ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

19.11.16

DESAFIO AOS LEITORES: RIO OU LISBOA?

Claro que Lisboa e Rio de Janeiro são cidades diferentes, uma é europeia, a outra é tropical, uma é uma pacata cidade de meio milhão de habitantes, a outra é uma megalópole com mais de 10 milhões (região metropolitana) e todos os problemas de uma metrópole latino-americana. Mas ao visitar os bairros mais antigos nas colinas da simpática capital lisboeta houve momentos em que senti certa familiaridade com bairros mais antigos nas colinas cariocas, Morro da Conceição, Outeiro da Glória, Santa Teresa, como descrevo no meu diário de viagem que você pode ler na íntegra clicando aqui (Lisboa está no finalzinho do diário).

Agora lanço um desafio aos queridos leitores, uma espécie de “brincadeira”. Aqui estão vinte fotos de Lisboa e vinte do Rio, embaralhadas. Você vai ter que dizer quais são as fotos de Lisboa e quais são as do Rio. Mande sua resposta para ivokory@gmail.com. O prazo para as respostas é 20 de janeiro, dia do nosso padroeiro. As pessoas que acertarem mais fotos concorrerão a quatro lindos prêmios: dois exemplares do livro de capa dura 450 maneiras de amar o Rio editado pela Prefeitura nas comemorações dos 450 anos da cidade e dois exemplares do meu livro Sopa no Mel. Portanto, mãos à obra. As respostas e lista de vencedores serão publicadas aqui no dia 21/1/17.

LISTA DE VENCEDORES:
Primeiro lugar: Luiz Marcello G. Ribeiro, que conseguiu a proeza de acertar todas as 40 fotos, mostrando seus excelentes conhecimentos tanto do Rio quanto de Lisboa. Quando, movido pela curiosidade, indaguei onde os havia adquirido, respondeu: "são bem mais de 30 anos de idas e vindas, estudando e curtindo ambas as cidades. Posso dizer q as conheço bem, e essa dinâmica de prospectar lugares me atrai bastante". PARABÉNS!!!

Segundo lugar, empatados, com 4 erros cada: Raul Félix de Sousa e Maria Lídia Boulain Elbling.

Terceiro lugar, empatados, com 6 erros cada: Mário Pires e Lucilia Silva.

As respostas podem ser consultadas clicando aqui. Mas antes de ir lá, veja quantas fotos você consegue acertar!

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14.11.16

MAJOR ARCHER, UM PIONEIRO NA LUTA CONTRA O DESMATAMENTO

A Floresta da Tijuca, no coração do Rio de Janeiro, a maior floresta urbana do mundo, resultou do primeiro grande projeto de reflorestamento da história universal, iniciado em 1862. Em um dos capítulos do Volume III de O Velho Oeste Carioca, livro sobre a ocupação da Zona Oeste do Rio de Janeiro, André Luís Mansur conta a história desse projeto. Transcrevemos a seguir trechos do capítulo.


Dono da Fazenda Independência, em Guaratiba, o major Manuel Gomes Archer foi um pioneiro na luta contra o desmatamento, um tema comum neste início de século XXI, mas que há 150 anos não estava entre as pautas de nenhum programa de governo. Cortar árvores, sem a menor preocupação com reflorestamento, era uma prática normal no Brasil, aliás inaugurada desde a chegada dos primeiros portugueses ao nosso litoral, e também de corsários franceses nas primeiras décadas do século XVI, que negociavam com os indígenas as toras de pau-brasil, num método tão destrutivo que a espécie que daria nome à colônia foi praticamente extinta do litoral.
         

A Floresta da Tijuca, um dos maiores patrimônios ambientais do Brasil, também passou por um processo de devastação, devido à expansão da lavoura cafeeira, que atingiu o seu auge na segunda metade do século XIX. Foi graças ao empenho pessoal do imperador D. Pedro II, enfrentando interesses de donos de sítios na floresta, que o major Archer recebeu carta branca para realizar o primeiro trabalho de reflorestamento de grande porte de que se tem notícia no Brasil. [...]
Manuel Gomes Archer nasceu em 21 de outubro de 1821. Era major da Guarda Nacional, uma força paramilitar criada no Império para suprir a falta de um exército profissional. Em sua fazenda de Guaratiba, Archer mantinha muitas mudas de espécies nativas, que acabariam sendo usadas no replantio da Floresta da Tijuca.
         
A portaria imperial, nomeando Archer administrador da Floresta da Tijuca, foi assinada em 18 de dezembro de 1860, mas as primeiras mudas só foram plantadas em 4 de janeiro de 1862. Ele se instalou no Sítio do Midosi. "O major Archer proibiu terminantemente a derrubada das poucas árvores que ainda restavam, e proibiu o comércio lucrativo de carvão vegetal que era realizado em todas as partes das montanhas. Ele trouxe sementes de sua propriedade rural em Guaratiba para plantá-las na região, fez viveiros de plantas selecionadas e transplantou as mudas. (Parque Nacional da Tijuca, de Luis Alexandre Franco Gonçales).
         
Monumento a Constantino, Eleutherio, Leopoldo, Manoel, Matheus e Maria, escravos do Major Archer no reflorestamento da Floresta da Tijuca, e a Sabino, Macário, Clemente, Antonio e Francisco, escravos de Thomas Nogueiro da Gama no reflorestamento das Paineiras. A cidade agradece.

Já em 1862, foram plantadas 13.817 árvores, trabalho feito não apenas por seis escravos, como se imaginava, mas também por uma equipe que incluía um feitor, operários, guardas, serventes e empregados incumbidos de abrir e conservar caminhos. Os seis escravos que trabalharam no reflorestamento só foram admitidos a partir de 1964: Constantino, Eleutério, Leopoldo, Manoel, Matheus e Maria. Até o fim do trabalho, em 1874, foram plantadas 61.852 mudas de árvores de diversas espécies, como pau-brasil, nogueira, palmeira, goiabeira, eucalipto etc. O trabalho teve continuidade pelo Barão d´Escragnolle, que ficou no cargo até 1888, quando morreu.
         
O prestígio de Archer, que após o imenso trabalho feito na Floresta da Tijuca, voltou para sua fazenda, em Guaratiba, manteve-se intacto junto ao imperador, que o convidou para a Exposição Mundial da Filadélfia, em 1876, comemorando o centenário da independência dos Estados Unidos, e em 1877 o nomeou superintendente da Imperial Fazenda de Petrópolis, com o objetivo de reproduzir, nos morros da região, também já bastante degradados, o trabalho feito na Tijuca. Em Petrópolis, o problema do desmatamento era causado principalmente pela extração da madeira, seja para a construção das casas, ou para o comércio de lenha e carvão.


LIVRARIAS QUE VENDEM OS LIVROS DE ANDRÉ LUÍS MANSUR:

- Livraria Arlequim, no Paço Imperial.
- Livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor, 37.
- Banca de jornais da rua da Quitanda, em frente ao número 50.
- Blooks, na Praia de Botafogo.
- Livraria do Instituto Pereira Passos perto do Largo do Machado.
- Café & Pauta do Botafogo Praia Shoppping e do Boulevard Rio Shopping.
- Livraria Leitura, no Park Shopping, em Campo Grande.
- N & R Restaurante, em Santa Cruz.
- Fernando´s Bar, na Pedra de Guaratiba.
- Lado Oeste Cervejas, em Campo Grande.
- Bar Chopp da Villa, em Campo Grande.
- Livraria Real Engenho, em Realengo.
- Restaurante Don Ganache, em Marechal Hermes.
- Livraria Moviola, em Laranjeiras.
- Sebo de Campo Grande, em Campo Grande.
- Banca Dá Poesia, na pra 7 de Abril, em Paciência.
- PubBeer Paciência.
- Café Consenso, em Pedra de Guaratiba.

5.11.16

OUTEIRO DA GLÓRIA: ILHA DE BELEZA E TRANQUILIDADE

Tem certas áreas ou bairros onde a gente só vai para fazer algo específico, mas não visita como um todo: por exemplo, na Ilha do Governador, a gente só vai ao Aeroporto Internacional. No entanto, a Ilha ocupa uma área com quase o tamanho de toda a Zona Sul carioca (veja no Google Maps) e abriga catorze bairros. Quantos deles você já visitou? O Rio Comprido a gente só atravessa de carro sobre o elevado. É bem verdade que o bairro ficou desfigurado com esse mostrengo. Na Urca a gente só vai até a estação do bondinho, mas não penetra nas entranhas do bairro. E no Outeiro da Glória só sobe até a famosa igreja colonial (que já foi objeto de postagem deste blog que você pode ler clicando aqui), sem imaginar que existe muito mais coisa por lá. Trata-se de uma espécie de "miniSanta Teresa", um desses morros (dos quais outros exemplos são os da Conceição e do Livramento) que foram ocupados antes do “bota-abaixo” do Pereira Passos, portanto antes da tendência de favelização das encostas. 

O Outeiro da Glória tem escadarias, becos, calçamento pé-de-moleque, muros de pedra, vistas do Corcovado e até do Pão de Açúcar, chalés, casas neocoloniais, casarões vetustos, etc. Eu mesmo ignorava esse "oásis" onde a modernidade não chegou até ler um artigo publicado no finado Jornal do Brasil em 8 de outubro de 2007, intitulado “Outeiro esconde ilha de beleza e tranquilidade na Glória”, que guardei e do qual citarei alguns trechos abaixo. Na época do artigo planejei fazer uma postagem sobre o morro que só agora, nove anos depois, vem a lume. 

Caso queira fazer o mesmo percurso que eu, pegue a escadaria à esquerda do ex-prédio da Manchete na Praia do Flamengo (ver aqui), quando chegar no alto siga a Ladeira do Russel à direita até deparar com uma íngreme escadaria à esquerda (aqui), suba sem medo (é tranquilo) até o alto, lá siga a Rua Barão de Guaratiba, siga, siga, siga (ela é cheia de curvas), até desembocar na Rua do Catete do outro lado. Consulte o Google Maps. Se tiver espírito aventureiro pode explorar outras ruas, ruelas, escadarias do morro, mas esse é o roteiro básico.


 Vista com Corcovado

Casa neocolonial

Escadinha

"Uma das mais bonitas e visitadas da cidade, a Igreja de Nossa Senhora do Outeiro é apenas uma das joias que o bairro da Glória conserva. Bem ali, atrás do ponto turístico, do Hotel Glória, do imponente edifício que foi sede do grupo Bloch e dos prédios da Rua do Catete, está guardado um recanto que ainda preserva características urbanísticas do finzinho do século 19." (JB de 8/10/2007)


Ladeira abaixo

Casarões neoclássicos, o da esquerda de 1877

Escadinhas

"O morro é uma ilha dentro da cidade. Muitas casas desvalorizaram pois perderam a vista da Baía de Guanabara com a construção de prédios, entretanto o bairro ficou protegido." (idem)


Chalé onde morou o cantor Ruy Rei (Domingos Zeminian)

Portão com Corcovado atrás

Pórtico

"Cada curva oferece uma vista incrível da cidade. O bairro conserva um silêncio e uma paisagem que quase não se encontra mais." (idem)


Três escadinhas

Escadinha

Alpendre em velho casarão

"A Barão de Guaratiba é uma daquelas ruas onde todos se conhecem e o lugar é considerado seguro pelos moradores. Boa parte das casas é da virada do século e há muitos exemplares do estilo neocolonial. Algumas travessas têm o calçamento de pedras, conhecido como pé-de-moleque." (idem)


Azulejos

Casinha

Telhados

Casa tendendo ao art nouveau

Pichações

Pé-de-moleque. Fotos do editor do blog.

3.11.16

POR QUE VOTEI EM MARCELO CRIVELLA


Sou uma pessoa tolerante. Tenho amigos em todo o espectro ideológico. Tenho amigos de esquerda, alguns brilhantes, que adoro e que admiro. Mas (que meus amigos não fiquem chateados com esta minha confissão) a esquerda tem um “defeitinho”. Não é tolerante como eu. Para os esquerdistas, um governo, uma administração que não seja de esquerda é o “fim do mundo”, um retrocesso, um horror. Para ela a “não esquerda” padece de uma espécie de pecado original, irredimível. Quem vota num candidato que não seja da lista deles comete quase que um crime ideológico. Falta-lhes o "espírito democrático".

Não tenho nada a favor do Crivella. Meu voto nele foi um voto útil. Votei contra o Freixo. Não tenho nada contra ele, pessoalmente. Tenho contra o partido. Ele está no partido errado. Um partido virulentamente anti-Israel. O ditador da Síria com apoio da Rússia bombardeia populações civis e o PSOL não fala nada. A Arábia Saudita bombardeia civis no Iêmen e idem. Mas se Israel cometer algum deslize... sai de baixo! A grita dos partidos e intelectuais de esquerda (e aí se inclui o PSOL) é ensurdecedora. Já aconteceu no passado.

Desconfio que o PSOL, se ganhasse a Prefeitura, faria o que o PT fez no nível federal: arrumaria “boquinhas”, cargos comissionados, para toda a companheirada. Distribuiria dinheiro público a rodo aos artistas e intelectuais que apoiam sua ideologia. Não continuaria apoiando os black blocs como fez no passado porque agora estaria no poder e não interessa. Tampouco continuaria apoiando greves intermináveis de professores, sequestrando o futuro das crianças pobres (porque as ricas estudam em escola particular), pelo mesmo motivo. Mas se Freixo faria realmente ou deixaria de fazer essas coisas nunca saberemos... porque ele perdeu.

O que saberemos é se Crivella fará aquilo que o PSOL afirmou que faria: convidar o nefasto Garotinho (esconjura!) para seu secretariado e governar visando o projeto de poder evangélico. Tomara que não. O Paes fez um grande governo de grandes empreendimentos: VLT, BRT, Parque de Madureira (numa região carente de áreas de lazer), o Porto Maravilha. Crivella diz que vai cuidar das pessoas: da saúde, da educação, da segurança. O Eclesiastes ensina que existe um tempo para tudo. Tempo de grandes obras, tempo de cuidar das pessoas. Não morro de amores por Crivella, mas tomara que o governo dele dê certo. Para o bem de nós que adoramos o Rio.

30.10.16

ELEIÇÕES NO TEMPO DE MACHADO DE ASSIS


Já em 1884, no tempo do Império, quando o voto para a Assembléia Geral era censitário (só votavam pessoas acima de certa renda) e as mulheres sequer tinham esse direito, Machado de Assis escreveu uma crônica - bem atual - satirizando os políticos pedindo votos. Vamos a ela:



Venho pedir-lhe o seu voto na próxima eleição para deputado.

— Mas, com o senhor, fazem setenta e nove candidatos que...

— Perdão: oitenta. Que tem isto? A reforma eleitoral deu a cada eleitor toda a independência, e até fez com que adiantássemos um passo. [...]

— Bem; pede-me o voto.

— Sim, senhor.

— Responda-me primeiro. Que é que fazia até agora?

— Eu...?

— Sim, trabalhou com a palavra ou com a pena, esclareceu os seus concidadãos sobre as questões que lhe interessam, opôs-se aos desmandos, louvou os acertos...

— Perdão, eu...

— Diga.

— Eu não fiz nada disso. Não tenho que louvar nada, não sou louva-deus. Opor-me! É boa! Opor-me a quê? Nunca fiz oposição.

— Mas esclareceu...

— Nunca, senhor! Os lacaios é que esclarecem os patrões ou as visitas: não sou lacaio. Esclarecer! Olhe bem para mim.

— Mas, então, o que é que o senhor quer?

— Quero ser deputado.

— Para quê?

— Para ir à câmara falar contra o ministério.

— Ah! é contra o Dantas?

— Nem contra nem pró. Quem é o Dantas? Eu sou contra o ministério... Digo-lhe mesmo que a minha idéia é ser ministro. Não imagina as cócegas com que fico em vendo um dos outros de ordenanças atrás... Só Deus sabe como fico!

— Mas já calculou, já pesou bem as dificuldades a que...

— O meu compadre Z... diz que não gasta muito.

— Não me refiro a isso; falo do diploma, o uso do diploma. Já pesou...

— Se já pesei? Eu não sou balança.

— Bem, já calculou...

— Calculista? Veja lá como fala. Não sou calculista, não quero tirar vantagens disto; graças a Deus para ir matando a fome ainda tenho, e possuo braços. Calculista!

— Homem, custa-me dizer o que quero. O que eu lhe pergunto é se, ao apresentar-se candidato, refletiu no que o diploma obriga ao eleito.

— Obriga a falar.

— Só falar?

— Falar e votar.

— Nada mais?

— Obriga também a passear, e depois torna-se a falar e votar. Para isto é que eu vinha pedir-lhe o voto, e espero não me falte.

— Estou pronto, se o senhor me tirar de uma dificuldade.

— Diga, diga.

— O X. pediu-me ontem a mesma coisa, e depois de ouvir as mesmas perguntas que lhe fiz, às quais respondeu do mesmo modo. São do mesmo partido, suponho!

— Nunca: o X. é um peralta.

— Diabo! Ele diz a mesma coisa do senhor.

Crônica de Machado de Assis de 10 de novembro de 1884, publicada na seção "Balas de Estalo" da Gazeta de Notícias, extraída do livro Crônicas de Lélio (Ediouro). Foto de Machado de Assis por Marc Ferrez.

20.10.16

HISTÓRIA DO RIO DE JANEIRO, de STANISLAW PONTE PRETA


A coisa começou no século XVI, pouco depois que Pedro Álvares Cabral, rapaz que estava fugindo da calmaria, encontrou a confusão, isto é, encontrou o Brasil. Até aí não havia Rio de Janeiro.

Depois em 1512 – segundo o testemunho ocular de Brício de Abreu – rapazes lusitanos que estavam esquiando fora da Barra, descobriram uma baía muito bonita e, distraídos que estavam, não perceberam que era baía. Pensaram que era um rio e, como fosse janeiro, apelidaram a baía de Rio de Janeiro. Eis, portanto, que o Rio já começou errado.

Passaram-se os anos, os portugueses não deram muita bola pra descoberta, e vieram uns franceses intrusos e se alojaram na baía. Foi então que os portugueses abriram os olhos e, ao mesmo tempo, abriram fogo contra o invasor, chefiados por um destemido cavalheiro que atendia pelo nome de Estácio de Sá (onde mais tarde se fundaria a primeira escola de samba, mas isso foi depois). Estácio era sobrinho de Mem de Sá, ex-governador geral e primo de Salvador de Sá, que mais tarde viria a governar a cidade. É interessante notar que, muito tempo depois, quem descer pela Rua Mem de Sá, vai dar na Rua Salvador de Sá que, por sua vez, passa pelo Largo do Estácio, também de Sá. 

Quando os comandados de Estácio de Sá iniciaram a batalha contra os franceses, a coisa foi dura e só se resolveu numa derradeira batalha travada na Praia de Uruçumirim. Para vencer tiveram de suar a camisa e é por isso que, mais tarde, a Praia de Uruçumirim ficou sendo a Praia do Flamengo, o célebre Flamengo que, por tradição, sua a camisa até hoje. Isso aconteceu aí pelo ano de 1567 e estava fundada a cidade do Rio de Janeiro, a mesma que viria a ser, em 1763, capital do vice-reinado, e depois capital da República dos Estados Unidos do Brasil. 

A cidade foi construída sobre alagadiços e a brava gente, que a construiu, secou tão bem os alagadiços que até hoje está faltando água. Quando, em 1763, foi considerada capital do vice-reinado, a cidade tinha somente 30 mil habitantes natos e mais, naturalmente, o Brício de Abreu, que não nasceu aqui, mas em Paris, de onde veio ainda pequenino no vapor Provence

Daí por diante o Rio de Janeiro foi crescendo, foi crescendo, foi crescendo e ... pimba! estourou. E, como tudo que estoura, abriu buraco pra todo lado.

Tal é, em resumo, a história do Rio de Janeiro, que foi descoberto por portugueses navegadores e que portugueses do comércio atacadista da Rua Acre querem levar para Portugal. Daí o velho ditado de Tia Zulmira: “Cabral descobriu o Brasil e Manoel quer carregar”.

Não é, como o leitor mais arguto pouquinha coisa pôde perceber, uma história tão brilhante assim, como pretandem as letras dos sambas apoteóticos. 

Do livro Tia Zulmira e Eu. Stanislaw Ponte Preta foi o pseudônimo sob o qual Sérgio Porto escrevia suas impagáveis crônicas, figurando personagens como Tia ZulmiraPrimo Altamirando. Disse ele: "Quando inventei o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta foi justamente para que o Stan não prejudicasse o Sérgio. Isto é, eu, Sérgio, queria escrever coisas sérias, o Stanislaw deveria abordar — na qualidade de jornalista — assuntos inconsequentes, tais como mundanismo, divertissement." Ilustração  superior de Alcy Linares.