Minha mãe, Anita Korytowski (sobrenome de solteira: Paderstein) nasceu em Eppstein, perto de Frankfurt, Alemanha, em 1926. Cinquenta anos atrás (19/12/1959) faleceu de câncer no seio. De 1o de janeiro de 1938 a 23 de agosto de 1939 (ou seja, quando "mocinha" com 12-13 anos) ela escreveu um diário abrangendo o período em que, fugindo da barbárie nazista, meus avós deixaram a Alemanha com as duas filhas e recomeçarem a vida aqui no Brasil. O olhar de minha mãe sobre os acontecimentos — a perseguição implacável aos judeus, a viagem de navio, a chegada ao Rio, a adaptação à nova pátria — é fascinante e comovente. Selecionei trechos interessantes do diário que gostaria de compartilhar com vocês. O texto original em alemão está disponível no Google Docs. A tradução para o português é minha.
Sábado, 1o de janeiro de 1938
Estou feliz porque tenho um diário e posso escrever nele. Todas as minhas experiências deverão vir para cá. Também quero escrever tudo que me vem à cabeça.
No primeiro dia do ano dormi até tarde e depois estive na casa da Sra. Anna Mankiewitz que me convidou para almoçar. Foi muito bom e gostoso. Menu: bouillon [caldo] em taças, pato com castanhas e batatas, saladas diversas e no final sorvete. Muito gostoso. Hanno veio me levar ao cinema. Fomos assistir Rekrut Willie Winkie [A queridinha do vovô] com Shirley Temple. O filme tinha legendas em alemão. Foi bem legal. [...]
Domingo, 13 de fevereiro de 1938
Hoje pela primeira vez na vida fui num concerto. Simplesmente indescritível. Tocaram Haydn e Beethoven. Fabuloso. Walter Gieseking [foto abaixo] tocou piano. Eu queria pedir um autógrafo, mas infelizmente o intervalo foi curto demais e fiz uma besteira. Eu consultei um senhor de fraque mas ele não entendeu direito o que eu queria. Aí eu expliquei: “Não, eu queria um autógrafo de W. G.” O idiota então disse: “Eu não tenho nada com isso.” Aí tocou o sinal e voltei ao camarote. Conseguimos ótimos lugares. Aquele início de noite foi divino.
Quarta-feira, 17.2.1938
Hoje recebi uma carta encantadora do Peterle. Ele escreve uma gracinha e o melhor é que talvez na Páscoa virá passar uns dias conosco. Estou supercontente. Vai ser muito legal. O idiota do Hanno nem me escreve. Talvez não goste do fato de que sou judia. Mas não dá para acreditar, porque em Berlim nos demos tão bem. Fora isso, o dia foi bem monótono.
Domingo, 20 de fevereiro de 1938
Me considero bem crescida para os meus 12 anos. Tive uma ideia. Quando for para Frankfurt, vou me vestir e maquiar como se tivesse 14 anos. Não posso descrever exatamente. De qualquer modo, uma coisa é certa: não me sinto como tendo 12 anos. Mas acho que isso não é ruim. Só se vive uma vez!!!
Oh, faz 2 meses que não escrevo. Taaaanta coisa mudou. Hoje são 3 de julho. Comigo não aconteceram grandes coisas. Passei 8 dias em Nordhausen e foi bem maneiro. Depois tem outras coisas menos importantes. Fui ver Broadway Melodie 1938. O filme foi muito legal, e Eleanor Powell sapateou magnificamente. Tomamos a decisão de emigrar para o Rio de Janeiro. Nosso sítio [Hof Häusel, em Eppstein, perto de Frankfurt] já foi vendido. Tudo acontece tão rápido.
21 de outubro de 1938
Saímos da Alemanha!!!!!!
Vou escrever bem pouquinho. Já está bem tarde. Estamos em Nova York, onde ficaremos até sexta-feira da semana que vem. [Antes de virem ao Brasil, meus avós ainda viajaram aos EUA, onde vivia a irmã do meu avô, com esperança de talvez conseguir visto de permanência ali. Depois retornaram à Europa para enfim embarcarem na França rumo ao Brasil.] O sítio foi vendido. Depois de muitos aborrecimentos com as autoridades, fizemos nossas malas. Há muito tempo não escrevo, mas agora vou à forra. Mais uma coisa. Podemos nos considerar felizes por termos saído daquele país (a situação de todos os judeus não é boa. A maioria não consegue sair do país. Podemos nos dar por felizes!!!!!!! São dez e meia da noite. Para nós começa uma vida nova.
O Rio de Janeiro segundo um livro infantil alemão de geografia que tenho desde criança. Tradução da legenda: “O Rio de Janeiro é uma das cidades mais belas da América do Sul, quiçá do mundo. Seu símbolo é o Pão de Açúcar.”
Segunda-feira, 7 de novembro [Aqui parece haver um erro de datação. A Noite de Cristal, quando as sinagogas foram incendiadas, ocorreu na noite de 9 de novembro. A esta altura meus avós com as duas filhas já estavam em Paris.]
O pior ainda estava por acontecer. Todos os judeus foram buscados. Os homens estão se escondendo. Horrível. Todas as sinagogas foram incendiadas, as lojas saqueadas. As pessoas mandam cartas com notícias terríveis. Não dá para descrever com palavras. Estamos perplexos, corremos para ler os jornais. Sinistro. A maioria já está morrendo lá.
Quarta-feira, 9 de novembro
Felizmente vovó [a mãe de minha avó, que acabou se suicidando em 1942 para não se entregar à Gestapo] ainda está muito bem. Noite sim, noite não, telefonamos para ela. Hoje fomos de novo ao cinema e vimos um lindo filme. Mas nós nos preocupamos muito. A situação está terrível. Todos os homens foram detidos [nos campos de concentração de Dachau ou Buchenwald].
Sexta-feira, 11 de novembro
Meus pais saíram, e de manhã fui à Torre Eiffel e tirei fotos. À tarde fui com mamãe ao cinema. Vimos um lindo filme.
Estamos arrasados. Recebemos cartas terríveis.
Sábado, 12 de novembro
Hoje é uma data importante em Paris. Em bom alemão, Heldengedenktag [literalmente, dia em memória aos heróis; trata-se do Jour d'armistice, dia do armistício, dedicado à lembrança dos mortos na Primeira Guerra Mundial; há um erro de datação, pois este dia cai em 11/11]. O Arco do Triunfo está iluminado. Fabuloso. Desfiles enormes. Cordões de isolamento por toda parte. Paradas militares fantásticas.
Chegou telegrama de Delliehausen dizendo que os Lifts [espécie de engradado para transporte de móveis] já foram despachados. Que sorte, pois nunca se sabe o que esses cachorros farão.
Domingo, 13 de novembro
Passeio com Lucie por toda Paris. Estivemos em Notre Dame. Maravilhoso. Tão tranquila e bonita. É disso que estamos precisando. No túmulo de Napoleão em uma outra igreja, e em outras partes de Paris. A tarde transcorreu bem agradável.
Segunda-feira, 14 de novembro
Fomos de novo ao cinema. Está chegando a hora da despedida. Respiramos aliviados. Horrível estar tão longe sem poder ajudar, mas por outro lado tão terrivelmente perto.
[...] Terça-feira, 15 de novembro
Fomos ao Louvre e vimos a Vênus de Milo. Fiquei muito tempo sentada observando. Aquilo foi fabuloso. Helga [minha tia, irmã de minha mãe] se sentiu depois tão nauseada que teve de sair. Depois ainda estivemos na Mona Lisa, que não me agradou nem um pouco. Afora isso, nada de especial.
Estou feliz porque em breve vamos embora!!!!!
Quarta-feira, 16 de novembro
Hoje fizemos as malas. Ainda fiz compras com Daisy. O último dia em Paris.
Quanta coisa nós vimos.
Quinta-feira, 17 de novembro
De manhã nos despedimos. Apeguei-me muito a Daisy. Na estação do trem fomos encontrar logo Gisela. Ninguém merece.
Agora estamos no navio Massilia que nos levará à nossa futura pátria. À noite queríamos ver a partida e ficamos até meia-noite no convés. Além de nós havia poucas pessoas, que também não sabiam que, devido à neblina, não partiríamos. Depois fomos para a cama tristíssimos.
Passaporte com que meu avô emigrou para o Brasil. O J vermelho designa “Jude” (judeu). À direita o visto de permanência temporário obtido no consulado em Frankfurt. Quando meus avós já estavam no Brasil, o cônsul Carlos Alberto Gonçalves extorquiu-lhes uma fortuna pelo visto definitivo.
Sexta-feira, 18 de novembro
Dia ruim, enevoado e frio. Partimos ao meio-dia. Primeiro fomos à nossa cabine, que é bem bonita, desfazer as malas.
[...]
Segunda-feira, 21 de novembro
Dia muito bonito. Estamos em Lisboa. A maioria dos passageiros desembarcou e está fazendo uma excursão. Nós passeamos por conta própria. Estava bem quente, mas mesmo assim muito agradável. Às seis horas partimos novamente. Conheci um homem jovem muito bacana, Ernst Hirschmann, com 23 anos. Talvez um pouco velho demais para mim, mas eu disse para ele que tinha 14 anos. Última coisa na Europa. Sorte!
Terça-feira, 22 de novembro
Os dias estão maravilhosos. O navio balançou um pouco, mas já nos acostumamos. Hoje à noite tem corrida de cavalos [perguntei à minha tia como era possível corrida de cavalos no navio, ela explicou que devia se tratar de algum jogo ou brincadeira]. — — Foi muito legal. Também ganhamos um pouquinho.
[...] Quinta-feira, 24 de novembro
Agora faz muito calor. Uma pequena prévia do Rio.
[...]
Segunda-feira, 28 de novembro
Na última noite de viagem teve de novo corrida de cavalos. Tivemos de novo um cavalo mas não ganhamos. A noite transcorreu bem agradável. Amanhã estaremos na nova pátria. Estou muito curiosa como será o Rio. Mas é uma pena que estamos chegando, pois a viagem foi supermaravilhosa, embora de noite fosse monótona. Sou uma porcona. [Provável referência a uns borrões de tinta no caderno — coisas do tempo da caneta-tinteiro.]
Página original do diário narrando a chegada no Rio.
Terça-feira, 29 de novembro
De manhã ouvi música. Gamei pelo violinista, ou teria sido por seus olhos bonitos? Mas ele nem me percebeu. Que pena.
Às quatro horas da tarde chegamos. Uma chegada fantástica. Sol brilhante, céu azul, em volta montanhas e diante de nós o Pão de Açúcar. Uma sensação maravilhosa. Nesse percurso tão bonito pouco antes do desembarque, vimos subitamente — como uma aparição celeste — a Cruz [o Cristo]. Mas a montanha sobre a qual estava não dava para ver [estava envolta em nuvens, como às vezes acontece]. Quando não se sabe disso, pode-se pensar que se trata de um milagre e morrer de susto. Por alguns minutos deu para vê-lo, e depois tudo desapareceu. Uma chegada dessas não se vivencia duas vezes.
Chegou a hora de mostrar os documentos. Estávamos todos tremendo, pois sabe-se lá o que o cônsul escreveu? Mas tudo deu certo. Lá embaixo algumas pessoas nos acolheram, pois não conhecemos nada aqui. Primeiro ficamos surpresos. Depois fomos cuidar das bagagens. Todas as 19 malas foram abertas. Uma trabalheira do cão. Mas 2 pessoas foram nossas acompanhantes. Não conhecíamos nenhuma das duas. Hertha também veio ao navio. Mas com razão fomos bem frios com ela. Ela trouxe flores.
Depois fomos de carro pelo Rio até um hotel em Copacabana. Que bonito! Tudo bem iluminado, mal dá para descrever. À noite primeiro jantamos e depois nos deitamos, após o fim de tarde extenuante, para dormir. Pensei ainda muito em G.L. Eu ainda o vi antes de desembarcarmos, mas depois o perdi de vista. Oh, que pena!
Primeira noite no Rio! 30 de novembro
O primeiro dia no Rio! Dormimos maravilhosamente. De manhã comemos muitas frutas. Sim, agora estamos neste lugar depois de tanta batalha [referência à dificuldade de conseguir os vistos, à burocracia nazista etc.]. Mal dá para acreditar. Vimos a praia maravilhosa de 16 quilômetros [as praias de Copacabana e Leme juntas têm uns 4 quilômetros; minha mãe exagerou um pouco]. Muito bonita.
Quinta-feira, 1o de dezembro
O segundo dia está ainda mais bonito. Meus pais saíram para fazer algumas visitas, e ficamos de novo sozinhas. Estamos morando num hotel alemão. Ótima comida.
Sexta-feira, 2 de dezembro
É maravilhoso aqui, o que não é de se estranhar. A 12 dias de distância da Europa, tudo de bom.
Hoje escrevemos cartas, e meus pais saíram de novo.
Sábado, 3 de dezembro
Ainda não vamos à praia, pois primeiro é preciso se acostumar com o clima.
Pelo contrário, nem está fazendo calor, e no primeiro dia já fomos recepcionados por uma boa chuva. Enquanto nenhuma brasileira se atrevia a sair, fomos na rua com nossas capas de chuva. Pareceu engraçado.
Domingo, 4 de dezembro
Hoje fomos pela primeira vez no mar. Que maravilhoso. A água do mar bonita e morna.
Nossos pais estão procurando apartamento. Precisamos encontrar algo. As pessoas são todas muito gentis conosco.
Terça-feira, 6 de dezembro
Achamos um apartamento muito bonito. Quatro quartos, mobiliado. Ficaremos lá primeiro três meses, e depois veremos o que acontece. Antes vimos outro apartamento, mas horrível.
Quarta-feira, 7 de dezembro
Mudamos para o apartamento. As malas foram desfeitas. Está bem aconchegante aqui, após tanto tempo de novo um lar.
Quinta-feira, 8 de dezembro
Mamãe queria ir primeiro na feira, mas não teve tempo. Maravilhoso cuidar assim da casa.
Sexta-feira, 9 de dezembro
Vivemos muito contentes. Nos divertimos muito.
Infelizmente temos muita correria com a legalização. Não há um só dia em que não tenhamos que ir ao centro, e aí vai sempre embora um dinheirão. Todas as assinaturas custam alguma coisa, e alguns contos já se foram.
Quarta-feira, 14 de dezembro
Estivemos no cônsul, este safado. Ele ainda quer nos arrancar dinheiro aqui, tenta meter medo em nós, mas nós não vamos aceitar isso. [A história de como o cônsul Gonçalves extorquiu dinheiro dos meus avós consta do livro O anti-semitismo na era Vargas, da historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, a quem minha avó deu um depoimento. A biblioteca do Museu Judaico aqui do Rio possui um exemplar, doado por mim.]
Domingo, 18 de dezembro
Fomos nadar. Eu agora sempre faço compras sozinha, o que é bem divertido, e também se aprende muito português. Normalmente ficamos em casa sem fazer nada.
Terça-feira, 20 de dezembro
Quase todo dia vou à praia, sempre encantadora e bonita como da primeira vez.
Quinta-feira, 29 de dezembro
Como sempre primeiro trabalhamos, depois do almoço costuramos, bebemos café e depois fizemos um belo passeio.
Nossos pais foram de noite a Copacabana, e nós vimos um bonito filme a cores.
Depois de amanhã já é Reveillon. Logo meu diário comemorará um ano de existência, mas está bem rabiscado. Daqui pra frente escreverei melhor.
Sexta-feira, 30 de dezembro
Amanhã à noite é Reveillon, e já convidamos um monte de pessoas.
Cedo à feira. Depois do almoço, nadei.
Meus pais estão agora à noite no cinema.
Fora isso não fizemos nada hoje.
A Senhora Steger acabou de telefonar contando que Tio Ernst Simon também foi preso. Horrível uma coisa dessas.
Mas aos poucos eles vão soltando todo mundo de novo. [De dezembro de 1938 à primavera de 1939 os judeus presos em Dachau e Buchenwald foram sendo soltos em troca do compromisso por escrito de deixarem em breve a Alemanha. A Solução Final — extermínio puro e simples — veio depois.]
Viemos ao Rio para morrer de frio, pois está chovendo e não está fazendo calor.
Sábado, 31 de dezembro
1938 chegou ao fim, e logo começará o ano novo. Mas não precisamos ficar de luto pelo ano velho, pois raramente foi uma porcaria, pelo contrário, para nós foi bem agradável.
Passamos a tarde preparando sanduíches, fazendo compras, arrumando a mesa, pois convidamos para a festa de Reveillon 11½ pessoas. A meia pessoa é um bebê de 5 meses, porque uma das convidadas está grávida. A Senhora Branderstein nos ajudou bastante à tarde. Ele [o marido dela?] trouxe de manhã um rádio que ficará conosco durante o Reveillon, para animar o ambiente. Às oito e meia da noite todos chegaram pontualmente. [Pontualidade germânica, mesmo no Brasil!] Foi maravilhoso. Teve de tudo, e papai preparou um ponche espetacular, e à meia-noite foi a vez de 2 garrafas de champanhe. Estouramos de tanto rir e nós duas [minha mãe e a irmã] dançamos à beça. Em suma, aproveitamos ao máximo.
À meia-noite brindamos a um feliz ano novo e comemos ótimas salsichas.
Às 3 da madrugada, todos se despediram, após aquela festa de Reveillon maravilhosa.
Só lamento uma coisa: que vovó não esteja conosco.
O Dr. Mayer disse que danço muito bem, e foi tudo ótimo.
Realmente uma linda despedida de 1938.
Meu diário comemora um ano de vida.
1o de janeiro de 1939 no Rio de Janeiro
Um ano novo começou, que espero seja melhor que o velho. Hoje dormimos até nove e meia. Depois deixamos tudo de lado e ficamos até meio-dia na praia. Depois nos vestimos, após um banho de mar maravilhoso, e fomos às corridas de cavalo. Foi de novo maravilhoso, além de muito emocionante. Tenho um olho clínico para os cavalos. Fomos pra cama cedo.
[...] Segunda-feira, 2 de janeiro
Minha primeira aula de português, que foi muito agradável. Dada por um jovem bem simpático de 17 anos.
Quinta-feira [5/1]
De manhã fomos ao centro na polícia tirar impressões digitais, o que é bem imundo. Depois já em casa ouvi a bela notícia de que a merda do cônsul quer que paguemos 30 contos. Acabou que ele conseguiu nos colocar em apuros, pois isto é muito dinheiro nas nossas circunstâncias. Temos mais ou menos o dobro. Mas não podemos fazer nada, pois ele nos ameaça denunciar às autoridades. Esse velho safado [Schwein em alemão, literalmente “porco”]. Torcemos para conseguir encontrar alguma saída, mas não vamos conseguir. Mas talvez ele se contente com a metade. Deveríamos ter dado a ele essa "ninharia" lá na Alemanha, porque lá tínhamos dinheiro. [Embora meus avós fossem ricos na Alemanha, havia uma limitação ao montante que podiam levar para fora do país.]
Sexta-feira [6 de janeiro]
O negócio com o cônsul chegou a uma conclusão. Ele exigiu 22 contos, que bem ou mal tivemos que pagar. [Quando instituído em julho de 1940, o salário mínimo valia 240 mil réis. Portanto, 22 contos de réis correspondiam a 92 salários mínimos. Com o salário mínimo a 937,00 hoje seriam 86 mil reais.]
Segunda-feira [9/1]
Hoje de manhã quis nadar na praia, mas infelizmente o banho de mar estava proibido. Ondas colossais.
À tarde dei uma volta. À noite vieram os Brandensteins, e saímos mais um pouco para passear. [...]
Terça-feira [10 de janeiro]
Em breve fará 5 meses completos que saímos da Alemanha.
Como o tempo voa. Enquanto isso as coisas lá parecem que estão de novo terríveis. Os judeus não podem dirigir carros, ouvimos dizer que só podem passear em determinados horários, e muitas outras coisas. Mas graças a Deus a vovó ainda vai bem.
Existe algum castigo para essas maldades? Não há limite para elas.
Quarta-feira [11 de janeiro]
Pra isso viemos ao Rio: pra sofrermos da mesma falta d'água que tínhamos lá em casa [na Alemanha]. Desde as sete e meia da manhã, não temos nenhuma gota d'água. O porteiro não nos avisou que uma tubulação se rompeu. Copacabana e Ipanema inteiros estão sem água. Hoje à tardinha colocaram vários barris de água no pátio e os moradores dos apartamentos fizeram fila. Temos agora certa quantidade, e deu para lavar as louças o dia inteiro. O banheiro está fedendo por todas as frestas. Para amanhã cedo prometeram mais água, mas não acreditamos muito nisso, mas não estaremos em casa. Esperamos que tudo se resolva.
Quinta-feira [12 de janeiro]
Hoje de manhã, para nossa alegria, justamente quando íamos sair de casa, a água voltou. Tranquilizados, saímos, pois queríamos passear com a Senhora Straus e a Senhora Kahn em Paquetá, uma ilha belíssima.
Na estação das barcas, encontramo-nos ainda com Papai e depois viajamos durante uma hora e meia em uma pequena barca. Super-relaxante, mas quente, nem dá para imaginar. Logo fomos a um restaurante e comemos e bebemos antes de mais nada. Em seguida fomos tomar banho de mar, a água não estava nada atraente. Às três horas, pegamos a barca de volta, depois que cada um de nós comeu, na estação, uma fatia de abacaxi. Depois retornamos e fomos para casa. Passamos um dia bem bonito. Mas fez um calorão e suamos em bicas. 37,5oC. Vimos o navio Monte Olivia.
Domingo [22/1]
Às 10 e meia da manhã, chegou o Peter e fomos à praia nadar. Passamos duas horas maravilhosas. Hoje nadamos até o posto, pelo menos 20 metros. [...] Peter telefonou para um amigo, que chegou às 2 e meia. Primeiro fomos de novo nas rochas [Arpoador] e às 5 fomos ao cassino [Atlântico]. Pena que o amigo Fritz não soubesse dançar. Helga dançou à beça com Peter, mas eu tive que ficar só olhando. (Ainda terei muitas oportunidades na vida de dançar.) Após um bonito show de variedades, voltamos para casa. Peter pagou toda a conta (20 mil), mas Helga não gostou daquilo, pois ele também não passa de um rapaz de 20 anos. Com Fritz consegui conversar bem. Uma tarde agradável. Na verdade, eu não deveria ir ao cassino (foi o que disse Mamãe, com toda razão), mas mesmo assim foi ótimo.
Quarta-feira, aniversário [25/1/1939]
Pois é, mais um ano se passou. Estou fazendo treze anos. Para minha grande alegria, ainda por cima chegaram presentes. É verdade que sem velas, mas foi muito, muito gentil [...]
Quinta-feira [26 de janeiro]
De manhã em casa. Chuva e mais chuva. Faz tanto frio que temos de andar de pulôver, e mesmo assim gelamos. A culpa é exclusivamente do devastador terremoto que matou 50 mil pessoas no Chile. Fui ao cinema. Um filme encantador.
[27/2]
Que horror eu ter ficado tanto tempo sem escrever. [...] Na segunda e terça-feira, fomos ao Carnaval no Centro. Foi divino. Fantasias esplêndidas nas cores mais maravilhosas, um corso espetacular [desfile de automóveis – ver foto abaixo] e à noite um fabuloso desfile. (O Carnaval de Mainz é uma porcaria em comparação.) Indescritível para os padrões europeus e nem adianta escrever a respeito. Foi maravilhoso. Fomos com Martin Mayer. Eu estava de sábado de manhã até hoje de manhã em Petrópolis com a família Spiegel. Primeiro comemos gostoso no Centro e depois partimos. Uma viagem fantástica pelo verde até chegarmos no alto da serra. De noite dormi otimamente, pois estava tão frio lá em cima que dormi com dois cobertores de lã e ainda assim gelei. Petrópolis fica a 800 metros de altura. É bem frio lá. [...]
Fotos tiradas pela minha mãe no Carnaval de 1942
Sábado 11[/3/39]
Agora sei que moramos num apartamento bem grande e bonito. Sem mobília, sem gás, sem nada. Luz conseguimos logo. Telefone só ontem. Estamos aqui desde quarta-feira, dia 8. Dois dias dormimos em colchões sem o estrado da cama, tínhamos apenas mesa e sofá! Embaixo de nós fica uma padaria que assa pães a noite inteira. Em frente passa o bonde. Barulho não nos falta! Mamãe e Helga tapam as orelhas com algodão, eu já me acostumei com o barulho. Se conseguíssemos liberar os móveis da alfândega. Mas ainda vai demorar um pouco. Apanhamos sempre pãezinhos, à noite comemos no restaurante. Essa é nossa vida diária, só ontem aconteceu algo especial. Fui matriculada na escola. Entrarei na 5a série. Começarei na segunda-feira. Devo falar só português. Nunca fui a uma escola. [Na Alemanha, preceptores iam ao sítio de meus avós dar aulas à minha mãe e tia. Naquela época não era obrigatório frequentar a escola.] As aulas serão das 1230 às 1730.
Sexta-feira, 17 de março
Faz oito dias que não escrevo. Muita coisa mudou. Nesse ínterim, chegou a segunda-feira. Hoje é 20.3. Temos todos os móveis. Já foram desembalados. Suamos horrivelmente. Além disso, sábado fui à casa da Inez e passei lá uma tarde agradável jogando muito pingue-pongue. De manhã Margot telefonou avisando que podíamos apanhar os móveis e depois o Dr. Müller dizendo que os Lifts chegaram. Quando saí e depois telefonei, eles já estavam lá, e de noite quando voltei, estava uma bagunça, e não conseguíamos arrumar mais nada. Os Lifts já tinham sido desfeitos. À noite dormimos sobre colchões, mas muito bem. De manhã começou a trabalheira. Tudo colocado no lugar, e desembalado, naquela calorão. Nada agradável, e suávamos em bicas. À tarde chegou o Dr. Mayer, que nos ajudou bastante, pois Papai estava arrebentado! Mas agora temos todas as coisas, pelas quais tanto esperamos. Mas tivemos que pagar 12.500 em vez de 8 contos. Mamãe logo tocou no novo piano e Helga, os discos. À noite dormimos nas camas. [...] Como de hábito, fui à escola. Resumindo, já me adaptei muito bem, no princípio tive grandes dificuldades, mas agora vai tudo bem.
Segunda-feira, 24.4.1939
Faz um mês que não escrevo, mas isso aconteceu apenas porque estou indo à escola e sobra pouco tempo para escrever. Um mês inteiro já transcorreu, o tempo passa tão rápido. Temos a impressão de que já estamos aqui [no Brasil] há uma eternidade. Tenho agora meu lindo quartinho com uma escrivaninha encantadora onde posso trancar minhas coisas. Claro que isto é o mais importante. Trabalhamos muito em casa como fazíamos no sítio na Alemanha. Vou regularmente à escola, sobra pouco tempo, mas ajudo também de manhã. Já falo bem português. Estou me saindo bem na escola. [...]
Recebi uma carta de Peter de Zurique dizendo coisas horríveis. Três vezes teve que se esconder da Gestapo num caixote de madeira. Isso é gente ou animais ou doidos?!?! [...] Aqui já ficou bem mais frio. Aliás ficou tão fresco que andamos de coletes. O inverno logo chegará, embora sem neve. [...]
Minha mãe e eu na praia de Ipanema, na época (meados dos anos 50) com bem menos prédios do que hoje.
Domingo, 30 de abril de 1939
De novo tenho muita coisa para escrever. [...] A semana inteira transcorreu com o colégio, fizemos prova de português, infelizmente minha nota não foi boa. Devo dizer que estudei a semana inteira, mas o esforço não foi recompensado. Às vezes tenho vontade de chorar quando leio algo errado e a turma inteira cai na risada. Meu Deus, de que adianta isso, tenho que me controlar. [...] Meu Deus, sou admirada em todas as esquinas, mas só por brasileiros comuns das ruas, nada que valha a pena. Mas isso não me deixa nem um pouco vaidosa. Ou talvez um pouquinho? [...]
Hoje passei uma manhã maravilhosa na praia. À tarde visitei Inez. Foi muito legal. Amanhã cedo tomarei banho de mar em Ipanema, e depois as três moças vêm me visitar. É tão bonito quando se tem boas amigas. Meus dias são preenchidos de forma tão bonita, eu sentia tanta falta de boas amigas em Hof Häusel. [...]
PS. Escrevi certa vez um romance curto inspirado na saga de minha família, recentemente publicado: Passaporte para o Paraíso. Mais informações aqui.
30 comentários:
Ivo, me emocionei lendo os diários de sua mãe. Você tem a quem puxar. Um abraço, Jamil.
Muito interessante o diário de sua mãe, conta com graça a vida do Rio de Janeiro daquela época. Ela era bem otimista (talvez porque jovem), apesar das mudanças e tragédias. Escrevia bem. Aliás o Rio de Janeiro da época era mesmo a cidade maravilhosa. O relato me faz lembrar que nada tenho por escrito da minha própria família do que se passou. Por parte de pai, era uma família judia, etc. Toda a familia foi morta em Strasburg, menos meu avô que morava em Manaus onde comercializava borracha. Um abraço fraterno, Rogel Samuel
Fascinante a iniciativa de publicar o diário de sua mãe. E como na foto de tranças está parecida com você quando te conheci.
Me lembrei de quando recolhemos aquele menino de rua e tentamos arranjar escola para ele, lembra?
E o "burro sem rabo" da esquina da Santa Clara?
Bom visitar seu blog e reavivar essa memória.
Grande 2010 para você. Saudades
Silvio tendler
Olá Ivo,
belíssimo o diário de sua mãe... mas é só isso? acaba alí? fantásticas as fotos da época...se tiver mais, onde está? mande mais do diário...
sempre que leio você me encho de saudade do Rio..amo o Rio...que conheci em 1969, frequentei um endereço na Rua dos Artistas (casa do meu então namorado),pertinho do Bar da casquinha de siri, hoje modificado, virou restaurante..era um botequim...e me diga, o que você sabe do bar em Ipanema "O castelinho" onde tomei meus primeiros chopes pretos... e brancos e comia um sanduiche de galinha junto com o meu namorado carioca que viria a ser meu marido um ano depois e em frente a este bar Castelinho, dentro de um Fusca, virado pro mar, eu ganhei dele o primeiro beijo... no dia 13 de dezembro de 1969 , ele jurava que era um sábado, início do nosso namoro...e um restaurante na cidade onde comi uma bela feijoada chamava-se acho "Escondidinho" e minhas missas no Mosteiro de São Bento aos domingos às 10 horas, chegavámos um pouquinho antes pra ouvir os sinos.. acho que vou dar um pulo aí..pra matar a saudade...antes que eu vá embora e não veja mais o Rio..este ano de 2009 tratei um cancer em estágio avançado (III) de ovário..mas agora estou bem...
Parabéns..é bom saber que você está aí, vivíssimo e que cuida assim do meu Rio de Janeiro..
até
cidinha (enviado por e-mail)
Considero, essa sua postagem, a mais importante e preciosa de todas, opino, se me permites, que deves levar adiante, publicar esse diario de tua mãe na integra, talvez escrever um romance retratando essa época, etc. E, todo conteúdo pessoal, peculiar da saga, da tua família.
[...]
Grande abraço e, saiba que me emocionou profundamente, a leitura dos excertos que voce blogou... (enviado por e-mail)
Daniel, na verdade eu já escrevi um curto romance (inédito) sobre a saga da família, no finalzinho da postagem faço menção, inclusive forneço um link para quem quiser folheá-la!!!
Abraço do velho e eterno amigo.
Ivo
Chorei muito lendo a saga de sua mãe neste relato visto por uma menina pré adolescente neste período tão conturbado da história. Acho que senti na pele a tristeza e ao mesmo tempo a ingenuidade daquela época. Estudei 3 anos no Colégio Hebreu Brasileiro e ainda não tinha lido nada parecido! Emocionada, você sabe que sempre os amei, e enquanto viva estiver, muito orgulhosa de estar compartilhando meus sentimentos com você!
Te amo
Moira
Meu prezado Ivo,
Comovente, o diário da sua mãe! Como nos enganamos, já adultos, quanto à sensibilidade com que as crianças veem o mundo...! No verdor da infância e da adolescência, elas percebem tudo, compreendem tudo, não raro com muito mais sabedoria e agudeza do que os grandes que lhes controlam a vida... O "Diário de Anita" (bom título, não?) lembrou-me, pela riqueza humana e pela substância literária, o de Anne Frank e o primoroso "Minha vida de menina", de Helena Morley.
Obrigado, Ivo, por este momento de emoção e de ternura! Um abraço fraterno do amigo e leitor
Edmílson Caminha
Este seu e-mail foi um magnífico presente de Natal.
Receba o meu agradecimento caloroso.
O Diário da sua mãe é precioso. Quanta delicadeza e quanta firmeza! Vou arquivá-lo e guardá-lo com cuidado.
Você deve se orgulhar muito dela. E agora eu sei por que você é como é, e entendo o sucesso do seu blog. (enviado por e-mail)
FELIZ NATAL !!!!
MERRY CHRISTMAS !!!
FELIZ ANO NOVO !!!
HAPPY NEW YEAR !!!
E assustador que pessoas tenham sido obrigadas a passar por um terror como o dos judeus alemaes, depois europeus. Logo no continente que se gaba de ser o apice da civilizacao. Essas historias precisam ser contadas sempre!
E assustador que pessoas tenham sido obrigadas a passar por um terror como o dos judeus alemaes, depois europeus. Logo no continente que se gaba de ser o apice da civilizacao. Essas historias precisam ser contadas sempre!
Caro amigo Ivo.
Bela homenagem para sua mãe.
Felicidades e sucesso nesse novo ano.
Irany
Sua mãe era precoce, hein, escrevia muito bem para a idade, traçando um painel da época e da situação como gente grande. Bonita e alegre. Gostei muito. (enviado por e-mail)
Linda a Homenagem sobre Anita, sua mãe e minha irmã. Nunca a chamamos ela Anita. Gucki ou Guckelchen foi o seu apelido, pois Anita nasceu com enormes olhos azuis(veja a foto). Gucki era alegre, gostou da vida, tinha orgulho dos seus três filhos que infelzmente teve que deixar tão pequenos órfãos. Depois de tantos anos (cinquenta) a sua homenagem a ela me deixou muito feliz. Obrigada Ivo, a sua tia hoje na Alemanha. (enviado por e-mail)
Ivo,
Realmente emocionante o relato, as fotos, tudo. Posso imaginar como toda a sua história está presente em cores vivas em sua mente.
Parabéns!!!
Linda história. Obrigado por compartilhar conosco.
mto bonito, vc devia publicá-lo... o diário inteiro, com as fotos e as suas notas. Eu compraria. Parabens e obrigada por vc compartilhar essa memória tão delicada.
Amei, tou completamente emocionado de tantos lindo retratos, nesse epoca tao deshumana! Historia triste essa nossa.
Prezado Ivo Korytowski
Sou historiador e trabalho com a história da coletividade judaica contemporânea na cidade do Rio de Janeiro.
Certas partes do diário de sua mãe, uma preciosidade, no que se refere aos primeiros momentos de sua chegada ao Brasil, despertaram minha atenção.
Gostaria de entrar em contato contigo via email para, caso não seja um estorvo, fazer algumas perguntas
Acho que meu email chegou até você. Em todo caso
hsamet@superig.com.br
Oi Ivo, realmente muito bom! Um retrato fantástico daquela época! E naquela confusão, se nota que sua mãe era espirituosa! Dá vontade de ler os próximos capítulos! Um grande abraço, RN Latvian! Vulgo Rudolf! Nos vemos um dia desses! No Caju ou na Armênia!
Estava tentando achar alguma coisa sobre o meu sobrenome "Steger" e acabei chegando aqui. Queria muito saber a história da minha família alemã(e da húngara), mas ninguém sabe contar direito. Mas acho que lá na alemanhã, "steger" é bem comum, então fica difícil. Mas ao ler "A Senhora Steger acabou de telefonar contando que Tio Ernst Simon também foi preso.", fiquei com mais vontade ainda de saber como foi o passado dos meus bisavós e tatarávós. Obrigada por compartilhar essa relíquia!
Muito interessante. Gostei. Um diário autêntico
Ivo, o diário da sua mãe é belo, terno e nos envolve como um abraço. Finalizei a leitura com os olhos nublados de emoção e gosto de "quero mais". Que linda sua mãe!
Ivo
Como estou me recuperando do implante de um marca-passo resolvi abrir o Face Book onde minha irmã escreveu algo bonito e pitoresco, até estimulei-a a voltar a escrever. Foi quando me deparei com o diário de sua mãe. Não sou ninguém para estabelecer juízo de valor. Creio, porém que sua mãe já era, àquela época, uma escritora com uma abordagem do mundo e de sua vida num ângulo que dificilmente uma menina faria (salvo A. Franck, quiçá outras?). O estilo é jovial, solto, crítico e agudo. Não deixou de antever os perigos, também as belezas que se desfilaram na sua adolescência e anos posteriores. Acho que você tem uma matéria para fazer um excelente livro. Suas intervenções, quando li, me atrapalharam um pouco, creio que poderiam ter sido escritas em itálico ou outro tipo. Foi uma mulher bonita, culta, pena que faleceu muito nova. Não li todo o texto confesso. Mas fiquei muito bem impressionada. Imagino que sua família perdeu muito. Meus pais são de uma geração anterior, pré Segunda G Guerra.
Um abraço, Esther (enviado por e-mail e inserido aqui pelo editor do blog)
Ivo, que legal este Diário da sua mãe. Aproveitei para curtir novamente. Parabéns.
Não tenho nada original a dizer... Repito o que Edmílson Caminha escreveu, digo que me emocionei, como me emociono com a história de qualquer refugiado, e digo que tmbm tenho uma coleção de relatos da minha família materna, que reuni de forma romanceada, desde a chegada de meu avô ao Brasil, em 1895. Memórias são importantíssimas, pois através delas é que preservamos quem somos e porque somos.
Um beijo carinhoso pra sua mãe, onde quer que ela esteja no Grande Universo, de onde todos viemos, e para onde todos voltaremos, e nos reencontraremos, semi-mortos de saudades...
Ivo. Não vou elogiar o diário, que todos aqui mesmo já fizeram com abundância. Vou elogiar o "guardador" do diário: você. Fosse um Salomão Rovedo da vida e a preciosidade estaria há muito reciclada em saco de padaria. Você, não. Sabe conservar as antiguidades como tesouro que realmente são. Por isso hoje podemos ler com todas as letras o dramático trespasse, da Alemanha para o Brasil, de uma família entre as centenas que sofreram a mesma tragédia. E também constatamos como as autoridades brasileiras (e certamente de outros países) chantagearam os emigrantes deixando-os quase sem recursos. E verificamos com tristeza que as raízes da corrupção que nos abala no Século 21 são mais profundas do que se imagina. Nós, os brasileiros, somos uma cambada de ladrões safados. Parabéns, Um abraço.
Simplesmente fantástica a postagem, nos remete aos anos difíceis pré 2ª guerra para o mundo, sua mãe uma escritora nata, revela no seu diário sua visão pré adolescente de um momento importante de suas vidas. Comovente também o comentário da sua tia Helga Flatauer também já falecida(2011), falando de forma carinhosa da sua mãe e irmã dela... Parabéns
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