ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

15.3.18

PLANTA DA CIDADE DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO COM SUAS FORTIFICAÇÕES (1713)


A Planta da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro com suas Fortificações, do Brigadeiro João Massé é a primeira das que se conhecem, a mostrar em escala correta, todo o centro urbano quando a cidade não alcançava ainda o local da futura Rua da Vala [atual Uruguaiana].

Faz parte do manuscrito desse engenheiro militar francês, a serviço de Portugal: “Relação de todas as fortificações e reparações necessárias para a conservação e defesa da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro o do seu porto.” Rio de Janeiro, 1 de maio de 1714.

Massé foi um dos vários engenheiros que Lisboa nos enviou durante o século XVIII, com carta patente de Dom João V de 17 de junho de 1712 e encarregado de “fazer examinar e reparar as fortificações... e fazer as mais que forem necessárias para a defesa e conservação” da Cidade.

Nesta Planta vê-se nitidamente que a última rua cordeada [=alinhada] paralelamente ao mar era a dos Ourives [mutilada pela abertura da Av. Central e depois da Av. Pres. Vargas, correspondia às atuais Rua Rodrigo Silva e Rua Miguel Couto]; além só havia a Igreja do Rosário e uma ou outra casa. O morro de Santo Antônio estava como que isolado da cidade propriamente dita.

(Texto extraído de Raymundo de Castro Maya, A muito leal e heroica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, edição fac-símile de 2015, pag. 28  a edição original, hoje rara, foi de 1965. A planta original encontra-se no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.)


LEGENDA DA PLANTA, na ortografia atual, com explanações entre colchetes extraídas do artigo de Gilberto Ferrez, João Massé e sua Planta do Rio de Janeiro de 1713, publicado no Jornal do Brasil de 7 de setembro de 1958 e republicado na revista do IHGB, no 242, acessível no site do Instituto:



A - Fortaleza de S. Sebastião com suas obras feitas de novo, e dessinadas [projetadas, possível galicismo derivado de dessiné]

B - Baluarte dessinado no sítio em que está a Sé, com sua Linha de Comunicação [projeto,  não executado, de um baluarte ao Forte de São Sebastião por uma linha de comunicações protegida por muralhas, que tornaria o sistema defensivo esparso seiscentista do Castelo num conjunto fortificado mais poderoso]

C - O Colégio com sua cerca e ladeiras [colégio e igreja dos jesuítas com sua cerca e as duas ladeiras que lhe davam acesso rápido]

D - A Misericórdia [hospital e igreja]

E - Fortaleza antiga de Sto. Iago [velho forte de S. Tiago, mais tarde do Calabouço, que existiu junto ao atual Museu Histórico Nacional, e cujos últimos vestígios foram demolidos na década de 1950]

F - Cais dessinado [projeto de um cais ao longo de toda a marinha desde o Calabouço até São Bento, realizado em parte]

G - Armazéns del Rey / H - Casa da Moeda [todo este terreno ocupava o espaço e local exato da futura Casa dos Governadores, mais tarde Paço Real e Imperial]

I - Convento do Carmo [área ocupada pelo convento, cerca e igreja do Carmo]

L - Casas do Governador  e Alfândega [na Rua Direita, atual Primeiro de Março. A primeira com a mudança para o Largo do Carmo, transformar-se-ia em Casa dos Contos, sendo o seu local o do atual CCBB]

M - Convento de São Bento, com sua cerca e ladeira

N - Armazéns da Junta [armazéns da Junta do Comércio da Companhia Geral, criada em 1649, e que tinha o odioso monopólio do comércio entre o Brasil e Portugal]

O - Bateria da Prainha que deve ser reparada [pequena bateria que ficava na atual Praça Mauá]

P - Trapiche dos Terceiros [vasto trapiche no sopé do Morro da Conceição, pertencente à Ordem Terceira de São Francisco]

Q - Fortaleza da Conceição com suas comunicações ao mar, e o muro da Cidade

R - Casas do Bispo, com suas plataformas por diante [Palácio Episcopal, atual Serviço Geográfico do Exército]

SSS - Muro da Cidade [famoso projeto da muralha, fechando por completo a cidade, correndo do morro da Conceição ao do Castelo; as obras foram logo iniciadas, mas depois abandonadas, por suas deficiências e por impedir o crescimento normal da cidade]

T - Convento de Santo Antônio com sua cerca e ladeira, e uma obra dessinada na coroa do seu monte [projeto de um forte que também não se concretizou no cume do Morro de Santo Antônio]

V. - A Ilha das Cobras com suas fortificações dessinadas, e sua ponte de comunicação [projeto de remodelação da fortaleza da Ilha das Cobras]

X - Linha pontuada que mostra outro sítio, onde se pode atar o muro, se se quiser incluir os quartéis dentre dele [indicação de onde poder-se-ia construir uma muralha fechando a cidade desde o morro do Castelo até o mar; projeto de muralha não executado]

Afora as igrejas e conventos já mencionados, estão assinaladas por uma cruz as seguintes: São José, Cruz dos Militares, Candelária, Rosário, Nossa Senhora do Parto e, fora dos muros, de São Domingos.



ANEXO 1: Trecho do livro O Rio de Janeiro setecentista, do historiador Nireu Cavalcanti, sobre a vinda do engenheiro militar João Massé para reforçar a segurança do Rio (págs. 47-8):

Além dos prejuízos materiais, financeiros, documentais e humanos que causaram, as duas invasões francesas tornaram evidentes a vulnerabilidade do sistema de defesa da cidade, no qual haviam sido investidos durante 150 anos grandes somas de recursos públicos e de contribuições recolhidas ao longo de diversas gerações. Questionou-se também a capacidade técnica dos engenheiros e estrategistas militares portugueses com relação ao domínio da ciência das fortificações. Aquele foi um momento importante para a administração pública rever as estratégias e detectar as causas do fracasso do sistema de defesa do Rio de Janeiro.

Após amplo debate sobre essa questão no Conselho Ultramarino, e dos pareceres de notáveis engenheiros portugueses [...] o rei decidiu enviar à cidade um especialista em fortificações, o engenheiro militar João Massé (técnico francês que servia a Portugal), para uma análise mais apurada da situação. Vinha ele com a incumbência de avaliar problemas, propor alterações e sobretudo projetar uma muralha de pedra capaz de proteger a cidade de ataques vindos do interior continental.

Acompanhando o novo Governador nomeado, [...] João Massé chegou à cidade em 1713, encontrando a guarnecida com 15 fortificações: Santa Cruz, São João, São Thiago, São Sebastião, da Praia Vermelha, Villegaignon, da Praia do Saco, de Nossa Senhora da Boa Viagem, da Ilha das Cobras, da Laje, reduto da Prainha, de São Bento, da Conceição, da praia de Santa Luzia e de Gragoatá.

Tendo aprovado no geral a distribuição dessas fortificações, o engenheiro francês propôs reformar algumas e aumentar a potência das baterias de outras, principalmente as de Santa Cruz, São João e Ilha das Cobras, porta de entrada da baía de Guanabara. Com o intuito de revigorar a defesa, projetou mais uma fortaleza, a se construir na pequena ilha de pedra chamada de Laje que dividia a entrada da barra em dois canais, além da muralha para proteger a retaguarda da Cidade.

A Fortaleza da Laje era uma proposta antiga que dividia as opiniões dos técnicos. Os críticos argumentavam que os custos das obras não compensavam os benefícios, porque as fortalezas de Santa Cruz e São João já guarneciam a entrada da Bahia. Tais argumentos haviam levado a coroa a protelar sua edificação. Todavia, com invasão de Duguay-Trouin, a posição hesitante do governo mudou a favor da imediata construção.
[...]
A proposta de construção de uma nova muralha cercando a cidade para defendê-la representava uma volta às suas origens, quando foi concebida como praça de fortificação, localizada primeiramente na região da Urca e, mais tarde, no Morro do Castelo.

ANEXO 2: Explicação sobre a muralha projetada, mas nunca concluída, do artigo já citado de Gilberto Ferrez. A revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro onde esse artigo foi publicado (pág. 388) também pode ser acessada e feito o download aqui:

S.S.S.  É o famoso projeto da muralha, fechando por completo a cidade pela parte do sertão, correndo do Morro da Conceição ao do Castelo. 

Esta muralha principiando no Morro da Conceição, próximo à ladeira do Bispo (Rua Major Daemon), cortaria terrenos então quase desabitados, passando por trás da ermida do Rosário, seguindo, em linhas gerais, um traçado paralelo ao que dentro de alguns anos seria a Rua da Vala (Uruguaiana), atravessaria o futuro largo da Carioca atingindo a encosta do Castelo, depois de ladear a igreja de N. Sra. do Parto e cruzar o caminho da Ajuda (Rua Chile).

As obras foram logo iniciadas, pois, em 1718, o Governador Antônio de Brito de Menezes dava conta do estado das mesmas [...]. 

A planta mostra detalhadamente todo esse grande projeto que depois foi abandonado por suas deficiências e por impedir o crescimento normal da cidade.

Nessa área, além da igreja mencionada, só está assinalada uma dezena de casas.


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