Chegada do bondinho.
Sim, moro há décadas na Urca.
Já morei em Botafogo, Maracanã, Cruz Vermelha, Ipanema, Copa, Jacarepaguá.
Parei na Urca.
Quando aqui cheguei, havia várias crianças na rua.
Todas agora casadas, pais e mães de novos filhos.
Desapareceram.
Quando vim, as águas eram mais limpas, mais claras, mais...
Moro mal.
O apartamento pequeno demais, estreito demais, quente demais. Tem papel demais.
Na realidade, me sinto melhor do lado de fora.
Os telefones na Urca são péssimos, até agora não consegui instalar uma banda larga, há água no subsolo da Urca.
E em breve a Urca vai desaparecer, quando os mares subirem, não sei quando, efeito estufa, aquecimento global, coisa assim.
A Urca tem outra cara, é pequena cidade do interior. De certa forma, os moradores mais antigos aqui se conhecem. Não se cumprimentam, mas se conhecem de vista.
Sobre a Urca se pode dizer tudo, que é linda, calma, etc. É fácil falar bem da Urca.
Principalmente no inverno.
Nos domingos de verão a Urca faz competição com o piscinão de Ramos. Que nem sei se ainda existe.
Mas a praia da Urca tem freqüência nobre, na água suja.
Não se sente medo, aqui. Anda-se de madrugada. Pela rua. O perigo são os cães, que estão dentro das casas, atrás dos muros.
Entretanto, sinto falta de bancos de jardim. Na Urca. Só os vejo na Praia Vermelha. Onde é aprazível sonhar.
Inúmeras vezes já pensei em mudar-me. Para perto do Metrô, por exemplo. Mas vou adiando. Nem sei como me sentiria na agitação de uma grande cidade. Nem sei como me sentiria no Rio de Janeiro. Porque a Urca não é Rio de Janeiro. É um outro lugar. Um lugar do passado.
Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor Aposentado da Pós da UFRJ. Poeta, romancista, cronista, webjornalista. É autor do NOVO MANUAL DE TEORIA LITERÁRIA (Vozes), publicado em 2002, já em 3ª ed. e O AMANTE DAS AMAZONAS, Ed. Itatiaia. Clique no seu nome para conhecer seu blog.
Pão de Açúcar visto da Praça General Tibúrcio.
Praia Vermelha.
Praia Vermelha vista da Pista Cláudio Coutinho.
Marina defronte à Praça Cacilda Becker.
Casa onde morou Carmen Miranda na Avenida São Sebastião. A placa diz: "Aqui residiu a cantora e atriz Carmen Miranda - A Pequena Notável - entre 1937 e 1939 quando trabalhava no Cassino da Urca. Daqui saiu para conquistar fama internacional nos Estados Unidos".
Mansão na Avenida São Sebastião.
Pescadores. Ao fundo, fortaleza de São João.
Fotos de Ivo & Mi.
12 comentários:
JÁ MOREI NA URCA MAS NÃO DETESTEI MUITO NÃO; ACHO QUE OS PRAZERES COMPENSAM AS MAZELAS.
Ótima crônica. Não doura a pílula, mas deixa passar o amor que tem pelo bairro, apesar de tudo.
A Urca parece mesmo a cidade mais próxima do Rio. Como SP é o país mais próximo do Brasil.
Apesar detodos os problemas, a Urca ainda é um lugar gostoso pra se passar algumas horas, na Pria Vermelha, tomar chopp no Círculo Militar e pescar de vez em quando.
Meu sonho de consumo é morar por lá :)
abraços
Nel Meirelles
http://www.falapoetica.blogger.com.br
Por falar em Urca, em 1908 o Barão do Rio Branco celebrou o centenário da abertura dos portos do Brasil com uma fabulosa exposição realizada na Urca. Celebrava-se o centenário da abertura realizada por Dom João e, de quebra, uma espécie de nova abertura, com a cidade do Rio de Janeiro limpa, reurbanizada e sem febre amarela. (enviado por e-mail)
Dear Ivo,
Você tem me matado de saudade...
É impressionante como qdo estamos em dias particularmente sensiveis, as coisas nos tocam de maneira diferente, com mais profundidade.
Tive vontade enorme de chorar, o Rio anoitecendo, a Urca lá, do mesmo jeito. A beleza, a cor, que me trazem aromas, emociono-me! (...)
Seu blog é um alento às minhas saudades. (enviado por e-mail do Canadá)
fala ai pai adorei essa postagem sobre a urca... tá mto boa mesmo!!!!!!
abraço!!!
Excelente, o seu blog. Agora, ler sobre a Urca ou Rio de Janeiro, dá uma vontade danada de ir pra lá. (enviado por e-mail)
Alô, Ivo!
Obrigada pelos textos sobre os bairros do Rio de Janeiro. Gostei muito de ter notícias sobre o Rogel que conheci nos tempos da faculdade. Só não concordo com a afirmação de que a Urca é um lugar fora do Rio de Janeiro. O Rogel afirma isso porque ele não é carioca e não conhece em profundidade a alma do Rio. O Rio se esconde em pequenas ruas, praças, e bairros como a Urca, mas, também, está acostumado a se ver cercado de piratas de histórias antigas. (enviado por e-mail)
Sr Ivo Karytowski, desculpe-me a ousadia, mas o sr é um Felizardo, ter nascido e vivido nessa cidade (Maravilhosa sim! Apesar de algumas muitas vicissitudes).
Sou Português a viver no Norte de Portugal, já fui ao Rio duas vezes, mas o meu maior sonho seria morar no Rio de Janeiro, adoro a cidade, o Brasil e especialmente o seu povo, alegre e de trato fácil.
Sr Prof. Rogel Samuel, compreendo o seu desabafo e a sua melancolia, mas não desanime, o Rio e mais propriamente a Urca precisam do Sr Prof.
Passo horas na Internete a vasculhar o Rio de Janeiro, Cultural, Social e principalmente Geografico, pois gostava de me fixar no litoral carioca, perdoem-me o atrevimento mas será que me podem aconselhar uma possível localização, tendo em vista a tranquilidade, serviços entre outros.
JoaquimPimenta
Toda vez que leio Rogel Samuel sei que em algum ponto de sua prosa poética encontrarei alguma observação original e surpreendente. Essa, no final, de sua crônica sobre a Urca é perfeita. Realmente, é como se o bairro não pertencesse ao Rio, fosse um outro lugar, uma outra dimensão. Nas poucas vezes que lá estive senti-me um pouco invasor. A gente tem de entrar de leve, pedindo licença às águas, aos peixes, às casas, aos habitantes desse lugar tão desconcertantemente encantador e íntimo.
Ricardo Alfaya
Sim, não sou do Rio, e quando morei no Rio foi somente na Urca... Então, achei este texto muito coincidente com as sensações que temos no bairro... sim, a Urca parece outra cidade do Rio, sim, parece interior, sim, há esta miscelânea social... Mas é muito poético o bairro, e tem um "q" de alternativo, artístico, bucólico....
Bjos, Denise.
Muito lindo a urca, gostaria muito de morar lá mas não tenho condiçoes. Tenho um irmão que mora ,sempre vou passear. Um beijão pra todos.
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