ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

1.12.18

UM CHUTE, de RUBEM BRAGA

CRÔNICA PUBLICADA ORIGINALMENTE NA REVISTA MANCHETE DE 28 DE NOVEMBRO DE 1953


Circulo um pouco pela cidade [cidade no sentido de Centro da cidade], de manhã, resolvo umas coisas mais ou menos cacetes. E de repente, na Esplanada do Castelo, reparo nesta coisa simples: estou feliz.

Não me acontece nada de especial; minha felicidade é gratuita, deriva destas coisas simples: o céu está azul, o sol está louro, eu estou andando na rua. Meu sapato é confortável, minha roupa está limpa, meu corpo está bem.

Passa uma menina com uma fita nos cabelos; em um terreno livre há um grupo de mecânicos que aproveitam a hora do almoço para um bate-bola. A bola vem para o meu lado; devolvo-a com um chute, e meu chute é certo, e é saudado com um “oba!” por um dos homens de macacão, que pega a bola com a cabeça. Estou definitivamente feliz. Meus problemas de dinheiro, minhas tristezas, minhas aflições, nada tem importância. Posso amar a quem não me liga, fazer o que me desgosta, não fazer o que queria – mas neste momento sou apenas um animal feliz; o dia está lindo e eu estou andando com prazer de andar. Sou um animal feliz. E meu chute foi bonito.

Passa um navio branco, muito grande, bojudo

Passa um navio branco, muito grande, bojudo; vem do sul. Com certeza vai entrar na baía. Vai entrar todo de branco, abrindo asas de branca espuma, desenrolando no ar, como um penacho feliz, um rolo de fumaça branca. O convés está cheio de gente que olha as praias, o casario, as montanhas. Sede felizes! Este é o desejo íntimo que nos dá, dizer a esses forasteiros que pela primeira vez entram em nossa baía, entre as montanhas azuis; dizer alto: aqui é o Rio de Janeiro, é a nossa bela cidade; é para vós que ela hoje brilha ao sol; sede felizes!

E ter inveja dos que chegam pela primeira vez, vindos do mar, ao Rio de Janeiro.

debruçados sobre as fotografias em cores

Porque em nossa infância, no interior, não se dizia: Rio. Foi de repente que surgiu essa moda, as pessoas que vinham e voltavam dizia apenas com intimidade – Rio.

Mas nós, debruçados sobre as fotografias em cores e os presentes que nos levavam, nós dizíamos, com ar de sonho e um tom de respeito: Rio de Janeiro.

Um comentário:

Chellot disse...

Sentir-se bem e feliz apenas por estar vivo e poder ver as pessoas e coisas a nossa volta e sorrir é um privilégio de todos. No entanto nem todo mundo saboreia as belezas da vida. Sempre querem mais não dando valor ao que já tem. Rio de Janeiro é sempre belo mesmo que as pessoas teimem em transformá-lo em algo feio.


Abraços literários.