ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

7.12.10

HOMENAGEM A NOEL ROSA



Conversa de Botequim

Noel Rosa &
Vadico, com Moreira da Silva

Seu garçom

Faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo
Um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol

Se você ficar limpando a mesa
Não me levanto nem pago a despesa
Vá pedir ao seu patrão
Uma caneta, um tinteiro, um envelope e um cartão
Não se esqueça de me dar palito
E um cigarro pra espantar mosquito
Vá dizer ao charuteiro
Que me empreste uma revista, um cinzeiro e um isqueiro

Telefone ao menos uma vez
Para 344333
E ordene ao Seu Osório
Que me mande um guarda-chuva aqui pro nosso escritório
Seu garçom me empreste algum dinheiro
Que eu deixei o meu com o bicheiro
Vá dizer ao seu gerente
Que pendure essa despesa no cabide ali em frente



Estátua de Noel Rosa no botequim com o garçom em Vila Isabel & calouros da UERJ.

Mas o grande parceiro de Noel foi Osvaldo Gogliano, o Vadico. Conheceram-se em 1932 no estúdio da Odeon, apresentados por Eduardo Souto. E logo frutificou o encontro do Poeta da Vila com o compositor paulista. Vadico tocou uma melodia que compusera e Noel escreveu Feitio de oração. [...] Várias frases desse samba tornaram-se quase uma definição da música popular brasileira: "Batuque é um privilégio / Ninguém aprende samba no colégio./ Sambar é chorar de alegria/ É sorrir de nostalgia / Dentro da melodia./ / O samba, na realidade, / Não vem do morro nem lá da cidade / E quem suportar uma paixão/ Sentirá que o samba, então, / Nasce do coração”.

A segunda música de Vadico e Noel foi uma segunda obra-prima: "Quem nasce lá na Vila / Nem sequer vacila/ Ao abraçar o samba,/ Que faz dançar os galhos do arvoredo / E faz a lua nascer mais cedo". Esse
Feitiço da Vila, verdadeiro hino de Vila Isabel, acabou inserido no que se chamou "polêmica Noel x Wilson Batista".

A parceria com Vadico ainda produziu oito sambas, entre os melhores de Noel: Mais um samba popular, Pra que mentir,
Conversa de botequim, Só pode ser você, Tarzan, o filho do alfaiate, Cem mil réis, Provei e Quantos beijos, todos demonstrando perfeito entrosamento entre letra e musica.

O fato de, em geral, ser impossível distinguir os sambas de parceria dos sambas unicamente de Noel mostra que o autor da letra influenciava o parceiro músico. Noel não era apenas um excelente letrista: era um
compositor popular completo. (Texto extraído do encarte do disco Noel Rosa da Nova História da Música Popular Brasileira, Abril Cultural, 1976).



O Brasil de Noel Rosa era o Rio de Janeiro, a capital da República, o centro da vida política e cultural do qual ele raramente se afastou [...]. “Ninguém cantou o Rio melhor que ele”, reconheceu o carioca Antônio Carlos Jobim. E é o Rio de Janeiro que Noel canta quase sempre. Vila Isabel, decerto, mas sobretudo a Penha, à qual dedicou mais sambas do que ao seu bairro [...]. O Estácio vem em seguida, assim como Salgueiro, Mangueira, Osvaldo Cruz, Matriz, Meier, Cascadura, Pavuna, Gamboa, Copacabana e, claro, Lapa, todos mencionados de alguma forma em suas letras. A paixão pelos subúrbios, em contraste com a resistência aos bairros mais chiques, é declarada num samba pouco lembrado, mas admirável (“Voltaste, demonstrando claramente/Que o subúrbio é ambiente/De completa liberdade....”). E a cidade como um todo é saudada na marcha-título do filme Cidade-mulher (“Cidade notável, inimitável,/Maior e mais bela que outra qualquer/Cidade sensível, irresistível/Cidade do amor, cidade mulher”). (João Máximo, Noel Rosa, coleção Raízes da Música Popular Brasileira da Folha de São Paulo, recém-lançada nas bancas e imperdível).

Grafite de Noel Rosa num bar do Engenho de Dentro.

4 comentários:

Márcio Dain disse...

Ivo, foi de muito bom gosto da tua parte , escrever sobre Noel Rosa.

De uma maneira geral, temos uma tendencia ao analisar uma canção que contem letra

e música, a dizer de qual mais gostou. Mas com as canções de Noel Rosa, nada disso

acontece: As letras e músicas são espetaculares!

Parabéns (enviado por e-mail)

Rafael Soares disse...

Bela homenagem a Noel e, consequentemente, a todo o bairro de Vila Isabel!

Unknown disse...

ola, estou fazendo um trabalho para a faculdade e escolhemos o Noel Rosa como tema para ele. Gostaria de saber se você teria alguma informação sobre quem fez este grafite ou o nome do bar p/ ligar e me informar. Fico no aguardo, meu e-mail é felipe@falves.net e meu msn é fwolfenberg@gmail.com, fico no aguardo, Abs

Ivo Korytowski disse...

Felipe, o grafite do Noel foi num bar na Rua Dr. Niemayer em algum ponto entre a Rua Dr. Leal e a estação do trem (veja no google maps). O autor quem deve saber é o dono do bar que deve ter encomendado esse trabalho. Se você descobrir me diga.