O conjunto colonial do Largo da Carioca (da esquerda para a direita: Convento de Santo Antônio, igreja do convento e Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência) antes da restauração. |
O conjunto colonial após a restauração. Observe que a igreja do convento (meio) recuperará o frontão triangular maneirista original, semelhante ao da igreja do Mosteiro de São Bento. |
No final de junho de 2012 tive a oportunidade de
participar de visita guiada às obras de restauração do Convento de Santo Antônio
e sua igreja no Largo da Carioca, centro da cidade. Estiveram comigo, entre
outros, o escritor e arquiteto Hélio Brasil, autor do texto adiante, e a fotógrafa
e artista plástica Sandra Santos, autora das belíssimas fotos abaixo. As duas fotos acima, que
mostram o conjunto colonial antes e após o restauro são do material de divulgação
do projeto.
ENFIM, PRESERVADO!
O Convento de Santo Antônio
O Rio de Janeiro convive, há quase cinco séculos, com
mudanças físicas impostas a seu território, intervenções que alteram suas
paisagens naturais e construídas. Não são novidades as velhíssimas histórias
dos litorais redesenhados, de morros derrubados e espelhos d’água desaparecidos
sob camadas de aterro. Desde os eliminados morros das Mangueiras, do Senado e
do Castelo até o mais recente sacrificado, o morro de Santo Antônio, a história
se repete. Não fossem as narrativas e pesquisas de nossos Vieira Fazenda,
Coaracy, Brasil Gerson e Nireu Cavalcanti, as fotos de Ferrez, Malta e outros
perspicazes observadores, a memória do espaço carioca estaria de todo perdida.
Afinal, no meio de tantos bens destruídos e aviltados,
somos abençoados com a restauração que está sendo feita no Convento de Santo
Antônio, belo exemplar remanescente da arquitetura religiosa, dos mais antigos
da nossa Cidade, cuja pedra de fundação data do século XVII (4 de julho de
1608.). O terreno, resultado de uma doação aos franciscanos, ocupa a elevação
antes chamada do Carmo e debruçava-se sobre a lagoa de Santo Antônio, nome de
antiga ermida ali construída. Aterrado o espelho d’água e construído um
chafariz (1723), transformou-se ele em um dos mais famosos logradouros do Rio
de Janeiro: o Largo da Carioca. A igreja e o Convento, erguidos na elevação
pelos frades da Ordem Franciscana, mantiveram como orago o santo homenageado na
ermida – consagrando o topônimo – e, a seu lado, foi também construída a igreja
da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, vinculada à Ordem
franciscana. O belo conjunto venceu as tormentas e chegou aos nossos dias,
desfrutando boa visibilidade a partir do Largo. Sob o teto do convento
ocorreram fatos e desfilaram presenças importantes para a história do Brasil.
Lá, no século XIX, o nosso primeiro imperador teria redigido a carta do Fico.
Em seus corredores segredaram-se os anseios da independência. Por lá também
passaram, nos primórdios, figuras ilustres e santificadas do nosso clero, como
Mont’Alverne, Vicente do Salvador, Frei Fabiano de Cristo, o notável botânico
José Mariano da Conceição Velloso e outros.
Nos anos 20 do século passado, frades alemães, na
piedosa tentativa de conservar a edificação, impuseram ao conjunto algumas
alterações que o desfiguraram. A mais perturbadora: o frontão original,
triangular, foi encapsulado sob uma empena de sabor neobarroco com certa
pobreza de desenho [ver duas primeiras fotos]. A intervenção infeliz resistiu, por razões financeiras e
técnicas, às reformas impostas ao Convento nos anos de 1950, à frente da qual
esteve mestre Lúcio Cota e à subsequente, nos anos de 1980, com apoio da
fundação Roberto Marinho. No presente, uma Equipe Técnica ― CEPAC tendo à
frente a coordenadora Ana Lúcia Pimentel e os arquitetos Olínio Coelho e Felipe
Borel, com apoio financeiro do BNDES e outros parceiros — luta para restaurar
paredes, pisos, cômodos em sua espacialidade original, reavivando as volutas
douradas, os nichos requintados e altares palcos de cenas da vida dos beatos
ali adorados. Uma luta notável para nos devolver um monumento íntegro.
O edifício religioso deverá, assim, recuperar imagem bem
mais próxima à sua feição original. A empena e seus coruchéus, por assim dizer,
libertados do estranho invólucro, voltarão à fachada do templo. Seus muros e
seus interiores, restaurados, permitirão aos frequentadores, com fins
religiosos, turísticos ou de leigos interessados em cultura, apreciar sua
arquitetura bem mais próxima do original. Uma feliz notícia para quem ama a
cidade e deseja ver seu patrimônio histórico e artístico preservado.
Amém.
Helio Brasil – arquiteto - 2012
Sandra Santos, autora das fotos desta postagem, é mais um membro de uma família pernambucana
da qual procedem importantes personalidades ligadas à cultura, como o
desenhista e pintor Augusto Rodrigues.
Seu contato com a arte começou cedo: aos 9 anos já frequentava a Escolinha de Arte do Recife, de seu tio Augusto, pioneiro da introdução do conceito de arte-educação no Brasil.
Depois de uma longa temporada vivendo em Paris, Londres e Sydney, radicou-se no Rio de Janeiro, onde ganhou notoriedade no exercício da xilogravura, participando de exposições no Brasil e no Exterior, lecionando durante 4 anos no MAM e atuando na área gráfica em capas de CD de variados importantes nomes da nossa música. Durante esse período teve catálogos com críticas muito elogiosas de artistas como Livio Abramo, Renina Katz e Thereza Miranda, entre outros.
Logo sua exuberância criativa a levou para outras linguagens gráficas, como a serigrafia, para dedicar-se posteriormente ao desenho e em seguida enveredar por muitos caminhos.
Com esse conhecimento adquirido, aliado ao crescente interesse pela fotografia,que definitivamente veio a ser mais um meio de expressão, imprimiu novos rumos ao seu trabalho.
Um comentário:
Olá. Sou repórter da revista Conceito A - www.canala.com.br - e estou fazendo uma matéria sobre as Igrejas do Largo da Carioca.
Gostaria do contato da Sandra Santos para usarmos uma das fotos feita por ela.
Meu email - reportagem@rioconceitoa.com.br
Tel - 2524-8962
Att.
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