio e Paula Lacerda, dizia o seguinte (citação em azul):
Imagina se o cenário apontado por Caetano Veloso em “Fora de ordem”, quando canta “Aqui tudo parece que ainda é construção e já é ruína”, não fosse algo que está morrendo, mas, sim, nascendo. A ideia é pensar que a ruína seja o ponto de partida para a construção de algo positivo. Desse jeito, artistas e produtores culturais resolveram ocupar alguns cantos “abandonados” da cidade com uma programação cultural intensa.
A expressão “abandonados” está entre aspas porque, entre esses lugares, nem tudo é exatamente decadente. Tem o casario do Largo do Boticário, no Cosme Velho, precisando de recuperação urgente para não virar apenas memória, mas tem também o Parque das Ruínas, em Santa Teresa, que encontrou na estética que inclusive dá nome ao lugar o ponto de partida para um projeto de arquitetura arrojado. Tem ainda o Solar dos Abacaxis, no Cosme Velho, carecendo de apoio e verbas para resgatar a altivez do passado — e uma turma levando este projeto de recuperação como causa —; mas tem o antigo teatro do Cassino da Urca, que já no segundo semestre inicia as obras de restauro. E há a Fábrica Bhering, no Santo Cristo, que, do alto da ocupação de seus seis andares onde já funcionou uma fábrica de chocolates, consolida sua vocação artística:
— O edifício é velho, mas preservado. Somos uma senhora que envelheceu bem — brinca Ruy Barreto Filho, diretor da Bhering.
O que há em comum entre todos estes espaços, além dos tijolos aparentes e das paredes descascadas, é o fervo que faz a velharia virar mocinha: o cardápio inclui rodas de samba, exposições, peças, festas... Permitindo-se uma liberdade poética, por ali “tudo parece que é ruína e já é construção”.”
A fantástica fábrica de chocolates (e de café!) do Santo Cristo funcionou de 1934 até 1995, mas os cariocas só ficaram íntimos do espaço a partir de meados do ano 2000. Foi quando a construção de 18 mil m² passou a ter salas alugadas por artistas plásticos e designers, que montaram por ali seus ateliês e oficinas. Hoje, há mais de 70 espaços criativos espalhados pelos seis andares da antiga fábrica, com corredores adornados por antigas máquinas e um terraço com vista para a Zona Portuária. Depois dos ateliês, vieram atrações como a cervejaria Cevaderia, de rótulos artesanais, o Gabo Café, de comidinhas vegetarianas, livrarias, lojas de móveis... Todo primeiro sábado do mês, rola o Circuito Interno Bhering, com os espaços de portas abertas, food-trucks e música.
— Nossa ideia foi preservar o lugar estabelecendo um ambiente rico de trocas artísticas. A Bhering começou a se tornar referência neste assunto. Hoje, é um grande centro de entretenimento cultural e com o charme de sua arquitetura preservada e tombada pelo Patrimônio Histórico — diz Ruy Barreto Filho, diretor da Bhering.
Aproveitei que no sábado a fábrica receberia o Ocupação Cantão Belchior e o Queremos Festival Viver Bem e fui até lá dar uma conferida, mais cedo, pouco antes do início dos eventos. Consegui umas fotos interessantes que captam esse ar de decadência construtiva (além de comprar uma caixinha dos deliciosos toffees artesanais – foto acima – que a Bhering produz "com o mesmo apreço com que as doceiras de antigamente faziam seus kitutes", como consta na embalagem).
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Arte (não muito bonita) na Fábrica Bhering |
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Fábrica Bhering |
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Rua Orestes lá em baixo |
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Morro da Providência refletido na fachada do prédio |
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Interior da fábrica e telhado tipo claraboia |
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Uma galeria de arte dentro da fábrica |
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Janela para a Zona Portuária |
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Cobogós |
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Antigo maquinário da Fábrica Bhering |
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Janela |
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A chaminé e encosta do Morro do Pinto |
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No terraço |
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Artista |
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Telhado |
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Autorretrato na toalete |
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Escada |
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