Crônica de Manoel Carlos publicada originalmente na Veja-Rio de 28/01/09
Praia do Leblon com o Cristo ao fundo
Avenida Ataulfo de Paiva
Grafite
Sede do Flamengo
Por que o Leblon?
É o que algumas pessoas do bairro me perguntam, sempre que eu escrevo uma novela. Por que não Ipanema, Copacabana, Barra ou então Tijuca, Jacarepaguá, Vila Isabel, Gávea, Jardim Botânico... Enfim, por que não qualquer outro bairro do Rio? Por que o Leblon?
Alguns moradores fazem essa pergunta com simpatia e afeto. Mostram-se sorridentes, acarinhados e até envaidecidos com a minha escolha permanente. De outros, a indagação surge como um protesto, sempre acompanhada por um rosário de razões afeitas à cidadania, a começar pela queixa contra os caminhões da TV Globo, que deixam as ruas intransitáveis, tumultuando a vida dos moradores. E há também os que reclamam do alto preço dos imóveis – para comprar ou alugar –, por culpa minha, dizem eles, que valorizo o bairro na novela, fazendo parecer que aqui é o paraíso, onde não há violência, nem sujeira, nem descaso das autoridades públicas. Porém, no frigir dos ovos, estabelece-se uma divisão fifty-fifty: os que gostam e os que não gostam. Para os idosos, crianças, babás e seus bebês, a sensação é de festa permanente, de feriado ininterrupto. Ao lado disso tudo há, obviamente, violência, sujeira e descaso das autoridades públicas, como em todo o Rio e em quase todo o Brasil.
Mas a felicidade maior é mesmo dos paparazzi, que têm farto material disponível, com astros e estrelas desfilando, diariamente, nos restaurantes, bancas de jornais, farmácias, livrarias e cafeterias. Nos fins de semana – muitas vezes gravamos no sábado – há praticamente um tour de turistas domésticos, que circulam com câmeras fotográficas, perseguindo, numa boa, as celebridades globais.
É o que algumas pessoas do bairro me perguntam, sempre que eu escrevo uma novela. Por que não Ipanema, Copacabana, Barra ou então Tijuca, Jacarepaguá, Vila Isabel, Gávea, Jardim Botânico... Enfim, por que não qualquer outro bairro do Rio? Por que o Leblon?
Alguns moradores fazem essa pergunta com simpatia e afeto. Mostram-se sorridentes, acarinhados e até envaidecidos com a minha escolha permanente. De outros, a indagação surge como um protesto, sempre acompanhada por um rosário de razões afeitas à cidadania, a começar pela queixa contra os caminhões da TV Globo, que deixam as ruas intransitáveis, tumultuando a vida dos moradores. E há também os que reclamam do alto preço dos imóveis – para comprar ou alugar –, por culpa minha, dizem eles, que valorizo o bairro na novela, fazendo parecer que aqui é o paraíso, onde não há violência, nem sujeira, nem descaso das autoridades públicas. Porém, no frigir dos ovos, estabelece-se uma divisão fifty-fifty: os que gostam e os que não gostam. Para os idosos, crianças, babás e seus bebês, a sensação é de festa permanente, de feriado ininterrupto. Ao lado disso tudo há, obviamente, violência, sujeira e descaso das autoridades públicas, como em todo o Rio e em quase todo o Brasil.
Mas a felicidade maior é mesmo dos paparazzi, que têm farto material disponível, com astros e estrelas desfilando, diariamente, nos restaurantes, bancas de jornais, farmácias, livrarias e cafeterias. Nos fins de semana – muitas vezes gravamos no sábado – há praticamente um tour de turistas domésticos, que circulam com câmeras fotográficas, perseguindo, numa boa, as celebridades globais.
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Praça Antero de Quental
Mas, afinal, por que o Leblon? Será por causa dessa movimentação toda, desse circo a céu aberto que a televisão cria, mesmo já sendo o bairro, independentemente de novelas, o preferido dos famosos? Não, nada disso. A resposta é fácil, simples, cristalina: porque moro aqui. Transito pelas ruas do Leblon, a pé, todos os dias, conhecendo seus moradores, um a um, pelo menos de vista. Aqui também formei grande parte da minha família, já que tenho dois filhos e três netos leblonenses genuínos. Sendo assim, quando penso na história central de uma novela, é natural que eu a imagine desenrolando-se aqui, nestas ruas e praças, nestes bares e restaurantes. Na sua vida agitada sete noites por semana.
O Leblon é uma pequena faixa de terra cercada de beleza por todos os lados. Situa-se entre o mar e a Lagoa Rodrigo de Freitas, e sua extensão total cobre menos de vinte ruas transversais: da Avenida Borges de Medeiros à Avenida Visconde de Albuquerque. O bairro abriga endereços famosos, moradores célebres e o Flamengo da Marilene Dabus e de todos nós.
Quando saio do Rio, a curiosidade é especulativa, cheia de perguntas feitas com os olhos brilhando. Também imaginam que o bairro seja uma espécie de Manhattan, ilha da fantasia onde as celebridades circulam de camiseta, bermudas e Havaianas. Muita gente faz essa ideia do Leblon. Conheci uma moça em São Paulo que me fez prometer que, vindo ela ao Rio, eu lhe mostrasse a Clínica São Vicente.
O Leblon é uma pequena faixa de terra cercada de beleza por todos os lados. Situa-se entre o mar e a Lagoa Rodrigo de Freitas, e sua extensão total cobre menos de vinte ruas transversais: da Avenida Borges de Medeiros à Avenida Visconde de Albuquerque. O bairro abriga endereços famosos, moradores célebres e o Flamengo da Marilene Dabus e de todos nós.
Quando saio do Rio, a curiosidade é especulativa, cheia de perguntas feitas com os olhos brilhando. Também imaginam que o bairro seja uma espécie de Manhattan, ilha da fantasia onde as celebridades circulam de camiseta, bermudas e Havaianas. Muita gente faz essa ideia do Leblon. Conheci uma moça em São Paulo que me fez prometer que, vindo ela ao Rio, eu lhe mostrasse a Clínica São Vicente.
Avenida Ataulfo de Paiva
Rua General Urquiza, 133: neste endereço (mas não neste prédio) morei na infância.
Eu sentado no carro do meu pai; no fundo à esquerda, nossa casa na General Urquiza, 133
– Mas por quê? – perguntei eu.
– Porque é para lá que todos os artistas vão, quando ficam doentes ou quando simplesmente precisam fazer um exame, consultar um médico. Leio isso sempre nos jornais e revistas.
Não tive coragem de revelar que a Clínica São Vicente é na Gávea. Não quis lhe provocar essa decepção.
Criam-se lendas, inventam-se histórias, fantasia-se. Para mim é apenas o lugar onde eu moro e que amo de coração. Simples, quase bucólico. Parodiando Fernando Pessoa e seu Tejo, posso afirmar que:
"O Leblon não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele".
– Porque é para lá que todos os artistas vão, quando ficam doentes ou quando simplesmente precisam fazer um exame, consultar um médico. Leio isso sempre nos jornais e revistas.
Não tive coragem de revelar que a Clínica São Vicente é na Gávea. Não quis lhe provocar essa decepção.
Criam-se lendas, inventam-se histórias, fantasia-se. Para mim é apenas o lugar onde eu moro e que amo de coração. Simples, quase bucólico. Parodiando Fernando Pessoa e seu Tejo, posso afirmar que:
"O Leblon não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele".
Prédio em estilo neocolonial na General Urquiza
Bonito prédio na General Urquiza
General Urquiza: aprazível como no meu tempo de criança
Rua Desembargador Alfredo Russel, 160
A placa já diz tudo
Prédio em estilo normando na Praça Baden Powell
Orelhão & calor
Canteiro
Pizzaria Guanabara
Moderno e pós-moderno na Rua Aristides Espínola
Painel de pastilhas na esquina da Aristides Espínola com Gal. San Martin
Mirante do Leblon
Pescador
Zózimo contempla a Praia do Leblon
Chalés à rua José Linhares
Rio Design Center
Fotos do editor do blog (exceto aquela em preto-e-branco).
13 comentários:
O Leblon é um caso a parte no Rio. Eu adoro o Leblon, é um clima de cidadezinha pequena, mas tão bem desenvolvida, que dá vontade de ficar por lá o tempo todo. A praia do Leblon é a que eu mais freqüento; não tem outra melhor. É muito sossego!
Não é à toa que todos querem morar no Leblon!
O Leblon fez parte da minha vida, mas meus pais empurrados pela carestia vieram para Petrópolis, saudades do meu prédio que não existe mais, saudades das pizzas do Guanabara e da batata frita do BB lanches,saudades dos docinhos da Colher de Pau (Rita Ludolf) e do colégio que trabalhei antes de terminar o curso normal, O St. Patricks.
Ivo obrigada pelo premio, já vou devorar os livros, e por favor tire uma foto da Jerônimo Monteiro, por favor....
Obrigada
Beijos da amiga que te ama,
Moira
Como é bom voltar a esse blog...faz matar a saudade do Rio que amo.
Por que sempre o Leblon?
Acho que a audiência das novelas do Maneco deveriam se restringir ao Leblon. Ele escreve novelas somente para eles, então que tenha uma audiência do tamanho do Leblon.
O Brasil é enorme? E Porto Alegre? Belo Horizonte? Salvador? Maceió?
O Rio é lindo, mas a TV e infelizmente os seus profissionais restrigem o seus universos apenas ao Rio e São Paulo. Uma pena!
Ambientar novelas em outros lugares, com certeza fugiria da mesmice que impera nos folhetins, que ainda são embalados pelas mesmas bossas nova e etc
Esse é o Leblon...
Só não gosto de Manuel Carlos
Mas tá valendo
Simplesmente "Maravilhoso" seu blog. Sou cearense nato, mas o Rio sempre me despertou uma paixão que só Deus explica... Sou apaixonado pelo Rio e no seu blog simplesmente viajei... Parabéns... (comentário enviado por e-mail)
Prezado Ivo, tem razão o Manoel Carlos: o Leblon ainda tem um clima quase interiorano muito gostoso. A Rua Gal Urquiza para a qual ele deu destaque, é a rua que mora o meu irmão há muitos anos; não preciso nem dizer que tbm ama o bairro com fervor.
Linda a complementação do texto da VEJA.
O amor pelo Bairro do Leblon é tão grande que fizemos um site AMOLEBLON www.amoleblon.com.br
Que fotos lindas! Quantas saudades! Morei de 1950 a 1964 no Leblon, no último prédio da Rua General Urquiza
creio que o número era 365, do lado esquerdo, junto à escadaria. Era um pequeno prédio, de 4 andares, e em frente havia outro prédio, que eu vi ser construído. Muitas crianças, adolescentes, era um trecho de rua muito movimentado, muito alegre, uma época inesquecível Tenho inclusive uma foto em que aparece a escadaria e parte do meu prédio. Foi tirada por volta de 1961. Nunca mais voltei lá, mas se o fizesse a emoção seria enorme. Moro em São Paulo desde 1970. Meu e-mail raulcoutinho@ig.com.br
Se alguém da minha a´poca ler este comentário, por favor entre em contato comigo.
O Mirante do Leblon, chamava-se na minha época (anos 50) de Sétimo Céu.
Devo ter conhecido o menino que morava no 133 da General Urquiza. Quase em frente ao 133 morava o Oscar, meu amigo, numa bela casa. O pai do Oscar era dono de uma lotérica. Numa transversal da Gal Urquiza morava uma família de suecos, tinha uma menina loirinha chamada Gunila, muito linda, que nós paquerávamos, sem resultado. Perto morava o Baleeiro, filho de um importante jurista e político. Ficaria o dia todo aqui recordando, são muitas saudades. Se eu tivesse uma máquina do tempo tudo bem. Tenho uma foto tirada jogando bola com um amigo meu já falecido, bem perto da escadaria no fim de General Urquiza, em frente ao meu prédio. Ela está à disposição deste Blog. Abraços, raulcoutinho@ig.com.br
Oi:
Bacana o blog!
Realmente tal bairro (como OUTROS INCLUSIVE) têm seus charmes/suas histórias...
Também nasci no RJ - só que desde 1995 resido na capital gaúcha; outra cidade encantadora... Menor/menos violenta que o Rio, só que tem problemas de cidade grande também.
Morei na Rua Professor Arthur Ramos de 1975 a 1988 (pelas fotos muita coisa mudou!)... Depois fui para o JB. Estudei no COLÉGIO SAINT PATRICK´S e em outras escolas do mesmo bairro. Aquela zona perto do ex-quartel? e da escadaria é bonita mesmo... Só que perigo é apelido para mencioná-la.
Ia muito na PRAÇA ANTERO DE QUENTAL; conheci muita gente do bairro. Imagino que o supermercado SENDAS ainda exista - quem nunca foi com seus pais fazer compras á noite e considerar tal atividade uma aventura? Como ir em shoppings/outros locais. Só que quando conhecerem os supermercados daqui imagino que não queiram voltar mais (perdoem-me a modéstia... Sendo conhecido como CHEIO aqui no RS!).
Outro bairro que acho super interessante é a URCA. Ia muito com a família passear de carro, até em passeios escolares: basta rever produções antigas (novelas/afins0para recordar de tais coisas.
Outro bairro que chama atenção e que na minha opinião é PESADO/FORTE mesmo: COPACABANA, um mundo aquilo lá! Ia em alguns compromissos quando criança e difícil não lembrar...
Encerro minhas lembranças nostálgicas senão precisarei de outros espaços para comentários (rs).
Saudações cariúchas,
Rodrigo O. Rosa
* Concordo com uma pessoa aqui... Chega do tal MANECO! Por que tal não aborda outros bairros ou outras cidades? O Brasil tem muito o que ser aproveitado...
Boa tarde:
Tal bairro tem sua peculariedade mesmo...
Só que como uma parte da cidade_tem seus problemas!
Uma das vantagens é POR SER PLANO (pelo menos a MAIOR PARTE); pois pelos lados da SAMBAÍBA - pirambeira pura (alias esta parte seria a minha predileta).
Em relação a imagens daqui: lembro do endereço da GENERAL URQUIZA 133, pois morei na ARTUR RAMOS tempos. Havia uma CASA GRANDE e um portão metálico cinza... Onde um homem cuidava de lá. Imagino se este me visse hoje e me reconhecesse! Eu andava de bicicleta em 1985 (bons tempos!) por tais ruas e até cruzava tal esquina... Pensava que não daria de cara com ninguém e uma vez fui e acabei sendo desviado por um pedestre e pechei com uma árvore (risos).
Numa outra de um EDIFICIO EM ESTILO NEOCLÁSSICO - conheço um casal que lá reside que são donos da VIDRAÇARIA TOWER; pois a esposa era amiga da minha mãe. Aliás, eles moravam no edifício antigo ao lado: grande mudança mesmo! E quem lá residia há muito tempo era a reporter ILZE SCAMPARINI...
E numa imagem de um belo prédio da PRAÇA BADEN POWELL_quem morava lá era o músico EDU LOBO.
Lembro que havia (ainda há?) uma FEIRA NA G. URQUIZA... Coisas boas eram encontradas/existiam lá.
E difícil esquecer do extinto COLÉGIO PATROPI; parece que quando faliu - todos que tinham a ver com tal FORAM PARA O STELLA MARIS (meio que longe).
TUNEL DO TEMPO mesmo.
Até,
Xalopi (POA)
... Cacimba!
Algum retorno poderia haver aki.
Querer GANHAR (no caso PERDER) muito bom.
E DIREITOS AUTORAIS nas gravuras.
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