Cronica de Cyro de Mattos, com fotos do Rio enfeitado para a Copa (2006)
Rua André Cavalcanti (Centro) * |
Idem |
Rua Honório de Barros (Flamengo) * |
Idem |
Fui redator do Jornal do Comércio no Rio, anos 60. Às vezes aparecia na Cinelândia pela tarde quando encerrava o trabalho no jornal. Ia tomar uns chopes no Amarelinho, bar que ficava em frente da praça. Acomodado na cadeira de uma das mesas, junto à porta de entrada, ficava dali vendo a vida desfilar no ritmo agitado da cidade grande.
Apesar de já estar quase um ano no Rio, não havia me acostumado ainda ao ritmo impulsivo da metrópole. Causavam-me espanto rostos anônimos que passavam apressados a todo instante, carros velozes que cantavam os pneus no asfalto, subindo rumo à Zona Sul. Os que seguiam disparados para a Zona Norte desciam pelo outro lado da Cinelândia, na avenida Rio Branco, onde ficava a Biblioteca Nacional.
As distâncias grandes, edifícios de muitos andares, túneis, viadutos e avenidas formavam uma paisagem que me parecia cheia de solidão, ocupando um espaço vazio próprio da selva feita de cimento e pedra. Embora soubesse que naquele tempo ainda se podia andar a pé, à noite, por certos lugares do Rio. Do Catete ao Largo do Machado, caminhei sozinho várias vezes à noite e nunca fui assaltado. De vez em quando ia tomar uns chopes no restaurante Lamas, perto do Largo do Machado. Por lá chegava o conterrâneo Alberto Silva para conversar sobre literatura e cinema.
Na Copa Mundial de Futebol de 1966, realizada na Inglaterra, fui à Cinelândia três vezes em menos de dez dias, para assistir no telão armado na praça os jogos da Seleção Brasileira. Queria ver o Brasil sagrar-se campeão mundial de futebol em gramados estrangeiros pela terceira vez e comemorar a conquista do título no meio do povo. Havia uma euforia que contagiava a todos na praça. Éramos os melhores do mundo, disso ninguém tinha dúvida, não dava mesmo para nenhuma seleção deste planeta ganhar da nossa formada por craques e dois gênios. Quem tinha Pelé, um rei que surgiu nos gramados da Suécia, na Copa de 1958, quando fomos campeões mundiais de futebol pela primeira vez, e Garrincha, o das pernas tortas, que ganhou sozinho a segunda Copa Mundial de Futebol para o Brasil em campos do Chile, em 1962, com suas jogadas e gols espetaculares, só podia ter a certeza de que mais um título de campeão mundial de futebol viria para as nossas cores sem maior esforço.
A primeira partida contra a Bulgária deu a entender que o terceiro título de campeões mundiais de futebol chegaria daí a algumas semanas. Era só esperar, ver e festejar. Aquele gol de falta que Garrincha bateu, a bola entrando na rede adversária sem que o goleiro visse por onde havia passado o passarinho, só trazia ventos da felicidade. Gritos, abraços, pulos e vivas dos que estavam fazendo a corrente da vitória na Cinelândia.
A decepção veio com a segunda partida quando o Brasil jogou contra Portugal. A seleção portuguesa sempre fez jogo duro com o Brasil. Havia formado um time que era tido como um dos favoritos para ganhar a Copa Mundial de Futebol de 1966. O arqueiro Costa Pereira, o marcador implacável Vicente, o maestro Coluna, o goleador Eusébio e o ponta Simões destacavam-se numa seleção que vinha encantando platéias em gramados da Europa. O jogo causou espanto e medo aos torcedores na Cinelândia, que viam a defesa portuguesa sem dar espaço a Pelé, caçando o rei com pontapé e empurrões a todo instante. Faltas eram cometidas no rei, uma atrás da outra, sem que o juiz expulsasse um jogador português sequer. Pelé saiu de campo contundido e não mais voltou.
Perdemos o jogo por três a um. E ficaram dúvidas quanto ao desempenho do Brasil no próximo jogo. Nossa seleção mostrava falta de preparo físico, sem tática, desorganizada e individualista. Parecia um bando de jogadores espalhados no gramado. Não mostrava garra em cada jogada enquanto Portugal executava um futebol solidário, compactado. Tinha um ritmo veloz, disputando a bola com valentia em qualquer parte do campo.
A decepção da derrota para a Hungria, pelo mesmo escore que Portugal nos impôs, dessa vez foi mais amarga. Pela primeira vez a Seleção Brasileira havia sido eliminada de uma Copa Mundial de Futebol na primeira fase.
A verdade do desastre de nossa seleção em gramados da Inglaterra estava ali mesmo na Cinelândia, coberta de silêncio em seus ares fúnebres. O futebol arte tinha sido vencido pelo futebol solidário, de nada mais servia a nossa habilidade, improviso, magia e outras qualidades insuperáveis, que só o jogador brasileiro possuía.
A cena que vi com um senhor sentado no banco da praça afastou um pouco minha tristeza de torcedor frustrado. Ele dava comida aos pombos. O mesmo homem tão do mundo, apaixonado como eu pela Seleção Brasileira de futebol. Achava um lugar ao sol na praça deserta onde os pombos formavam uma bela aparição. Igual a uma vez que eu vi na praça da Matriz, em São Paulo. Os pombos baralhavam em festa tormentas, dissabores, suavizavam o audaz andarilho, naquele momento em estado de graça.
Apesar de já estar quase um ano no Rio, não havia me acostumado ainda ao ritmo impulsivo da metrópole. Causavam-me espanto rostos anônimos que passavam apressados a todo instante, carros velozes que cantavam os pneus no asfalto, subindo rumo à Zona Sul. Os que seguiam disparados para a Zona Norte desciam pelo outro lado da Cinelândia, na avenida Rio Branco, onde ficava a Biblioteca Nacional.
As distâncias grandes, edifícios de muitos andares, túneis, viadutos e avenidas formavam uma paisagem que me parecia cheia de solidão, ocupando um espaço vazio próprio da selva feita de cimento e pedra. Embora soubesse que naquele tempo ainda se podia andar a pé, à noite, por certos lugares do Rio. Do Catete ao Largo do Machado, caminhei sozinho várias vezes à noite e nunca fui assaltado. De vez em quando ia tomar uns chopes no restaurante Lamas, perto do Largo do Machado. Por lá chegava o conterrâneo Alberto Silva para conversar sobre literatura e cinema.
Na Copa Mundial de Futebol de 1966, realizada na Inglaterra, fui à Cinelândia três vezes em menos de dez dias, para assistir no telão armado na praça os jogos da Seleção Brasileira. Queria ver o Brasil sagrar-se campeão mundial de futebol em gramados estrangeiros pela terceira vez e comemorar a conquista do título no meio do povo. Havia uma euforia que contagiava a todos na praça. Éramos os melhores do mundo, disso ninguém tinha dúvida, não dava mesmo para nenhuma seleção deste planeta ganhar da nossa formada por craques e dois gênios. Quem tinha Pelé, um rei que surgiu nos gramados da Suécia, na Copa de 1958, quando fomos campeões mundiais de futebol pela primeira vez, e Garrincha, o das pernas tortas, que ganhou sozinho a segunda Copa Mundial de Futebol para o Brasil em campos do Chile, em 1962, com suas jogadas e gols espetaculares, só podia ter a certeza de que mais um título de campeão mundial de futebol viria para as nossas cores sem maior esforço.
A primeira partida contra a Bulgária deu a entender que o terceiro título de campeões mundiais de futebol chegaria daí a algumas semanas. Era só esperar, ver e festejar. Aquele gol de falta que Garrincha bateu, a bola entrando na rede adversária sem que o goleiro visse por onde havia passado o passarinho, só trazia ventos da felicidade. Gritos, abraços, pulos e vivas dos que estavam fazendo a corrente da vitória na Cinelândia.
A decepção veio com a segunda partida quando o Brasil jogou contra Portugal. A seleção portuguesa sempre fez jogo duro com o Brasil. Havia formado um time que era tido como um dos favoritos para ganhar a Copa Mundial de Futebol de 1966. O arqueiro Costa Pereira, o marcador implacável Vicente, o maestro Coluna, o goleador Eusébio e o ponta Simões destacavam-se numa seleção que vinha encantando platéias em gramados da Europa. O jogo causou espanto e medo aos torcedores na Cinelândia, que viam a defesa portuguesa sem dar espaço a Pelé, caçando o rei com pontapé e empurrões a todo instante. Faltas eram cometidas no rei, uma atrás da outra, sem que o juiz expulsasse um jogador português sequer. Pelé saiu de campo contundido e não mais voltou.
Perdemos o jogo por três a um. E ficaram dúvidas quanto ao desempenho do Brasil no próximo jogo. Nossa seleção mostrava falta de preparo físico, sem tática, desorganizada e individualista. Parecia um bando de jogadores espalhados no gramado. Não mostrava garra em cada jogada enquanto Portugal executava um futebol solidário, compactado. Tinha um ritmo veloz, disputando a bola com valentia em qualquer parte do campo.
A decepção da derrota para a Hungria, pelo mesmo escore que Portugal nos impôs, dessa vez foi mais amarga. Pela primeira vez a Seleção Brasileira havia sido eliminada de uma Copa Mundial de Futebol na primeira fase.
A verdade do desastre de nossa seleção em gramados da Inglaterra estava ali mesmo na Cinelândia, coberta de silêncio em seus ares fúnebres. O futebol arte tinha sido vencido pelo futebol solidário, de nada mais servia a nossa habilidade, improviso, magia e outras qualidades insuperáveis, que só o jogador brasileiro possuía.
A cena que vi com um senhor sentado no banco da praça afastou um pouco minha tristeza de torcedor frustrado. Ele dava comida aos pombos. O mesmo homem tão do mundo, apaixonado como eu pela Seleção Brasileira de futebol. Achava um lugar ao sol na praça deserta onde os pombos formavam uma bela aparição. Igual a uma vez que eu vi na praça da Matriz, em São Paulo. Os pombos baralhavam em festa tormentas, dissabores, suavizavam o audaz andarilho, naquele momento em estado de graça.
Rua Fonseca Teles (São Cristóvão) * |
Rua Inhangá (Copacabana) |
Idem |
Rua Paissandu (Flamengo) * |
Idem |
Rua Riachuelo (Centro) |
Travessa dos Tamoios (Flamengo) * |
Cyro de Mattos é autor de 28 livros, entre eles O Goleiro Leleta e Outras Fascinantes Histórias de Futebol e Contos Brasileiros de Futebol. Texto gentilmente enviado pelo autor. Fotos de ruas do Rio enfeitadas para a Copa do editor deste blog. As ruas marcadas com * estiveram entre as finalistas do concurso "Minha Rua É Louca pelo Brasil", a Honório de Barros tendo sido vencedora na Zona Sul e a André Cavalcanti no Centro. Clique com o botão direito do mouse e escolha "Definir como plano de fundo" para transformar uma foto em papel de parede de seu computador durante esta Copa.
12 comentários:
Maravilhosas as fotos!
Adorei as fotos, a Rua Honório de Barros e a Paissandu, cheguei a ver. Me impressionou muito a primeira, inclusive ontem, apareceu no RJ TV, você viu? (enviado por e-mail)
Oi Ivo, realmente as fotos são muito lindas.....
Sabe, hj vim pro trabalho usando um lenço desenhado com a bandeira do Brasil, amarrado no cabelo...Adoro torcer pro nosso país na Copa do Mundo.... (enviado por e-mail)
Muito legal as fotos!
Amei as fotos....
Ai que vontade de estar aí tb...rsrsrs (enviado por e-mail)
Há tempos estou para lhe contar que adoro "passear" pelo seu blog!
Nesta correria de nossas vidas, ainda não pude ler todos os textos - sempre inteligentes! - e nem ver todas as fotos... ou visitar os links amigos; mas, todas as vezes que entro - como hoje - me prometo retornar mais freqüentemente, e percorrer melhor este universo deliciosamente carioca. (enviado por e-mail)
Ivo, teu blog é sensacional. As fotos estão demais! Adorei! O que deve ter de gringo se deliciando por aqui... Se conseguirem entender os textos então... Demais!
Um grande beijo querido :)
O seu blog é muito interessante, tem muita cultura. parabéns!!!
http://dudu.oliva.blog.uol.com.br
Olá!
Caro Ivo, as fotos estão maravilhosas.Gosto deste seu olhar sobre a nossa cidade.Legal passar neste blog, para mim, é um instante em que eu encontro de alguma forma com o meu passado. Um grande abraço. Parabéns pelas fotos.
Querido Ivo
Com esse sucesso todo como fotógrafo, cuidado pra não acabar trocando as letras pelas fotos.
Sr Ivo
Chamo me Augusto Pinho, sou português, licenciado em História e ando a fazer uma inverstigação acerca de uns brasileiros de torna viagem da minha terra...
No século XIX fundaram uma firma "Oliveira Lopes e Irmão" no Rio de Janeiro....
Como posso obter informações dessa casa de comercio que actualmente já não existe?
Obrigado
meu email: augustocospi@hotmail.com
Ivo, belas fotos. Tambem frequentei muito o Amarelinho. Bons tempos. Bom fim de semana e abrs. do amigo Jonas.
Postar um comentário