E O JARDIM ZOOLÓGICO
(com texto de Helio Brasil)Quinta da Boa Vista em 1947
(época em que decorre o texto)
Gramado e lago
Árvores e lago
Pagode japonês
Antigo Palácio Imperial, atual Museu Nacional
Atingindo o alto da alameda principal, os rapazes podiam ver a Ilha dos Amores e seus visitantes domingueiros: os casais de namorados, a garotada saltando nas pedras rugosas, adultos jovens e maduros, alguns conduzindo crianças pelas mãos, atentos aos barcos que circundavam as margens de desenho irregular. Encostada a uma das colunas das falsas ruínas, Ana era fotografada por Sulamita enquanto Eva, a outra prima, pesquisava o lago, admirando a grande cobra de cimento que emergia das águas esverdeadas.
Dom Pedro II
Os rapazes desceram, ágeis, os degraus da escadaria que rompia a encosta gramada e cruzaram a ponte, com elegância e equilíbrio, desprezando orgulhosos o amparo do parapeito imitando troncos de árvore. As jovens repararam na chegada dos três companheiros, sobretudo Paulo, que refizera o nó da gravata vermelha com listras brancas, destacado no terno de tergal cinzento. [...] Simularam a coincidência do encontro. "Você por aqui?" Desnecessariamente, pois Eva e Sulamita sabiam do interesse da prima pelo jovem morador da Villa Elzira e adoravam o papel de confidentes e alcoviteiras, que afinal lhes reservava a aproximação com os dois amigos de Paulo. E no desmontado templo greco-romano, sob as precárias sombras das colunas dóricas e arquitraves de cimento, os jovens entregaram-se às brincadeiras e conversas propícias ao cenário de inocente romantismo.
Imperatriz D. Leopoldina (mulher de D. Pedro I)
"Vamos ao Parque Shangai?" A proposta, aceita com entusiasmo, foi feita por Ana e logo o grupo tratou de abandonar a ilha em fila indiana para cruzar de novo a ponte, quase uma pinguela em concreto simulando troncos cortados longitudinalmente. As moças exageravam os cuidados, obrigando os rapazes a guiá-las colocando-lhes as mãos delicadamente nos ombros e o expediente agradava sobremodo a Paulo Maluco, uma vez que o vestido de sua eleita tombava um pouco, deixando o ombro direito nu, expostas na pela alva inúmeras marquinhas douradas. Mais que direcionar a jovem, impedindo-a de tombar nas águas limosas, a mão de Paulo tentava esculpir o arredondado e tépido território sem que a dona mostrasse reação negativa. [...]
Jardim Zoológico: Papagaio-de-cara-roxa
Chegaram afinal ao topo e caminharam em direção ao museu, o eixo da alameda bem marcado pela enegrecida estátua do segundo imperador.[...] Tudo resplandecia, as sapucaias floriam e os pássaros cantavam. As campainhas de bicicletas faziam, em sons rascantes, o contraponto à algazarra das famílias, marinheiros e soldados flertando e dizendo piadas para as moças em bandos.
Jacarés
Céu imaculado deixava escorregar o sol a fundir-se em ouro banhando o cenário de alegria quando um carro negro, trepidando, insólito, surgiu na pista de asfalto juncada de folhas. Na direção, o mecânico Melânio testando o motor do Ford quarenta e dois; ao lado, aflito, atento aos ruídos da máquina, seu Jacó Pelcman. Deus e Jeová cochilaram bastante para que um dibuk fizesse engasgar o carburador e o carro veio parando, parando e parando até que o israelita surpreendeu a filha Ana, enlevada, ouvindo as palavras do Seixas, braço passado nos ombros da mocinha. Um metro e noventa de ira milenar deixaram o carro, olhos congestionados, o início da calva avermelhando-se. "O que faz você aqui com um gói?", e estalou a mão ampla, dedos roliços na face de porcelana. Emudeceram pássaros, campainhas, homens e mulheres. No silêncio talvez se ouvisse o pingar das lágrimas da jovem judia. [...] Lançou depois um olhar duro para o moço Seixas. "Filha minha não é para andar por aí com qualquer um". Entrou pesadamente no carro e bateu a porta. [...]
Diana, deusa dos animais selvagens e da caça
Na calçada, os circundantes voltaram à atividade lançando olhares de pena ou de zombaria sobre o rapaz que ficara tão imóvel quanto as colunas da ilha. Sentia-se mais petrificado que os rochedos cinzentos sobre os quais se sentara pouco antes em companhia de Ana. [...] Só conseguiu perguntar: "O que é gói? Que porra é essa?"
Um senhor grisalho que assistira à cena, ainda próximo, quase murmurando, explicou-lhe: "Você é de outra raça, meu filho". E irônico: "Se você fosse preto, seria pior!"
Um senhor grisalho que assistira à cena, ainda próximo, quase murmurando, explicou-lhe: "Você é de outra raça, meu filho". E irônico: "Se você fosse preto, seria pior!"
(Do maravilhoso livro de Helio Brasil, A Última Adolescência, um variado painel suburbano dos anos 40, Editora Bom Texto, págs. 172-4.)
Alameda de palmeiras
O lago ao entardecer
Museu Nacional ao entardecer
19 comentários:
Amo a Quinta da Boa Vista.
É o meu quintal.
Passo por ela todos os dias.
Tenho muitas fotos...
É lindo o seu blog, Ivo e Mi !!!
Só assim eu passeio pelo Rio, vou até lugares que fui na minha infância e que nunca mais terei o mínimo saco de ir.
As fotos cada vez mais bonitas !
E parabéns também para a minha amiga Taia, colaboradora desses espaço tão bacana.
Acabei de jantar com ela no Rodízio de Petiscos do Maxim´s ( o da Atlântica, não o de Paris).
Gostei muito do seu blog! Não só é bem feito como trata de um tema que amo: a minha cidade querida! Parabéns!
Querido Ivo,
Grande idéia convidar o Hélio para seu blog. Lindo texto, lindo trabalho seu, como sempre.
Beijos aos dois,
Marilia
Mariana de Oliveira disse
Ivo: Não é de hoje que aprecio seus escritos. Sempre criativo, ágil, você é um escritor desses que a gente gosta de ler e reler. Com este blog maravilhoso você se mostra também excelente fotógrafo. Para completar, traz esta figura impar do Helio Brasil, minha paixão das letras modernas. Parabéns.
Ivo, visitei seu blog e adorei! Muito chic!
Parabéns!!!!!!!
(enviado por e-mail)
Belo post, belo texto e belas fotos. Fote abraco do teu amigo Jonas.
Parabéns, Hélio! Parabéns, Ivo!
É fascinante o estilo do Hélio Brasil!
Seu livro, "A Última Adolescência", com o desfile dos personagens moradores da Vila Elvira a desvendar, casa por casa, seus medos tabus mistérios adequados à época e em total empatia, prende-nos até o final: surpreendente e dramático! E nos cativa por registrar com profundidade lirismo delicadeza esse tempo tão real e encantado!
Perfeita harmonia do texto com as fotos !
Ivo, lindas fotos, grande fotógrafo que vc. é, adorei todas. (enviado por e-mail)
Oi Ivo!Que passeio maravilhoso que o seu blog nos proporciona!Sucesso!!!
Siomara de Cássia Miranda
Hi Ivo,
Parabens pela parceria perfeita!
Minha visita a seu blog e sempre agradavel! E qdo encontro pessoas como o Helio que assim como vc, possuem talento e conseguem transmiti-lo e perfeito!
Beijinhos c carinho
Toronto-Ca
Ivo, muito obrigado pelo carinho de sua mensagem no aniversário de minha mãe !
Em meu caminhar infinito encontrei tão belo caminho e aqui sinto-me em paz.
Belas imagens.
Beijos de chuva.
Oi, Ivo! Valeu pela visita, retornou o meu comentário simpático com outro igualmente! Aproveito e aviso que vou botar link permanente para o su blog lá no Casa101. Um blog como o seu, que trata de dois temas tão caros, não sei porque aqui não está linkado. Grande abraço e não pare de postar!
Não há como não se encantar e se emocionar com o seu blog.
É o meu "passeio" diário...
Beijão
Boas lembranças da minha infância...abraços e bom fim de semana pra vc.
Acabei chegando no seu Blog pois estou querendo comprar o livro para minha esposa que adora a História da Quinta da Boa Vista. Como e onde posso comprar ? Um abraço e parabéns pelo blog. Marcelo F Sá...
Prezado Marcelo, onde está escrito "Do maravilhoso livro de Helio Brasil, A Última Adolescência,...", você tem que clicar em "A Última Adolescência". Trata-se de um link para o site da editora, Bom Texto.
Ou clique no meu nome neste comentário que coloquei o link lá também. Ou escreva para o Helio Brasil. O e-mail: heliobrasil@superig.com.br
Eu Moro no rio de janeiro a muito tempo e hoje dia 19 de julho de 2008 foi minha primeira vez que eu fui para quinta da boa vista eu adoreii esse passeio para mim vai ser ineSquesivel bjs ''
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