ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

17.6.16

MORRO DO PINTO no SANTO CRISTO II

O MORRO DA JULES RIMET, CRÔNICA DE JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS PUBLICADA ORIGINALMENTE EM O GLOBO DE 30/6/2014. FOTOS DO MORRO DO PINTO TIRADAS EM 16 DE JUNHO DE 2016 PELO EDITOR DO BLOG.

Dizem — pode ser lenda urbana, pode ser a força de imaginação carioca —, dizem, na esquina das ruas Farnese e Mont’Alverne, que o morro é urbanizado assim porque Getúlio Vargas tinha uma amante na Rua Deolinda.

Torre da antiga fábrica Bhering aos pés do Morro do Pinto

A confirmar.

O Morro do Pinto é o da música do Geraldo Pereira, aquele em que o Escurinho — depois de ir ao Morro da Formiga procurar intriga, ir ao Morro do Macaco pra bater num bamba —, no final de seu périplo sincopado pelos morros do Rio, o Escurinho malemolente vai ao Morro do Pinto acabar com o samba.

Do Morro do Pinto dá para ver o Maracanã ao longe (centro esquerda, abaixo das bases dos morros). E os arranha-céus novos que  vão surgindo no Porto Maravilha

Pois eu, que não sou esse escurinho todo e quero mais que o samba peça passagem e vá em frente — eu tenho ido ao Morro do Pinto, no Cais do Porto, no intervalo de um jogo e outro da Copa. Vagueio sem rumo, na esperança de relaxar a hemoglobina e apascentar as hemácias, essas senhoras sanguíneas que me têm sido tão cruéis. Flano ao léu, zero o QI, os olhos cheios de uma cidade que poucos conhecem.

Travessa Sousa

Há quem enfrente a fila do bondinho do Corcovado para lá de cima observar a Zona Sul. Nada contra, mas quem ainda não colocou o cenário como pano de fundo num selfie do Instagram?

Eu tenho preferido entrar pela Rodoviária, pegar o Santo Cristo, subir a Rua Sara, atravessar a esquina com a Orestes, galgar a escadaria da Carlos Gomes, dobrar à direita na Rua do Pinto, entrar no Parque Machado de Assis e ficar lá de cima, embasbacado com o que vai embaixo — o avesso de um cartão postal que o mundo inteiro vem ver e a própria cidade desconhece. No canto esquerdo do olho, o prédio da Central; no direito, as antenas do Sumaré; no meio, 450 anos de história.

Coreto

O Morro do Pinto é um daqueles paraísos que o carioca desperdiça diariamente, preguiçoso de sair do seu quarteirão e descobrir que a cidade é maravilhosa não só por causa das curvas do Aterro, das curvas das garotas e das curvas das pedrinhas no calçadão. O Rio não entende o Rio, acha que isso aqui é só sal, sol e sul. Faz a curva no fim do calçadão do Leblon e volta para casa, crente que viu tudo o que interessa.

Igrejinha de Nossa Senhora de Montserrat, que os cariocas costumam ver de longe, da Av. Presidente Vargas, mas poucos sobem o morro para ver de perto

Eu lamento a falta de curiosidade do carioca ixperto, sempre nos mesmos engarrafamentos humanos e águas de coco, mas não perco tempo com isso. Sigo no caminho que mestre Jaguar ensinou, o de ir na contramão do turismo e das multidões, rumo ao âmago do lepo lepo, ao fundo do BIP-BIP, a Busca Insaciável do Prazer.

Troto ladeira acima do Morro do Pinto, vizinho do Morro da Conceição e da Providência, feliz como cabrito que foge do zoo congestionado das calçadas da Zona Sul. Passo pela esquina do bloco Pinto Sarado, cruzo com a arquiteta Bel Lobo, que tem um ateliê na fábrica da Bhering, e paro no hambúrguer do Omar, o Troisgros local.

Tranquilidade

Da varanda, cercado pelo canto dos galos, eu agora escorrego a vista por uma outra região da cidade, e varro as chaminés de São Cristóvão, os guindastes do cais do porto, as torres da Igreja da Penha e, nos dias mais claros, a unha rochosa do Dedo de Deus. Alguém na mesa ao lado conta a incrível história do bandido Zé Piroca, morador da Rua Sara, o soldado maluquete que um dia subiu o morro pilotando um tanque roubado do quartel da Quinta da Boa Vista.

Vista para a via férrea com a sombra do fotógrafo abaixo

Pode ser lenda urbana, mais uma conversa de bar, mas é disso também, de adoráveis assombrações, que se faz uma cidade. Fato indiscutível é que foi derrubada a casa do Seu Normando, na Rua Deolinda, onde, nos anos 70, Zeca Pagodinho e Beth Carvalho abriam a roda.

Velho bar

Os mais viajados vão achar que estão subindo as ladeiras da Alfama, o bairro de Lisboa — e há bandeiras de Portugal nas janelas, memória evidente de que antes de Getúlio, antes do Escurinho, o Morro do Pinto foi ocupado pelos portugueses no século XVIII. Eu, com menos milhagens, acho que estou de volta ao subúrbio, a uma foto do Malta ou a um maxixe do Sinhô. “Isso aqui é o melhor lugar do Rio para se criar marreco” — diz um morador, numa tradução ao carioquês de que ali há paz.

Chalé
Eu respondo com um “amém”, passo pelo coreto da Igreja de N.S. de Montserrat, peço contrito que tudo fique como está e mais adiante, ainda na Rua Mont’Alverne, dou um tempo no Bar do Carlinhos para ouvir o compositor local Carlos Gomes de Oliveira. Ele canta, de sua autoria, conforme atesta documento lavrado em cartório, o samba “Para pegar o caranguejo é preciso molhar a mão na lama”. Ao fundo, na gaiola, um papagaio parece gritar disparates contra a especulação imobiliária que, alimentada pelas obras do Porto Maravilha, começa a subir o Pinto.

O gato na moto

Para não dizer que fui ao morro e perdi a Copa, de um dos mirantes vê-se o Maracanã. E ainda conto mais sobre o grande torneio internacional que nos acomete: nos anos 1980, em uma das fundições da Rua Capiberibe, outro maluco do bairro, o Peralta, derreteu a Taça Jules Rimet, roubada com dois comparsas.

Casas com fachadas de azulejos tombadas pela Prefeitura na Rua Farnese

Não é uma história muito edificante em meio a tantas ladeiras gloriosas — mas este é o Morro do Pinto. A Taça do Mundo acaba aqui.

Sacada

OBRIGADO POR VISITAR MEU BLOG. Clique no label "Morro do Pinto" abaixo para ver outras postagens neste blog sobre esse aprazível morro da Zona Portuária carioca. E veja meu vídeo sobre a visita que fiz ao morro:


37 comentários:

Valter Santos disse...

É uma pena que a fiação nos postes prejudique a beleza da arquitetura dos antigos prédios.

Unknown disse...

E isso aí lugar bom pra marreco e Pato dágua 64 anos de morro do pinto feliz como pinto no lixo

Unknown disse...

Lugar excelente para se morar passei oito anos da minha vida nesse morro aonde fiz amigos de verdade aquele abraço aos amigos do morro do pinto

Unknown disse...

Espetaculo so que. Nasceu na saude como eu.berco do rio.

Unknown disse...

So quem nasceu e ama o lugar.berco do rio

Anônimo disse...

Reza a lenda que a Jules Rimet foi derretida na antiga Fundição Zani, localizada na Rua Capiberibe. Meus avós sempre contaram essa história, por morarem na mesma rua a época do acontecimento.

Unknown disse...

No Bairro de Santo Cristo, existe até hoje um dos Blocos Carnavalesco mais antigo. Fala Meu Louro seu primeiro desfile foi em 1919, pela Rua da América, onde o grande compositor Sinhô estava sempre presente.
O Bloco só foi registrado em 1938 por exigência da polícia. Mas nasceu em 1919.

Unknown disse...

Esqueceram de falar do Elvis um dos melhores Bodysurfers do país que morou lá.

Anônimo disse...

Morro do Pinto ! Quem nunca curtiu um Bloco do Pinto Sarado ou se perdeu pela folia do BdS ? 2019 Estarei presente !

Maria Ribeiro disse...

Então vamos mais além,do bloco independente do Morro do Pinto,Eles que diga ,hoje não moro mais la mais nasci e me criei no Morro do Pinto
E hoje nós temos um jovem talento sambista Enzo Belmonte.Morro bom esse dela eu vejo Cristo Rentor relógio da Central marcar a hora de ver o meu amor

Unknown disse...

Morei no morro do pinto nós anos 70 a 90, muitos amigos deixei por lá, tempo que não volta mais, saudade!

HELOISA RITA DE CASSIA BITENCOURT disse...

Que saudades sinto desse morro, que foi meu berço!! Descia a ladeira da Moreira pinto,do outro lado do morro,feliz da vida,sentada em papelão!! Amo esse lugar!! Quem me dera voltar a morar la!! É la que eu quero morrer!!����

black pont soul disse...

Eu faço parte desse acervo primeira associação de surf de peito do santo Cristo, Elvis,Birro,Poder,verminho,Bal, espigão, Wanderley,waldeis,rico,gilber Gilberto gorock,Paul,Kiko,badalada,Paulo rato, camarão,BA,gata russa entre outros que não me lembro.

Unknown disse...

Muito emocionada, foto da minha sogra na porta de casa, e o lugar onde minhas filhas foram criadas. Muitas lembranças boas. Parentes ainda morando lá!❤

Marcelo. Bat disse...

Parabéns pela matéria contada. Nascido e criado na João Cardoso. Realmente

Unknown disse...

Eu fui esposa do Zé piroca , na época no final de 1979 ele era apenas um rapaz trabalhador, e muito legal com todos, tenho saudades do tempo em que ia as festas da igreja de nossa senhora de Montserrat, a onde costumava namorar o Zé nas festinhas foi muito bom.

Kimura&Jesus.comvoce disse...

Tenho muita saudade desta história!
Poder fou meu amigo e espiração pro esporte!
Sou o buda sã da maritima não saia da área de lazer e do clube del'mare!

Kimura&Jesus.comvoce disse...

Vocês não saião da minha casa na maritima, sou o kimurinha, Wellington filho do seu Kimura!

Kimura&Jesus.comvoce disse...

Joguei muito volei contigo e o Maguila rapá. Aqui o buda sã!

Kimura&Jesus.comvoce disse...

Namorei a Angela portuguesa irmã do George portuga nossa que saudade!

Unknown disse...

Que nunca participou do circuito do Morro do Pinto. Saudades de minha infância

Anônimo disse...

Fui nascido e criado no Morro do pinto e tbm sinto saudades desse lugar do qual tive a infância maravilhosa.

Anônimo disse...

Sou cunhado da Soraya irmã do ze'piroca ,ze' era muito gente boa e sinto saudades do Morro do pinto do qual passei a minha infância maravilhosa.

Maurício disse...

Santo Cristo dos bailes do cessp pop rio discoteca.

Unknown disse...

Minha infância e juventude foi neste bairro no qual eu adoro ate hoje. + infelizmente o índice decriminalidade se espandiu. + PARA MIM E O BAIRRO QUE EU VOLTARIA AMORAR STO. CRISTO INESQUECIVEL.

Unknown disse...

Excelente matéria!! Saudade do Morro do Pinto onde nasci, cresci e vivi durante mais de 20 anos. Hoje quando vou visitar minha família, infelizmente vejo que a criminalidade e violência tomou conta do lugar! Saudade da época que ficávamos na área de lazer até tarde e todos podiam sem medo brincar e andar nas ruas.

Anônimo disse...

Morei na João Cardoso de 1970 aos 10 anos até 1995 quando sai do.morro. De vez em quando volto pra rever os.amigos. Estudei no Benjamin Constant, General Morre, ia na POP Rio no Cesp, joguei vôlei na área de lazer, enfim curti.muito o bairro.

Cláudia Pereira disse...

Caráscole! Nasci na Rua Sara 90. Neta da S. DENERY que benzia e filha do Henriques. Saudadesss! Morei até os anos 90 ai. Que matéria bacana!

Anônimo disse...

Morei na Rua do Pinto e na Dr Piragibe. Frequentei muito o Del Mare e o Dramático, joguei muito futebol de salão nas suas quadras. Conhecí o Peralta e ganhei muitos ingressos de jogos quando ele trabalhava na CBF. Saudades desse lugar maravilhoso.

Unknown disse...

Ai! Que saudades desse tempo! Tempo que vivíamos sem medo da violência! Torço para que essa epoca volte!

Ssobrinho disse...

Fiola era a grande atração da corrida. Isso era um grande evento prá nós dessa época. Outros grandes eventos eram a festa junina e o carnaval. Álvaro Polícia grande organizador desses eventos. Meu avô!!!

Ssobrinho disse...

A tradicional corrida pelo Morro, tinha como grande atração o morador Diola. Outros grandes eventos eram a festa junina e o carnaval. Álvaro Polícia era o responsável por isso. Meu avô!!

Ssobrinho disse...

*Fiola era o nome dele.

Ssobrinho disse...

*Fiola era o nome dele.

Unknown disse...

Aviso para quem não conhece o morro do pintor. AREA DE GRANDE RISCO. Não se arrisque indo lá. Fui trabalhar e morar e lá em 1950. Tenho parentes morando lá. Não tenho coragem de subir o morro. Está tomado por bandidos

Anônimo disse...

Morei lá desde que nasci até me casar e não reconheço mais o lugar. Tomado por bandidos armados, se drogando em plena luz do dia . Não sinto nenhuma Saudade e se pudesse nunca mais pisaria nesse lugar.

Unknown disse...

Boa noite a todos.
Atualizando um pouco o pessoal, o morro anda bem diferente. Hoje existe um posto policial ao lado da capela de Mont Serrat. Não é bem como era...
E gostaria que a colega que foi esposa do Zé Piroca pudesse esclarecer esta lenda: ele roubou mesmo o tanque??? Ou é só mais uma das histórias do Morro do Pinto? Hahahaha.
Sou morador e venho coletando e escrevendo alguns textos sobre o morro. Já são dois no Facebook. Caso queiram saber mais,procurem a página do Coletivo MP.
Forte abraço.