Quem visita regularmente nosso blog deve ter lido a postagem Dallier e o Morro da Conceição (pra ir até lá, clique em "Morro da Conceição" no menu Destaques do Blog da esquerda). Ele é um dos artistas plásticos que têm ateliê nesse aprazível morro do centro do Rio. Visitar o Morro da Conceição sem ver o ateliê de Dallier é como visitar Roma sem apreciar a Capela Sistina.
Mas Dallier nasceu e passou sua infância numa região da Gávea hoje considerada parte do bairro Jardim Botânico. Quem percorre a Gávea e o Jardim Botânico atualmente não imagina que, na virada do século XIX para o XX, lá se instalaram quatro fábricas de tecidos, passando a atrair considerável população operária, que fixou moradia nas proximidades das indústrias. Escreve Brasil Gerson na clássica História das Ruas do Rio: “A Gávea, apesar de sua aparência ainda tão campestre, se converteu num dos bairros mais industriais do Rio e, pois, de população operária mais densa — razão pela qual nela tanto repercutiria a violenta greve geral de 1918, dirigida pelos anarquistas.” (As fábricas de tecidos Corcovado e Carioca são abordadas no excelente blog Curiosidades Cariocas.)
Convidei Dallier para percorrer comigo a região onde passou sua infância. Aqui estão as fotos que tiramos e seus comentários (entre aspas), além de um depoimento seu sobre os velhos tempos. E antes que eu me esqueça: visitas ao ateliê de Dallier podem ser agendadas pelo e-mail dallier@oi.com.br. E não deixem de visitar o blog do Dallier para conhecerem um pouco mais do morro da Conceição e de sua arte. É isso aí!
Mas Dallier nasceu e passou sua infância numa região da Gávea hoje considerada parte do bairro Jardim Botânico. Quem percorre a Gávea e o Jardim Botânico atualmente não imagina que, na virada do século XIX para o XX, lá se instalaram quatro fábricas de tecidos, passando a atrair considerável população operária, que fixou moradia nas proximidades das indústrias. Escreve Brasil Gerson na clássica História das Ruas do Rio: “A Gávea, apesar de sua aparência ainda tão campestre, se converteu num dos bairros mais industriais do Rio e, pois, de população operária mais densa — razão pela qual nela tanto repercutiria a violenta greve geral de 1918, dirigida pelos anarquistas.” (As fábricas de tecidos Corcovado e Carioca são abordadas no excelente blog Curiosidades Cariocas.)
Convidei Dallier para percorrer comigo a região onde passou sua infância. Aqui estão as fotos que tiramos e seus comentários (entre aspas), além de um depoimento seu sobre os velhos tempos. E antes que eu me esqueça: visitas ao ateliê de Dallier podem ser agendadas pelo e-mail dallier@oi.com.br. E não deixem de visitar o blog do Dallier para conhecerem um pouco mais do morro da Conceição e de sua arte. É isso aí!
Antiga casa de cômodos na rua Lopes Quintas, 211
Rua Lopes Quintas vista da janela do brechó
Janela do brechó Estela Oliveira (Rua Lopes Quintas, 53)
Dallier em frente ao brechó
Miau
"A vila onde morei, na Lopes Quintas, durante 15 anos, dos 7 aos 22 anos, e de onde me mudei no dia do suicidio de Getulio Vargas"
"10 de julho de 1932. Em plena revolução eu nasci, entre tiros e correrias vim ao mundo nesse dia tumultuado. Fui amparado pelas mãos carinhosas, em casa, por minha mãe preta de nome Judith, com quem meus pais dividiam a casa de número 28 de uma ruazinha de nome Estela, quase no fim da Pacheco Leão, bem pertinho do Horto Florestal. Minha mãe não teve leite para me amamentar, tampouco ao meu irmão Oswaldo, nascido quase dois anos antes. Foi Dona Judith quem nos amamentou e foi de seus seios negros que nos alimentamos no princípio de nossas vidas. Ali vivemos por mais algum tempo até que viemos morar no Morro da Conceição, na Praça Mauá [onde Dallier tem hoje seu ateliê]. Minha mãe era operária da Fábrica Carioca e todos os dias viajava até a Gávea para trabalhar juntamente com minha tia Rosa.
Já quase completando sete anos, meus pais resolveram voltar ao bairro onde nasci. Fomos morar em uma pequena casa de vila na Rua Lopes Quintas onde anteriormente morava o contramestre de minha mãe na fábrica, cujo apelido era Jaime Malhado. A casa além de ser muito pequena estava em péssimo estado, meu pai que ainda não havia visto a casa recusava-se a entrar. As paredes esburacadas, a cerca com pedaços de madeiras amarradas com trapos velhos e sujos mostravam o que nos esperava. Minha mãe confiava na capacidade de meu pai, que era um ótimo pedreiro, e como ela já estava cansada de viajar diariamente, chegando tarde em casa, e de subir a ladeira do morro da Conceição todos os dias, insistiu em ficarmos. E assim foi.
Já quase completando sete anos, meus pais resolveram voltar ao bairro onde nasci. Fomos morar em uma pequena casa de vila na Rua Lopes Quintas onde anteriormente morava o contramestre de minha mãe na fábrica, cujo apelido era Jaime Malhado. A casa além de ser muito pequena estava em péssimo estado, meu pai que ainda não havia visto a casa recusava-se a entrar. As paredes esburacadas, a cerca com pedaços de madeiras amarradas com trapos velhos e sujos mostravam o que nos esperava. Minha mãe confiava na capacidade de meu pai, que era um ótimo pedreiro, e como ela já estava cansada de viajar diariamente, chegando tarde em casa, e de subir a ladeira do morro da Conceição todos os dias, insistiu em ficarmos. E assim foi.
Meu pai, apesar de sua opinião, colocou mãos à obra e, aos poucos, a casa foi ficando habitável. Pertinho da fábrica, minha mãe acordava cedo, deixava a comida pronta, a casa arrumada e voltava na hora do almoço com algumas colegas a quem dava pensão, e depois quando soava o primeiro apito voltavam para a fábrica. Devo dizer que minha mãe sempre era a última a entrar de volta justamente quando o último apito tocava e ninguém mais poderia entrar."
"O interior da Igreja Divina Providência onde fiz minha primeira comunhão, realizada pelo Padre Vicente, que mais tarde morreu atropelado. e onde se ouvia aos domingos na missa a voz da cantora lírica Diva Pierante"
"Frente da Igreja Divina Providência" (observe atrás o Cristo)
"Sentado na frente de um novo restaurante onde, no meu tempo de menino, existia uma padaria"
"Idosos jogando cartas na esquina da Rua Abreu Fialho. Vêem-se as casas que antes pertenciam à Fábrica Carioca, onde minha mãe trabalhava."
7 comentários:
Prezado Ivo!Gostei muito de passear com o Dallier no Jardim Botânico!
Eu achei esta matéria adorável!
Abraços!
Siomara de Cássia Miranda
Seu blog realmente possui estórias muito gostosas sobre o RJ... é um site carioca... :-)
abraços paulistinhas (enviado de Sampa por e-mail)
interessante porqué é nesse bairro que eu tambem passei as minhas ferias na minha infancia, na rua Von Martius,da janela eu assistia na filamgem das novelas no teto do edificio da Globo, pertinho tinha um pequeno convento, sera que existe ainda...
foi bom andar com vocé nessas ruas.
saudade
Onde se localiza o Couve Flor ("Sentado na frente de um novo restaurante onde, no meu tempo de menino, existia uma padaria") havia nos meus tempos de criança e adolescente a padaria do Seu Merola. Lá, eu e meus irmãos comprávamos fiado (cigarro, bala, coca-cola etc) e no final do mês surgia uma conta enorme para o meu pai pagar. O pior é que ele ia até lá, pedia para o Seu Merola parar de vender e um mês depois começava tudo novamente. Na casa pintada de amarelo e salmão havia um antigo colégio chamado Monteiro Lobato. No local onde os idosos jogam, existe há muitos anos um armarinho que os moradores chamam de bazar da Soninha ou do Seu Gabriel: um antigo funcionário da fábrica já falecido, que perdeu os 2 braços ao manejar uma máquina. Na 14ª imagem eu acredito que morava um barbeiro que era o terror dos meus irmãos quando meu pai os levava até lá, pois todos queriam usar cabelo comprido. A casa onde se encontra um cachorro na janela, um medidor de água ou luz e uma moça na porta é de uma amiga de infância. A rua se chama Alberto Ribeiro, mas os moradores até hoje a chamam de Rua da Escola, porque nos primórdios (eu nem tinha nascido) havia uma escola. (enviado por e-mail)
Ivo,meu caro: Pensar que o adorável bairro ainda preserva seu ar bucólico é muito bom.Feliz escolha desta matéria.Parabéns! Silvana Vargas
Dear Ivo,
Fiquei encantada com o seu convite, q lindas casas e q cores vibrantes, ate parece que Dallier andou p la pintando uma a uma!
Muito bonito mesmo!
Planejo ir ao Brasil no proximo ano e gostaria de conhecer pessoalmente voce e Dallier,marcarei c antecedencia ja que e possivel conhecer o atelier.
Congratulations!
Beijinhos com carinho
Obrigada pelo testemunho do morador do Jardim Botânico. Lembrei de minha mãe que também, naquela época, trabalhava em uma fábrica e só parou quando começou a ter filhos. (enviado por e-mail)
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