A Confeitaria Colombo, com seus espelhos enormes, mesas de
tampo de mármore, piso de ladrilho hidráulico, cadeiras de palhinha, é uma
atração turística da cidade. O livro traça um paralelo entre a evolução da
Colombo e da cidade nos últimos cento e tantos anos, além de ensinar o “caminho
das pedras”, as receitas das iguarias. A seguir, transcrevemos um curto capítulo, "O ovo da Colombo", da
PARTE I do livro, “Colombo — Uma história bem temperada” de autoria de Antonio
Edmilson Martins Rodrigues. A PARTE II, de Renato Freire, intitula-se “A
Colombo e Sua Gastronomia”, a PARTE III é das Receitas, e no final temos a “English
version” do texto. Bom apetite!
O ovo da Colombo
Desde que a Colombo foi inaugurada, em 1894, o Rio de
Janeiro mudou, o Brasil se transformou, o mundo quase virou de cabeça para
baixo. Em pouco mais de 100 anos duas guerras mundiais aconteceram, o homem foi
à lua, nações inteiras nasceram e, de uma hora para outra, também foram para o
beleléu. A confeitaria viu aparecer o rádio, o cinema, a televisão, o avião, a
penicilina, o filtro solar, o micro-ondas, a internet, o rock, o
ar-condicionado e o chiclete de bola.
No Brasil, a confeitaria acompanhou o sobe e desce na
economia do país. Viu nada menos que nove moedas entrarem e saírem de
circulação — coincidentemente, o Real era também a moeda da época da
inauguração. Durante esse tempo, a Colombo assistiu a pelo menos três golpes de
estado e a 33 homens e uma mulher tomarem posse na Presidência da República.
Muitos deles — pelo menos uma vez na vida — atravessaram as portas da Gonçalves
Dias para tomar um café.
Em todo esse tempo, o Rio de Janeiro - que deixou de ser a
capital do país em 1961 — viu morros virem abaixo, ruas serem alargadas, casas
demolidas, a orla mudar de lugar, pontes serem erguidas e túneis abertos em
todos os cantos. A cidade mudou. Hoje as confeitarias quase não existem mais. O
Centro perdeu parte de sua importância, mas o carioca de verdade, quando quer
dizer que está indo para lá, ainda diz simplesmente "Vou à cidade".
Com a reestruturação do Rio, o carioca migrou para a Zona
Sul e descobriu a praia, o biquíni, o futebol, a minissaia, a bermuda, o
chinelo de dedo, o botequim de esquina, o surfe, as chapinhas de cabelo, o
samba e as escolas de samba. Muita coisa se modificou, mas, durante esse tempo
todo, a Colombo esteve no mesmo lugar: rua Gonçalves Dias, 32.
O interior da casa mudou pouco durante esse século. As
cristaleiras, os lustres, a claraboia, o piso e os espelhos belgas permanecem
no mesmo lugar. O cardápio — ainda que guarde boa parte dos quitutes que lhe
deram fama — soube se renovar para se adequar aos novos tempos. As frutas
tropicais se somaram às importadas, a cerveja divide lugar com os uísques, a
feijoada tem posição de destaque no buffet.
Em 100 anos, a Colombo viu surgir o cajuzinho, o brigadeiro, o bombom de
cupuaçu, a caipirinha, o mil-folhas de creme, o suco de acerola e a Coca-Cola.
Mas — de um jeito difícil de explicar — parece que nada mudou, que tudo
permanece como há 100 anos.
Esse sempre foi o segredo da casa. Desde os tempos de Manuel
Lebrão, a Colombo percebeu que devia permanecer em constante mutação para
parecer ser sempre a mesma. Um conceito que vale para a arquitetura, para a
decoração, para as atitudes dos empregados e para tudo o que consta do
cardápio. É o tal truque. Durante esse tempo todo a confeitaria — como o Rio de
Janeiro, a cidade que a abrigou — atravessou crises, enfrentou desafios, festejou
vitórias e se quebrou muitas vezes para continuar a ser o que sempre foi:
Confeitaria Colombo. Quebrada, reformada, renovada, festiva e, misteriosamente,
de pé. Mais ou menos como o ovo da história de Colombo.
Um comentário:
De parabéns pela matéria sobre a Confeitaria Colombo. Era um dos meus sonho conhecê-la estive lá quando da visita do Papa Francisco JMJ 2013. É uma maravilha fiquei encantada quero voltar outras vezes! Sou pernambucana.
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