A coisa começou no século XVI, pouco depois que Pedro
Álvares Cabral, rapaz que estava fugindo da calmaria, encontrou a confusão,
isto é, encontrou o Brasil. Até aí não havia Rio de Janeiro.
Depois em 1512 –
segundo o testemunho ocular de Brício de Abreu – rapazes lusitanos que estavam
esquiando fora da Barra, descobriram uma baía muito bonita e, distraídos que
estavam, não perceberam que era baía. Pensaram que era um rio e, como fosse
janeiro, apelidaram a baía de Rio de Janeiro. Eis, portanto, que o Rio já
começou errado.
Passaram-se os anos, os portugueses não deram muita bola pra
descoberta, e vieram uns franceses intrusos e se alojaram na baía. Foi então
que os portugueses abriram os olhos e, ao mesmo tempo, abriram fogo contra o
invasor, chefiados por um destemido cavalheiro que atendia pelo nome de Estácio
de Sá (onde mais tarde se fundaria a primeira escola de samba, mas isso foi
depois). Estácio era sobrinho de Mem de Sá, ex-governador geral e primo de
Salvador de Sá, que mais tarde viria a governar a cidade. É interessante notar
que, muito tempo depois, quem descer pela Rua Mem de Sá, vai dar na Rua
Salvador de Sá que, por sua vez, passa pelo Largo do Estácio, também de Sá.
Quando
os comandados de Estácio de Sá iniciaram a batalha contra os franceses, a coisa
foi dura e só se resolveu numa derradeira batalha travada na Praia de
Uruçumirim. Para vencer tiveram de suar a camisa e é por isso que, mais tarde,
a Praia de Uruçumirim ficou sendo a Praia do Flamengo, o célebre Flamengo que,
por tradição, sua a camisa até hoje. Isso aconteceu aí pelo ano de 1567 e
estava fundada a cidade do Rio de Janeiro, a mesma que viria a ser, em 1763,
capital do vice-reinado, e depois capital da República dos Estados Unidos do
Brasil.
A cidade foi construída sobre alagadiços e a brava gente, que a
construiu, secou tão bem os alagadiços que até hoje está faltando água. Quando,
em 1763, foi considerada capital do vice-reinado, a cidade tinha somente 30 mil
habitantes natos e mais, naturalmente, o Brício de Abreu, que não nasceu aqui,
mas em Paris, de onde veio ainda pequenino no vapor Provence.
Daí por diante
o Rio de Janeiro foi crescendo, foi crescendo, foi crescendo e ... pimba!
estourou. E, como tudo que estoura, abriu buraco pra todo lado.
Tal é, em resumo, a história do Rio de Janeiro, que foi
descoberto por portugueses navegadores e que portugueses do comércio atacadista
da Rua Acre querem levar para Portugal. Daí o velho ditado de Tia Zulmira:
“Cabral descobriu o Brasil
e Manoel quer carregar”.
Não é, como o leitor mais arguto pouquinha coisa pôde
perceber, uma história tão brilhante assim, como pretandem as letras dos sambas
apoteóticos.
Do livro Tia Zulmira e Eu. Stanislaw Ponte Preta foi o pseudônimo sob o qual Sérgio Porto escrevia suas impagáveis crônicas, figurando personagens como Tia Zulmira e Primo Altamirando. Disse ele: "Quando inventei o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta foi justamente para que o Stan não prejudicasse o Sérgio. Isto é, eu, Sérgio, queria escrever coisas sérias, o Stanislaw deveria abordar — na qualidade de jornalista — assuntos inconsequentes, tais como mundanismo, divertissement." Ilustração superior de Alcy Linares.
Um comentário:
Stanislaw Ponte Preta foi (e ainda é, para todos nós) o inegável cronista-comediante das letras cariocas. Qualquer escrito seu desperta risos e até mesmo gargalhadas de quem se acha familiarizado (ou não) com suas anedotas de cunho mordaz.
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