TEXTO DE HELOIZA GOMES PUBLICADO NA VEJA-RIO DE 20/11/2015. FOTOS E
VÍDEO DO EDITOR DO BLOG.
No domingo (29), a partir das 10 horas, o carioca tem um encontro
marcado com suas raízes. É que nessa data será inaugurada a Casa do Jongo, que
servirá de sede para o Grupo Cultural Jongo da Serrinha, criado há cinquenta
anos em Madureira. A festa terá lavagem da Rua Compositor Silas de Oliveira
(onde fica o estabelecimento), com líderes de diversas religiões, café da manhã,
rodas musicais e apresentação da orquestra de alunos da UFRJ. Tudo, é claro, ao
som do jongo.
O imóvel, doado pela prefeitura do Rio em 2013, fica no pé do Morro
da Serrinha, local de resistência do gênero musical. Afinal, foi lá que, na
década de 60, Mestre Darcy do Jongo (1932-2001), ao ver que a batucada e as
danças corriam o risco de desaparecer, convidou algumas jongueiras, como Vovó
Teresa (1864-1979) e Djanira do Jongo (1934-1995), para passar seu conhecimento
às novas gerações — até então, por tradição, o jongo podia ser dançado somente
por idosos. Estava então formado o grupo Jongo da Serrinha, com a missão de
perpetuar o misto de dança e cantigas (chamadas de pontos) nascido na África.
O jongo, ou caxambu, como também é conhecido, chegou ao Brasil por
meio dos negros de origem bantu, trazidos como escravos para trabalhar nas
fazendas do Vale da Paraíba, Minas Gerais e São Paulo. Nessa época, só tinham
permissão para se manifestar nos dias dos santos católicos. Na prática, o jongo
é constituído de dança de roda e de cantigas de frases curtas, entoadas por um
solista, cujo refrão é respondido pelo restante do grupo. A natureza, a
opressão e o cotidiano são alguns de seus temas.
Com a abolição da escravatura, os ex-cativos migraram para o Rio e,
com o tempo, foram se instalando nos morros cariocas, como São Carlos,
Salgueiro, Mangueira e Serrinha. A partir da década de 30, no entanto, a
prática foi desaparecendo, e o único local a manter a tradição foi o Morro de
Madureira. Foi graças aos jongueiros do bairro que o gênero sobreviveu e, em
2005, foi tombado como o primeiro bem imaterial do Estado do Rio de Janeiro.
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