Trem e música: componentes tradicionais das comunidades negras nas Américas. Confirmando essa tradição, no início do século XX, e fugindo da perseguição imposta pela elite às práticas simbólicas negras, Paulo da Portela e seus companheiros de escola reuniam-se no trem (que foi transformado em "sede social"), na volta do trabalho, cantando e tocando samba.
Bem mais tarde, em 1991, Marquinhos de Oswaldo Cruz (cantor e compositor portelense) vai também utilizar o trem como um espaço para reunião de sambistas. Também fugindo da repressão às vozes e ritmos negros, Marquinhos e um grupo de sambistas refazem no trem a rota da diáspora dos descendentes de escravos expulsos do centro da cidade. Buscavam mostrar a cidade, a música que era produzida no subúrbio e, em especial, no desconhecido bairro de Oswaldo Cruz. Esse movimento tem sua primeira vitória quando Marquinhos de Oswaldo Cruz e Juarez Barroso conseguem indicar a Velha Guarda da Portela para recebimento da Medalha Pedro Ernesto.
Toda essa luta foi acompanhada de descrédito de muitos moradores que consideravam essas questões menos importantes . Para muitos, Marquinhos era um indivíduo alienado, que só falava de samba. Não entendiam que uma comunidade se mantém através da sua memória e que a memória do bairro de Oswaldo Cruz sempre esteve ligada a música tradicional.
Um vagão de trem continuou a ser utilizado ainda em 1992. No entanto, foi em 1996 que o "Pagode do Trem" passou a comemorar o Dia Nacional do Samba. Assim, Marquinhos inventa uma forma original de celebrar o dia 2 de dezembro, relembrando a trajetória do povo negro que com a reforma Pereira Passos, foi expulso dos lugares nobres da cidade para os subúrbios e morros.
Acreditamos então, que em sua 15a edição, o Trem do Samba conseguirá atingir seus objetivos de difundir o samba que é produzido nos subúrbios cariocas (Texto extraído do folheto do Trem do Samba 2010).
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Estação Oswaldo Cruz |
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Velha Guarda da Portela |
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Clube do Samba |
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Palco na Rua João Vicente |
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Botequim |
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Sambistas |
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Se todo mundo sambasse seria mais fácil viver... |
2 comentários:
Muito interessante. Conhecia a festa no trem da Central, do percurso do Centro ao bairro de Oswaldo Cruz, no dia 2 de dezembro, porem desconhecia a história.
Fui nascido e criado em Oswaldo Cruz.Mas, ao contrário de Marquinhos de Oswaldo Cruz, que alavancou o bairro em 1991.Eu, também Marquinhos (e de, ora, Oswaldo Cruz...) deixei meu amado bairro e cidade...pra nunca mais voltar. Obrigado por este blog, que me encantou com imagens de parte da minha infãncia no Grajaú!
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