ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

14.6.15

AZULEJOS DECORATIVOS

Painel de azulejos numa padaria da Rua do Riachuelo

Galeria Scenarium com fachada de azulejos & exposição permanente de azulejos

Azulejos com motivos marinhos em muro de casa na Urca

Uma herança bendita da colonização lusitana é o uso de azulejos como ornamento arquitetônico (que se distingue do seu uso meramente utilitário): na decoração de fachadas, muros e interiores de casas; em naves, sacristias, torres e até cúpulas de igrejas; em painéis artísticos — em projetos modernistas como Pedregulho e o Palácio Gustavo Capanema, na arte ambiente contemporânea (por exemplo, o painel alusivo ao frescobol em Copacabana) ou mesmo em bares, padarias etc. ; no revestimento de fontes, bancos e outros objetos; ou mesmo o uso de um azulejo isolado, comum nas fachadas das construções em estilo Missões (neocolonial hispano-americano) ou nos registros de santos das casinhas de subúrbio.

O emprego dos azulejos (“peças de cerâmica vitrificadas e/ou esmaltadas usadas, sobretudo, no revestimento de parede”) na arquitetura remonta às velhas civilizações orientais (assíria, persa, egípcia, chinesa), tendo sido assimilado pelo mundo árabe que, em sua expansão, trouxe-o à Península Ibérica, encontrando ampla utilização em Portugal com o florescimento do estilo manuelino. (Mais informações na Enciclopédia Cultural Itaú clicando aqui.)

Azulejos art nouveau na Escadaria Selaron (Lapa)

Casa com fachada de azulejos e beiral de telhões de louça no Morro da Conceição

Casa na Rua Sorocaba (Botafogo) com fachada de azulejos esmaltados

Para o apreciador da arte da azulejaria gostaríamos de recomendar estas quatro fontes:

1) Blog Azulejos Antigos do Rio de Janeiro de Fábio Carvalho, pesquisador da história da indústria de louça brasileira e autor do livro Porcelana Brasil - Guia de Marcas.

2) Postagem “Os painéis de azulejos e os mosaicos da cidade do Rio de Janeiro” no blog As histórias dos monumentos do Rio de Janeiro de Vera Dias, Gerente de Monumentos e Chafarizes da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

3) A exposição permanente Azul Cobalto, Azulejos e Memórias na Galeria Scenarium (Rua do Lavradio, 15 - Centro)

4) As postagens com label "azulejos" do excelente blog A Vida Numa Goa.

Palácio São Clemente (Consulado de Portugal) em Botafogo

Azulejo com motivo religioso (aqui Nossa Senhora de Fátima, mas poderia ser um santo) típico das casinhas de subúrbio

Fonte com revestimento de azulejos na Floresta da Tijuca

A seguir, trecho de Comunicação de Fábio Carvalho apresentada no Segundo Encontro O AZULEJO HOJE, no dia 6/12/2013, no Teatro Aberto, Lisboa, Portugal. Para ler o texto integral clique aqui.

Neste curto espaço de tempo em que me dedico aos azulejos no casario antigo do Rio de Janeiro, talvez o dado mais interessante que pude constatar, naturalmente de forma ainda preliminar, é que apesar de popularmente acreditarmos que todos, ou quase todos, os azulejos antigos no Rio de Janeiro são portugueses (o que é compreensível, dada nossa origem como colônia portuguesa), não está correto. Na verdade, grande parte dos azulejos antigos de fachada no Rio de Janeiro até agora encontrados e registrados são, quantitativamente falando, em primeiro lugar holandeses, em segundo franceses. Há ainda azulejos belgas, ingleses e (talvez) alemães. Os azulejos portugueses encontram-se em quantidade surpreendentemente pequena. Minha pesquisa engloba apenas os azulejos que ainda encontram-se em fachadas, mas mesmo em algumas escavações arqueológicas de sítios do século XIX que pude ter acesso ao material coletado, a maior parte dos azulejos é também proveniente da Holanda. [...]

No levantamento já realizado, podemos perceber alguns padrões decorativos em azulejos holandeses similares aos encontrados em Portugal [...] Além disso, encontramos ainda nas fachadas do casario antigo do Rio de Janeiro azulejos de origem holandesa e francesa que compartilham um mesmo padrão decorativo.

Outro dado interessante do uso de azulejos no Rio de Janeiro é a mistura dos padrões, bem como a combinação de azulejos de mais de uma nacionalidade, em um mesmo imóvel. Não é incomum ver num imóvel um padrão sendo usado por toda a fachada, mas com um friso ou faixa formada por outro padrão. Mas há casos onde usou-se um padrão para as áreas principais da fachada, outro padrão para o friso abaixo da platibanda, um terceiro padrão para áreas verticais destacadas da fachada, como se fossem colunas, ainda um quarto padrão para a platibanda... E muitas vezes, cada padrão é acompanhado por uma cercadura diferente do outro.

Outro fato notável é a quantidade de imóveis com telhões de faiança pintada ainda existentes no Rio de Janeiro. Já foram registrados 20 imóveis com beirais em telhão de faiança pintada na cidade. Encontram-se também outros elementos decorativos em faiança, como urnas, pinhas e estátuas. Aí sim, nos telhões e ornamentos de faiança, há a soberania portuguesa.

Mesmo que se confirme a tendência apresentada neste levantamento inicial, de que a maior parte dos azulejos antigos de fachada no Rio de Janeiro seriam holandeses e em segundo lugar franceses, ainda assim, a sua forma de uso e aplicação é tipicamente luso-brasileira, ou seja, fachadas frontais de imóveis revestidas de azulejos, quase sempre associados com trabalho em cantaria. E ainda por cima, os azulejos antigos no Rio de Janeiro encontram-se em fachadas com arquitetura similar àquela do norte de Portugal do mesmo período (meados do século XIX até os primeiros anos do século XX). Talvez daí também se pensar apressadamente que os azulejos antigos no Rio de Janeiro sejam portugueses.

Por fim, acho interessante apontar para um outro uso característico para os azulejos no Rio de Janeiro (mas que também acontece em algumas outras cidades brasileiras): cúpulas de igreja azulejadas. Algumas vezes os azulejos são aplicados de forma homogênea, em outras, são cortados de forma a compor desenhos em mosaico. E o efeito do brilho e colorido dos azulejos em contraste com a cantaria é algo de grande beleza, emprestando às cúpulas uma sensação de leveza.

Azulejos da Igreja de N.S. da Saúde. A história de José no Egito representada nos azulejos é uma alusão à atividade de armazenamento do Porto do Rio.

Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro (conhecida como Igreja da Lapa) e casa conventual

Painel de azulejos homenageando o bloco Simpatia É Quase Amor na estação de metrô General Osório

Painel de azulejos homenageando o frescobol, “Único esporte com espírito esportivo, sem disputa formal, vencidos ou vencedor” segundo Millôr

Casa no Grajaú em estilo Missões (neocolonial hispano-americano, diferente do neocolonial luso-brasileiro). Uma das características desse estilo são azulejos formando painéis ou isolados. Estas e fotos adicionais podem ser vistas no álbum Azulejos.

6 comentários:

A VIDA NUMA GOA disse...

Como não poderia ser diferente, adorei a postagem, louco que sou por azulejos.
Aproveito para lembrar que é uma honra ter meu blog (a vida numa goa) citado por aqui, mas lá não trato apenas de azulejos em botequins, tanto que atualmente estou muito envolvido em uma pesquisa sobre a obra dos Irmãos Igrejas, como pode ser conferido nesta postagem recente : http://avidanumagoa.blogspot.com.br/2015/05/azulejaria-popular-os-irmaos-igrejas.html

E mais duas coisas: os azulejos art nouveau da Escadaria Selarón também podem ser encontrados em uma casa antiga do Grajaú. Se for do seu interesse, posso mandar fotos.

Falando em casa antiga do Grajaú, acho que a de estilo neocolonial hispano não é a da foto, porém outra, situada na Rua Mearim quase esquina com a Itabaiana. Posso mandar fotos também.

O abraço do
Evandro von Sydow

Ivo Korytowski disse...

Evandro, você tem razão, já fiz a devida correção. Pode me mandar as fotos, sim (para meu e-mail).

Unknown disse...

Por favor, pode me informar o nome e o endereço da padaria onde se localiza o painel de azulejos acima ?

Ivo Korytowski disse...

A padaria da primeira foto fica na Riachuelo, esquina com Ladeira Frei Orlando.

Unknown disse...

Obrigado, não tem foto da frente da padaria ?

Ivo Korytowski disse...

Não mas você pode ver no Street View do Google.