A pergunta “Qual o teatro mais antigo do Rio?” tem duplo sentido. Você pode querer saber qual dos teatros atualmente existentes no Rio é o mais antigo, ou qual foi o primeiro teatro aberto no Rio? Vamos por partes.
DOS TEATROS ATUALMENTE EXISTENTES QUAL O MAIS ANTIGO?
Se você entrar na página do Teatro João Caetano no site da Secretaria de Cultura vai ler que é “a casa de espetáculos mais antiga da cidade”. Também na Wikipedia você lerá que "o Teatro João Caetano é [...] o mais antigo da cidade do Rio de Janeiro", o que é verdade se levarmos em conta o João Caetano propriamente dito, em sua "encarnação" atual de 1930, e a sucessão de casas de espetáculo que o antecederam naquele mesmo espaço.
Tudo começou em 1813 com a inauguração ali do Real Theatro de São João, o primeiro grande teatro do país e uma das primeiras construções neoclássicas da cidade (antes mesmo da chegada da Missão Artística Francesa), destruído em 1824 por um incêndio do qual foi testemunha ocular o viajante germano-báltico Ernst Ebel: "Quando eu me dirigia, enfim , para casa, assustou-me de súbito o alarme de um incêndio. Indagando apontaram-me o Largo do Teatro, para onde dirigi-me às pressas. Ainda distante, já via o imenso clarão e, ao aproximar-me estava o teatro todo envolto em chamas."
No mesmo local inaugurou-se em 1826 o Imperial Theatro de São Pedro de Alcântara, tendo sido arrendado em 1843 por João Caetano dos Santos, a mais importante figura do teatro brasileiro do século XIX — é dele a estátua diante do teatro. O teatro (na época iluminado a luz de vela!) sofreu vários grandes incêndios e foi sucessivamente reconstruído. Ali estrearam as principais peças de Martins Pena, o primeiro autor brasileiro a escrever sobre situações e personagens tipicamente nacionais, e se apresentaram as duas maiores atrizes do século XIX: Eleonora Duse e Sarah Bernhardt. Em 1928, o prefeito Antonio Prado Júnior determinou a demolição do teatro (que em 1923 passara a se chamar João Caetano) e em seu lugar foi erguido o Teatro João Caetano atual, inaugurado em 1930. Recentemente foi “modernizado” assumindo a feição da quarta foto abaixo.
Mas mesmo levando em conta apenas a "encarnação" atual, o João Caetano continua sendo nosso teatro (existente) mais antigo se não contarmos o Theatro Municipal (de 1909, que na verdade é uma "sala de concertos") nem o Cinema Íris (de 1922, que originalmente foi um "cine-theatro", onde se filmaram cenas da minissérie Dercy de Verdade, hoje o cinema mais antigo do Rio e exibindo filmes pornôs). O teatro foi inaugurado em 1930. Em 1932 seria inaugurado o Teatro Carlos Gomes, em 1934 o Teatro Rival, em 1935 o Teatro Regina que em 1946 passou a se chamar Dulcina, em 1938 o Ginástico e em 1940 o Serrador, atual Brigite Blair II (Fonte: site Teatros do Centro Histórico do Rio de Janeiro.)
Se você entrar na página do Teatro João Caetano no site da Secretaria de Cultura vai ler que é “a casa de espetáculos mais antiga da cidade”. Também na Wikipedia você lerá que "o Teatro João Caetano é [...] o mais antigo da cidade do Rio de Janeiro", o que é verdade se levarmos em conta o João Caetano propriamente dito, em sua "encarnação" atual de 1930, e a sucessão de casas de espetáculo que o antecederam naquele mesmo espaço.
Tudo começou em 1813 com a inauguração ali do Real Theatro de São João, o primeiro grande teatro do país e uma das primeiras construções neoclássicas da cidade (antes mesmo da chegada da Missão Artística Francesa), destruído em 1824 por um incêndio do qual foi testemunha ocular o viajante germano-báltico Ernst Ebel: "Quando eu me dirigia, enfim , para casa, assustou-me de súbito o alarme de um incêndio. Indagando apontaram-me o Largo do Teatro, para onde dirigi-me às pressas. Ainda distante, já via o imenso clarão e, ao aproximar-me estava o teatro todo envolto em chamas."
No mesmo local inaugurou-se em 1826 o Imperial Theatro de São Pedro de Alcântara, tendo sido arrendado em 1843 por João Caetano dos Santos, a mais importante figura do teatro brasileiro do século XIX — é dele a estátua diante do teatro. O teatro (na época iluminado a luz de vela!) sofreu vários grandes incêndios e foi sucessivamente reconstruído. Ali estrearam as principais peças de Martins Pena, o primeiro autor brasileiro a escrever sobre situações e personagens tipicamente nacionais, e se apresentaram as duas maiores atrizes do século XIX: Eleonora Duse e Sarah Bernhardt. Em 1928, o prefeito Antonio Prado Júnior determinou a demolição do teatro (que em 1923 passara a se chamar João Caetano) e em seu lugar foi erguido o Teatro João Caetano atual, inaugurado em 1930. Recentemente foi “modernizado” assumindo a feição da quarta foto abaixo.
Mas mesmo levando em conta apenas a "encarnação" atual, o João Caetano continua sendo nosso teatro (existente) mais antigo se não contarmos o Theatro Municipal (de 1909, que na verdade é uma "sala de concertos") nem o Cinema Íris (de 1922, que originalmente foi um "cine-theatro", onde se filmaram cenas da minissérie Dercy de Verdade, hoje o cinema mais antigo do Rio e exibindo filmes pornôs). O teatro foi inaugurado em 1930. Em 1932 seria inaugurado o Teatro Carlos Gomes, em 1934 o Teatro Rival, em 1935 o Teatro Regina que em 1946 passou a se chamar Dulcina, em 1938 o Ginástico e em 1940 o Serrador, atual Brigite Blair II (Fonte: site Teatros do Centro Histórico do Rio de Janeiro.)
"Theatro Imperial" em gravura de W. Loeillot de 1835 (observe à direita as torres da igreja de S. Francisco de Paula). |
Gravura de Friedrich Pustkow do "Theatro S. Pedro de Alcantara", do álbum "Vistas do Rio de Janeiro" de 1850. Gravuras obtidas na Biblioteca Nacional Digital. |
Teatro São Pedro de Alcântara em foto de Augusto Malta de 1928, pouco antes da demolição. |
Teatro João Caetano em foto de 2010 após a "modernização" |
Estátua do ator João Caetano em frente ao teatro |
Painel de Di Cavalcanti, com temática musical, de 1931 (e modificado em 1964), tombado no nível estadual, que pode ser visto na sala de exposição do teatro, na subida para o balcão superior. |
Chacrinha, o Musical, encenado no verão de 2014-15 |
Em suas Memórias para Servir à História do Reino do Brasil (Ano de 1813, item 21) o Padre Perereca (Luís Gonçalves dos Santos) descreve a inauguração do Real Theatro de São João:
“No dia 12 de outubro [...] abriu-se o referido teatro, fazendo-se nele a primeira representação, que foi honrada com a augusta presença do Príncipe Regente Nosso Senhor [futuro rei D. João VI], e de grande parte da sua real família, no meio de um luzidíssimo concurso [=afluência] de toda a fidalguia, e das pessoas mais distintas desta Corte. Este Real Teatro, situado no lado setentrional da espaçosa Praça do Rossio [atual Praça Tiradentes], traçado com gosto, e construído com magnificência, a ponto de emular os melhores teatros da Europa, tanto pelo aparato de formosas decorações, pompa do cenário, e riqueza do vestuário, quanto pela grandeza, e suntuosidade do real camarim, cômodo, e asseio das diferentes ordens dos camarotes, amplidão da plateia, e outras qualidades, que se requerem nos edifícios desse gênero, é um dos monumentos públicos, que começam a adornar a capital do Brasil, e a aformosear a nascente Corte deste novo Império.”
O viajante Ernst Ebel, em sua obra O Rio de Janeiro e seus arredores em 1824, assim descreve o teatro: “Internamente o edifício tem as dimensões da Ópera de Berlim e é de admirar-se sua decoração a ouro sobre fundo verde, a plateia sendo guarnecida de bancos e havendo três ordens de camarotes mais uma galeria. O camarote imperial ocupa todo o fundo e é ricamente ornamentado.”
“No dia 12 de outubro [...] abriu-se o referido teatro, fazendo-se nele a primeira representação, que foi honrada com a augusta presença do Príncipe Regente Nosso Senhor [futuro rei D. João VI], e de grande parte da sua real família, no meio de um luzidíssimo concurso [=afluência] de toda a fidalguia, e das pessoas mais distintas desta Corte. Este Real Teatro, situado no lado setentrional da espaçosa Praça do Rossio [atual Praça Tiradentes], traçado com gosto, e construído com magnificência, a ponto de emular os melhores teatros da Europa, tanto pelo aparato de formosas decorações, pompa do cenário, e riqueza do vestuário, quanto pela grandeza, e suntuosidade do real camarim, cômodo, e asseio das diferentes ordens dos camarotes, amplidão da plateia, e outras qualidades, que se requerem nos edifícios desse gênero, é um dos monumentos públicos, que começam a adornar a capital do Brasil, e a aformosear a nascente Corte deste novo Império.”
O viajante Ernst Ebel, em sua obra O Rio de Janeiro e seus arredores em 1824, assim descreve o teatro: “Internamente o edifício tem as dimensões da Ópera de Berlim e é de admirar-se sua decoração a ouro sobre fundo verde, a plateia sendo guarnecida de bancos e havendo três ordens de camarotes mais uma galeria. O camarote imperial ocupa todo o fundo e é ricamente ornamentado.”
O Real Theatro de São João em desenho do austríaco Thomas Ender, que chegou no Rio de Janeiro em 1817, na comitiva da arquiduquesa Leopoldina |
QUAL FOI O PRIMEIRO TEATRO ABERTO NO RIO?
Quem nos dá a resposta é o historiador Nireu Cavalcanti em sua obra clássica O Rio de Janeiro setecentista. Na época colonial, explica Nireu às páginas 172-34 de seu livro, "ópera" significava também peça de teatro, e "casa de ópera" era o mesmo que teatro. "No Rio de Janeiro setecentista chegaram a funcionar simultaneamente duas casas de ópera, ambas construídas — presume-se — a expensas de um único e mesmo empresário, que não possuía sócios: Boaventura Dias Lopes [também conhecido como Padre Ventura]. A primeira delas, a Ópera Velha, foi construída no mínimo um pouco antes de 1748 — data de sua mais antiga referência. [...] Tratava-se de teatro simples, com apenas um andar superior para os camarotes e um palco de pouca profundidade. [...] Por sua vez, a localização da Ópera Nova vem indicada num mapa cuja datação se acerca dos anos 1758 e 1760. Bem ao lado do Paço e ao fundo do prédio da Cadeia e Senado da Câmara dos Vereadores (atual prédio da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) aparece no mapa o nome 'Ópera'." (Este mapa é o primeiro da nossa postagem Mapas Antigos do Rio de Janeiro, que você pode acessar clicando aqui.)
Um comentário:
"Caríssimo Ivo, você sempre nos brindando com belas antiqualhas, e revelando autores para nós quase desconhecidos. Fiquei surpreso também com a possibilidade de obter imagens da Biblioteca Nacional e da Moreira Salles." (enviado por e-mail)
Postar um comentário